quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

31/12/2018
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FIM DO ANO:
OLHANDO-SE PARA TRÁS, A VIDA PODE SER COMPREENDIDA, E OLHANDO-SE PARA FRENTE A VIDA PODE SER VIVIDA


Primeira Leitura: 1Jo 2, 18-21
18 Filhinhos, esta é a última hora. Ouvistes dizer que o An­ticristo virá. Com efeito, muitos anticristos já apareceram. Por isso, sabemos que chegou a última hora. 19 Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos, pois se fossem realmente dos nossos, teriam permanecido conosco. Mas era necessário ficar claro que nem todos são dos nossos. 20 Vós já recebestes a unção do Santo, e todos tendes conhecimento. 21 Se eu vos escrevi, não é porque ignorais a verdade, mas porque a conheceis, e porque nenhuma mentira provém da verdade.


Evangelho: Jo 1,1-18
1 No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. 2 No princípio, estava ela com Deus. 3 Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. 4 Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. 5 E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. 6 Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João. 7 Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. 8 Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz: 9 daquele que era a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano. 10 A Palavra estava no mundo – e o mundo foi feito por meio dela – mas o mundo não quis conhecê-la. 11 Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram. 12 Mas, a todos os que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornar filhos de Deus, isto é, aos que acreditam em seu nome, 13 pois estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus mesmo. 14 E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho uni­gênito, cheio de graça e de verdade. 15 Dele, João dá testemunho, clamando: “Este é aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim passou à minha frente, porque ele existia antes de mim”. 16 De sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. 17 Pois por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo. 18 A Deus, ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer.
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Estamos no último dia do ano civil para entrar no primeiro dia do Ano Novo. Isto nos indica que a vida é realmente uma peregrinação ou uma viagem. E a Igreja recorda-nos que somos peregrinos. Ela mesma está “presente no mundo e é peregrina” (SC 2). Na peregrinação da vida dentro do tempo não há volta. Não há a marcha a ré. Por mais que as pessoas digam: “Ah! Se eu pudesse começar tudo de novo...”, mas nada disso acontece. Numa peregrinação tudo é para frente. Não tem volta: nem para as pessoas, nem para as coisas, nem para a história do mundo e da humanidade. O nosso nascimento já é um bilhete dessa peregrinação. Daí para frente tudo depende de nós na colaboração com a graça de Deus. Tudo é de nossa responsabilidade. Não dá para nascer novamente. Estamos em permanente peregrinação no tempo. Não há parada do ponto de vista temporal, nem quando dormimos, pois o tempo não pára. Fora e dentro de nós tudo continua em movimento. Mesmo que fiquemos sentados ou deitados, o tempo continua fluindo, nada pára. E somos responsáveis por cada momento dessa peregrinação.


Jesus vive essa forma de vida mostrando o seu significado pleno. Em Cristo, o próprio Deus se fez peregrino para vir ao encontro do homem nos seus caminhos. E o fato de ele não ter “uma pedra onde repousa a cabeça” (Lc 9,58) e sua vida apostólica itinerante revelam a sua identidade de peregrino por excelência.


Por isso, devemos fazer sempre de Jesus o centro de nossa vida e ser moldados num instrumento da graça de Deus. Precisamos confiar na profundidade de Deus em nós e viver dessa confiança. Esse é o caminho para continuar andando rumo à total comunhão com Deus.


E para sentir a liberdade de caminhar nesta peregrinação temos que experimentar a alegria do desapego. As maiores dificuldades no progresso, tanto material como espiritual, estão em nosso arraigado apego às coisas passadas, caducas e superficiais. Para caminharmos para frente e para o alto sempre devemos renunciar. A falta de renúncia atrasa a vida e mata a esperança. Quem deseja andar deve deixar muita carga, muito peso para trás de si mesmo. O homem que não se renova, que não renuncia às coisas superficiais, perde-se, degrada-se e infantiliza-se. Quem tem consciência de que nasceu para o alto e para a frente, tudo vence, tudo supera para alcançar a sua meta: a comunhão plena com Deus. Abraão Lincoln disse: “Podemos caminhar devagar mas nunca para trás”.


