sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Domingo,09/12/2018
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CONVERSÃO É O MEIO PARA VOLTAR AO MUNDO SAGRADO
II DOMINGO DO ADVENTO ANO “C”

I Leitura: Br 5,1-9
1Despe, ó Jerusalém, a veste de luto e de aflição, e reveste, para sempre, os adornos da glória vinda de Deus. 2Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus e põe na cabeça o diadema da glória do Eterno. 3Deus mostrará teu esplendor, ó Jerusalém, a todos os que estão debaixo do céu. 4Receberás de Deus este nome para sempre: “Paz-da-justiça e glória-da-piedade”. 5Levanta-te, Jerusalém, põe-te no alto e olha para o Oriente! Vê teus filhos reunidos pela voz do Santo, desde o poente até o levante, jubilosos por Deus ter-se lembrado deles. 6Saíram de ti, caminhando a pé, levados pelos inimigos. Deus os devolve a ti, conduzidos com honras, como príncipes reais. 7Deus ordenou que se abaixassem todos os altos montes e as colinas eternas, e se enchessem os vales, para aplainar a terra, a fim de que Israel caminhe com segurança, sob a glória de Deus. 8As florestas e todas as árvores odoríferas darão sombra a Israel, por ordem de Deus.  9Sim, Deus guiará Israel, com alegria, à luz de sua glória, manifestando a misericórdia e a justiça que dele procedem.


II Leitura: Fl 1,4-6.8-11
Irmãos: 4Sempre em todas as minhas orações rezo por vós, com alegria, 5por causa da vossa comunhão conosco na divulgação do Evangelho, desde o primeiro dia até agora. 6Tenho a certeza de que aquele que começou em vós uma boa obra, há de levá-la à perfeição até o dia de Cristo Jesus. 8Deus é testemunha de que tenho saudade de todos vós, com a ternura de Cristo Jesus. 9E isto eu peço a Deus: que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência, 10para discernirdes o que é melhor. E assim ficareis puros e sem defeito para o dia de Cristo, 11cheios do fruto da justiça que nos vem por Jesus Cristo, para a glória e o louvor de Deus.


Evangelho: Lc 3,1-6
1No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes administrava a Galileia, seu irmão Filipe, as regiões da Itureia e Traconítide, e Lisânias a Abilene; 2quando Anás e Caifás eram sumos sacerdotes, foi então que a palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias, no deserto. 3E ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados, 4como está escrito no Livro das palavras do profeta Isaías: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. 5Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados. 6E todas as pessoas verão a salvação de Deus’”.
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O Advento é tempo de conversão, tempo de preparar os caminhos e endireitar as sendas para que se aproxime a chegada do Reinado.


O juízo de Deus, isto é, o momento de separação entre o trigo e joio, que nos leva à conversão, é o início de nossa justificação. Deus não nos justifica movendo-nos a realizar atos meramente externos, rituais e sim a dar bons frutos, isto é, nos impulsiona à multiplicação de nossos talentos, às ações fecundas de doação e de entrega, a viver na justiça. Seremos justificados si aceitarmos o impulso de Deus a viver na justiça. A conversão é uma mudança radical de mentalidade e de atitudes profundas, que logo se manifesta em ações novas, em uma vida nova baseada no amor fraterno. O amor não pratica a injustiça e desonestidade contra o irmão. Esta é uma das mensagens principais das leituras deste Segundo Domingo do Advento.


A liturgia deste Domingo nos recorda que nossa meta é sempre Cristo, a grande promessa da salvação feita pelo Pai para todos os homens de todos os tempos. Os grandes profetas de Deus não tinham outra missão na História da Salvação que preparar esse caminho sob a luz esplendorosa da revelação, isto é, abrindo as consciências à Palavra de Deus, renovadora dos corações para o mistério de Cristo que nos salva.


O contexto da Primeira Leitura (Br 5,1-9) é o anúncio do retorno de Israel do exilio da Babilônia. Na primeira parte deste anúncio (Br 4,30-37) há um convite à confiança porque Deus adornará o poder escravizador e fará possível que todos os desterrados regressem a Jerusalém, a cidade que recebeu o nome diretamente de Deus e que converteu em banquinho (escabelo) de seus pés. Na segunda parte (Br 5,1-9) são detalhados com grande riqueza de imagens, que parecem tiradas de Deutero Isaías (Is 40-55), os motivos do gozo e da esperança. A “glória do Senhor” desempenha aqui um papel determinante. Nela se concentra toda a teologia da manifestação e da presença salvadora de Deus em meio de seu povo. Deus, com sua glória (doxa), abre a marcha dos crentes da diáspora que se dirigem para Jerusalém convertida em sede da “Paz da justiça” e a “Glória (manifestação) da piedade”, as características da nova época messiânica.


