Domingo, 23/12/2018
MARIA
SE DEIXA LEVAR POR JESUS PARA ALEGRAR E AJUDAR OS OUTROS NA SUA NECESSIDADE
IV DOMINGO
DO ADVENTO ANO “C”
Assim diz o Senhor: 1 Tu,
Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair
aquele que dominará em Israel; sua origem vem de tempos remotos, desde os dias
da eternidade. 2
Deus deixará seu povo ao abandono, até o tempo em que uma mãe der à
luz; e o resto de seus irmãos se voltará para os filhos de Israel. 3 Ele
não recuará, apascentará com a força do Senhor e com a majestade do nome do
Senhor seu Deus; os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até
os confins da terra, 4ª e ele mesmo será a Paz.
II Leitura: Hb 10,5-10
Irmãos: 5 Ao
entrar no mundo, Cristo afirma: “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas
formaste-me um corpo. 6 Não foram do teu agrado holocaustos nem
sacrifícios pelo pecado. 7 Por isso eu disse: ‘Eis que venho. No livro
está escrito a meu respeito: Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade’”. 8 Depois
de dizer: “Tu não quiseste nem te agradaram vítimas, oferendas, holocaustos,
sacrifícios pelo pecado” – coisas oferecidas segundo a Lei –,9 ele
acrescenta: “Eu vim para fazer a tua vontade”. Com isso suprime o primeiro
sacrifício, para estabelecer o segundo. 10 É graças a esta vontade que somos
santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por
todas.
Evangelho: Lc 1,39-45
39 Naqueles dias, Maria partiu para a
região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40 Entrou
na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41 Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a
criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42 Com
um grande grito exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto
do teu ventre! 43
Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44 Logo
que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu
ventre. 45
Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe
prometeu”.
----------------------
Visão
Geral Da Liturgia Do Quarto Domingo Do Advento Ano Litúrgico “C”
O Quarto Domingo do Advento está penetrado pelo
desejo e a convicção de que a meta do Natal está a ponto de ser alcançado. Por isso,
a oração
pós-comunhão pede que nós, o povo cristão “ao aproximar-se a festa da Salvação (Natal), nos preparemos com maior
empenho para celebrar dignamente o mistério do vosso Filho”. Este desejo se
converte em súplica na antífona de entrada (Is 45,8): “Céus, deixai cair o orvalho, nuvens, chovei
o justo; abra-se a terra, e brote o Salvador (a salvação)!”. Esta salvação é
a graça do Emanuel que a Igreja pede na oração da coleta (oração do dia): “Derramai, ó Deus, a vossa graça em nossos
corações para que, conhecendo pela mensagem do Anjo (anunciação) a encarnação
do vosso Filho...”. O Prefácio II do Advento proclama neste
domingo: “O próprio Senhor nos dá a
alegria de entrarmos agora no mistério do seu Natal, para que sua chegada nos
encontre vigilantes na oração e celebrando os seus louvores”.
A perspectivo do Natal, já próximo, marca os
textos da Leitura e convida todos para uma preparação mais intensa. Preparar as coisas é sinal de maturidade no trabalho ou
na missão; é sinal de nossa vida. Não podemos deixar as coisas ao acaso, à
espontaneidade, ao improviso, à sorte. Para que as coisas resultem em algo bem
feito, temos que levar a sério a preparação. É bom que neste IV Domingo do
Advento, próximo já o Natal do Senhor, nós nos perguntemos: temos preparado o
Natal do Senhor? Temos preparado o acontecimento salvador de Deus? Ainda tem
sentido o Natal como acontecimento de salvação ou domesticamos a festa e tiramos
o Senhor do Natal para torna-lo uma festa puramente humana?
Em segundo lugar, o Quarto Domingo do Advento
coloca Maria em profunda conexão com a vinda do Messias. Na antífona da
comunhão é proposto o texto de Mt 1,23 que inclui Is 7,14: “A Virgem conceberá e dará à luz um filho;
ele será chamado Deus conosco (Emanuel)”. A oração sobre as oferendas
diz: “O mesmo Espírito, que trouxe a vida
ao seio de Maria, santifique estas oferendas colocadas sobre o vosso altar”.
