quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Domingo, 02/12/2018Resultado de imagem para adventoResultado de imagem para levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próximaImagem relacionada
A FÉ PROFUNDA NOS FAZ ERGUER A CABEÇA EM TODAS AS SITUAÇÕES DA VIDA, POIS DEUS ESTÁ PRONTO PARA NOS SALVAR
I DOMINFO DO ADVENTO ANO “C”

I Leitura: Jr 33,14-16
14 “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei cumprir a promessa de bens futuros para a casa de Israel e para a casa de Judá. 15 Naqueles dias, naquele tempo, farei brotar de Davi a semente da justiça, que fará valer a lei e a justiça na terra. 16 Naqueles dias, Judá será salvo e Jerusalém terá uma população confiante; este é o nome que servirá para designá-la: ‘O Senhor é a nossa justiça’”.
 


II Leitura: 1Ts 3,12-4,2
Irmãos: 3,12 O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós. 13 Que assim ele confirme os vossos corações numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos. 4,1 Enfim, meus irmãos, eis que vos pedimos e exortamos no Senhor Jesus: Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus, e já estais vivendo assim. Fazei progressos ainda maiores! 2 Conheceis, de fato, as instruções que temos dado em nome do Senhor Jesus.


Evangelho: Lc 21,25-28.34-36
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 25 “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. 26 Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas. 27 Então eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. 28 Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. 34 Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; 35 pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. 36 Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem”.
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I. Advento


Estamos novamente no Tempo do Advento. O termo “advento” é cristão, mas de origem profana/pagã, pois significava chegada, vinda; aniversário de uma chegada, de uma vinda; ou visita oficial de uma personagem importante no tempo de sua posse. Nos escritos cristãos dos primeiros séculos (especialmente a partir do século IV) o termo tornou-se termo clássico para designar a vinda de Cristo.


        


O tempo do advento tem uma dupla característica:


É o tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se recorda a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens. O advento nos lembra a dimensão histórico-sacramental da salvação. Deus do advento é o Deus da história, o Deus que veio plenamente para a salvação do homem em Jesus de Nazaré em que se revela a face do Pai (Jo 14,9). A história é o lugar da realização das promessas de Deus.


Simultaneamente é o tempo no qual, através desta recordação, o espírito é conduzido à espera da segunda vinda de Cristo no final dos tempos. O advento é o tempo litúrgico em que se evidencia fortemente a dimensão escatológica do mistério cristão. Estamos em permanente viagem rumo à casa do Pai. Cristo veio na nossa carne, manifestou-se e revelou-se como ressuscitado, depois da morte, aos apóstolos e às testemunhas previamente escolhidas por Deus (cf. At 10,40-42) e aparecerá glorioso no fim dos tempos (At 1,11). Os cristãos, na sua peregrinação terrena, vivem continuamente a tensão do já da salvação toda realizada em Cristo e o ainda não da sua realização plena em nós e de sua plena manifestação na volta gloriosa do Senhor juiz e salvador.

Por esta dupla característica, o tempo do advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa. O advento celebra o Deus da esperança (Rm 15,13) e vive a alegre esperança (cf. Rm 8,24s) com fé. A fé une o homem a Cristo, a esperança abre esta fé para o vasto futuro de Cristo. A fé transforma a esperança em confiança e certeza; e a esperança torna a fé ampla e lhe dá a vida.

Dentro desta alegre esperança, os cristãos são chamados a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica da vida: a espera vigilante e jubilosa, a esperança, e a conversão. Os cristãos podem acreditar em Deus de Jesus Cristo cegamente porque o Deus da revelação é o Deus da promessa que em Cristo manifestou a sua fidelidade ao homem (cf. 2Cor 1,20). Os cristãos vivem esta espera na vigilância e na alegria. Mas Deus que entra na história põe em causa o homem, questiona- o. Por isso, o tempo do advento, sobretudo através da pregação de João Batista, é o convite à conversão para preparar os caminhos do Senhor e acolher alegremente o Senhor que vem pois ele só traz a salvação.

Esse significado envolve o lecionário inteiro.