Através da Primeira Leitura, o profeta Baruc anunciou a salvação messiânica como um retorno gozoso à pátria pelos caminhos da justiça e da piedade, da humilde esperança e da retidão do coração, preparados pelo próprio Senhor que os redime, que antes do exílio não foram cumpridos pelo povo que resultou no exílio na Babilônia: “Despe, ó Jerusalém, a veste de luto e de aflição, e reveste, para sempre, os adornos da glória vinda de Deus. Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus e põe na cabeça o diadema da glória do Eterno. Deus mostrará teu esplendor, ó Jerusalém, a todos os que estão debaixo do céu. Receberás de Deus este nome para sempre: ‘Paz-da-justiça e glória-da-piedade’”.


É uma idealização dos tempos messiânicos. A justiça é a característica da nova teocracia messiânica. Por isso o Messias se veste com o cinturão da justiça. E esta justiça dos tempos messiânicos é fruto do conhecimento de Deus que assinará uma nova aliança escrita nos corações.


Este anúncio da salvação, da libertação, da plenitude ressoa também hoje para nós. Porque todos nós, nossa sociedade, vivemos desterrados e oprimidos, longe da terra da justiça, da verdade, da liberdade, do amor. Nosso desterro é real e lamentável porque nos deixamos acostumar com a falsa ordem da injustiça estabelecida, da mentira e da opressão, do egoísmo e da violência, da corrupção e da desonestidade.


A palavra chave para a Segunda Leitura (Filipenses 1,4-6.8-11), nesta celebração do segundo Domingo do Advento é o “Dia de Jesus Cristo” (v.8), o “Dia de Cristo” (v.10). É o termo escatológico. Há um traço muito próprio do Advento exposto no v.10: a esperança e espera na definitiva vinda do Senhor Jesus, no “Dia de Cristo”. O importante é nosso olhar cheio de esperança para o Senhor que não está somente no futuro e sim que se mostra já atuando em nós e entre nós. Não esperamos algo simplesmente e sim algo que já está em germe aqui e agora.


Em relação ao Dia de Cristo, são Paulo pede a todos nós: “Eu peço a Deus: que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência, para discernirdes o que é melhor”. O amor de agora há de ir crescendo em todos os aspectos, pois somente assim ficaremos abertos à obra já começado em nós por Deus.


No contexto do Advento temos que sublinhar na Segunda Leitura, então, a ideia do crescimento, do desenvolvimento da vida cristã: “que o vosso amor cresça sempre mais”. Não podemos nos contentar com uma atitude de mera observância de práticas e preceitos. Não podemos nos deixar levar pela agitação no consumismo. O cristão não é somente um observante e sim também e principalmente uma testemunha da vida de Cristo em toda sua plenitude desde a Encarnação até sua Ascensão ao céu. Este tempo litúrgico nos oferece a ocasião de uma revisão do modo como testemunhamos nossa vida cristã no meio do mundo, e como está nosso amor ao próximo: se aumenta ou diminui cada vez mais.


E no Evangelho, João Batista nos fala do Advento: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!”. Esta grande mensagem do Primeiro Advento e de nosso Advento de hoje tem um sentido atual, vivo, palpitante em nós. Evidentemente, Deus não vem a nós pelo fácil e sim pelo difícil. Nós cristãos devemos fazer fácil o difícil. Porque ressoa em nós a Palavra incessante de Deus, então, temos que nos comprometer a criar uma vida nova na fraternidade para facilitar a chegada da graça de Deus na nossa vida.


Se escutarmos a Palavra de Deus sentados, em atitude de acolhida, é para nos pôr em pé. O profeta Baruc nos disse hoje: “Levanta-te, Jerusalém!”. Levanta-te, cristão! Basta já de sentadas! Basta já de passividades, de pacifismos cómodos! Estejamos de pé! Sejamos sinais em nossa nação, no mundo todo, em nossa sociedade. Ser cristão é receber a Palavra, viver a Palavra e transmitir a Palavra.


Hoje há uma mensagem de João Batista que se encontra no deserto. É uma mensagem para os que esperam e para os que ainda não abriram seu coração para a esperança: “Deus vem, Deus nos salva. Deus está presente em nossa história”.


Por isso, que saibamos sair de nossos bloqueios, de nosso isolamento, de nossos fracassos, de nossos pessimismos, das nossas trevas. Comprometamo-nos a ser sinais da verdade de Deus, da justiça de um novo nascimento, de um novo mundo, de uma sociedade nova. Somente assim faremos possível a salvação de Deus.


