quinta-feira, 6 de dezembro de 2018


08/12/2018
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IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA
(8 de Dezembro)


Primeira Leitura: Gn 3,9-15.20
9 O Senhor Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?” 10 E ele respondeu: “Ouvi tua voz no jardim, e fiquei com medo porque estava nu; e me escondi”. 11 Disse-lhe o Senhor Deus: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?” 12 Adão disse: “A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu do fruto da árvore, e eu comi”. 13 Disse o Senhor Deus à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me e eu comi”. 14 Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e todos os animais selvagens! Rastejarás sobre o ventre e comerás pó todos os dias da tua vida! 15 Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. 20 E Adão chamou à sua mulher “Eva”, porque ela é a mãe de todos os viventes.


Segunda Leitura: Ef 1,3-6.11-12
3 Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. 4 Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. 5 Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão de sua vontade, 6 para o louvor da sua glória e da graça com que ele nos cumulou no seu Bem-amado. 11 Nele também nós recebemos a nossa parte. Segundo o projeto daquele que conduz tudo conforme a decisão de sua vontade, nós fomos predestinados 12 a sermos, para o louvor de sua glória, os que de antemão colocaram a sua esperança em Cristo.


Evangelho: Lc 1,26-38
Naquele tempo, 26 no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. 28O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”29 Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30 O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32 Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33 Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”. 34 Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” 35 O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36 Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37porque para Deus nada é impossível”. 38 Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.
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Pequenez e Grandeza de Maria, a Mãe Do Senhor

Maria, a Mãe do Senhor, não é um fenômeno da natureza. Em sua natureza feminina é uma filha de Eva como todas as mulheres do mundo. Nada a distingue das demais mulheres judias: seus traços físicos, condições econômicas, prescrições legais discriminatórias, modos e estilo de vida corresponde todos os próprios de uma mulher judia. Nessa personalidade de mulher judia se encerra um mistério de grandeza, real e invisível, ao mesmo tempo. Ela o viveu como uma realidade totalmente interior e inefável, dentro de uma relação única de intimidade, de comunhão e de adesão a Deus. A concepção imaculada de Maria ou sua maternidade serão proclamadas como dogma de fé alguns ou muitos séculos mais tarde.

Maria não esperava ser Mãe do Messias. No ambiente religiosa de seu tempo, ela compartilhava com todos os judeus a crença e a espera próxima do Messias que libertaria Israel de seus inimigos. Como uma mulher humilde, pobre, considerava inclusive uma loucura que Deus se fixasse nela para ser a Mãe do Messias. Além do mais, o Messias viria de Nazaré era pouco mais que impossível. Nada havia em seus pais, em seu ambiente, no correr de sua existência que serviria de indício para tão grande e nobre vocação de ser Mãe do Senhor.

Tudo isso, é verdade, porém, um dia, repentinamente, uma experiência e visão angélica a perturbou no fundo da alma. Primeiro, Maria não entendeu essa saudação tão rara: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”. Logo, entenderia muito menos a afirmação: “Darás a luz um filho que será chamado Filho do Altíssimo”. A simples mulher nazarena tardou muito em voltar em si mesma. Logo, passada a visão, passaram dias e noites dando volta ao que viu e escutou para encaixar em sua psicologia e em sua vida, perscrutando os misteriosos desígnios de Deus. Finalmente, no encontro com sua prima Isabel mostrará com palavras, o resultado de sua meditação: “Minha alma glorifica ao Senhor, meu espirito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações”.

Maria, a Mãe do Senhor, é irmão e Mae nossa (cf. Jo 19,27). Enquanto irmã, igual a todos os cristãos: filha adotiva de Deus por meio de Jesus Cristo, eleita para ser herdeira do Reino de Deus, como todos os que colocaram sua esperança em Cristo: “Segundo o projeto daquele que conduz tudo conforme a decisão de sua vontade, nós fomos predestinados a sermos, para o louvor de sua glória, os que de antemão colocaram a sua esperança em Cristo” (Ef 1,11-12).

Maria também é nossa mãe. “Maria colaborou de maneira totalmente singular com a obra do Salvador por sua fé, esperança e amor ardente para estabelecer a vida sobrenatural dos homens. Por esta razão é nossa Mãe na ordem da graça” (Lumen Gentium,61).

Maria leva a feliz término o longo advento do povo de Deus, Israel. Ela concentra em sua pessoa a esperança. Nela se cumprem as profecias messiânicas e sua esperança se converte em possessão. É a porta que nos introduz na nova etapa da história da Salvação: o tempo de Cristo e da Igreja. Maria é a primeira redimida, a primeira crente, a primeira santificada e glorificada da Igreja de Cristo. e esta grandeza de Maria tem seu ponto de partida em sua concepção imaculada: “Na celebração deste ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com especial amor, porque indissoluvelmente unida à obra de salvação do seu Filho, a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, em quem vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla, qual imagem puríssima, o que ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser” (Sacrosanctum Concilium, 103). Maria é a primeira e a mais perfeita entre os salvos.

