sábado, 1 de dezembro de 2018

03/12/2018
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UM “PAGÃO” QUE CRÊ NA PALAVRA DEUS E AMA O PRÓXIMO
Segunda-Feira da I Semana do Advento


Primeira Leitura: Is 35,1-10
1 Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. 2 Germine e exulte de alegria e louvores. Foi-lhe dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Saron; seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus. 3 Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. 4 Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar”. 5 Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. 6 O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos, assim como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. 7 A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d’água; nas cavernas onde viviam dragões crescerá o caniço e o junco. 8 Ali haverá uma vereda e um caminho; o caminho se chamará estrada santa: por ela não passará o impuro; mas será uma estrada reta em que até os débeis não se perderão. 9 Ali não existem leões, não andam por ela animais depredadores, nem mesmo aparecem lá; os que forem libertados poderão percorrê-la, 10 os que o Senhor salvou voltarão para casa. Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos: cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto”.


Evangelho: Mt 8,5-11
Naquele tempo, 5quando Jesus entrou em Carfanaum, um oficial romano aproximou-se dele, suplicando: 6Senhor, o meu empregado está de cama, em casa, sofrendo terrivelmente com uma paralisia”. 7Jesus respondeu: “Vou curá-lo”. 8O oficial disse: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma palavra e o meu empregado ficará curado. 9Pois eu também sou subordinado e tenho soldados sob minhas ordens. E digo a um: ‘Vai! e ele vai; e a outro: ‘Vem!, e ele vem; e digo a meu escravo: ‘Faze isto!, e ele o faz”. 10Quando ouviu isso, Jesus ficou admirado, e disse aos que o seguiam: “Em verdade, vos digo: nunca encontrei em Israel alguém que tivesse tanta . 11Eu vos digo: muitos virão do Oriente e do Ocidente, e se sentarão à mesa no Reino dos Céus, junto com Abraão, Isaac e Jacó”.
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Somos Convidados a Viver Na Esperança, Pois Deus é Emanuel


Durante as duas primeiras semanas do Advento, a Igreja nos propõe a meditação das “profecias” do profeta Isaias.


Isaias nasceu em Jerusalém por volta de 765 antes de Cristo (“Isaias”, hebraico: “salvação de Deus” ou “Javé é a salvação”). Com a idade de 25 anos, teve uma visão de Deus (cf. Is 6,1-8). A visão de Deus transformou Isaías em um servo do Senhor com uma mensagem única cheia de esperança. A partir daquele momento devotou-se à vocação da profecia. Isaías ministrou ao povo de Deus durante uma época de grande instabilidade política (740 a 686 a.C)


O profeta Isaías é uma das grandes testemunhas da espera messiânica. Vivia oito séculos antes de Jesus. Morava em Jerusalém, a capital de Judá. Ele viu o Reino do Norte, Samaria, desmoronar sob os golpes dos Assírios, e ele sente a mesma ameaça para o Reino do Sul. Além disso, Jerusalém, a capital, deixou de praticar a justiça e o direito (Is 1,21), e consequentemente, havia muitos assassinos.  Os chefes se tornaram ladrões, corruptos, gananciosos e violentos. Como consequência disso, os pobres, as viúvas e os órfãos viviam sem defesa e sem segurança e eram humilhados (Is 1,23). Onde reina a corrupção e a injustiça social, ali haverá a violência e assassinato. E os pobres sofrem as consequências.


É assim no contexto histórico de uma catástrofe iminente quando o profeta anuncia a esperança de um Messias que trará a paz. Esse Messias é chamado “Emanuel” que significa “Deus conosco” (Is 7,14). Quem está com Deus são aqueles que obedecem à sua Palavra e que confiam na presença libertadora de Deus.