Portanto, a liturgia deste Segundo Domingo de Advento está marcada pelo conhecido grito profético: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!”. Ao ressoar estas palavras em nossa celebração, temos que nos reconhecer como encarregados de continuar a tarefa de abrir caminhos para que o Senhor possa encontrar-se conosco e com os demais homens.


Estendamos um pouco mais nossa reflexão sobre o texto do Evangelho deste Segundo Domingo do Advento!


O nosso texto é dividido em duas partes claramente distintas: 1). Lc 3,1-2; 2). Lc 3,3-6.


A Salvação É Oferecida a Todos (Lc 3,1-2)


Nestes dois primeiros versículos Lucas apresenta uma insólita datação tríplice: primeiro, Lc menciona o reinado do imperador romano, Tibério e a autoridade romana local na pessoa de Pôncio Pilatos que foi governador de Judéia do ano 26 até 36 d.C. Segundo, menciona os governantes nativos, das regiões onde teve lugar a maior parte da atividade de Jesus, os dois filhos de Herodes o Grande: Herodes Antipas, “tetrarca” (originalmente, tetra + arche que significa “governante de uma quarta parte de um reino”) de Galiléia, e Filipe, tetrarca do outro lado do rio Jordão nas regiões montanhosas de Iturea e Traconítide. E finalmente, Lc menciona Anás e Caifás, chefes dos sacerdotes de Jerusalém.


Ao colocar todas essas informações Lucas quer nos dizer que a vinda do Senhor para este mundo tem um alcance universal como também a missão de seu mensageiro. Esta intenção se repete no v.6 quando Lc prolonga a citação de Is 40,3-5: “Todas as pessoas verão a salvação de Deus”. Evidentemente Lucas é um evangelista universalista. Para ele a salvação é oferecida por Deus para todas as classes sociais: ricos ou pobres, homens ou mulheres. Em outras palavras, Deus oferece a salvação para todos os homens. Ninguém está excluído do convite salvífico de Deus. Se o homem não der resposta positiva a este convite, o homem se exclui por si da salvação, pois da parte de Deus que todos sejam salvos (cf. 1Tm 2,4).


Estes dois primeiros versículos, que apresentam uma solene introdução histórica, também tem por finalidade de colocar a missão de João Batista num contexto histórico. E indiretamente, esta introdução situa também o começo do novo período salvífico, o tempo de Jesus. Embora isto não possa ser entendido como uma data exata do aparecimento de João na cena de Palestina, nem, consequentemente, uma data exata do começo do ministério de Jesus (cf. J. F. Fitzmyer: The Gospel According To Luke I-IX p.453). É uma descrição da situação de Palestina na qual aconteceram o aparecimento e a inauguração de sua missão. Por isso, o objetivo principal desta passagem no próprio evangelho é apresentar João Batista como uma pessoa chamada por Deus para preparar a inauguração do tempo de salvação e para apresentá-lo como um pregador itinerante que faz pronto (preparar) o caminho do Senhor.


Ao apresentar o contexto histórico do aparecimento de João Batista, Lucas quer nos chamar a atenção de que o centro da história que dá valor e sentido ao processo dos acontecimentos históricos, não é o poder político mundial (Tibério César) nem o poder religioso e político local, palestinense, os pontífices de Jerusalém ou vassalos de Roma, mas a Palavra de Deus que chega a João: “...a Palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto” (v.2 cf. também Lc 1,80). Este v.2 faz-nos lembrar do chamado de Deus aos profetas do Antigo Testamento, como Isaías (Is 38,4) ou Jeremias (Jr 13,3). Com esta alusão, Lucas quer relatar que João Batista tem uma figura e característica de um profeta. Segundo Lucas João Batista pertence ainda ao Antigo Testamento. O Antigo Testamento e João prepararam a novidade, mas não produziram. O fim da atividade de João marca o início da de Jesus.


E a Palavra de Deus foi dirigida a João Batista no deserto. O deserto representa o vazio, a ausência. No deserto o povo de Israel assimilaram muitas lições: aprenderam a desfazer-se de tudo o que é supérfluo para não ficar supercarregado na passagem do deserto rumo a terra prometida, aprenderam a ser solidários e partilhar tudo com os irmãos da jornada e aprenderam, sobretudo, a confiar em Deus, pois eles se encontram no deserto. Certamente no Deserto Deus conduz seu povo a fim de dar-lhe sensibilidade à Sua voz e trabalhar pedagogicamente a dureza do seu coração. O deserto é o lugar do agir divino.