Como ela um dia aceitou a Palavra de Deus e acolheu o Espírito de Deus e gerou Cristo de sua carne, assim também todo cristão tem que cumprir sua vocação aceitando docilmente a Palavra de Deus, acolhendo o Espírito de Deus em sua vida e continuando no tempo a encarnação de Cristo.


Uma Pequena História Da Festa Da Imaculada Conceição De Maria

Na primeira metade do século VIII, a Igreja bizantina (no Oriente) celebrava a concepção de Santa Ana, mãe da Theotokos (Nossa Senhora). Em suas origens, esta festa celebrava o anúncio do Anjo a Ana e Joaquim que, depois de anos de esterilidade, gerariam Maria, segundo a narração do proto-evangelho de São Tiago, um evangelho apócrifo (“apócrifo” é palavra grega, “apocryphos” que significa escondido, secreto, oculto. Foram assim chamados os livros que não eram usados oficialmente na liturgia e no ensino. Alguns são contemporâneos dos escritos bíblicos e outros pouco posteriores) que surgiu no século II(cf. Protoevangelho de São Tiago IV,1-2). Até aqui a festa não encontrou polêmicas teológicas porque não se tratava da “imaculadaconcepção.

A dura polêmica começou quando esta festa passou dos mosteiros do sul da Itália, no século IX, à Irlanda e à Inglaterra. Aqui, no século XI, a festa começou a fixar-se no dia 8 de dezembro por relação ao dia 8 de setembro (a festa da natividade da Nossa Senhora) e recebeu o nome a “Conceição da Santa Virgem Maria”. E no século XII (cerca de 1119) começou com clareza o conceito da festa quando o prior de Westminster, Osberto de Clara, falou da santificação de Maria desde o início de sua criação e concepção no útero materno, pela graça de Deus, que a santificou em sua própria concepçãosem contágio de pecado”.

Por estímulo de alguns teólogos, um deles é o beneditino Eadmer (+ 1134) que é considerado o primeiro teólogo da imaculada conceição, a festa se difundiu na França, mesmo com divergências de opiniões. Em 1263, a ordem franciscana adotou a festa, e teólogos franciscanos como o beato Ramon Llul e João Duns Scotu defenderam em Paris o privilégio da Imaculada.  Muitas ordens religiosas (com exceção dos dominicanos) adotaram a festa. No século XIV a festa do dia 8 de dezembro era tão comum que em 1439 o concílio de Basiléia decidiu estendê-la a toda a Igreja; mas o decreto ficou sem efeito porque se tratava de concílio cismático. E em 1477, Sisto IV(1471-1484), franciscano, introduziu a festa em Roma e afirmou (não como dogma) com clareza a preservação de Maria em sua concepção de todo contágio de pecado original. Somente a partir do dia 8 de dezembro de 1854 Pio IX(1846-1878) proclamou como dogma a conceição imaculada de Maria, na Bula Ineffabilis Deus, onde ele afirmou: “...Virgem Maria por graça e privilégio de Deus todo-poderoso, em vista dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha do pecado original no primeiro instante de sua concepção”.  E o Concílio Vaticano II recorda este dogma na Constituição dogmática Lumen Gentium capítulo VIII no.53.59.


Comentário Sobre A Conceição Imaculada E Mensagem Da Festa

Não encontramos em nenhuma página do NT a concepção de Maria nem sobre seus pais (somente encontramos no protoevangelho de São Tiago).

Na festa da Imaculada Conceição de Maria lemos o evangelho da Anunciação (Lc 1,26-38) que não fala do concebimento de Maria, mas do concebimento de Cristo em Maria. A escolha de Maria como Mãe do Senhor (Lc 1,43) é muito preciosa que nos faz entendermos que quemvalor a toda a existência de Maria é o Filho. Em outras palavras, Maria é redimida por seu filho e pela preservação divina. Maria é imaculada por ação de Deus em vista da redenção de Cristo. A sua imaculada conceição pode ser uma participação na graça redentora do Redentor em função de sua maternidade em relação a Cristo.  Podemos afirmar que por causa da encarnação redentora do Verbo, Maria foi eleita desde a eternidade e, na plenitude do tempo, lhe foi enviado o anjo Gabriel com a mais inefável das saudações: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). Em Maria Deus encontralugarpara estar sempre com a humanidade: “O Senhor está contigo”. E em Maria a graça divina encontra uma resposta de que Maria será o instrumento desta graça: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38).