Maria é a terra fértil, frutífera que através da ação santificante do Espirito
Santo, dá nascimento ao mundo o Deus-Conosco, o Emanuel. O Quarto Domingo do
Advento vê Maria como a figura culminante do Advento, em sua atitude de
generosidade e fecundidade generosa. Maria esperou seu Filho com o amor inefável
da mãe. Maria, portadora do Filho de Deus, leva-O para a casa de Isabel. Maria é
a bendita entre as mulheres porque ela acreditou. No final, “será cumprido o
que o Senhor disse” (Evangelho).
Na Primeira Leitura (Mq 5,1-4ª), oito séculos
antes, o profeta Miqueias anuncia o nascimento do Messias na pequena aldeia de
Belém de Efrata. Será “o chefe de Israel”
ou “aquele que dominará em Israel”. Quando
a mãe der a luz, tudo mudará para o povo eleito. É interessante observar que
somente fala no texto da mãe e não do pai. Trata-se de um nascimento milagroso?
Essa mãe, vagamente desenhada por Miqueias, é Maria de Nazaré, a Virgem. É a mãe
daquele que “apascentará com a força do
Senhor”, aquele cuja “origem vem de
tempos remotos, desde os dias da eternidade”, o Filho eterno do Pai. Seus dons serão: a “tranquilidade” e a “paz”. Este anúncio ressoa com doçura. O Evangelho de Mateus (Mt
2,6) aplica este texto a Jesus de Nazaré, o novo Davi. Com o seu nascimento,
ocorre a grande renovação humana: ele reúne os exilados, é o autêntico pastor
do povo, o seu domínio estende-se a todos os homens que, finalmente, podem
viver em paz e sem medo. E nós cristãos, durante este Advento, em quem ou em
que colocamos nossa esperança? No Senhor ou em nossa própria força?
O texto da Segunda Leitura (Hb
10,5-10) se encontra na seção central da Carta aos Hebreus (Hb 7,28-20,18),
onde se desenvolve o tema mais importante da carta: a função mediadora de
Cristo. Nos versículos de hoje o autor da Carta explica a substituição dos
antigos sacrifícios pelo único e definitivo sacrifício da própria pessoa de
Cristo. Cristo sabe muito bem daquilo que agrada a Deus: é a obediência (Hb
10,5). Por isso, ao entrar no mundo pela encarnação, mas, sobretudo e
especialmente pela morte-ressurreição (Hb 1,6), Cristo faz a oferenda de seu próprio
corpo, de sua existência mortal. Não se usa mais animais como sacrifício, mas
Cristo faz oferta de si mesmo, de sua existência, de sua vida. Essa oferenda é agradável
a Deus porque expressa a plena obediência do homem a Deus sem nada guardar para
si. E a oferta de Cristo é livre, feita pela obediência total e pelos pecados
dos homens por amor a eles em sua condição de pecadores: “É graças a esta vontade que somos santificados pela oferenda do corpo
de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas”.
“Eu
vim, ó Deus, para fazer a tua vontade!”.
Jesus pronto
para entrar no mundo (Natal-Encarnação), expressa seus sentimentos numa alegre
oferta ao Pai. São palavras garantidas pelo Espírito Santo e colocadas na boca
do eterno Filho, que se casa com a humanidade para resgatá-la e elevá-lo: “Eu
vim, ó Deus, para fazer a tua vontade!”. Palavras quase idênticas, mas numa
situação dramática, ele dirá no Getsêmani pouco antes de aceitar a paixão (Lc
22,42). O Natal já contém Páscoa. A própria Mãe do Senhor também expressa sua obediência
à vontade de Deus ao dizer: “Eis aqui a
serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra!” (Lc 1,38).
Através do Evangelho de hoje (Lc
1,39-45), neste Domingo Maria é a figura do Advento para a Igreja. Maria,
conhecedora da situação de Isabel, sua prima, se põe em caminho apressadamente dirigindo-se a uma cidade da Judeia. Sai de sua
tranquilidade e pressurosa, Maria vai ajudar sua prima Isabel na sua idade
avançada. É exemplo de serviço, mas sobretudo, figura de quem se deixa conduzir
pelo Espirito de Deus para levar Cristo aos demais. Maria é realmente uma “Igreja
em saída”, na linguagem do Papa Francisco. Maria é o modelo de evangelização,
portadora do gozo de Deus. Bem-aventurada pela sua fé, Maria é o modelo privilegiado
das atitudes que o Advento pede para a Igreja. Maria é a aurora que anuncia a proximidade
do novo dia: Jesus Cristo.
