03/12/2018
UM
“PAGÃO” QUE
CRÊ NA PALAVRA DEUS E AMA O PRÓXIMO
Segunda-Feira
da I Semana do Advento
Primeira Leitura: Is 35,1-10
1 Alegre-se a terra que
era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. 2 Germine
e exulte de alegria e louvores. Foi-lhe dada a glória do Líbano, o esplendor do
Carmelo e de Saron; seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade do
nosso Deus. 3 Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados.
4 Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso
Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos
salvar”. 5 Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos
surdos. 6 O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos, assim
como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. 7 A terra árida se
transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d’água; nas cavernas onde
viviam dragões crescerá o caniço e o junco. 8 Ali haverá uma vereda e um
caminho; o caminho se chamará estrada santa: por ela não passará o impuro; mas
será uma estrada reta em que até os débeis não se perderão. 9 Ali não existem
leões, não andam por ela animais depredadores, nem mesmo aparecem lá; os que
forem libertados poderão percorrê-la, 10 os que o Senhor salvou voltarão para
casa. Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em
seus rostos: cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o
pranto”.
Evangelho: Mt 8,5-11
Naquele
tempo , 5quando Jesus entrou em
Carfanaum, um oficial
romano aproximou-se dele, suplicando: 6“Senhor , o meu empregado está de cama , lá em casa ,
sofrendo terrivelmente com uma paralisia ”. 7Jesus
respondeu: “Vou curá-lo”. 8O oficial disse: “Senhor , eu não sou digno de que entres em minha casa . Dize
uma só palavra
e o meu empregado
ficará curado. 9Pois
eu também
sou subordinado e tenho soldados sob minhas ordens .
E digo a um : ‘Vai! e ele vai; e a outro :
‘Vem!, e ele vem; e digo a meu escravo :
‘Faze isto !, e ele
o faz”. 10Quando
ouviu isso , Jesus ficou admirado, e
disse aos que o seguiam: “Em verdade , vos digo: nunca
encontrei em Israel alguém
que tivesse tanta
fé . 11Eu vos digo: muitos virão do Oriente
e do Ocidente , e se sentarão à mesa no Reino
dos Céus , junto
com Abraão, Isaac e Jacó”.
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Somos Convidados a Viver Na Esperança, Pois Deus é Emanuel
Durante as duas primeiras semanas do Advento,
a Igreja nos propõe a meditação das “profecias” do profeta Isaias.
Isaias nasceu em Jerusalém por volta de 765
antes de Cristo (“Isaias”, hebraico: “salvação de Deus” ou “Javé é a salvação”).
Com a idade de 25 anos, teve uma visão de Deus (cf. Is 6,1-8). A visão de Deus
transformou Isaías em um servo do Senhor com uma mensagem única cheia de
esperança. A partir daquele momento devotou-se à vocação da profecia. Isaías
ministrou ao povo de Deus durante uma época de grande instabilidade política
(740 a 686 a.C)
O profeta Isaías é uma das grandes testemunhas
da espera messiânica. Vivia oito séculos antes de Jesus. Morava em Jerusalém, a
capital de Judá. Ele
viu o Reino do Norte, Samaria, desmoronar sob os golpes dos Assírios, e ele
sente a mesma ameaça para o Reino do Sul. Além disso, Jerusalém, a capital,
deixou de praticar a justiça e o direito (Is 1,21), e consequentemente, havia
muitos assassinos. Os chefes se tornaram
ladrões, corruptos, gananciosos e violentos. Como consequência disso, os
pobres, as viúvas e os órfãos viviam sem defesa e sem segurança e eram
humilhados (Is 1,23). Onde reina a corrupção e a injustiça social, ali haverá a
violência e assassinato. E os pobres sofrem as consequências.
