Natal 25/12/2018
O VERBO SE FEZ CARNE E HABITOU
ENTRE NÓS
NATAL E ALGUMAS MENSAGENS
“O Verbo Se Fez Carne e Habitou Entre Nós”
Dentro do prólogo do Evangelho de são João, qual
é o significado da Palavra/Verbo/Logos para nós?
Ao lermos atentamente esse prólogo podemos
enumerar cinco significados fundamentais do termo Palavra/Verbo/Logos. Em
primeiro lugar, a razão última da minha existência, assim como é, está
em Deus. A minha existência assim como é, e toda a situação humana, tem uma
razão, tem um porquê, tem um significado.
Em segundo lugar, este significado
último está em Deus. O significado último de toda a realidade, de todas as
coisas, de minha situação humana está na dependência de Deus. Dependência que
deve ser reconhecida no louvor e na reverência. Se a razão última de todas as
coisas é a palavra criadora de Deus, este sentido de dependência total de Deus
que deve ser reconhecido com reverência e louvor é a primeira atitude sobre a
qual as outras podem ser construídas e sem a qual nenhuma disciplina espiritual
pode ser construída.
Em terceiro lugar, em Deus está a
razão última não só do ser das coisas, mas do ser “aqui e agora”. Ou seja,
todas as situações da existência, tudo o que aconteceu e acontece agora tem um
significado na sabedoria ordenadora de Deus. Todo o cosmos, de que se fala no
v.9 tem este significado. Se faltar esta confiança, entrará logo a amargura e a
pessoa será presa fácil do espanto diante da impressão de desordem ilimitada.
Em quarto lugar, esta razão da
existência é o logos, no sentido da luz e vida; tudo tem sentido, e este
sentido é luminoso e vivificante. Ou seja, apesar das obscuridades da situação
presente do homem, apesar da tragédia humana que nos cerca, existe no fundo de
tudo um evangelho/boa notícia que nos assegura de que há uma razão luminosa e
vivificante de todas estas coisas; basta que saibamos captá-la e nos deixemos
transformar por ela.
E por fim, este logos é Jesus Cristo
entre nós que nos fala do Pai. As palavras de Jesus que ouvimos na Escritura e
a sua própria realidade pessoal constituem o sentido luminoso e edificante de
toda a experiência humana, assim como nós a percebemos. Sem esta confiança de
fundo na sabedoria criadora, que regula as situações presentes e se manifesta
em Cristo como ”evangelho”, não há esperança de uma melhora, não há a esperança
de que nós mesmos mudemos e não há esperança para o mundo. A nossa esperança,
de fato, reside toda ela na vinculação de todas as coisas com a sua razão
última, que é a criação divina e a esperança de Jesus Cristo entre nós, aquele
que nos revela as palavras de Deus e cria uma situação de verdade e graça no
mundo: Jesus “cheio de amor e fidelidade”.
Esta é, pois, a atitude que devemos assumir
diante do Evangelho de João: uma atitude inspirada na ideia de que tudo depende
de Deus, de que tudo caminha para Deus, e de que a nossa ação pode inserir-se
de maneira sensata, racional, justa, neste movimento, qualquer que seja a nossa
condição presente.
1.A Encarnação É O Mistério Do Amor Apaixonado De Deus Por Nós
“O
Verbo Se Fez Carne e Habitou Entre Nós”
A encarnação
do Filho de Deus
desafia a lógica
humana ou
do mundo porque
ela só
poderá ser aceita a partir
da fé no amor
de um Deus
que ama
os homens até
o extremo de se tornar
igual a eles
para que cada ser humano se torne um
filho ou
uma filha de Deus :
“Deus tanto
amou o mundo , que
entregou seu Filho
único , para que quem crer não pereça, mas tenha vida eterna ” (Jo 3,16). Fora
do amor deste Deus
apaixonado pela humanidade
não entenderíamos nada
da encarnação . A encarnação
é uma mensagem forte
do amor de Deus
por nós
todos . E Jesus levará seriamente este amor até aceitará ser
crucificado na cruz . O mistério
da encarnação é o mistério
do amor de Deus
que assume a condição
humana para
salvá-la e divinizá-la. O amor sempre fascina e atrai qualquer
ser vivo e o
transforma em criatura
amigável e amável .
O amor dá a segurança ,
facilita o crescimento humano e cria a
harmonia entre
as pessoas ou
entre os seres
vivos .
2. Na Encarnação Deus Se Humaniza
“O
Verbo Se Fez Carne e Habitou Entre Nós”
No Natal celebramos a humanização de Deus e a
nossa divinização. Ele desce para nossa humanidade e através dele subimos para
o céu. Na encarnação Deus introduziu o germe divino em nossa natureza mortal
para que não ficássemos entregues à efemeridade e debilidade da natureza
humana. Ao se encarnar Deus quer ensinar o ser humano a descobrir sua dignidade
divina, pois Deus se torna um deles. O Papa Leão no seu sermão de Natal dizia:
“Cristão, reconhece tua dignidade!