Hoje ressoa em nossas celebrações e orações o fim do ano. E o texto do Evangelho lido neste fim de ano nos mostra Jesus, a Palavra do Pai, como ponto de referência único da história. Por causa de Cristo o tempo é dividido antes e depois dele. Hoje podemos afirmar que todo nosso tempo, na vida humana e na , tem um único centro e critério: Jesus Cristo: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus e a Palavra era Deus. Ela estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ela, e sem ela nada foi feito. E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,1-3.14).


O evangelho nos convida a contemplarmos este Jesus, Palavra divina feita carne, pois nela está toda a graça e o amor de Deus. Somente na vida concreta deste Jesus é que podemos encontrar a glória de Deus e o sentido de tudo, especialmente de nossa vida.


Podemos dar graças pelo ano que termina, pela salvação que Deus continua nos dando e pedir perdão pelo que há de “anticristo” em nós (1Jo 2, 18-21): somos anticristos quando temos critérios de “mentira”, e outros critérios que não são os de Jesus.


Em poucas horas este ano vai virar o passado. O passado é observável, mas não é modificável. O futuro é modificável, mas não é observável. Mesmo assim os eventos passados contribuem para o nosso agora. Nunca nos divorciamos de nosso passado. Estamos em companhia dele para sempre e ele nos introduz no presente. E nossa reações de hoje refletem nossas experiências de ontem e suas raízes estão no passado. Uma pessoa enfrenta o futuro, certamente, com o seu passado. E cada dia nos oferece preparação para o futuro, para as lições que virão, sem as quais não daríamos nossa plena contribuição para o projeto que contém a evolução de todos nós.


Por outro lado, reconhecemos que o passado e o futuro estão fora de nosso alcance. Não temos poder para voltar ao passado a não ser através de nossa memória. Nem temos uma bola de cristal para saber o que vai acontecer no próximo instante. A única realidade que temos é o presente. Não conversamos amanhã; não comemos amanhã; não morremos amanhã. Tudo acontece no nosso hoje. Se quisermos felizes no amanhã, sejamos felizes no hoje. Este instante é tudo que temos. podemos agir no momento presente ou nunca mais. É possível que tenhamos tido tempos no passado que foram especiais ou ruins para nós; pode ser que o futuro nos reserve momentos preciosos. Porém, o único tempo realmentenosso” é este instante em que estamos agora. Cabe a nós decidirmos o que fazer com este momento, este presente. Cada momento é meu para torná-lo belo ou doloroso de acordo com a minha escolha. A vida real tem lugar aqui e agora. Deus é presente. “Eu sou Aquele que é”, disse ele. Deus está presente neste momento, quer alegre ou triste. Quando Jesus falou de Deus, falou sempre de Deus presente onde nós estamos e quando lá estamos. Deus não é alguém que foi ou que será, mas Aquele-que-é; e que é para mim no momento presente. Deus me vê não como eu era e sim como eu sou neste momento. Eis porque Jesus veio para tirar de nós o peso do passado e as preocupações pelo futuro. Jesus nos diz: “Não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade. Pelo contrário, busquem primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e o resto será acrescentado por Deus” (Mt 6,25-34)?


Este último dia do ano é uma boa ocasião para fazermos um balanço do ano que passou e fixarmos propósitos para o ano que começa. É uma boa oportunidade para pedirmos perdão pelo bem que não fizemos, pelo amor que nos faltou, pelo perdão que não oferecemos; também é uma oportunidade para agradecermos a Deus de todos os benefícios que nos concedeu.


Neste último dia do ano, nós como cristãos devemos viver esta mudança de ano a partir de uma triple atitude:


(1). A primeira atitude é a de ação de graças pela vida. Finalizamos mais um ano de nossa vida. E a vida é um dom e uma dádiva de Deus pela qual devemos dar graças. Muitas vezes nos faz falta a vivência de sentir nossa própria vida como uma dádiva que Deus nos fez. Se olharmos para nossa vida a partir do ponto de vista de dádiva, chegaremos a dizer “Como é belo viver!”. Temos que dar graças por um ano vivido na graça de Deus.