O evangelho do PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO nos fala da segunda vinda do senhor e nos exorta à vigilância. Se o Reino dos céus está próximo, é necessário preparar os caminhos. Este domingo no relembra sobre a dimensão futura de nossa vida. Vivemos o presente mas sempre com o olhar posto no Senhor. A nossa vida é uma caminhada rumo à comunhão plena com Deus, nosso Criador. É necessário que estejamos preparados para acolher o reino que nos é oferecido todos os dias. Assim estaremos preparados para o encontro derradeiro com o Nosso Criador, Deus.


Por isso, o evangelho do SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO contém a pregação da penitência de João Batista, Precursor do Senhor. O pecado bloqueia o canal da graça para chegar até nós. O pecado faz o coração fechado diante da graça. Pecar significa dizer não a Deus. A penitência e a conversão fazem com que o coração esteja aberto novamente à graça de Deus, e, consequentemente, a graça de Deus não encontrará nenhum impedimento para entrar no nosso coração.
 
O TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO é conhecido por muitos como o domingo “GAUDETE” (alegra-te!). Se a graça de Deus estiver no nosso coração, então teremos motivos para ficar alegres. A graça sempre traz a alegria para nós. Por isso, este domingo nos convida a tomarmos parte na alegria do advento, pois Deus vem nos salvar (cf. Fl 4,4s). Deus vem para nos salvar porque com a nossa própria força humana não sairíamos de nossa condição de pecadores. O mistério de alegria nasce de Deus, é um dom, e por isso não se compra em nossos mercados nem se encontra em nossas salas de festa. A alegria brota de dentro e tem sua origem no Espírito Deus. Dois amores, quando estiverem juntos, são sempre felizes, onde quer que eles estejam. Seria blasfêmia apresentar Deus como inimigo da vida e da alegria. O homem foi criado para expandir-se na alegria e é, por isso, chamado por Deus para expandir a alegria.  Um aspecto que logo nos chama a atenção são os paramentos róseos usados na missa (embora não seja obrigatório). Estes paramentos substituem o roxo severo dos domingos anteriores e assinalam a alegria antecipada do Natal. O evangelho do terceiro domingo do advento nos coloca diante da figura do Batista.

O QUARTO DOMINGO DO ADVENTO nos coloca no mais próximo da preparação para a festa do nascimento do Senhor ou anuncia a vinda iminente do Messias. Neste domingo aparece a figura de José, Maria, Isabel. Por isso, os textos próprios da missa são determinados por aqueles acontecimentos.
  • No ano A o evangelho fala do conflito interior de José e da mensagem que o anjo lhe transmite, e segundo a qual ele deve receber Maria.
  • Nos ciclos B e C leem-se as perícopes da Anunciação do Senhor (Lc 1,26-38) e da visita de Maria à sua parenta Isabel, onde Maria é proclamada feliz por causa de sua fé e entoa o Magnificat (Lc 1,39-47).
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Neste primeiro Domingo do Advento a liturgia nos fala da expectativa do retorno do Senhor. Nosso olhar, então, se fixa em Deus que vem ao nosso encontro.


Na Coleta (oração da entrada, Gelasiano) pedimos ao Senhor que aviva em seus fiéis o desejo de sair ao encontro de Cristo, acompanhados pelas boas obras, para que mereçamos o Reino eterno.


Na oração do ofertório (Veronense), suplicamos ao Senhor para que aceite os bens que recebemos dele e, através da apresentação do pão e do vinho, conceda que a ação santa que celebramos possa ser um penhor de salvação para nós.


E na oração depois da Comunhão (recém-escrita, inspirada nos Sacramentais Veronense e Bergamo): suplicamos ao Senhor para que a celebração dos sacramentos seja frutífera em nós, com a qual ele nos ensina a descobrir o valor dos bens eternos e a colocar neles nossos corações.


II. Sobre As Leituras Deste Primeiro Domingo Do Advento Ano C


Na memória do passado em que Deus se encarnou, somos convidados a viver o presente com autenticidade cristã e a levar a sério a nossa vocação de eternidade, pois Ele veio para nos mostrar o caminho para a eternidade. O cristão é sempre um crente projetado para a eternidade, mas, ao mesmo tempo, ele deve viver sua responsabilidade todos os dias como o eleito de Cristo e testemunhar uma vida baseada no Evangelho.