O mundo ideal do Reino messiânico de Isaías é um mundo no qual homem e natureza, afinal, vivem em paz e fraternidade; todos vivem na harmonia total. Ninguém representa ameaça para o outro. Ninguém ataca ninguém. Todos se compreendem e se confraternizam. Para descrever este mundo ideal, Isaías usa várias expressões: “o lobo e o cordeiro moram juntos”, “o leopardo se deitará com o cabrito”, “as crianças brincam com víboras sem nenhum mal” (cf. Is 11,1ss), e assim por diante.


Essa visão e inspiração de Deus animaram o profeta Isaias. Apesar da corrupção desenfreada, da injustiça social e os demais problemas sociais e religiosos, Isaias começou a enxergar um futuro melhor. E ele se dirigiu ao povo com uma mensagem de esperança: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos. Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã. Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e se tornarão presa das chamas; porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz" (Is 9,1-5). O futuro do povo não está na força do exército e sim numa criança-Messias.


No texto da Primeira Leitura o profeta Isaías faz o anúncio de ambiente de festa e alegria que enche o deserto e a estepe. O deserto é também o lugar do encontro do Senhor com seu povo. E o encontro com o Senhor causa a salvação, e a salvação implica transformar o deserto em terra de águas. Onde há a água, há também vida e abundância.


O fundamento deste ânimo é a certeza de que o Senhor está próximo. O Senhor vem ao encontro de seu povo. Este anúncio desperta o povo da paralisia espiritual e faz que se ponha a caminho. Somente caminhando é que veremos a variedade de coisas e acontecimentos no caminho para enriquecer nossa visão sobre a vida e captar seu sentido. Por causa desse anúncio, até os coxos, levados pelo entusiasmo geral e pela ajuda dos demais podem manter o ritmo da marcha. Também os que se consideram cegos e surdo, podem enxergar e compreender o que está acontecendo ou o que se passa na vida.

Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar”.


Com grande força poética o profeta Isaias descreve, ao mesmo tempo, o juízo de Deus contra seu povo (cf. Is 2,6-22). A prosperidade material e a “segurança” que lhe proporcionam as alianças com os países estrangeiros deram origem à soberba, à superstição e ao luxo. No lugar de fazer-se forte em Deus, como exigia a aliança, os dirigentes buscaram a segurança nas riquezas ilusórias (cf. Is 6,7).


A orgulhosa autonomia do homem é, para o profeta Isaias, o autêntico pecado de idolatria: com o ouro e a prata, e com instrumentos bélicos, o homem intenta não ter necessidade de Deus. Com isso, o homem se autodiviniza. Nesta primeira parte do texto de Isaías (Is 2,6-22) ocupa um lugar importante a descrição do dia de Javé, o dia de julgamento, o dia de vingança. O dia de Javé é um dia de juízo contra a soberba humana. A orgulhosa autonomia do homem é, para o profeta Isaías, a fonte de todos os pecados particulares e, por isso, a característica fundamental da atitude antidivina.


Mas o castigo, a destruição e a morte não são a última palavra de Deus (cf. Is 4,2-6). Javé voltará a estar com seu povo fiel como quando o acompanhava através do deserto. Abre-se uma perspectiva de salvação que estimula a fidelidade religiosa do resto integramente restaurado depois de uma prova purificadora.


Somos convidados, neste Advento e no resto dos dias de nossa vida, a viver na e da esperança. Segundo Aristóteles a esperança é “sonho de quem está acordado”. A esperança cristã não é um sonho, mas é a realidade porque é baseada na ressurreição de Jesus Cristo. Desta forma, a fé em Cristo transforma a esperança em confiança e certeza; e a esperança torna a fé em Cristo ampla e lhe dá vida. Por isso, São Paulo nos relembra com esta frase: “Cristo é nossa esperança” (Col 1,27). “A fé que mais me agrada é a esperança” (Charles Peguy). É verdade porque na esperança, a fé abre novos caminhos no coração das pessoas e tende a realizar um mundo novo. Por isso, a esperança é o maior desafio de cada dia porque tendemos a ver tudo escuro e negativo. O tipo de nossa reação depende da visão que temos sobre a realidade.


