15/09/2018
NOSSA SENHORA DAS DORES
15 de Setembro
I Leitura: Hb 5,7-9
7 Cristo, nos dias de sua vida terrestre,
dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de
salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua entrega a Deus. 8 Mesmo
sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele
sofreu. 9 Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para
todos os que lhe obedecem.
Evangelho: Jo 19, 25-27
Naquele
tempo,25 perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe,
Maria de Cléofas, e Maria Madalena. 26 Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o
discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. 27 Depois
disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a
acolheu consigo.
Facultativo)
Lc 2,33-35
Naquele tempo: 33 O pai
e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. 34 Simeão
os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: "Este menino vai ser causa
tanto de queda como de reerguimento para mtos em Israel. Ele será um sinal de
contradição. 35 Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a
alma".
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A festa de Nossa Senhora das Dores foi celebrada em toda a Igreja em 1727
por ordem do Papa Bento XIII. O Papa Pio VIII publicou um decreto de 18 de
setembro de 1814 para autorizar a celebração da festa para todo o mundo
católico.
No dia anterior celebramos a festa da Exaltação
da Santa Cruz (14/9).
Hoje (15/9)
nos encontramos com Maria das Dores, mãe de Jesus. Os dois acontecimentos-
Exaltação da Santa Cruz e Maria das Dores- nos mostram a união profunda entre
Jesus, como filho, e Maria como mãe até as ultimas consequências, como afirmou
o Concílio Vaticano II na Constituição Dogmatica Lumen Gentium: “A
bem-aventurada Virgem avançou no caminho da fé, e conservou fielmente a união com seu Filho até a cruz, junto da
qual, por desígnio de Deus, se manteve de pé (cf. Jo 19,25); sofreu
profundamente com o seu Unigenitao maternal ao seu sacrifício...” (n.58).
Este fato, isto é, a união profunda
entre Jesus, como filho, e Maria como mãe, na verdade, nós experimentamos no
nosso cotidiano. Ninguém fica feliz sozinho como também ninguém sofre sozinho,
pois não somente vivemos, mas convivemos. A felicidade de um filho é a
felicidade de uma mãe ou de um pai. O sofrimento de um filho é o sofrimento de
uma mãe ou de um pai. Diante de um filho sofredor uma mãe ou um pai vai
procurar até os últimos recursos de sua vida a fim de que o filho volte a ser
recuperado. Mesmo que se sinta impotente diante da dor do filho, uma mãe ou pai
procura outro recurso sobre-humano: a oração. É dificilmente encontrar uma mãe
ou um pai que fuja da dor de um filho. Mãe e pai sofrem com o filho, pois para
uma mãe/um pai, o filho ou a filha é ela própria/ele próprio.
Maria, sofrendo, se encontra ao pé da cruz de
Jesus, seu filho. A dor é a companheira inseparável de nosso peregrinar durante
esta vida terrena. Ela aparece pelo caminho de nossa existência e se põe ao
nosso lado. Cedo ou tarde ela vai bater na nossa porta. Ela não nos pede
permissão para entrar. Ela entra e sai como se fosse um dos membros de nossa
família.
A vida de Maria esteve profundamente marcada
pela dor e pela fé em Deus. Maria experimentou a dor diante das palavras de
Simeão (cf. Lc 2,34-35). Mas no seu coração não mora nenhum desespero. Na
profundeza de sua alma reina a paz e a esperança em Deus. Em seu coração volta
a ressoar com força e segurança seu Fiat cheio de amor na anunciação: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim
segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
Maria experimentou a dor do assassinato dos
inocentes por Herodes, o Grande, pois Maria também era mãe (cf. Mt 2,16-18). Seguramente Maria conhecia
muitos desses inocentes sacrificados em nome da crueldade de um poder sem
limites de Herodes. Certamente Maria rezava por esses inocentes e sobretudo,
por suas mães inconsoláveis. Nosso coração há de mostrar-se sensível ao
sofrimento alheio, compadecer-se para socorrer, pelo menos para consolar, e
rezar para aliviar.