É assim no contexto histórico de uma
catástrofe iminente quando o profeta anuncia a esperança de um Messias que
trará a paz. Esse Messias é chamado “Emanuel” que significa “Deus conosco” (Is
7,14). Quem está com Deus são aqueles que obedecem à sua Palavra e que confiam
na presença libertadora de Deus.
O mundo ideal do Reino messiânico de Isaías é
um mundo no qual homem e natureza, afinal, vivem em paz e fraternidade; todos vivem
na harmonia total. Ninguém representa ameaça para o outro. Ninguém ataca ninguém.
Todos se compreendem e se confraternizam. Para descrever este mundo ideal, Isaías
usa várias expressões: “o lobo e o cordeiro moram juntos”, “o leopardo se
deitará com o cabrito”, “as crianças brincam com víboras sem nenhum mal” (cf. Is
11,1ss), e assim por diante.
Essa visão e inspiração de Deus animaram o
profeta Isaias. Apesar da corrupção desenfreada, da injustiça social e os
demais problemas sociais e religiosos, Isaias começou a enxergar um futuro
melhor. E ele se dirigiu ao povo com uma mensagem de esperança: “O povo que andava nas trevas viu uma grande
luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. Vós
suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante
de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos.
Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor,
vós os quebrastes, como no dia de Madiã. Porque todo calçado que se traz na
batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e se tornarão
presa das chamas; porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a
soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável,
Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz" (Is 9,1-5). O futuro do povo
não está na força do exército e sim numa criança-Messias.
No texto da Primeira Leitura o profeta Isaías
faz o anúncio de ambiente de festa e alegria que enche o deserto e a estepe. O deserto
é também o lugar do encontro do Senhor com seu povo. E o encontro com o Senhor
causa a salvação, e a salvação implica transformar o deserto em terra de águas.
Onde há a água, há também vida e abundância.
O fundamento deste ânimo é a certeza de que o
Senhor está próximo. O Senhor vem ao encontro de seu povo. Este anúncio
desperta o povo da paralisia espiritual e faz que se ponha a caminho. Somente caminhando
é que veremos a variedade de coisas e acontecimentos no caminho para enriquecer
nossa visão sobre a vida e captar seu sentido. Por causa desse anúncio, até os
coxos, levados pelo entusiasmo geral e pela ajuda dos demais podem manter o
ritmo da marcha. Também os que se consideram cegos e surdo, podem enxergar e
compreender o que está acontecendo ou o que se passa na vida.
“Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso
Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos
salvar”.
Com grande força poética o profeta Isaias
descreve, ao mesmo tempo, o juízo de Deus contra seu povo (cf. Is 2,6-22). A prosperidade
material e a “segurança” que lhe proporcionam as alianças com os países
estrangeiros deram origem à soberba, à superstição e ao luxo. No lugar de
fazer-se forte em Deus, como exigia a aliança, os dirigentes buscaram a
segurança nas riquezas ilusórias (cf. Is 6,7).
A orgulhosa autonomia do homem é, para o
profeta Isaias, o autêntico pecado de idolatria: com o ouro e a prata, e com
instrumentos bélicos, o homem intenta não ter necessidade de Deus. Com isso, o
homem se autodiviniza. Nesta primeira parte do texto de Isaías (Is 2,6-22)
ocupa um lugar importante a descrição do dia de Javé, o dia de julgamento, o dia
de vingança. O dia de Javé é um dia de juízo contra a soberba humana. A orgulhosa
autonomia do homem é, para o profeta Isaías, a fonte de todos os pecados
particulares e, por isso, a característica fundamental da atitude antidivina.
Mas o castigo, a destruição e a morte não são
a última palavra de Deus (cf. Is 4,2-6). Javé voltará a estar com seu povo fiel
como quando o acompanhava através do deserto. Abre-se uma perspectiva de salvação
que estimula a fidelidade religiosa do resto integramente restaurado depois de
uma prova purificadora.