A Primeira Leitura (Jr 33,14-16) quer nos transmitir uma mensagem de esperança de que apesar da degradação e dos desvios dos homens, Deus é fiel à sua promessa messiânica. O Messias seria o descendente legítimo da linhagem de Davi, seu filho vivendo com os homens. A vontade e a disposição de Deus para oferecer sua graça repetidas vezes, apesar das prevaricações do homem, são permanentes na Bíblia. Deus vive e desde que criou o homem, Deus vive sempre atento ao homem. Da parte Deus, o homem nunca será abandonado, pois Deus é como o pai do filho pródigo está sempre na espera da volta do filho perdido. Deus procura e quer salvar o homem. Em toda a história da salvação, Deus aparece como fiel cúmplice de suas promessas. Eles são cumpridos na plenitude dos tempos, quando Cristo, o Salvador, veio.


Através do Salmo Responsorial (Sl 24) pedimos ao Senhor que nos ensine Seus caminhos, que nos instrua em Suas sendas, que caminhemos com lealdade, como o próprio Senhor sempre é fiel a suas promessas para todos nós por amor, pois o Senhor é bom e reto. Através de Jesus, Deus ensina o caminho aos pecadores e faz o humilde andar com justiça. Seus caminhos são misericórdia e lealdade para com aqueles que guardam sua aliança e seus mandamentos.


Podemos entender a mensagem da Segunda Leitura da Primeira Carta aos Tessalonicenses (1Ts 3,12-4,2) que a vontade de Deus é nossa santificação. Nossa autenticidade cristã consiste em viver cada dia nossa santidade para que possamos chegar irrepreensíveis ao julgamento de Deus para possuir seu Reino eternamente. Para o cristão, não há outra finalidade ou outro propósito para sua vida e atividade responsável do que servir e amar a Deus com alegria e, portanto, estar sempre disponível para os outros, como Deus quer. Um vive pelo outro, mas como Deus quer, à maneira de Cristo. O cristão vive esperando e com os olhos fixos no futuro, não só no passado. Não é uma espécie de vida passiva ou resignada, melancólica ou retrógrada, mas em uma tensão alegre e pacífica, aguardando seu encontro definitivo com Jesus Cristo. O cristão espera não de braços cruzados, mas vivendo um amor ativo e concreto. Deste modo, o cristão está adiantando o que vai ser sua existência última e plena.


A carta é dirigida a uma comunidade cristã em uma situação de diáspora no meio dos pagãos. Corre-se o risco de ser sufocada pelo ambiente que exerce uma forte pressão. A comunidade existe graças ao amor de Cristo. O amor e a presença de Cristo no meio da comunidade devem irradiar-se e manifestar-se no amor recíproco que cria a unidade da comunidade e está aberto a todos até atingir o seu aspecto mais radical: amar os inimigos (Mt 5,44).


O próprio são Paulo coloca em prática o que ele recomenda. A autoridade de seu ministério é animada pelo amor aos irmãos. Com eles, ele se coloca no caminho da fé. A partir do amor, será mais fácil entender como agradar a Deus e colaborar na realização de seu plano de salvação.


A salvação que Cristo trouxe não é totalmente realizada. É uma realidade em expansão que avança em direção a sua realização escatológica, para a realização do mundo em Cristo ressuscitado. Assim, a Igreja de Cristo é, por definição, uma igreja a caminho, chamada para ser enviada em missão. Somente uma Igreja a caminho  ou uma Igreja em saída conforme o Papa Francisco, pode colocar o mundo na estrada rumo à Casa celeste.


Ser uma Igreja e ser enviado é um dom que comporta uma responsabilidade. O dinamismo, os imperativos da história, a vinda do Senhor e a salvação exigem a colaboração do homem. O Deus da promessa exige do homem a responsabilidade de suas opções. O homem nunca está satisfeito consigo mesmo, nem com suas conquistas ou realizações. Está sempre em tensão para um futuro melhor.


Mensagem do Evangelho Lc 21,25-28.34-36


“Levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima!”