Para não sermos levados por uma sociedade corrupta, injusta e opressora, precisamos criar os nossos momentos de deserto diariamente para que tenhamos a sensibilidade de ouvir a chamada de Deus a exemplo de João Batista. Somente assim seremos profetas que têm credibilidade de anunciar a justiça e denunciar a injustiça, a corrupção. A corrupção e assim por diante.


Além disso, ao situar a pregação de João Batista dentro do seu momento histórico (15º ano do reinado d Tibério), Lucas quer nos dizer que Deus não grita do céu para comunicar ou transmitir sua mensagem, mas Ele se manifesta e nos faz seu chamado dentro da situação histórica ou concreta de cada um. A salvação de Deus, que vem com Jesus, não é algo intemporal, mas insere-se numa história e numa geografia muito concreta. Ninguém se salva, ou constrói a esperança, ignorando a realidade em que vive. Deus certamente fala através da realidade, das pessoas e dos acontecimentos. Deus seus apelos todos os dias para cada um de nós. Não há nenhum dia que não tenha apelo de Deus. Basta pararmos para decifrar a mensagem de Deus através de todos os sinais e acontecimentos. Cabe a cada um perguntar, portanto, o que e como é que Deus está falando comigo hoje através dos fatos concretos da história da minha vida, da minha família, da minha comunidade etc. E com que e com quem mais Deus pode estar falando para mim? Qual é o apelo de Deus para mim hoje?


Chamados à Conversão (Lc 3,3-6)


João Batista foi um profeta inspirado, que rompeu o longo silêncio mantido durante séculos desde os dias do profeta Malaquias. Como o livro do profeta Malaquias (Ml 3) termina com uma referência à vinda do profeta Elias que terá como missão de advertir a Israel sobre o dia de juízo, assim também a era do NT se abre com a voz de João Batista que grita esta advertência: “Preparai o caminho do Senhor. Endireitai suas veredas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados. E todas as pessoas verão a salvação de Deus” (Lc 3,4-6).


Em todas as religiões tradicionais, a aproximação do divino desperta no homem um sentimento mais ou menos profundo da culpabilidade, como se o homem se afastasse do mundo do sagrado para o qual ele foi criado. Diante do divino, do sagrado o homem logo percebe as faltas cometidas, as regras transgredidas, os mandamentos não cumpridos. Para voltar a viver no mundo sagrado o homem recorre a ritos penitenciais para reentrar na via que conduz à salvação. Em outras palavras, é preciso converter-se para poder “ver a salvação de Deus”.


O evangelho de Lucas demonstra o maior interesse na ideia da conversão do que Marcos e Mateus. Isso já seria evidente pelo fato de as palavras básicas para conversão ocorrem com mais frequência: quatorze vezes (metanoia, cinco vezes: literalmente significa “mudança de mentalidade”, metanoeo, nove vezes). Além disso, Lucas desenvolve o entendimento da conversão, ligando-a de modo mais explícito a outros temas, em especial perdão e reconciliação, salvação, a misericórdia divina e a alegria.


Esta ligação especial que Lucas faz da conversão com o perdão dos pecados ecoa na pregação de João Batista “pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados” (v.3) e em seu desafio aos chefes judaicos: “produzi, pois, frutos que testemunham vossa conversão” (3,8).


A missão de João Batista é a de preparar a vinda do Senhor (cf. 1,16-17.76). E isto se concretiza num convite sério à conversão: “Ele percorreu toda a região do Jordão pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados...” (v.3).


No Novo Testamento encontra-se três categorias de mudança pessoal: 1) alternação é forma relativamente limitada de mudança que se desenvolve a partir de comportamento anterior; 2) Conversão é mudança radical em que aflições passadas são rejeitadas por um novo compromisso e uma nova identidade; 3) transformação é também mudança radical, mas uma percepção alterada reinterpreta tanto o passado como o presente.


As três têm uma característica comum: mudança. Toda conversão envolve mudança. Opõe-se à manutenção do status quo. A conversão sempre envolve movimento de uma dimensão para outra. Já que a pessoa humana é vista como um corpo animado, um conjunto unificado, assim quando a Bíblia fala de conversão, isso envolve a pessoa toda, não apenas seu senso moral, sua capacidade intelectual, ou vida espiritual. Corpo, mente e alma juntos são afetados pelo ato da conversão e as consequências são sentidas em todos os aspectos da vida da pessoa, inclusive nos campos social e político.


