29/12/2018
APRESENTAÇÃO
DE JESUS NO TEMPLO:
O ENCONTRO
COM O SALVADOR
29 de Dezembro
Primeira Leitura: 1Jo 2,3-11
Caríssimos, 3 para saber que conhecemos Jesus, vejamos se guardamos os
seus mandamentos. 4 Quem diz: “Eu conheço a Deus”, mas não guarda os seus
mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele. 5 Naquele, porém, que
guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado. O critério para
sabermos se estamos com Jesus é este: 6 quem diz que permanece nele, deve também
proceder como ele procedeu. 7 Caríssimos, não vos comunico um mandamento novo,
mas um mandamento antigo, que recebestes desde o início; este mandamento antigo
é a palavra que ouvistes. 8 No entanto, o que vos escrevo é um mandamento novo
– que é verdadeiro nele e em vós – pois que as trevas passam e já brilha a luz
verdadeira. 9 Aquele que diz estar na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas
trevas. 10 O que ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de
tropeçar. 11 Mas o que odeia o seu irmão está nas trevas, caminha nas trevas, e
não sabe aonde vai, porque as trevas ofuscaram os seus olhos.
Evangelho: Lc 2,22-40
22 Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho,
conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de
apresentá-lo ao Senhor. 23Conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo
primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. 24 Foram também
oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos – como está ordenado
na Lei do Senhor. 25 Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era
justo e piedoso, 26 e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo
estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias
que vem do Senhor. 27 Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os
pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, 28 Simeão
tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: 29 “Agora, Senhor, conforme a tua
promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30 porque meus olhos viram a
tua salvação, 31 que preparaste diante de todos os povos: 32 luz para iluminar
as nações e glória do teu povo Israel”. 33 O pai e a mãe de Jesus estavam
admirados com o que diziam a respeito dele. 34 Simeão os abençoou e disse a
Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de
reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35 Assim
serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti uma espada te
traspassará a alma”.
-----------------
O Evangelho nos traz ecos novamente do Natal.
O texto do evangelho nos mostra que Jesus é plenamente encarnado na condição
humana: é um menino que precisa ser levado nos braços como qualquer outra
criança. E sua família se submete à Lei como qualquer outra família judia.
Maria e José são pobres. Eles fazem a oferenda como pobre: um par de pombas.
Jesus apresentado a Deus, isto é, ele é oferecido ao Pai solenemente. O sentido
da oferenda se compreenderá somente sob a luz da cena do calvário onde Jesus
morrerá como o autêntico primogênito que se entrega ao Pai pela salvação dos
homens.
Continuamos com
o evangelho sobre a infância de Jesus: a apresentação
de Jesus no Templo e a purificação ritual
de Maria. Como a oferenda
nessa apresentação e purificação ,
as mulheres ricas, além
de uma rola ou
um pombinho para
o sacrifício de purificação ,
oferecem um cordeiro
de um ano
para o holocausto
de ação de graças
(cf. Lv 12,6.8). As mulheres pobres somente oferecem
duas rolas ou
dois pombinhos (Lc 2,24). Da oferenda
sabemos que Maria pertence
à classe social
pobre e humilde, pois leva apenas um par
de pombinhos.
O evangelista
sublinha a apresentação de Jesus no Templo para mostrar
que Jesus pertence
inteiramente a Deus
e que sua
entrega é total
desde o início
de sua vida
(cf. 1Sm 1,24-28). E Maria sabe que “o seu filho primogênito ” (Lc 2,6) não
é propriedade dela, mas
propriedade de Deus .
Tudo pertence
a Deus , menos
o pecado .
A parte
central da cena
começa com
a introdução do personagem
principal , o velho
Simeão cujo nome
significa “O Senhor escuta ”
(cf. Gn 29,33). Ele é apresentado como um homem “justo e piedoso ”, como alguém que
esperava a “consolação de Israel”, isto
é, a vinda próxima
da salvação messiânica. O texto relata que “o Espírito
Santo estava nele” para
sublinhar que
a mensagem que
Simeão dará tem valor (vv.29-32. 34-35),
pois ele é um profeta
inspirado, cheio de Espírito
Santo . Além
disso, receberá de Deus a promessa
de não morrer
antes de ver
o “Messias do Senhor ” (v.26).
Sua ida
ao Templo naquele determinado
momento é interpretada, aqui , como uma condução do Espírito
de Deus (v.27) como
o próprio Jesus será conduzido pelo
Espírito Santo
(Mc 1,12).
As palavras
proféticas de Simeão sobre Jesus
constituem o centro do relato. O ator principal é o Espírito Santo ,
pois ele é quem conduz Maria ao Templo ,
quem conduz Simeão ao encontro de Jesus e quem
revela a Simeão que o Menino que ele acolhe é a salvação de Deus
e luz para iluminar as nações .
Esta cena
nos mostra
que no encontro
com Jesus realizamos nossas esperanças e esperas ,
e os nossos olhos
são iluminados para
ver a vida de
maneira renovada e renovadora. Para acontecer o encontro com
Jesus e a realização das promessas , temos que ,
como velho
Simeão, nos deixar
conduzir pelo Espírito do Senhor .
Nesta cena
Simeão recebe Jesus dos braços de Maria.