Somos convidados, neste Advento e no resto dos
dias de nossa vida, a viver na e da esperança. Segundo Aristóteles a esperança é
“sonho de quem está acordado”. A esperança cristã não é um sonho, mas é a
realidade porque é baseada na ressurreição de Jesus Cristo. Desta forma, a fé
em Cristo transforma a esperança em confiança e certeza; e a esperança torna a
fé em Cristo ampla e lhe dá vida. Por isso, São Paulo nos relembra com esta
frase: “Cristo é nossa esperança” (Col 1,27). “A fé que mais me agrada é a
esperança” (Charles Peguy). É verdade porque na esperança, a fé abre novos
caminhos no coração das pessoas e tende a realizar um mundo novo. Por isso, a
esperança é o maior desafio de cada dia porque tendemos a ver tudo escuro e
negativo. O tipo de nossa reação depende da visão que temos sobre a realidade.
O Advento começou. É um tempo que nos convida
a estarmos abertos à Palavra de Deus para que no Natal, como no resto dos dias
do ano, esta Palavra se faça carne em cada um de nós. Quando a Palavra de Deus
se tornar carne e m nós, seremos cristãos de esperança baseada na fidelidade de
Deus que jamais nos abandona, e viveremos na harmonia fraterna. A Palavra de
Deus tem poder de nos despertar de nosso sono de vingança, de ódio, de inveja,
de ressentimento para voltarmos a viver como irmãos. O Reino messiânico começará
em mim a partir do momento em que eu descobrir que cada ser humano é meu irmão,
filho do mesmo Pai do céu.
Um “Pagão” Que Nos Ensina No Força Poderosa Da Palavra De Deus
“Um oficial romano !”.
“Um estrangeiro !”.
Um estrangeiro ,
mais ainda
um romano (poder romano), não pertence ao
Povo eleito. Por
ser estrangeiro ,
ele é impuro
na concepção do Povo
eleito e não pode tocar nele para não ficar impuro. Por
ser impuro não pode receber as bênçãos do Senhor . Mas será mesmo que ele é impuro ? O evangelista
Mateus quer
superar essa mentalidade
separatista e discriminatória ao colocar , no seu evangelho , a história
de um oficial
romano cujo
coração está cheio
de amor para com o próximo .
O oficial
romano do qual
fala o evangelho
deste dia demonstra sua
grande bondade
para com o próximo , para com seu empregado /escravo , apesar de não pertencer ao Povo de
Israel. Sua sensibilidade
humana ou
sua humanidade
é tão alta
a ponto de ele
se preocupar com
seu escravo
(empregado ). Ele
trata seu
escravo como
se fosse membro de sua
família .
Ele não
manda nenhum
subordinado para
procurar Jesus, mas
é ele próprio
quem se aproxima de Jesus para
pedir a ajuda
(cura ) em
favor do seu escravo /empregado . É um patrão exemplar ! É um oficial extraordinário .
É um líder
que ama .
Um líder
que ama ,
é respeitado. Um líder
temido, geralmente , não
é respeitado.
Ao atender esse oficial “pagão ” Jesus quer
nos mostrar
que ele
não aceita nossas divisões ,
nem nossos
racismos nem
nossas discriminações . O coração de cada
seguidor de Jesus deve ser
universal e missionário ,
como o próprio
coração de seu
Mestre , Jesus Cristo .
É impressionante
também a profunda
humildade desse oficial
ao dizer a Jesus: “Senhor ,
eu não
sou digno de que
entres em
minha casa .
Dize uma só palavra
e o meu empregado
ficará curado”. Este oficial “pagão ”
é muito consciente
da lei judaica
a respeito dos pagãos .
Ele não
quer pôr
Jesus em uma situação
de “impureza legal ”.
Por isso ,
ele quer
evitar que
Jesus entre em
sua casa .
