21/11/2018
FESTA DA APRESENTAÇÃO DE NOSSA
SENHORA
SER MEMBRO DA FAMÍLIA DE JESUS
CRISTO
Primeira Leitura: Zc 2,14-17
14 “Rejubila, alegra-te,
cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o Senhor. 15 Muitas
nações se aproximarão do Senhor, naquele dia, e serão o seu povo. Habitarei no
meio de ti, e saberás que o Senhor dos exércitos me enviou a ti. 16 O Senhor
entrará em posse de Judá, como sua porção na terra santa, e escolherá de novo
Jerusalém. 17 Emudeça todo mortal diante do Senhor, ele acaba de levantar-se de
sua santa habitação”.
Evangelho: Mt 12, 46-50
Naquele
tempo, 46 enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos
ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus:
“Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus
perguntou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?”
49 E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus
irmãos. 50 Pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus,
esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
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A Apresentação de Nossa Senhora confunde-se, às
vezes, com a Apresentação de Menino Jesus no Templo, festa que é celebrada no
dia 2 de Fevereiro em comemoração de um fato amplamente descrito nos Evangelhos
e que corresponde à lei judaica que obrigava aos israelitas a oferecer seus primogênitos
a Deus.
Hoje especificamente celebramos a memória da
Aparesentação de Nossa Senhora. Esta festa começou a ser celebrada na Igreja
oriental, que sempre foi muito sensível à piedade mariana mais ou menos desde o
século VI e oficialmente em 1143. Tardiamente foi incorporada ao calendário
ocidental, romano, em 1472 pelo papa Sisto IV (governou de 9 de agosto de 1471
até 12 de agosto de 1484). Na verdade desde o século XII esta festa já se
celebrava no Sul da Itália e em alguns lugares na Inglaterra.
A apresentação de Nossa Senhora não é narrada
nos evangelhos. Ela é uma tradição muito antiga (Evangelho Apócrifo do século
II: Evangelho apócrifo de São Tiago). Segundo esta tradição (Apócrifo), os pais
de Maria, Joaquim e Ana, piedosos israelitas, não conseguiram ter filhos até
sua idade avançada por causa da esterilidade. Não ter filhos significava, na
época, o castigo de Deus pelos pecados cometidos. Mas os dois eram justos. Em
sua angústia Ana fez uma oração fervorosa, prometendo ao Senhor oferecer-lhe o
fruto de suas entranhas se lhe concedesse descendência. O nascimento de Nossa
Senhora foi o resultado dessa oração e dessa promessa: “Ó Deus de nossos pais, abençoa-me e ouve minha oração
como abençoaste o ventre de Sara, dando-lhe um filho, Isaac”, assim
Ana, mãe de Maria rezava (Apócrifo de
Tiago, 2,1). Quando se retirou para o deserto durante quarenta dias e quarenta
noites Joaquim, pai de Maria, dizia para si mesmo: “Não
descerei nem para comida, nem para bebida, enquanto o Senhor não me visitar; a
minha oração será para mim comida e bebida” (cf. Apócrifo de Tiago
1,4). Joaquim e Ana, fiéis ao seu voto, apresentaram a menina quando tinha três
anos no templo e permanecia, no templo, dedicada à oração até seu casamento com
José (cf. Evangelho apócrifo de São Tiago 7,1-8,1)
A apresentação de Nossa Senhora é a festa de
entrega voluntária a Deus. É a festa da total entrega da Virgem Maria a Deus e
da sua plena dedicação aos planos divinos. A Virgem Maria nunca negou nada a
Deus. Sua correspondência à graça divina e às moções do Espirito Santo foi
sempre plena. É a festa que nos ensina a
renunciar a nossa própria vontade a fim de fazer somente a vontade de Deus para
formar uma família com Deus e ser instrumento divino para levar os outros para
Deus: “Pois todo aquele que faz a vontade
do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”,
diz Jesus (Mt 12,50).