Como os dois outros evangelhos sinóticos (Mt e Mc), também o evangelho de Lucas encerra a atividade de Jesus em Jerusalém (Lc19,29-21,38), antes de sua prisão e morte, com o discurso sobre o fim (escatológico) ou discurso apocalíptico (Lc 21,5-38). Tanto Mateus como Lucas inspiram seu discurso escatológico/apocalíptico do evangelho de Marcos capítulo 13.


Mas Lucas tem seu próprio estilo, pois seu evangelho foi escrito depois do ano 70 d.C. Para ele a destruição de Jerusalém é um fato passado. Por isso, ele distingue claramente a Parusia (Segunda Vinda) de Jesus dos eventos ligados ao destino de Jerusalém. Além disso, ele leva em consideração o aspecto histórico e eclesial do discurso dentro do contexto da história da salvação. No discurso ele projeta a sua visão da história da salvação em três momentos: primeiro, a destruição de Jerusalém (julgamento sobre Jerusalém) como o fim de toda uma etapa da história salvífica, mas não é o sinal da chegada do fim; segundo, tempo da missão da Igreja e terceiro, a segunda vinda do Filho do Homem (Parusia) que trará a plenitude do Reino de Deus.


Ao redimensionar a perspectiva escatológica deste discurso Lucas quer chamar a atenção de dois grupos, seja o dos fanáticos que esperam com impaciência o fim, seja o dos decepcionados e resignados que não esperam mais nada pela demora, para a necessidade do empenho presente, no Tempo da Igreja. Este é o tempo oportuno do testemunho em meio às perseguições violentas, a confiança e a esperança perseverante na espera da libertação com a vinda gloriosa do Senhor Ressuscitado, o Filho do Homem. Por isso, Jesus diz: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (v.28).


“Levantar-se” e “erguer a cabeça” são características de quem tem fé. Quando ousamos crer no domingo de Páscoa, porque em nós está a força da ressurreição, não há fracasso que nos faça sentir perdedores.  Os cristãos não podem se entregar a utopia futurista, perdendo o laço com a realidade histórica e cotidiana, a realidade do presente embora ela esteja cheia de mentiras, violências, perturbações absurdas que podem levar a desejar o fim. Se o Senhor havia vencido a morte, pensa Lucas, a comunidade cristã não está caminhando rumo à uma utopia anônima, mas o Filho do Homem, que é garantia e primícia da libertação humana. A nossa esperança, por isso, não será fraudada, pois ela tem um nome: Jesus Cristo. Por isso, São Paulo diz: ”Se Deus está conosco, quem estará contra nós? Quem nos separará do amor de Cristo? Em tudo isto somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou” (Rm 8, 31.35.37). Por isso, “tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13).


Lucas convida, assim, a comunidade cristã a trilhar o caminho da fidelidade e da coragem, o caminho que o próprio Senhor trilhou, mesmo diante da repressão violenta das estruturas do poder, sinagogas, e reis, mesmo perante a morte violenta (Lc 21,12). Lucas não fornece informações sobre o fim, mas refunda a esperança no acontecimento central da morte e ressurreição de Jesus. Ele convida os cristãos a olharem para a história para decifrar seus sinais, que fazem pressagiar/prever já agora a passagem da morte à vida, da escravidão à liberdade, como os primeiros brotos anunciam após o inverno a boa estação (vv. 29-30).


O que importa para uma comunidade cristã é a vivacidade de esperança. É a esperança que arranca o homem de uma existência sem futuro e sem expectativas. A tristeza e o desânimo são um sinal da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo provém de uma falta de fé.


Este discurso, portanto, é o discurso sobre o Filho do Homem, sobre Jesus, o Senhor Ressuscitado, o Homem fiel até a morte para dar a todos um futuro novo e diferente, e para afirmar aos cristãos ou para quem quer que seja que vale a pena lutar pelo que é digno, como o bem, o amor, a justiça, a solidariedade, a honestidade, a fraternidade, a paz etc., pois tudo isto tem a vitória sobre a morte como o ponto final.


Para isso, são necessárias duas atitudes de esperança que recebem seu dinamismo da meta que é o encontro decisivo com o Filho do Homem: Vigilância (e conversão) e oração constante.