O Advento começou. É um tempo que nos convida a estarmos abertos à Palavra de Deus para que no Natal, como no resto dos dias do ano, esta Palavra se faça carne em cada um de nós. Quando a Palavra de Deus se tornar carne e m nós, seremos cristãos de esperança baseada na fidelidade de Deus que jamais nos abandona, e viveremos na harmonia fraterna. A Palavra de Deus tem poder de nos despertar de nosso sono de vingança, de ódio, de inveja, de ressentimento para voltarmos a viver como irmãos. O Reino messiânico começará em mim a partir do momento em que eu descobrir que cada ser humano é meu irmão, filho do mesmo Pai do céu.


Um “Pagão” Que Nos Ensina No Força Poderosa Da Palavra De Deus


Segundo Mateus, o primeiro milagre operado por Jesus (a cura do leproso) foi para um membro do povo de Deus (cf. Mt 8,1-4). O segundo milagre foi em favor de um pagão. Tudo é um programa. O movimento missionário da Igreja está presente nesse segundo milagre. A salvação de Deus não está reservada para uns poucos. Deus ama a todos os homens. O amor de Deus rompe as barreiras que levantamos entre nós. Jesus fez seu segundo milagre em favor de um oficial romano, em favor de um pagão, pois ele amava o próximo. Os romanos eram mal vistos pela população, pois ocupavam a Palestina.


Quando Jesus entrou em Cafarnaum, um oficial romano aproximou-se dele, suplicando:Senhor, meu empregado está de cama, paralitico!’ “


Um oficial romano!”. “Um estrangeiro!”. Um estrangeiro, mais ainda um romano (poder romano), não pertence ao Povo eleito. Por ser estrangeiro, ele é impuro na concepção do Povo eleito e não pode tocar nele para não ficar impuro. Por ser impuro não pode receber as bênçãos do Senhor. Mas será mesmo que ele é impuro? O evangelista Mateus quer superar essa mentalidade separatista e discriminatória ao colocar, no seu evangelho, a história de um oficial romano cujo coração está cheio de amor para com o próximo.


O oficial romano do qual fala o evangelho deste dia demonstra sua grande bondade para com o próximo, para com seu empregado/escravo, apesar de não pertencer ao Povo de Israel. Sua sensibilidade humana ou sua humanidade é tão alta a ponto de ele se preocupar com seu escravo (empregado). Ele trata seu escravo como se fosse membro de sua família.  Ele não manda nenhum subordinado para procurar Jesus, mas é ele próprio quem se aproxima de Jesus para pedir a ajuda (cura) em favor do seu escravo/empregado. É um patrão exemplar! É um oficial extraordinário. É um líder que ama. Um líder que ama, é respeitado. Um líder temido, geralmente, não é respeitado.


Ao atender esse oficialpagão” Jesus quer nos mostrar que ele não aceita nossas divisões, nem nossos racismos nem nossas discriminações. O coração de cada seguidor de Jesus deve ser universal e missionário, como o próprio coração de seu Mestre, Jesus Cristo.


É impressionante também a profunda humildade desse oficial ao dizer a Jesus: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma palavra e o meu empregado ficará curado”. Este oficialpagão” é muito consciente da lei judaica a respeito dos pagãos. Ele não quer pôr Jesus em uma situação de “impureza legal”. Por isso, ele quer evitar que Jesus entre em sua casa. “Dize uma palavra e o meu empregado ficará curado “, diz o oficial a Jesus. Ele respeito os costumes do povo local. Mas também este homem valoriza e acredita no poder da Palavra de Jesus, porque ele sabe que a Palavra de Jesus está cheia de autoridade e de poder, pois Jesus é a própria Palavra de Deus (cf. Jo 1,1.14). Por acreditar no poder da Palavra de Deus em Jesus, o oficial simplesmente disse a Jesus: “Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado!”. O próprio oficial também vive da palavra e usa as palavras para comandar seus soldados. Uma vez ele diz uma palavra dirigida aos soldados, eles logo tornam a palavra uma realidade: “Pois eu também sou subordinado e tenho soldados sob minhas ordens. E digo a um: ‘Vai! e ele vai; e a outro: ‘Vem!, e ele vem; e digo a meu escravo: ‘Faze isto!, e ele o faz”.