Da afirmação surge a pergunta, se Maria é redimida em vista da redenção de Cristo, como isto pode ser explicado porque Jesus nasceu depois dela? Para compreender tudo isto precisamos nos colocar na posição de Deus. Para Deus tanto o ontem quanto o amanhã são um eterno hoje (cf. Hb 13,8). Para Deus, a redenção futura de Jesus é um presente. Em razão disto, Maria é isenta e preservada. Como dizia Dante: “Maria é filha do seu Filho, porque por Ele foi totalmente livre do pecado original e do próprio débito do pecado”.

Ao solenizar a Imaculada Conceição de Maria devemos estar conscientes de que não se trata da auto-salvação de Maria; trata-se da graça de Deus. A concepção imaculada não significa que Maria não teve necessidade de ser salva à semelhança de todos os homens; ao contrário, proclama o incomparável dom que lhe foi prodigalizado: ter sido agraciada sem ter provado a desgraça do pecado. A redenção de Maria acontece por preservação divina. Nisto Maria é a expressão máxima do poder de Deus. Ela é santa porque santificada pelo Espírito do Pai, emanado por meio do Filho. Diante da Imaculada, a Igreja celebra primeiramente a infinita misericórdia de Deus para com a humanidade inteira. Podemos dizer em outras palavras, Maria se beneficia mais abundantemente do que todos nós da misericórdia divina e do resgate. Pois maior misericórdia é ser preservado pela graça de Deus de pecados pessoais, do que ser perdoado de pois de termos pecado. A sua preservação do pecado é fruto unicamente da graça redentora. Ela nunca conheceu pecado.

Maria realiza o homem que Deus sempre quis: aquele que se ergue ao céu, sem se encurvar a nenhum pecado e sem cair na tentação de olhar apenas para o mundo; aquele que se abre ao outro, sem cair no isolamento do egoísmo, e aquele que se confraterniza com o mundo.

Nós, seres humanos, sempre estamos numa encruzilhada entre o desejo de fazer o bem e a fraqueza em praticar o mal que não queremos. Buscamos a bondade, mas caímos na maldade cometida. Queremos criar um mundo mais fraterno, mas ficamos presos no mundo de rancores, de julgamento sem piedade, de falta de perdão e misericórdia. Talvez possamos resumir a nossa situação naquilo que São Paulo diz: “...não faço o bem que não quero, mas pratico o mal que não quero” (Rm 7,19). São Paulo no versículo seguinte explica que a origem de tudo isto é o pecado que faz ninho dentro de nós: “Ora, se eu faço o que não quero, não sou eu que estou agindo, e sim o pecado que habita em mim” (Rm 7,20). O pecado que habita em nós gera toda sorte de iniqüidade, de injustiça, de violência etc....  Viver no pecado é viver preso no mundo velho.

Maria, ao contrário, pertence a outra ordem, ao novo mundo inaugurado por Deus. Ela é uma criatura sem qualquer malícia. Todos os seus atos são orientados para o certo, pois ela está totalmente aberta para Deus e se abre para os outros amorosamente. Em Maria, por isso, podemos ver um possível novo começo da humanidade. Nela o paraíso perdido se encontra novamente.

Mas precisamos saber que dizer que Maria era imaculada não significa que ela não sofria, que não se angustiava ou que não necessitava crer e esperar. De ponto de vista humano, ela é como todos nós. Maria como todo ser humano normal sentia as diversas paixões da vida. Mas ela conseguia orientar tudo num projeto divino e dimensionar tudo a ponto de ser plenamente filha de Deus. Por graça de Deus ela tinha uma força interior capaz de ordenar tudo. Por isso, não de admirar que ela foi chamada por anjo Gabriel de “cheia de graça” (Lc 1,28). A graça é a presença pessoal e viva do próprio Deus dentro da vida, fazendo a vida ser mais vida ainda e o mundo mais fraterno. Maria antecipa o destino de todos. Por ela temos certeza de que Deus não nos abandona na nossa desgraça. Ela nos ensina a vivermos orientados sempre a Deus que se traduz no amor ao próximo.

Sabemos que a imaculada conceição é um privilégio único para Maria. Mas todos nós somos chamados a sermos imaculados, seguindo os passos de Cristo, nosso Redentor. Assim como Maria, seremos totalmente imaculados. A partir de Maria e olhando para ela, temos certeza de que o mundo tem um futuro bom, pois Maria nos antecipa este futuro. Temos que estar conscientes da nossa vocação inicial de sermos escolhidos desde a eternidade para sermos santos, como diz São Paulo: “Nele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4).
P. Vitus Gustama,SVD

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