1. Vigilância


No sentido literal do termo, vigiar significa renunciar ao sono da noite com o intuito de prolongar o tempo para trabalhar ou para não ser apanhado de surpresa pelo inimigo. Daí o sentido metafórico: vigiar significa estar atento e pronto para acolher o Senhor quando vier. Toda a moral evangélica está fundada na vigilância. O tema da vigilância não é acidental nos evangelhos, mas sempre intervém nos textos. De certa forma, o cristão é sinônimo de pessoa vigilante. A vigilância é a qualidade de quem emprega todo cuidado naquilo que deve ouvir, olhar, pensar, falar e fazer. Para o cristão, qualquer momento pode-se transformar em momento de graça (kairós). Ele tem consciência de estar inserido na história da salvação como receptor e como cooperador da graça. O cristão vigilante vive profundamente imerso na história da salvação, isto é, no aqui-e-agora, descobrindo tudo o que lhe oferece e respondendo tudo o que lhe exige o momento presente. O cristão vigilante não se lamenta perante os momentos espinhosos e sufocantes, mas sabe decifrar seu sentido para torná-los em oportunidades preciosas. O cristão vigilante sempre pergunta: “O que é que Deus quer de mim através daquele acontecimento ou através daquela pessoa”. Ele sempre procura decifrar o sentido das coisas. Vigilância, por isso, significa acordar para os fatos, despertar do sono das ilusões para enfrentar a realidade. O vigilante está sempre em contato com Deus e com a realidade. Ele tem uma intuição do que significa viver, respirar, ver, reunir-se com as pessoas e degustar o mistério de cada momento.


Se o sentido literal da vigilância aponta para o ato de renunciar ao sono da noite, isto quer dizer que quando se fala da vigilância é inevitável falar da renúncia. Renunciar quer dizer optar por aquilo que tem o valor absoluto ou simplesmente um valor maior que tenho até então. A renúncia precisa sempre da liberdade interior e ao mesmo tempo pode levar alguém à liberdade. Ela não permite o relaxamento moral e espiritual. Os cristãos, por isso, devem sempre tomar cuidado para não relaxar, pervertendo o testemunho e acabando por assumir os vícios provocados pela sociedade injusta como a gula, a embriaguez e a preocupação exagerada sobre a vida. Quem precisa satisfazer toda necessidade imediatamente fica dependente. Acaba determinado por suas necessidades, e por isso, perde a liberdade.


O julgamento está sempre operando na história, pois Deus continua nos visitando através de Seu Espírito. Em qualquer momento Deus bate a nossa porta. Os impulsos com os quais Deus nos chama a atenção para o que se deve fazer agora são suaves e por isso, precisa-se de muita vigilância (atenção). Em outras palavras, vigilância significa prestar atenção àquilo que aflui até nós. Mas, muitas vezes, por causa de nossas preocupações, acabamos reprimindo essa voz suave. Vigilância no momento significa estar inteiramente presente, envolver-se por inteiro no momento presente sem pensar no passado ou já planejar o futuro. Quando não vigiarmos, vai entrar furtivamente em nós muita coisa que nos desvia de nosso caminho consciente. Não devemos dar livre acesso a qualquer pensamento ou emoção, porque eles logo revelariam ser invasores que nos dificultam a vida em nosso lar interior e querem nos expulsar cada vez mais longe de nosso centro. Consequentemente, não viveremos nós mesmos mas seremos guiados por forças inconscientes e não seremos mais os senhores em nossa casa, pois seremos dominados por insatisfação e amargura, por medo e depressão que tomarão para si o governo de nossa casa.


Os cristãos devem, portanto, estar sempre de prontidão, vigiando e praticando a justiça. Somente a sua perseverança na prática e no anúncio da justiça lhes permitirá ser considerados justos e inocentes no dia do julgamento.


2. Oração


Além da vigilância, no seguimento de Jesus, a oração sustenta a caminhada dos cristãos. Ela é a expressão mais viva da fé. Quem crê, precisa orar e quem ora porque acredita. A oração é a alma da espera, o vigor espiritual de quem crê, capaz de assumir a lembrança do passado e de preparar para o futuro. Para tanto, Jesus ilustra o sentido profundo do advérbio “sempre” e do “não desistir jamais” por meio de uma parábola (cf. Lc 18,1-8). O rezar “sempre” é o programa de quem crê.