Maria experimentou a dor da perda do filho de
12 anos de idade em Jerusalém (cf. Lc 2,41-52).
“Onde ele está? Está em perigo? Alguém o
raptou ou o matou?”. Tudo isso passava na cabeça de Maria. Qualquer mãe sofre
pela perda de um filho ou de uma filha. E como sofre! Quantas mães continuam a
esperar a volta de um filho perdido e continuam a esperar sua volta. Maria
sofria durante três dias da procura de seu filho, Jesus. Mas como uma mulher
“cheia de graça” (Lc 1,28), com certeza, acreditava em Deus apesar de tudo. Ela
quer entender o significado das palavras de seu filho: “Por que me procurais?”
e tenta meditar essas mesmas palavras no seu coração. Nem sempre podemos entender
o significado de cada acontecimento ou de cada experiência. Muitas vezes,
depois de algum tempo é que podemos entender seu significado.
Maria também experimentou a dor da separação
e da solidão. Chegou o dia de despedida depois de passar trinta anos juntos:
mãe e filho! Trinta anos de experiências inesquecíveis vividos num ambiente
inacreditavelmente divino e incrivelmente humano em Nazaré. Trinta anos de
silêncio, de trabalho, de oração, de alegria, de entrega mútua. Trinta anos de
uma família unida e maravilhosa. Abundantes e intensos sentimentos. “Adeus, filho...!
Adeus mãe...!”. Todos nós intuímos o que passa pelo coração da mãe em uma
despedida assim. Já vimos nos olhos de nossa mãe sua reação imediata ao sentir
este tipo de experiência. Maria experimentou a solidão da ausência de seu
filho. A solidão é um dos sofrimentos bastante profundos dos seres humanos,
pois nascemos para viver em companhia dos demais. Como dura foi a solidão de
Maria. Maria também soube viver esse sofrimento da separação e da solidão com
amor, com fé, com serenidade interior. Ofereceu esse momento pelo seu filho que
começou sua vida pública. Necessitamos, como Maria, ser fortes na solidão e nas
despedidas. Fortes pelo amor, fortes pela fé e pela confiança em Deus e fortes
pela oração.
Maria também experimentou a dor da paixão do filho (via crucis).
Ela viu o filho carregar a cruz para o Calvário. Que momento tão duro para uma
mãe ver o filho sofrer assim! Ao mesmo tempo, que fortaleza interior que Maria
tem nesse momento! Muitos dos seus discípulos abandonaram Jesus, seu mestre.
Mas a mãe jamais abandonaria seu filho no seu sofrimento. Ali ela estava, perto
de seu filho, ao pé da cruz. Os dois se olham no silêncio de fortaleza. A nossa
vida é, às vezes, uma via crucis. Busquemos o olhar amoroso de Maria. “A suave
Mãe nos consola, transforma nossa tristeza em alegria e nos fortalece para
carregar nossas cruzes” (Luis Monfort Grignion).
Por fim, Maria experimentou a dor da morte de seu filho. Terrível
episódio! É uma mãe que vê seu filho morrer terrivelmente na cruz. Com o
coração sangrento, de pé diante da cruz, Maria repetiu mais uma vez, sem
palavras, na mais pura das obediências: “Faça-se a Tua vontade!”.
Mas crendo, confiando e amando, Maria soube
esperar a maior alegria de sua vida: a ressurreição. A volta de seu filho na
gloria da ressurreição.
“Perto da cruz de Jesus, estava de pé
a sua mãe...” (Jo 19,25). Esta presença significa fidelidade até as ultimas
conseqüências, até a morte. Nós nos acostumamos ver em Maria, sobretudo na
Semana Santa, como a Virgem dolorosa. No entanto, a tradição cristã nos recorda
que Maria é uma mãe valente que se mantém firme de pé junto à cruz. Isto quer
dizer que ela não se deixa derrubar pela dor. Ela está de pé.