Maria É Uma Nova Arca
A ideia que tem por trás do evangelho lido
neste dia ou que se evoca no texto do evangelho deste dia (Lc 1,39-45) é a da transferência
da arca da aliança para Jerusalém (cf. 2Sam 6,2-11). A viagem se realiza no
país Judá em direção a Jerusalém, tanto a da arca como a de Maria (2Sam 6,2; Lc
1,39). E esta viagem provoca as mesmas manifestações de alegria (2Sam 6,2; Lc
1, 42.44). Trata-se de uma alegria que provoca “danças” sagradas (2Sam 6,12; Lc
1,44: a criança, João, “salta” no seio da mãe, Isabel). A casa de Obed-Edom
está cheia de alegria pela presença da arca (2Sam 6,10-12) e a casa de Zacarias
se torna uma casa de alegria pela presença de Maria em cujo seio está o
Salvador (Lc 1,41). A exclamação de Isabel ao receber Maria, a mãe do Senhor
(Lc 1,43) reproduz, quase textualmente, a exclamação de Davi diante da arca
(2Sam 6,9). Finalmente, Maria, como Nova Arca em cujo seio carrega o Salvador,
permanece três meses na casa do casal Zacarias-Isabel (Lc 1,56), como a arca do
AT na casa dos que a hospedam (2Sam 6,11).
A arca da aliança simboliza, sobretudo, a
presença de Deus em seu povo, mas ela conduz igualmente o povo ao combate. Maria,
a Mulher vitoriosa garante para seu povo a vitória definitiva sobre o mal
através do seu Filho, Jesus, e inaugura o tempo messiânico em que o pecado é
abolido e o futuro é garantido.
Maria é a verdadeira morada de Deus entre os
homens cujo coração é imaculado. Deus não mais habita num templo de pedras e
sim em pessoas vivas que sabem amar os outros. A exemplo de Maria, cada
cristão, seguidor de Jesus Cristo deve ser no mundo sinal da presença de Deus.
As atitudes amorosas e a vivencia fraterna por amor com os demais tornam cada
cristão morada de Deus aqui na terra.
A partida de Maria para a casa de Isabel já é
uma etapa pela qual Maria conduz Jesus, seu filho até Judá. A segunda etapa
será a subida a Jerusalém em Lc 2,22-23.
Nosso Tempo é Carregado Da Graça Assim Que Jesus Entrou Na
História Humana
Nos dois domingos anteriores falamos da
figura de João Batista que prega a conversão como uma forma certa para preparar
a vinda do Senhor. O quarto domingo do Advento está profundamente marcado pela
figura de Maria, chamado por Isabel “a Mãe do meu Senhor”. Tentemos refletir um
pouco sobre alguns detalhes do relato da visita de Maria a Isabel em versículos
para depois tirarmos mensagens para nós.
Na anunciação (Lc 1,26-38), por meio de um
sinal, o anjo informava Maria sobre a adiantada gravidez de Isabel, sua parenta
(Lc 1,36: é a única passagem que estabelece vínculos familiares entre Maria e
Isabel, e implicitamente entre Jesus e João). Este versículo prepara a
visitação de Maria a Isabel, que reúne as mães afetadas pelas duas anunciações,
e por isso é um encontro de duas mulheres benditas.
O texto começa com estas palavras: “Naqueles dias Maria partiu...dirigindo-se às
pressas...” (v. 39). Este versículo
começa com duas palavras: “Naqueles dias...”.
Esta expressão, à primeira vista, não parece ser de grande importância; porém,
se analisada com profundidade, essa indicação de tempo, que relaciona os fatos
entre si, e este com a história geral, tem muita importância no Evangelho de
Lucas. Ela torna evidente a penetração mútua entre krónos e kairós. O krónos é o tempo humano que corre e pode
ser medido pelos segundos, minutos horas etc.. Ele interage com o kairós, que é
tempo da salvação: o primeiro recebe o segundo como hóspede, torna-o
experimental, perceptível, fazendo que ele se torne história, e dele recebe,
por sua vez, finalidade e sentido. Ao dizer “naqueles dias” Lucas quer
sublinhar a estreita relação teológica desse episódio da Anunciação. A
Anunciação aconteceu no sexto mês da gravidez de Isabel (Lc 1,26) e a gravidez
de Isabel, por sua vez, “no tempo de Herodes, rei da Judéia” (Lc 1,5).