“Dize uma só palavra
e o meu empregado
ficará curado “, diz o oficial a Jesus. Ele
respeito os costumes do povo local. Mas também este homem
valoriza e acredita no poder da Palavra
de Jesus, porque ele
sabe que a Palavra
de Jesus está cheia de autoridade
e de poder , pois Jesus é
a própria Palavra
de Deus (cf. Jo 1,1.14). Por acreditar
no poder da Palavra de Deus em Jesus, o oficial simplesmente disse a Jesus:
“Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado!”. O próprio oficial
também vive da palavra e usa as palavras para comandar seus soldados. Uma vez
ele diz uma palavra dirigida aos soldados, eles logo tornam a palavra uma
realidade: “Pois eu também sou
subordinado e tenho soldados sob minhas ordens. E digo a um: ‘Vai! e ele vai; e
a outro: ‘Vem!, e ele vem; e digo a meu escravo: ‘Faze isto!, e ele o faz”.
Jesus elogia
esse homem
porque acredita no poder
da palavra de Jesus: “Em verdade , vos digo: em ninguém em
Israel encontrei tanta fé ”. É a fé
de quem se considera pagão . Mas se comporta como um verdadeiro
cristão . Jesus elogia
quem acredita no poder
de Sua palavra .
Jesus põe em
contraste a incredulidade
dos seus contemporâneos
com a fé
do pagão : “Em
verdade , vos
digo: em ninguém
de Israel encontrei tanta fé ”. A fé que Jesus exige é um
impulso de confiança e de
abandono pelo
qual o homem
renuncia a apoiar-se em seus pensamentos
e em suas
forças para
abandonar-se à Palavra divina e ao poder d’Aquele em quem o homem
deve acreditar .
O oficial
romano não
pertence a uma Igreja
ou a uma religião ,
oficialmente , porém
se comporta como
um verdadeiro
homem de Deus .
É um verdadeiro
e autêntico cristão .
Podemos encontrar os cristãos
em qualquer
religião , crença
ou grupo
“Vós os reconhecereis pelos seus frutos ” (Mt 7, 16.20). Com
efeito , o paganismo
não depende da pertença
ou não
a uma religião . O paganismo
depende do modo de viver
e de se comportar para com os demais homens . Por causa do modo de viver há cristãos- pagãos
como há também
pagãos- cristãos . Um
cristão pode ser
um pagão
por causa do seu modo de viver não-cristão. E aquele
que se diz pagão
pode ser um verdadeiro cristão
se comportar-se como o oficial romano que se preocupa com
o bem do outro .
“Senhor ,
meu empregado
está de cama , paralitico”. A oração desse homem
serve de exemplo para
nós . Ele
expõe simplesmente a situação ; descreve a doença .
E o mais notável
é que ele
pede em favor
do outro , de seu
empregado . É uma oração
de intercessão . Será que eu rezo somente por mim mesmo , somente pela minha família ?
Será que tem lugar
na minha vida
uma oração de intercessão ?
Podemos também
pedir a Jesus da seguinte
maneira : “Senhor
Jesus, mesmo que eu não seja digno de recebê-Lo na minha vida, na minha
família, mas pode entrar para que minha vida, minha família seja digna de
receber sua bênção. Se em Belém o Senhor não encontrava nenhum abrigo para seu
nascimento, entre na minha família e renasça entre nós para que minha família
esteja cheia de luz para depois irradiá-la para os demais.
Jesus não
encontrou a fé naqueles que se acham “crentes ”.
“Em verdade ,
Eu vos
digo: em ninguém
em Israel encontrei tanta
fé ”. Ele
encontrou a fé naquele é considerado “pagão”. Será que
o Senhor encontrou a fé em mim ou apenas naqueles que não pertencem a nenhuma
Igreja, mas acreditam? Será que o Senhor encontrou o amor em mim ou somente
naqueles que não frequentam Igreja nenhuma? Será que acredito no poder da
Palavra de Deus ou vivo como um verdadeiro pagão? Existe cristão-pagão como
existe também pagão-cristão.
P. Vitus Gustama,svd
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