Isto quer
nos dizer que Deus quer que
recebamos o Salvador e quem
nos dá Jesus depois
de tê-lo dado à luz
para toda a humanidade é Maria. Devemos acolher
Jesus com toda
a nossa pessoa ,
corpo , coração ,
pensamento e sentimentos .
“Aquele que
deseja ser
libertado, que tome Jesus nas suas mãos ...e
faça todos os esforços
para deixar-se guiar pelo Espírito e vir ao templo de Deus ...isto é,
à sua Igreja ”
(Orígenes). Iluminado pelo Espírito
Santo, Simeão vê no menino que tem nos seus braços a “luz das nações”. Jesus é
a luz que vai iluminar todos os povos (Lc 1,79; Jo 8,12).
Simeão também prevê o sofrimento de Maria
pela incredulidade do seu povo. Este sofrimento é descrito por Lc com uma
imagem muito forte: em grego “rhomfaia” que designa uma espada
grande com duplo fio. Este termo não
voltará a ser mais usado em todo o NT até o último livro, o Apocalipse, onde
aparecerá seis vezes; cinco delas para simbolizar a palavra de Deus. O
sofrimento de Jesus pela divisão atinge também pessoalmente sua mãe. Sabemos
pela experiência que o sofrimento do filho (a) é o sofrimento da mãe (pai). E o
sucesso do filho (a) é o sucesso da mãe(pai). A fé de Maria vai ser provada. E
ela se mostra fiel até o fim na provação. Por isso, ela é modelo para nossa fé.
Se Simão é descrito mais pela sua
interioridade, pela justiça e esperança, Ana pela sua espiritualidade, pela sua
vinculação com o templo e pela sua esperança. Lc apresenta Ana como uma mulher
consagrada a Deus, modelo de fidelidade e de piedade e vive no templo. Também
Ana vai ao encontro de Jesus, olha, compreende e testemunha aos outros (v.38),
porque ela está aberta ao Espírito Santo. A salvação é oferecida por Deus a
todos, mas ela deve ser anunciada e testemunhada por quem a acolhe.
A cena do encontro de Jesus com a humanidade
no Templo nos projeta para o futuro encontro com o Senhor. Por isso, o encontro
com Jesus com a humanidade representada pelos anciãos Simeão e Ana prefigura
nosso encontro final com Cristo na sua segunda vinda. Nós, peregrinos de Deus,
caminhamos penosamente através deste mundo, guiados pela luz de Cristo e
sustentados pela esperança de encontrar finalmente o Senhor da glória no seu
Reino eterno. Toda nossa vida cristã tem esse objetivo: encontrar-nos com o
Senhor na vida eterna. Por este objetivo temos sempre força suficiente para
superar tudo na nossa peregrinação terrestre. Estando com Cristo e seguindo
seus passos nossa vida sempre será iluminada: “Eu sou a Luz do mundo. Quem me
segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
“Para
saber que conhecemos Jesus, vejamos se guardamos os seus mandamentos. Quem diz:
“Eu conheço a Deus”, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a
verdade não está nele”, assim lemos na Primeira Leitura de hoje.
O conhecimento de Jesus Cristo não é um
conhecimento intelectual. Não está reservado aos sábios, aos que são capazes de
decifrar intelectualmente as “Escrituras” ou o “Dogma”. Aqui se trata de um
conhecimento experimental, vital. Pela origem da palavra, o verbo “conhecer”
quer dizer “com-nascer, nascer com, fazer-se um com outro. Somente conhecemos o
outro, entregando-nos a ele e aceitando que ele se entregue a nós. Trata-se de
uma relação existencial.
Os gnósticos dos fins do século primeiro dava
a prioridade absoluta ao saber (“gnosis”, conhecimento) e com isso se sentiam
salvos sem prestar grande atenção às consequências da vida moral. Não atuavam
segundo esse conhecimento de Deus.
Para o autor da Carta de João, a demonstração
de que deixamos as trevas e entramos na luz é quando amamos ao irmão: “Aquele que diz estar na luz, mas odeia o seu
irmão, ainda está nas trevas. O que ama o seu irmão permanece na luz e não
corre perigo de tropeçar. Mas o que odeia o seu irmão está nas trevas, caminha
nas trevas, e não sabe aonde vai, porque as trevas ofuscaram os seus olhos”
(1Jo 2,9-11). Isso é conhecer Deus.
É a consequência de ter conhecido o mistério
do amor de Deus neste Natal: também temos que viver seu grande mandamento que é
o amor. A teoria é fácil. A prática não é o tanto: as duas devem estar juntos. Natal
é luz e é amor, por parte de Deus, e deve sê-lo também por nossa parte. O Natal
nos está pedindo seguimento e não somente celebração poética. Haveria bastante
luz em meio das trevas deste mundo, se todos os cristãos escutassem esta
chamada e nos decidíssemos a celebrar o Natal com mais amor em nosso pequeno ou
grande círculo de relações pessoais.
Também o evangelho de hoje nos conduz a um
Natal mais profundo. O ancião Simeão nos convida, com seu exemplo, a ter “boa
vista”, a descobrir, movidos pelo Espirito, a presença de Deus em nossa vida. Nos
pequenos detalhes de cada dia, e nas pessoas que podem parecer muito
insignificantes, nos espera a voz de Deus, se soubermos escutá-la.
P. Vitus Gustama,SVD
Nenhum comentário:
Postar um comentário