É Preciso Caminhar Com Deus
“Maria
partiu...” O evangelista Lucas não escreveu que Maria simplesmente “andou”,
mas que ela “partiu”. Em muitas épocas e culturas a viagem não era considerada
apenas como um deslocamento deste para aquele lugar, mas representava uma
aventura e uma busca, quase sempre mais interior do que exterior, e em todas as
línguas ela se prestou para uma larga gama de empregos figurados.
Na Bíblia
o tema sobre a viagem ou caminho é particularmente sensível, porque o nomadismo
fazia parte da memória histórica do povo de Israel. Após tantas experiências de
migração de um lugar para outro, Israel adquiriu a consciência de si e de seu
próprio relacionamento com Deus.
Com o passar do tempo a ideia de caminhada
perdeu o seu sentido concreto e espacial, para adquirir outro sentido, mais
complexo, e que coincide com a inteira existência humana como resposta ao
projeto de Deus: “Os seus caminhos não
são os meus caminhos” (Is 55,8-9). Caminhar na lei do Senhor é uma imagem
que indica uma vida vivida em conformidade com o plano de Deus (cf. Lc 1,6).
Nos Evangelhos a ideia de viagem, de caminho,
está intimamente ligada à obediência a Deus e ao discipulado de Jesus. No
evangelho de Lucas, especialmente, a viagem de Jesus a Jerusalém ocupa a parte
central do seu evangelho (Lc 9,5-19,46), e exprime a autodoação voluntária de
Jesus pelo bem dos homens. É um caminho de renúncia, sem riquezas e sem honras,
um caminho pelo qual ele pode oferecer à humanidade uma possibilidade de
salvação.
Portanto, “pôr-se a caminho/partiu” significa
aceitar total e existencialmente o caminho proposto por Deus; é a resposta ao
anúncio feito por Deus, que se funda, sobretudo, a leitura de Maria como modelo
do discípulo perfeito, como a alma fiel por excelência. A partir daquele
momento começou a vida de Maria como resposta (cf. LG no. 8). Pôr-se a caminho”
para Lc significa, teologicamente, a disponibilidade e a obediência aos planos
de Deus.
A Graça Do Espírito Santo Não Admite Nossa Demora
Maria partiu às pressas. Aqui “a pressa” não
é uma descrição do estado psicológico de Maria, mas tem um sentido ou como um
dado teológico-espiritual. É a mesma pressa com que os pastores de Belém
obedeceram ao anúncio do anjo (Lc 2,15-16); a mesma pressa com que os
discípulos de Emaús, após terem encontrado Jesus, esqueceram-se imediatamente
do que os poderia reter na própria cidade, retornaram correndo a Jerusalém, e
anunciaram aos Apóstolos reunidos terem visto o Senhor Ressuscitado(Lc 24,33);
é a pressa com que a samaritana, abandonou sua bilha de água junto ao poço e
correu à cidade para anunciar a todos que havia encontrado o Messias(Jo 4,28);
a mesma pressa com que Maria Madalena, que correu para anunciar aos apóstolos :
“Eu vi o Senhor”(Jo 20,18).
“Partir às pressas” simultaneamente significa
seriedade, empenho, solicitude, zelo, entusiasmo, ardor. Maria é, na verdade,
levada por Aquele que leva. A “presença” dele não é barulhenta, vistosa, mas
escondida. E quem recebeu a revelação do projeto de Deus, quem sentiu-se
inserido pessoalmente em tal projeto, nota em si o sentido da urgência da
salvação; a urgência que pode conviver com a “paciência”, se esta for modelada
sobre a paciência de Deus, que é uma paciência de longa visão, e por isso mesmo
muito diferente da resignação. Santo
Ambrósio comenta a pressa de Maria com uma expressão latina quase intraduzível:
“Nescit tarda molimina Spiritus Sancti gratia”
(a graça do Espírito Santo não admite demora). E como se nos dissesse que algo,
decidido interiormente no coração com profundidade, seja feito, porque caso
contrário, acaba morrendo. Isto vale também para as pequenas coisas: uma carta
que devemos escrever ou responder; uma visita que nos custa; uma iniciativa que
nos pesa; um trabalho que decidimos fazer e que, no entanto, continuamos a
adiar; um perdão que devemos oferecer; uma palavra de amiga que devemos
pronunciar etc. Os adiamentos, os atrasos, nos desgastam e nos consomem
internamente.