Ao citar Isaías (vv.5-6), João Batista quer nos convidar a entrar no dinamismo da conversão, a nos colocarmos a caminho, a mudar. Mudar a partir do dentro, crescendo no que é fundamental, o amor. Com a sensibilidade do amor, vamos escutar melhor as exigências do Senhor que chega e sairemos ao seu encontro “repletos dos frutos de justiça” (Fl 1,11). A opção pelo Reino convida ao total despojamento de si mesmo, à renúncia de qualquer forma de orgulho. O homem que quer seguir a Jesus é chamado a fazer um vazio em si mesmo.


Ao pregar a conversão, João Batista se inspira no grande movimento profético, citando Isaías mas agora ressoa com um timbre novo: “Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas...”. A imagem da “montanha” e da “colina” rebaixada, na tradição de Isaías (Is 2,12) podia significar também o fim de toda prepotência ou arrogância política dos poderosos (cf. Lc 1,52). Mas na perspectiva de Lucas, significa sobretudo o compromisso da renovação das consciências, das mentalidades, a mudança de coração e conduta, pois a vida do homem não se transforma automaticamente à base de reformas estruturais; e também o compromisso de renovação que tem também consequências na vida política e social; suprimem-se desigualdades e encurtam-se distâncias para que a salvação chegue a todos. Tanto os que se consideram acima dos outros, como os que estão humilhados e sem direitos precisam mudar de posição. A salvação se dá em relações mais horizontais, onde não há dominadores nem dominados, mas somente há irmãos que se respeitam e se complementam uns aos outros. Esse nivelamento nas relações humanas faz parte da construção da estrada mais reta por onde vão passar a nossa esperança e o acolhimento da salvação que vem de Deus em Jesus. A humanidade transformada é a humanidade reconciliada e igualada. Converter-se significa, então, ampliar o coração e dilatar a esperança para adequá-la à medida de Deus. Uma humanidade mais igualitária e respeitosa da dignidade de todos é melhor caminho para Deus chegar até nós trazendo a sua salvação. Os nossos caminhos devem ser corrigidos para que Deus chegue.


O homem que quer seguir a Jesus é chamado a fazer um vazio em si mesmo, a perder-se, de certo modo. A opção pelo seguimento de Jesus e pela salvação convida cada homem ao total despojamento de si mesmo, à renúncia de qualquer forma de prepotência para poder ter a disponibilidade aos impulsos do Espirito Santo. A conversão é acessível para qualquer homem, seja qual for sua condição social e seja qual for seu grau de virtude. A conversão é proposta para todos os homens, pois todos são pecadores. Se Jesus chama o homem a esta disponibilidade radical (conversão), é para convidá-lo a pôr em prática o amor sem fronteiras que é o novo mandamento do Senhor (cf. Jo 13,34-35; 15,12) no qual se verifica nossa autêntica identidade cristã.


O texto termina com estas palavras: “Todas as pessoas verão a salvação de Deus” (v.6). Perante tal oferta, em que o próprio Deus vem ao nosso encontro, nenhum gesto, nenhuma oferta, nenhum rito ou título pode nos salvar. O próprio homem deve ir ao encontro de Deus passando pela conversão. Se não houver esta verdadeira entrega do homem pela conversão, jamais haverá, da parte de Deus, o “batismo no Espírito Santo e no fogo”. Quem resiste a Deus se destrói a si mesmo e se exclui da salvação (3,9).


Cada um tem em seu poder uma oportunidade maravilhosa. A vida não é fadada ao absurdo e ao desespero. Temos em nós a força que nos foi dada para andar em busca da luz: “Todas as pessoas verão a salvação de Deus” (v.6). Deus constitui-se a meta de cada um de nós.


A Palavra de Deus não só foi dirigida a João Batista, mas também a todos nós. Deus vem. O caminho que preparamos somos nós mesmos. São nossas vidas.


A presença de João Batista no deserto indica sua procura do lugar onde Deus opera e fala. Este deserto é decisivo. É uma abnegação não somente do mundo, mas de si mesmo, de sua própria liberdade. Significa tornar-se vazio de si mesmo, disponível para um outro.


Portanto, a cada um compete examinar a própria vida: que renúncias tenho que fazer? Que atos tenho que endireitar? Que “vales” da minha vida tenho que “aterrar”? Que “colinas” das minhas atitudes de prepotência e arrogância tenho que rebaixar? Que montanhas precisamos fazer baixas para sermos de fato justos, iguais e fraternos? Quais irmãos que estão “lá em baixo” e precisam ser erguidos para todos se sentirem iguais? Os nossos caminhos devem ser corrigidos sempre porque Deus sempre vem ao nosso encontro. “Preparai o caminho do Senhor. Endireitai suas veredas”.
P. Vitus Gustama,svd

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