Jesus elogia esse homem porque acredita no poder da palavra de Jesus: “Em verdade, vos digo: em ninguém em Israel encontrei tanta ”. É a de quem se considera pagão. Mas se comporta como um verdadeiro cristão. Jesus elogia quem acredita no poder de Sua palavra.


Jesus põe em contraste a incredulidade dos seus contemporâneos com a do pagão: “Em verdade, vos digo: em ninguém de Israel encontrei tanta ”. A que Jesus exige é um impulso de confiança e de abandono pelo qual o homem renuncia a apoiar-se em seus pensamentos e em suas forças para abandonar-se à Palavra divina e ao poder d’Aquele em quem o homem deve acreditar.


O oficial romano não pertence a uma Igreja ou a uma religião, oficialmente, porém se comporta como um verdadeiro homem de Deus. É um verdadeiro e autêntico cristão. Podemos encontrar os cristãos em qualquer religião, crença ou grupoVós os reconhecereis pelos seus frutos” (Mt 7, 16.20). Com efeito, o paganismo não depende da pertença ou não a uma religião. O paganismo depende do modo de viver e de se comportar para com os demais homens. Por causa do modo de viver há cristãos- pagãos comotambém pagãos- cristãos. Um cristão pode ser um pagão por causa do seu modo de viver não-cristão. E aquele que se diz pagão pode ser um verdadeiro cristão se comportar-se como o oficial romano que se preocupa com o bem do outro.


Senhor, meu empregado está de cama, paralitico”. A oração desse homem serve de exemplo para nós. Ele expõe simplesmente a situação; descreve a doença. E o mais notável é que ele pede em favor do outro, de seu empregado. É uma oração de intercessão. Será que eu rezo somente por mim mesmo, somente pela minha família? Será que tem lugar na minha vida uma oração de intercessão?


Antes de receber o Corpo do Senhor na comunhão, repetimos a frase desse oficial romano: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha morada. Dize uma palavra, serei salvo”. A Eucaristia quer curar nossas debilidades. O próprio Senhor Jesus se faz nosso alimento e nos comunica sua vida: “O Pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo. Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna” (Jo 6, 51.54). Em cada verdadeira Comunhão do Corpo do Senhor acontece uma verdadeira transfusão de vida: a vida de Jesus passa a ser a vida de quem a recebe na comunhão. Quando isso acontecer, será cumprido tudo aquilo que São Paulo escreveu: Eu vivo, mas não sou eu; é Cristo que vive em mim (Gl 2,20).


Podemos também pedir a Jesus da seguinte maneira: “Senhor Jesus, mesmo que eu não seja digno de recebê-Lo na minha vida, na minha família, mas pode entrar para que minha vida, minha família seja digna de receber sua bênção. Se em Belém o Senhor não encontrava nenhum abrigo para seu nascimento, entre na minha família e renasça entre nós para que minha família esteja cheia de luz para depois irradiá-la para os demais.


Jesus não encontrou a naqueles que se acham “crentes”. “Em verdade, Eu vos digo: em ninguém em Israel encontrei tanta ”. Ele encontrou a fé naquele é considerado “pagão”. Será que o Senhor encontrou a fé em mim ou apenas naqueles que não pertencem a nenhuma Igreja, mas acreditam? Será que o Senhor encontrou o amor em mim ou somente naqueles que não frequentam Igreja nenhuma? Será que acredito no poder da Palavra de Deus ou vivo como um verdadeiro pagão? Existe cristão-pagão como existe também pagão-cristão.
P. Vitus Gustama,svd

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