Tomaste parte na natureza divina, não regresses à velha indigência, e não vivas
abaixo de tua dignidade!” Isto nos desafia a viver de acordo com nossa
dignidade divina.
A encarnação de Deus também nos ensina a
sermos mais humanos. Para podermos servir bem os outros, para podermos
trabalhar com muito ardor devemos ser muito humanos. A encarnação nos mostra
como podemos nos tornar verdadeiramente humanos. Cristo desceu do céu até o
nível da humanidade. Por isso, para sermos muito humanos o primeiro passo
consiste em ter coragem para descer à nossa humanidade e terrenidade. Nós fomos
tirados da terra. Cristo desceu até nós para que, por ele, como por uma escada,
possamos subir até Deus. A meta desta descida é a nossa elevação pelo Espírito
de Deus. Apenas quem aceita a sua humanidade é pode subir ao céu. Se Deus não
nascer em nós, permaneceremos alienados de nós mesmos e dos outros. Cristo pode
nascer até mil vezes em Belém, mas se nenhuma vez em nós, em nosso coração, em
nosso lar, permaneceremos eternamente perdidos e seremos muito desumanos para
com os outros. Mas se Cristo nascer em nós, entraremos em contato com o nosso
próprio ser, com a imagem intocada e genuína de Deus. Conseqüentemente, nossa
vida ficará verdadeiramente nova, sã, iluminada e mais humana.
3. Deus Se
Manifesta Como Uma Criança
“O
Verbo Se Fez Carne e Habitou Entre Nós”
No Natal Deus vem ao nosso mundo como uma
criança e não como um adulto. Ninguém resiste diante de uma criança. A criança
é uma criatura frágil, desamparada, indefesa e dependente totalmente dos pais
ou dos adultos. Por ser frágil não podemos agarrá-la com força. Ao contrário
precisamos nos aproximar dela com carinho e mansidão. Para uma criança não
fazemos discursos inteligentes, mas usamos somente palavras que vêm do coração
ou alguns gestos carinhosos. A criança quer sempre aprender. Ela confia nos
outros e se envolve. Vive o momento presente sem se preocupar o que vem a ser
porque confia nos pais. Está sempre aberta ao novo. Quando duas crianças se
brigam, em poucos minutos elas voltam a brincar juntas novamente como se nada
acontecesse anteriormente.
Se Deus vem ao nosso encontro como uma
criança é porque Ele quer nos libertar de nossa megalomania e de querermos ser
sempre fortes e independentes. A nossa força tem limites, por isso nenhum ser
humano pode ter pretensão de se sentir forte, dispensando a ajuda dos outros. O
Natal pretende nos lembrar a criança divina em cada um de nós. No fundo do
coração cada um carrega uma criança divina. Quando cada um entrar em contato
com a criança dentro de si, sua vida ganha um pouco de leveza e se torna
autêntica. O Natal, pela encarnação do Filho de Deus através de uma criança,
nos ensina a olhar para dentro de nós. Dentro de nós não encontramos apenas
problemas, divisão, confusão, desejos, ilusões frustradas, feridas e mágoas.
Dentro de nós há também Cristo (cf. 1Cor 3,16s). Por isso, o que celebramos
hoje não é um fato passado que dorme na história. O mistério do
Deus-feito-homem tem lugar hoje, no agora da festa. Em cada Eucaristia entramos
em comunhão com Ele e ao terminar a missa nós não vamos sair sozinhos, e sim nó
vamos sair com ele, pois ele é o Deus-Conosco.
4. Pela Encarnação
Aprendemos A Encontrar Deus Nas Pequenas Coisas
“O
Verbo Se Fez Carne e Habitou Entre Nós”.
O nascimento de Jesus é atestado por Lucas
quando escreve que Maria “envolveu seu filho em faixas” (v.7). Esse detalhe é
tão realístico a ponto de o anjo do Natal divulgá-lo entre os pastores como
sinal para poder reconhecer o filho de Maria(v.12). Graças a esse sinal que “os
pastores, às pressas, vão vê-lo”, reconhecem e encontram o menino Jesus. O
nascimento de Jesus, então, é descrito com a maior simplicidade.
Tudo isso é o mistério da nossa fé que
proclamamos como cristãos: nas coisas pequenas revelam-se as grandes; no
pequeno pão está presente o Filho de Deus. No cálice está presente o sangue de
Jesus; na comunhão eucarística que recebemos, Deus nos abraça e vem ao nosso
encontro; na doença que nos faz sofrer e na morte que nos impõe medo, há a
presença misericordiosa do Filho de Deus que nos convida a entrarmos com ele em
seu Reino. Em todas as circunstâncias da vida do dia-a-dia, mesmo as mais
infelizes, mediante as incompreensões, as doenças, e a monotonia da vida, está
sempre presente o lado amoroso, o lado da alegria, do Espírito Santo, da
abertura do coração. O fascínio do
Natal, mais forte que todas as luzes multicoloridas acesas pelo consumismo,
está aqui: encontra-se o sentido da vida, do homem, das coisas simples, sentido
do qual ninguém deveria afastar-se, porque nele reside o verdadeiro, o
autêntico. Quem souber olhar bem longe com os olhos do coração e com a
inteligência da fé, ali encontrará um germe da Presença divina que situa o
homem na plena verdade de si mesmo.