A oração exige uma relação em que nós permitimos ao outro entrar no centro de nossa pessoa, permitimos-lhe falar ali, permitimos-lhe tocar o núcleo sensitivo de nosso ser e permitimos-lhe ver tudo o que nós preferiríamos ocultar na escuridão para que ninguém o soubesse.


Ao homem convidado para rezar se pede que abra seus punhos fechados firmemente cerrados e dê sua última moeda.  Se nós não ousamos fazer ao menos uma pergunta a partir de nossa experiência com todos os nossos apegos, é porque já nos enrolamos no destino dos fatos. Nós nos sentimos mais seguros apegando-nos a um triste passado do que confiando em um novo futuro. Por isso, enchemos as mãos com pequenas moedas pegajosas das quais nunca quereremos nos desfazer.


Por isso, sempre que nós rezamos de verdade, a nossa oração é eficaz, não porque modificamos Deus, mas porque nos modificamos. O mais difícil da oração não é tanto saber se Deus nos escuta, mas conseguirmos que nós O escutemos.


Quando pararmos de rezar, e quando começarmos a nos impressionar demais os resultados de nosso trabalho, devagar chegaremos à conclusão errônea de que a vida é um grande placar onde alguém marca os pontos para medir nosso valor. Então, somos inteligentes porque alguém nos dá nota alta, úteis porque alguém agradece, dignos de estima porque alguém nos estima e importantes porque alguém nos considera indispensáveis. Em suma, somos de valor porque alcançamos sucessos.


Mas de baixo de toda a nossa ênfase na ação bem sucedida, muitos de nós sofremos de uma arraigada falta de amor-próprio e com o medo constante de que, algum dia, alguém descubra a ilusão e mostre que não somos tão espertos, tão bons ou tão estimáveis quanto fizemos o mundo acreditar que éramos. Esse medo desgastante de que descubram nossas fraquezas impede a participação comunitária e criativa. E corremos o sério perigo de ficar isolados, pois a amizade e o amor são impossíveis sem uma vulnerabilidade mútua.


Levar uma vida cristã significa viver no mundo sem ser do mundo. É na solidão (oração) que essa liberdade se fortalece. A vida sem um lugar deserto torna-se facilmente destrutiva. Quando nos apegamos aos resultados de nossas ações como nosso único meio de identificação pessoal, tornamo-nos possessivos, ficamos na defensiva e tendemos a ver nossos semelhantes mais como inimigos a ser mantidos a distância que como amigos com os quais partilhamos as dádivas da vida.


Na solidão (oração) descobrimos no centro de nossa personalidade que não somos mais o que conquistamos, mas o que nos é dado. Na solidão, escutamos a voz daquele que nos falou antes de pronunciarmos uma palavra, (Sl 139) que nos curou antes de esboçarmos um gesto pedindo ajuda, que nos libertou muito antes de libertarmos os outros e nos amou muito antes de darmos amor a alguém. Na solidão(oração), descobrimos que nossa vida não é um bem a ser defendido, mas uma dádiva a compartilhar.


Quando deixamos de depender deste mundo, formamos uma comunidade de fé em que há pouco a defender, mas muito a partilhar. E como comunidade de fé lembramos uns aos outros constantemente que formamos uma fraternidade dos fracos, compreensível para aquele que nos fala nos lugares desertos de nossa existência e diz: Não temais, sois aceitos.


Cristo já veio mas nunca deixa de vir a caminho de nossa casa. O lugar que ele mais ambiciona é um coração convertido, que tenha a coragem de se “reformar” e de se abrir ao amor, à fraternidade, à justiça...Só criando espaço para Cristo num coração convertido é que conseguiremos à meta. Jesus continuamente visita e frequenta o coração daqueles que sabem crer, esperar e amar. Se na vida jogarmos sementes de egoísmo, de violência e de orgulho, de arrogância e de prepotência, estes serão nossos companheiros da viagem e por isso, nunca seremos felizes e nunca faremos ninguém feliz. Se jogarmos sementes da justiça, do amor, da fraternidade e da esperança e da fé em Cristo, Cristo será nossa herança feliz e com ele teremos a experiência da libertação. Importa viver sempre na presença de Cristo. Por isso,” ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (v.36).
 
P. Vitus Gustama,svd

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