Para estarmos de pé diante da vida com todos os seus acontecimentos e
contratempos, temos que nos habituar a ficarmos de joelho diante de Deus, pois
nossa verdadeira força está em Deus.
Maria é protótipo da atitude de valor em meio
ao sofrimento. Mas não se trata de qualquer valor. Trata-se do valor sustentado
pela esperança. O coração de Maria nunca fica vazio de esperança. Por isso, a
comunidade cristã recorda Maria neste dia como a mãe fiel que acompanha seu
Filho até a morte na cruz, ainda que esteja no meio da máxima dor.
Nós cristãos devemos ser pessoas de esperança
e pregadores de esperança. Ao entregar sua mãe para nós como nossa mãe, através
de São João, Jesus quer que devamos ter os mesmos sentimentos de Maria. Com
Maria podemos confiar sempre em Deus que nos ama, que nos anuncia, com a
ressurreição de seu Filho, nossa própria ressurreição. Também nosso espírito
pode se alegrar pela esperança que Deus da vida sustenta para nós, ainda que
estejamos cercados pela dor.
“Perto da cruz de Jesus, estava
de pé a sua mãe...”. Maria não gritou. Maria não atraiu a atenção para si.
Maria estava lá, de pé e não prostrada. Ela estava de pé perto da cruz olhando
para Jesus, seu filho. Maria nos ensina a nos esquecermos totalmente de nós
para ter um olhar mais atento para o outro numa atitude de um puro acolhimento
do sofrimento do outro. Esta atitude se chama compaixão. Compadecer-se não é
apiedar-se pelo sofrimento do outro. É sentir com o outro a mesma dor para
depois tomar atitude para aliviar essa dor mesmo que seja uma parte dela.
“Jesus disse à mãe: ‘Mulher, este é o teu filho’. Depois disse ao discípulo:
‘Esta é a tua mãe’. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu
consigo”. A mãe de Jesus será sempre mãe e
sempre mulher. Essa maternidade jamais será reduzida a um personagem histórico.
Maria continua sendo a mãe para todos os que o discípulo amado representa. É a
mãe de toda comunidade de fé e de todos os discípulos amados de Jesus, pois
Maria e a pequena comunidade de discípulos juntamente ao discípulo amado
representam todos os que seguem a Jesus até o fim, até perto da cruz,
demonstrando coragem e fidelidade que nenhum dos servidores de Jesus
manifestou.
Maria nos ensina que, para quem põe sua
confiança em Deus e deixa que seja o Espírito divino que conduz sua vida é
possível estar de pé diante da cruz encontrada no caminho desta vida ou a cruz
fruto da fidelidade aos valores cristãos vividos até as ultimas conseqüências.
A verdadeira dor cristã é o verdadeiro preço do amor aos demais, como Jesus que
foi crucificado por causa do amor. O verdadeiro cristão jamais pode ser o
causador da dor para os outros. O verdadeiro cristão jamais envenena o
ambiente. O verdadeiro cristão jamais pode ser pregador da desgraça nem pode
causar a angústia para os demais. O cristão é chamado a ser compassivo, isto é
aquele que alivia a dor dos outros. Infelizmente, muitos que se dizem cristãos,
que rezam supostamente, ao sair da igreja, se tornam espalhadores das coisas
negativas na esquina, na rua, no salão de beleza, no grupo, no trabalho, em casa,
em vez de serem proclamadores da esperança, de boa notícia e do amor. Quem
prega ou espalha coisas negativas vai atrair mais coisas negativas para sua
vida e para toda sua família. Quem prega a bênção, vai atrair mais as bênçãos
para sua vida e para sua família. Ser cristão, a exemplo de Maria, é gestar
Jesus no coração para dá-Lo aos irmãos.
P.Vitus Gustama,svd
“As provações que suportamos podem e devem revelar-nos quais são as
nossas forças. Você possui forças que provavelmente desconhece. Encontre a que
necessita nesse momento. Use-a!” (Epicteto)
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