Maria se apresentou a Deus em sua infância e
antes de sua obediência ele colocou sua alma na postura de humilde
disponibilidade que foi característica constante de sua vida e que ela mesma
resumiu numa frase cujo conteúdo não se esgotará jamais por muito que se
medite: “Eis aqui a serva do Senhor!”.
A Apresentação de Nossa Senhora é a festa da
entrega voluntária a Deus, é a festa dos que aspiram de verdade a renunciar a
sua vontade para fazer somente a vontade do Senhor. E para os consagrados e as
consagradas na vida religiosa e muitas ordens religiosas, geralmente, renovam
seus votos neste dia. No entanto, também deve ser a festa de todos os cristãos,
porque ninguém, se eles realmente querem ser, pode escapar da obrigação de se
apresentar humildemente diante de Deus e colocar-se em Suas mãos para que Deus
possa tranformá-los em instrumentos eficazes para salvar a humanidade, a partir
dos dons recebidos. A liturgia de hoje nos convida, então, a meditarmos sobre o
sentido de uma apresentação de nós mesmos diante do Senhor. nossa própria
presença diante do Senhor, em cada celebração, se converte em apresentação de
nossa vida ao Senhor para que Ele nos use para o bem da humanidade.
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O oráculo de Zacarias proclama a presença de
Deus no Templo e transmite a Palavra do próprio Deus. A presença salvadora de
Deus no meio do povo, no Templo é o motivo de alegria para todos os repatriados
da Babilônia. Judá voltará a ser a herança do Senhor. “Emudeça todo mortal diante do Senhor, ele acaba de levantar-se de sua
santa habitação”, assim concluiu a Primeira Leitura de hoje. O contexto
dessa conclusão é litúrgico no Templo. Toda a alegria do profeta Zacarias
celebrando o futuro triunfo e glória de Israel, nos a vemos espiritualmente no
coração de Maria, Virgem Imaculada, que sente dentro de si a presença do Senhor
que virá para habitar no seu ventre e dará ao mundo como Salvador.
O evangelho fala da presença de Maria,
implicitamente, no lugar em que Jesus e suas Palavras fazem a apresentação da
identidade de quem Ele considera sua autêntica família, na qual Maria, sua mãe é
um exemplo pelo seu Fiat, seu “Faça-se em mim segundo Sua Palavra”, por ser “Serva
do Senhor”.
No texto do evangelho deste dia, onde os
familiares de Jesus não são mencionados por seus nomes, “a mãe”, aqui,
representa Israel enquanto origem de Jesus e “os irmãos” representam também
Israel enquanto membros do mesmo povo. Israel fica “fora” em vez de se
aproximar de Jesus. Jesus rompe sua vinculação de seu povo de origem para
formar uma nova família com os que se associam com o compromisso de formar uma
comunidade de irmãos vivendo o amor fraterno (ágape) como maior mandamento (cf.
Jo 13,34-35; 15,12).
A maior parte das religiões do mundo se apóia
na família, comunidade natural. Jesus edifica sua religião ou sua comunidade
não sobre as relações familiares e sim sobre uma comunidade de tipo seletivo em
virtude da fé para elevar a família humana em família de Deus. Para divinizar a
família humana é preciso que Deus seja de todos e centro da vida e de qualquer
convivência (família, comunidade, grupos etc.).
A evolução do mundo técnico tende a tirar o
homem de suas comunidades naturais para submergi-lo em comunidades mais
“artificiais” ou “mais seletivas”. Por isso, a família vive, muitas vezes, de
maneira dramática o conflito das gerações que caracteriza a nossa época. Os
pais rezam melhor em companhia de seus amigos do que em família, com seus
filhos e familiares. Mas se todos se preocuparem com a vontade de Deus ao
praticar o bem, ao viver o amor fraterno, o único que nos edifica, humaniza e diviniza,
acabarão salvar a comunidade natural que é a família humana. Por isso, Jesus
afirma hoje: “Todo
aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha
irmã e minha mãe” (Mt 12,50). Trata-se de uma família ou uma comunidade de
Deus, e por isso, de uma comunidade de salvação.