O Natal nos ensina a buscarmos e a vermos o
inefável mistério divino não em coisas incomuns e maravilhosas, mas naquilo que
tem aspecto cotidiano, simples e terreno. Isto quer dizer que, a partir do
Natal, tudo que é humano simplesmente pode ser como que manifestação divina,
sinal visível da presença de Deus. Minha relação com o aspecto cotidiano desta
vida será o critério para saber se eu descobri ou não o sentido do Natal.
5. O Natal É
Uma Mensagem Da Paz
“O
Verbo Se Fez Carne e Habitou Entre Nós”.
“De repente juntou-se ao anjo uma multidão do
exército celeste a louvar Deus dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na
terra aos homens que ele ama’ “(vv.13-14). A distância entre o Criador
e a criatura, simbolizada pela menção do “céu” e da “terra”, é superada pela
nova e definitiva Aliança de Deus com os homens: o Deus “nas alturas”
inclina-se sobre a “terra” dos “homens que são objeto de sua benevolência. Deus
nos salvou por sua misericórdia (Tt 3,4-5). Pode-se dizer que a encarnação é
uma lágrima da compaixão divina para o homem que se encontra na miséria do
pecado. O essencial da encarnação, portanto, é o amor. Deus ama o homem para
torná-lo bom e feliz. Deus renuncia a si mesmo por amor. Deus veio para
participar dos nossos sofrimentos e indicar o caminho de amor para não
sofrermos sem sentido. Se soubermos renunciar a nós mesmos por amor, seremos
felizes e seremos capazes de fazer os outros felizes.
Portanto, para que as pessoas tenham um Feliz
Natal, não necessariamente os problemas e sofrimentos devem estar longe,
ausentes. Eles podem até estar presentes e sendo vividos por elas. Para que as
pessoas tenham um Feliz Natal, os cartões e presentes não são tão importantes.
E podem até nada significar. Para que as pessoas tenham um Feliz Natal, o
dinheiro não deve ser prioridade; muito menos significado primeiro das
comemorações. Para se ter um Feliz Natal, o importante é: Estar em PAZ com
Deus. Estar em PAZ com o irmão. Estar em PAZ consigo(a) mesmo(a). O que se
celebra no Natal é o nascimento do Deus-Criança, autor e senhor da Paz. Ele não
nasce em berço de ouro. Nem mesmo pode gozar do calor de uma simples
hospedaria. Naquela noite fria de Belém,
o Filho de Deus, o Deus- Criança, nasceu numa estrebaria, aquecida não pelo
acolhimento dos hoteleiros, mas pelo carinho de alguns animais e pelo afeto de
Maria e José, que, apesar dos trabalhos pelos quais passaram para acolher bem o
recém-nascido, estavam em Paz. Natal é a Festa da Paz. Os problemas e
sofrimentos podem até tirar um pouco do brilho e da alegria, enquanto
sentimento humano. Jamais, porém, o silêncio interior, perfume da Paz, enquanto
fruto do Deus que se faz CRIANÇA e habita entre nós.
Jesus Cristo, Verbo de Deus está a caminho em
busca de uma nova Belém. Ele quer nascer também num coração egoísta e fechado
para torná-lo mais altruísta e compassivo. Para isso, o coração terá que estar
aberto para deixar o Senhor entrar: “Eis que estou à porta e bato; se alguém
ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a
refeição, eu com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Ele quer continuar a nascer nos
corações aquecidos pelo amor. Ele quer nascer em seu lar, em suas conversas,
num aperto de mão, pedindo e oferecendo o perdão. Ele quer nascer naquela
amizade que há tempo você rompeu violentamente por um gesto insignificante e
irracional. Ele quer nascer naquela pessoa que morreu no seu coração por uma
briga de ponto de vista, esquecendo que cada ponto de vista é apenas vista de
um ponto. Ele quer nascer na mulher que você iludiu e enganou e no homem que
você explorou sem remorso. Desde que você seja capaz de escutar a Palavra de
Deus e pô-la em prática, você também será a mãe de Jesus que faz nascer o
Cristo no mundo e na convivência com os outros, e será irmão e irmã de todos
com quem convive e trabalha. Se você abrir seu coração para Jesus que está em
busca da nova Belém, você será um eterno Natal para todos. FELIZ NATAL!!
P.
Vitus Gustama,SVD
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