É Preciso Ter O Senhor No Coração Para Ser Alegria Para Os
Outros
“Maria entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel”
(v.40). No Evangelho de Lucas, entrar na casa de alguém significa entrar num
relacionamento profundo, ingressar no âmago de uma situação específica, e estabelecer
um contato a partir do qual se verificará uma transformação decisiva.
Maria saudou Isabel. De acordo com o costume
hebraico a saudação normal é Shalom (é traduzida em grego por eirène)
significa, um conjunto de benefícios que englobam as bênçãos messiânicas e as
situações de prosperidade e alegria que normalmente acompanham tais bênçãos, ou
seja, harmonia com Deus, com o universo de Deus, com os outros e consigo mesmo.
É muito mais da simples palavra paz na língua portuguesa. A visita de Deus
significa paz para a casa do homem que a recebe e produz frutos de alegre
reconhecimento.
E
“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se agitou no seu ventre...”
(v.41.44). Quando uma pessoa possui Jesus vivo no coração, anima-o o desejo de
O irradiar e santificar os que de si se aproximam. Desperta no coração dos
outros a presença do Espírito Santo. E acolher com disponibilidade criativa a
Palavra de Deus nos torna capazes de serviço, de reciprocidade, e de alegria;
aquela alegria que não é só psicológica, mas que na Bíblia, é característica
dos momentos de revelação intensificada da salvação. O encontro de Maria com
Isabel fez ressoar um carrilhão de alegria, de exultação. A alegria é o perfume
de Deus, o sinal da sua presença. A alegria manifesta a obra do Espírito Santo,
e caracteriza os tempos messiânicos.
Ao ouvir a saudação de Maria, Isabel sente a
criança “dar pulos” no seu ventre. O verbo “dar pulos” ou “saltar de alegria” (skirtan) no
NT é usado originalmente para expressar os movimentos e pulos dos pequenos
animais, como cordeirinhos e cabritinhos no posto. No AT o verbo é usado para
descrever a agitação de Esaú e de Jacó no seio de Rebeca (cf. Gn
25,22-28). Os dois gêmeos antecipam sua
relação logo no seio materno. E João Batista, por sua vez, antecipa sua missão
profética como precursor de Jesus. Na verdade, João Batista profetiza dando
“pulos de alegria” pela chegada do Salvador, Jesus Cristo. Por isso, o encontro
não acontece apenas entre as duas mães, mas também entre duas crianças que
estão ainda nos dois ventres abençoados. As duas mães são servidoras da missão
dos filhos. Cada criança terá sua própria missão. Mas a missão de João Batista
inteiramente relativa à missão de Jesus.
Não é por acaso que Lc usa o termo “agallíasis” (“...a criança estremeceu de
alegria no meu ventre”, v.44) que significa uma alegria exuberante, causada pela vinda da salvação escatológica,
uma alegria que é experimentada diante de Deus e manifestada externamente.
Como se João quisesse dizer a si mesmo: “Que bom que eu sou um precursor do meu
Salvador. Que alegria que eu poderia ter mais de que isso!”.
O Cristão Deve Ser Bênção Para Os Outros
“...Com grande grito Isabel exclamou: ‘Você é
bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre’!” (v.42). Mais
tarde, durante o ministério público, uma mulher do meio da multidão, gritando,
dará uma bênção (macarismo) em louvor
a Jesus: “Bendito é o ventre que te gerou
e os peitos que te amamentaram” (Lc 11,27, uma cena exclusiva de Lc). E
Jesus corrigirá a mulher, dizendo: “Felizes,
antes, são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a guardam” (Lc 11,28). Ao
pronunciar esta bênção a Maria, Isabel, como a mulher na multidão, está
apreciando não somente a alegria de Maria por ser mãe de um filho, mas a enorme
honra de ser a mãe física do Messias.
Depois de abençoar a maternidade física de
Maria, Isabel continua a dizer sintomaticamente: “Bendita és tu que creste na Palavra do Senhor, pois que te será
cumprida” (veja a explicação no próximo versículo). Isto reitera a suprema
importância de escutar a Palavra de Deus e pô-la em prática, e antecipa o
próprio elogio de Jesus à sua mãe (Lc 8,21). Maria é duplamente abençoada por
ser a mãe física do Messias e por encontrar nela os critérios para a família de
discípulos de Jesus (cf. Lc 8,21).