(2). A segunda atitude é a de pedir perdão por nossas limitações e debilidades durante o ano que está terminando. É pedir o perdão pela falta de amor nas nossas conversas e em tudo que fizemos. Cada um de nós recebeu um número de talentos, mas nem todos conseguiram render os talentos. Martin Buber dizia: “A grande culpa do homem não é o pecado. A grande culpa do homem consiste em que em todo momento pode se converter, mas não o faz”. "O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer." (Albert Einstein).


(3). A terceira atitude é a de saber que tenho uma missão a cumprir neste ano novo que começa. O mesmo Martin Buber dizia: “Todos nós somos chamados a levar algo à plenitude no mundo”. A partir deste pensamento sabemos que sempre espera em alguma parte deste mundo alguma missão que tenho que realizar. Sempre há alguém em alguma parte deste mundo esperar que eu possa dar-lhe uma esperança nova. Sempre espera em alguma parte deste mundo uma dor que possa morrer em meu amor. Sempre espera em alguma parte da sociedade meu Deus em quem acredito, que me pede o amor para poder encarar tudo na vida, inclusive a dor da perda.


Que as luzes do Ano Novo que está para chegar nos mostrem a verdade de que ninguém chega antes ou depois, tirando menos ou levando mais da vida. Que neste ano novo possamos olhar para trás sem ferir os olhos de ninguém no que fizemos, sem perder no coração a fé do que nos resta a fazer. Precisamos começar o ano sem pisar em ninguém; começar o ano novo com o amor correndo por todas as veias, em todas as palavras, em todos os passos, em todos os encontros e diálogos; começar o ano novo com a maravilhosa promessa de fazer o bem. Que nos doze meses do ano que principiará, a fé, o amor e a esperança sejam uma riqueza constante em nossos lares, em nossos trabalhos e em qualquer lugar onde nos encontrarmos. Precisamos cortar o que precisa ser cortado; deixemos que nossa vida sangre um pouco para o nosso crescimento ao bem. Não nos deixemos arrastar por coisas passageiras. Abandonemos tudo o que nos entristeceu no passado. Esqueçamos as amarguras, as contrariedades. Não levemos para o ano novo ganâncias, nem mentiras. Leve somente soluções, respostas, aberturas, liberdade, justiça, amor e luz. Entremos no ano novo com a vontade de perdoar os erros dos outros. Não deixemos que o poder e o orgulho nos dominem.


Por isso, em nome do Senhor e com Ele desejamos uns aos outros que tenhamos um Feliz Ano Novo. Oxalá possamos apresentar-nos diante do Senhor, no fim do Ano Novo que começa, com as mãos cheias de horas de trabalho oferecidas a Deus no serviço aos nossos próximos, especialmente aos necessitados. Façamos o propósito de converter as derrotas em vitórias, recorrendo a Deus que transforma o impossível em possível e começando de novo. E peçamos à Virgem Maria, nossa Mãe, a graça de viver o Ano Novo que vai se iniciar daqui a algumas horas com muita paz e felicidade.


Desejo a cada um para o Ano Novo que se inicia:
        Mais gestos, e menos palavras.
        Mais dinamismo e menos acomodação.
        Mais discernimento e menos loucuras.
        Mais compromissos e menos teorias
        Mais abraços e menos medos.
        Mais saúde e menos agressões.
        Mais amizade e ética e menos interesses.
        Mais bonança e menos tempestades.
        Mais valores e menos artificialidade.

Diante da vitória, continue!
Diante da derrota, não desanime!
Diante da dor, não se entregue!
Diante do fracasso, aprenda!
Diante do novo, mergulhe!
Diante do passado, tire lição!
Diante do futuro, sonhe!
Diante do presente, vibre e se comprometa!
Diante do outro, seja você mesmo!
Diante de Deus, reze e confie, pois só Ele tem palavras de vida eterna!


Se começarmos o ano novo cheios de espírito de Deus, com o coração e a mente livres do ódio e da arrogância, conservando a alma livre de amarras, sem apegos aos ídolos do poder e da posse, então o ano novo será dos melhores. Deus nos conceda tudo isto! E FELIZ ANO NOVO!!!
P. Vitus Gustama,SVD

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