Jesus, por sua encarnação, entrou no mundo e
formou parte de nossa humanidade, de uma verdadeira humanidade, com os laços de
sangue e de cultura e cresceu em uma família. Ele se tornou humano para nos divinizar.
Ele nasceu numa família para santificar a família. Ele viveu em um país
determinado, Palestina; tinha uma mãe, Maria. Essas realidades humanas têm
grande importância, constituem realmente o lugar de nossa vida.
“Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?”,
pergunta Jesus. A pergunta não significa um desprezo de Jesus aos seus parentes
ou familiares. Ninguém amou Sua mãe melhor que Ele. E nenhuma mãe amou melhor
seu Filho, Jesus Cristo, Deus-Conosco do que a própria Maria, a mãe de Jesus.
Com esta pergunta Jesus quer nos revelar algo
muito importante: o discípulo, cada cristão, cada cristã que vive os
ensinamentos de Jesus é um parente de Jesus. Jesus oferece aos homens a
qualitativa intimidade de sua família. A família humana de Jesus viveu conforme
a vontade de Deus: José que criou Jesus era chamado de “o justo”, aquele que
vive segundo os mandamentos de Deus (cf. Mt 1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi
chamada pelo anjo de “cheia de graça” (cf. Lc 1,28) e ela viveu a vida conforme
a vontade de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua
palavra” (Lc 1,38). Por isso, a família
humana de Jesus serve de exemplo para todas as famílias humanas. Que é possível
formar uma família de Deus nesta terra quando Jesus se torna centro de todos e
quando todos vivem de acordo com a Palavra de Deus. A única maneira de salvar a
família humana é transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo
com os mandamentos de Deus.
Entre Deus e os homens já não há somente
relações frias de obediência e de submissão como entre o patrão e o empregado.
Com Jesus entramos na família divina, como seus irmãos e irmãs, como sua mãe.
Se em todos os meus atos e atitudes de cada dia, se em todos os minutos de
minha vida procurar me manter unido a Deus na vivência do amor fraterno, serei
irmão de Jesus, farei parte da família de Deus desde aqui na terra junto aos
outros irmãos e irmãs no mundo inteiro que fazem a mesma coisa.
“Todo aquele que faz a vontade do meu Pai,
que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Esta frase
deve servir de orientação para nossa vida diária. É lindo e desejável ter um
lar, um aconchego. É o sonho de todos. É o desejo de qualquer coração. Ter um
lar é um sonho vivo de qualquer ser humano. No lar podemos descansar, conviver
amorosamente e estar juntos como pessoas amadas. Mas é preciso incluir Jesus
como membro de nosso lar e nós como membros do lar do Senhor. Somente assim
nosso lar na terra se transformará em céu antecipado onde há paz e amor,
segurança e alegria, festa e descanso. Nosso ler definitivo no céu deve começar
desde já aqui na terra tendo Jesus como membro de nossa família e nós, da
família de Jesus. A disponibilidade de Maria diante da Palavra e do desígnio
divino nos indicam o grado máximo que devemos aspirar no serviço da Palavra
divina: “Faça-se em mim segundo a sua Palavra” (Lc 1,38).
Reflita:
“Por
acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por Ele dia
e noite? ... Digo-vos que em breve Deus lhes fará justiça” (Lc 18,7-8).
“O
Senhor, meu Deus, vive, se eu der à luz, trate-se de homem ou de mulher,
oferecê-lo-ei em voto ao Senhor meu Deus, e o servirá em todos os dias de sua
vida”, prometeu Ana (Apócrifo de Tiago, 4,1).
P. Vitus Gustama,svd
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