Em seu sentido próprio e principal, o
adjetivo “bendito” sempre diz respeito a Deus, que deve ser bendito por todos
os seres humanos. Quando aplicamos o termo a homem e mulher, então queremos
invocar sobre eles a bênção de Deus. A bênção que se refere a seres humanos se
configura com uma espécie de augúrio muito solene, e toma o nome de bênção
constitutiva. A bênção, portanto, tem sempre um caráter vertical: ascendente,
no caso em que são os seres humanos que bendizem a Deus, e descendente, quando
falamos da bênção de Deus que se difunde sobre os seres humanos. A bênção de
Isabel a Maria ressoa como um memorando do Antigo Testamento (cf. Jz 5,24; Jt
13,18).
Ser bendito por Deus, é ser cheio do “Sim”
divino, ser modelado por definitivo “Sim”, sem parar nem arrependimento; é,
como Maria, ser capaz de pronunciar um “Sim” que se disponha a todos os riscos
e a todas as alegrias da ação de Deus em nós. Desde que um homem saiba bendizer
o Senhor, irradia a mesma bênção sobre todos os que dele se aproximam.
“Bem-aventurada
aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu” (v.45).
A palavra “bem-aventurança” é muito cara para Lucas, que a empregou quinze
vezes no seu Evangelho (em Mateus ela aparece treze vezes, nove das quais na
passagem sobre as bem-aventuranças; em João apenas duas vezes; e nenhuma vez em
Marcos). Isabel, que já havia proclamado Maria “bendita” por causa da sua
maternidade, agora a proclama “bem-aventurada”. Ao bendizer reconhece-se,
sobretudo, o dom do amor de Deus. Na bem-aventurança, além do reconhecimento, é
fundamental também a resposta dada pelo homem ao dom recebido.
Maria é proclamada bem-aventurada porque
acreditou ou tem fé. A fé é um dom de Deus, mas também é uma resposta humana, e
como todo ato humano, não pode se dar sem um apoio e uma partilha, sem uma
condivisão. Maria foi à procura de Isabel movida pelo desejo de aprofundar,
mediante o diálogo, o conhecimento da revelação que tinha recebido. Em outras
palavras: para confirmar e ser confirmada na fé. Por isso, sua viagem à casa de
Isabel é um símbolo do caminho da fé que precisa ser testemunhada,
compartilhada, que precisa servir; dessa fé que se faz encontro e serviço. Além
disso, quando a Palavra de Deus é ouvida com autenticidade não pode deixar ser
profundamente criativa e dialogante.
Maria, então, nos ensina que há necessidade
de compartilhar a experiência de salvação, e de comunicar o amor como resposta
a um dom excepcional de amor que foi dado e aceito. Maria é a arca da nova
aliança, o lugar da presença de Deus no meio de nós. Porém ela não é um lugar
que encerra Deus e sim é um lugar que O dá, uma arca que irradia o Senhor. Ela
é uma pessoa que depois que habitada pelo mistério divino, logo o dá. Ela
irradia a presença de Deus. Isto quer nos dizer que quando na fé se der (dá) ao
absoluto primado de Deus, a consequência lógica é sair de si para irradiar o
amor de Deus. Quem acolhe o amor de Deus, torna-se, consequentemente, doador do
mesmo. Quem crê é capaz de fazer duas coisas simultaneamente: olhar para dentro
(contemplação) e olhar para fora (ação).
Isto quer nos dizer que respeitamos verdadeiramente o dom de Deus não
quando o retemos para nós mesmos egoisticamente, mas quando nos tornamos arca
irradiante. Martinho Lutero dizia: “O cristão, mais livre de todos na fé, é
mais servo de todos os outros no amor”.
Além do mais, o encontro entre as duas mães
abençoadas por Deus é um encontro de comunicação e de partilha, na mais
profunda alegria, do mais profundo de sua fé porque as duas são movidas por
Deus. Isto quer nos dizer que quando formos movidos por Deus, como
consequência, nós vamos sair de nós mesmos ao encontro dos outros para
partilhar com eles as emoções e as ações de Deus em nossa vida. Quanto mais
profunda nossa experiência com Deus, tanto mais profunda será a experiência de
comunhão de partilha com os outros. E tanto mais profunda e pura também será a
alegria causada nos outros por essa comunicação e partilha, como aconteceu com
Maria e Isabel.
A partir daí é que podemos nos perguntar se
nossa fé realmente é um dom e uma resposta ao mesmo tempo. Será que acreditamos
que Jesus está dentro de nós? A certeza de Jesus estar dentro de nós, leva-nos
a sermos missionários da graça de Deus a exemplo de Maria.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário