01/01/2019
SANTA
MARIA, MÃE DO PRÍNCIPE DA PAZ
SOLENIDADE
Primeira Leitura: Nm
6,22-27
22 O Senhor falou a
Moisés, dizendo: 23 “Fala a Aarão e a seus filhos: Ao abençoar os filhos de
Israel, dizei-lhes: 24 ‘O Senhor te abençoe e te guarde! 25 O Senhor faça
brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! 26 O Senhor volte para ti o
seu rosto e te dê a paz!’ 27 Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de
Israel, e eu os abençoarei”.
Segunda Leitura: Gl 4,4-7
Irmãos: 4 Quando se
completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher,
nascido sujeito à Lei, 5 a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para
que todos recebêssemos a filiação adotiva. 6 E porque sois filhos, Deus enviou
aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá — ó Pai! 7 Assim,
já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro: tudo isso por
graça de Deus.
Evangelho: Lc 2,14-21
Naquele tempo, 16 os
pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido
deitado na manjedoura. 17 Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o
menino. 18 E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo
que contavam. 19 Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre
eles em seu coração. 20 Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus
por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito. 21 Quando se
completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de
Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido.
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Hoje é o Dia mundial da Paz e a festa da
Santa Maria, Mãe de Deus. E o evangelho lido neste dia é tirado do relato do
nascimento de Jesus. Quem gerou o Príncipe da Paz é, certamente, Maria, Mãe de
Deus. A Paz se fez carne pelo sim de Maria e pela benevolência de Deus simultaneamente.
O nascimento do Príncipe da Paz faz os anjos e a multidão do exército celeste
louvarem e cantarem o hino conhecido liturgicamente como o Hino da Glória:
“Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que Ele ama” (Lc 2,14).
Maria, Mãe De Deus É O
Retrato De Uma Nova Mulher
Na anunciação Maria é convidada pelo anjo a
alegrar-se por causa da graça: “Alegra-te, ó cheia de graça” (Lc 1,280) e é
convidada a não ter medo, devido à mesma graça: “Não tenhas medo, Maria, pois
achaste graça” (Lc 1,30). No início, Maria não é chamada pelo nome, mas o Anjo
do Senhor chama-a simplesmente de “cheia de graça”. Na graça se encontra a
identidade mais profunda de Maria. A graça de Maria está certamente em função
daquilo que vem depois no anúncio, a sua missão de Mãe do Messias, mas também
como uma pessoa tão cara para Deus desde a eternidade. A graça na linguagem
grega (charis= graça) significa aquilo que dá alegria (charà= alegria). A razão
principal da alegria de Maria e de nossa alegria é a graça de Deus. Além disso,
a graça de deus é a razão do ser de Maria e de nosso ser, como diz São Paulo:
“Pela graça de Deus, sou o que sou” (1Cor 15,10). A graça de Deus também é a
razão da coragem de Maria e de nossa coragem. Quando São Paulo se queixava do
agulhão, Deus respondeu: “Basta-te a minha graça” (2Cor 12,9). Por isso, a
exemplo de Maria, Mãe de Deus, é preciso fazer o possível para renovar cada dia
o contato com a graça de Deus que está em nós. Trata-se de entrar em contato
com uma pessoa, uma vez que a graça não é senão Cristo em nós, esperança da
glória.
Por tudo isso, Maria é a nova Mulher e
representa a nova mulher. Como Maria, Mãe de Deus, a Igreja e a sociedade
necessitam da mulher consciente, adulta, cheia de amor e de amizade cristã. As
crianças, os jovens e os adultos necessitam de mães cheias de mensagens de
Deus, portadoras dos valores eternos e firmes. Ser nova mulher é fazer do lar
uma pequena comunidade de fé de amor. Ser nova mulher é testemunhar a
sinceridade, a lealdade e a autenticidade em casa e na vida pública, é ser uma
pessoa de Deus, de oração e de meditação, ser pessoa apegada à verdade. A nova
mulher salva, edifica, pacifica, educa, santifica e transforma. Nova mulher é
aquela que diz “sim” ao filho que vai nascer. É aquela que diz “sim” à educação
cristã e humana dos filhos. É aquela que diz “não” à malícia, à astúcia, à
mentira, à violência, ao aborto.
Se toda a mulher for a nova mulher junto com
o novo homem, a família terá mais amor, serenidade e ternura. Por tudo isso,
temos razão de olhar para a Mãe de Deus, que fez nascer a Paz para este mundo e
dirigir a nossa oração: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores
agora e na hora de nossa morte. Amém”
Maria É a Mãe Do Príncipe
Da Paz
Com o nascimento do Verbo Divino, Jesus
Cristo, através do SIM de Maria pela benevolência de Deus, a distância entre o
Criador e a criatura, simbolizada pela menção do “céu” e da “terra”, é superada
pela nova e definitiva Aliança de Deus com os homens em Jesus Cristo. Jesus, o
Verbo encarnado, une o céu e a terra. O Deus “nas alturas” inclina-se sobre a
“terra” dos “homens” por pura benevolência de Deus. O nascimento de Jesus é a
expressão mais profunda do amor de Deus pelos homens, objeto do seu bem-querer.
Jesus é a Palavra de graça e de salvação de Deus. Jesus é a última Palavra de
Deus para os homens. Depois que o céu desceu à terra pela encarnação do Verbo
eterno, o céu e a terra estão indissoluvelmente unidos. A salvação está na união
do céu e da terra. Para que estejamos mais unidos entre nós na terra, e para
que aconteça a salvação, temos que estar unidos com o céu.
Além disso, o texto quer nos mostrar que a
origem e o fundamento da “paz na terra” estão na benevolência de Deus ou no seu
bem-querer. A raiz última do desígnio salvífico de Deus está na sua
benevolência. O evangelista Lucas certamente quer nos transmitir um Deus que
não é um juiz frio e distante, que não se comove com o sofrimento humano, mas o
Deus que “desce” ao encontro dos homens que ele ama, que respeita nossa
liberdade, mas que espera nossa resposta ao amor que ele nos oferece. Deus nos
quer bem, não porque nós somos bons e justos, mas porque Ele é bom, justo e
misericordioso. Ao aceitar o Deus da bondade e da justiça seremos bons e justos
também para com os outros. Por este tipo de Deus que o evangelista Lucas nos
transmite é que o seu evangelho é conhecido como o Evangelho da graça, da
misericórdia e da ternura. Por mais duro que seja um coração, ele não
encontrará nenhuma resistência diante da ternura e da misericórdia de Deus. A
nossa felicidade nesta terra, e a nossa segurança na caminhada diária estão na
fé, na esperança e na certeza do amor absolutamente gratuito de Deus para
conosco e na nossa acolhida deste amor gratuito. A paz anunciada pelos anjos
aos pastores e que eles a acolhem fazem os mesmos irem “às pressas” a Belém
para encontrar-se com o Príncipe da paz e saírem correndo para anunciá-la para
os outros, pois a graça de Deus não permite a demora e não permite uma vida
parada.
Portanto para que a paz anunciada pelos anjos
reine verdadeiramente na terra é necessário que se realize uma única condição:
que o coração humano se abra ao amor de Deus e o acolha. Nada tem uma força tão
transformadora como o Evangelho da justiça, da misericórdia e da paz de Deus,
quando ele é acolhido e testemunhado com um coração aberto a Deus e aos homens
que Deus ama. Ao contrário, todo poder constituído sobre o egoísmo e a arrogância, sobre a prepotência e a
opressão tem apenas os pés de barro. Cedo ou tarde ele desmorona.
No início do Ano Novo, certamente, nós
desejamos a paz mutuamente. Não é por acaso que neste dia lemos como a primeira
leitura um trecho do Livro de Números (Nm 6,22-27) que contém a bênção usada
pelos sacerdotes no encerramento das celebrações litúrgicas no Templo: “Deus te
abençoe e te guarde! Deus faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te seja
benigno! Deus mostre para ti a sua face e te conceda a paz!” A cada uma das três
invocações são acrescentados dois pedidos de bênção. É um dos textos mais ricos
teologicamente e de maior elegância literária de todo o Pentateuco. As três
versículos (v. 24; v.25; v.26) são paralelos entre si, tanto na forma como no
conteúdo. E nos três versículos repete-se de forma explícita o nome de Deus
para mostrar que a fonte e o princípio de toda a bênção é Deus; o sacerdote é
apenas o mediador.
No v. 24 emprega-se os verbos “abençoar” e
“guardar”. “Abençoar” e “bênção” são os termos clássicos empregados pelo AT
para exprimir toda espécie de bens e de dons, tanto de ordem natural quanto de
ordem sobrenatural. “Guardar” exprime a proteção de Deus que acompanha seu povo
para defendê-lo de suas adversidades e salvá-lo de suas desventuras. Se Deus quer nos proteger sempre, por nossa
vez, devemos saber proteger os outros e desejar a bênção para os mesmos. Pois a
bênção dada é a bênção recebida.
No v.25 usa-se uma fórmula de caráter
antropomórfico (isto é, a descrição da essência e dos atributos divinos através
do uso da figura humana; ou dar o rosto humano ao rosto divino. Tudo isto é o
sinal da pobreza da linguagem humana para descrever a grandeza de Deus): Deus
faça resplandecer o seu rosto sobre ti e conceda-te sua graça (ou seja, seus
favores e seus benefícios)! Esta expressão pode-se encontrar nos Salmos (cf. Sl
79,4.8.20; Sl 66,2). Um rosto resplandecente é a expressão da bondade e da
benevolência de Deus. Para que possamos irradiar os outros com a
resplandecência de Deus, temos que contemplar “a face” de Deus, como os olhos
que só funcionam quando existe a luz, pois na escuridão, embora tenham-se os
olhos sadios, não podem enxergar nada.
No v. 26 pede-se a paz: “Deus
mostre para ti a sua face e te conceda a paz!” Esta invocação final
“te conceda a paz” junto a primeira “te abençoe” é mais densa teologicamente
porque os dois termos “bênção” e” paz” (SHALOM) são uma expressão mais plena dos bens
da salvação no sentido mais pleno da palavra: os bens do céu e os bens da
terra, a saúde do corpo e a saúde da alma, a prosperidade e a felicidade sem
limites, a vida, a alegria, a plenitude e satisfação dos anseios e desejos mais
profundos do homem, tanto nas relações inter-humanas como em sua projeção para
Deus. Não é por acaso que o povo semita deseja entre si com a saudação “Shalom”
pois o “Shalom” condensa todo o bem que se pode desejar a uma pessoa.
O povo grego traduz o termo hebraico “Shalom”
por “EIRENE”
que significa prosperidade, mas também repouso, tranquilidade de alma. Para os
gregos, a paz é um estado de tranquilidade. Não há conflito. Neste estado de
tranquilidade e paz, o ser humano pode criar uma existência segura e
consequentemente ele pode alcançar a prosperidade. O termo “eirene” também tem
a ver com a harmonia: tudo combina com tudo, formando um todo coeso. Se tudo
está em ordem para o homem, ele pode conviver harmoniosamente com seus irmãos e
irmãs. A paz é por isso, é uma tranquilidade da ordem onde cada um ocupa seu
lugar e exerce seu próprio papel com responsabilidade e com justiça.
Os latinos, especialmente os romanos,
traduzem o “Shalom” por “Pax” de onde vem a palavra paz em português. O termo
“Pax” vem de “pacisci”, que significa conduzir negociações, firmar um pacto,
concluir um contrato. Para os romanos a paz nascia na medida em que eles
falavam entre si e chegavam a um acordo a partir de regras comuns. Na aliança
firmada, ambas as partes se comprometiam a observar acordos comuns. A paz para
os romanos, então, deve ser conquistada por meio de um acordo comum a partir de
princípios iguais. Quando se trata da paz como um pacto por meio de um acordo
comum a partir de princípios iguais, isto supõe que as pessoas devam se falar
para que surja a paz. Isto quer dizer que a paz só nasce quando um escuta o
outro, quando um dá a atenção ao outro e quando, nesse ouvir comum, surge um
compromisso com o qual todos podem viver bem harmoniosamente.
Apesar de tudo isto, Deus sabe que o homem,
por si mesmo, não é capaz de ter a paz consigo mesmo, com a criação e com os
outros sem a presença do Príncipe da Paz. Por isso, o próprio Deus envia seu
Filho, Jesus Cristo, o Príncipe da Paz. A paz é um dom de Deus para o ser
humano. O evangelista Lucas anuncia Jesus como o Imperador da paz, pois traz a
paz para o mundo inteiro, sem armas, apenas através do amor: “Amai-vos uns aos
outros como eu vos amei”, diz Jesus aos seus seguidores (cf. Jo 15,12). Quando
ele nasceu, os anjos anunciaram ao mundo a paz sobre a terra: “Glória a Deus
nas alturas e paz na terra aos homens que ele ama”. Os anjos nos convidam a
abrirmos os nossos olhos e o nosso coração para a paz que Deus nos oferece
através de glorificação de seu nome sobre a terra. Se a glória de Deus não
ocupar o lugar principal na convivência humana, a humanidade carecerá de paz
verdadeira. Se o ser humano der espaço para que o Príncipe da Paz, Jesus Cristo
reine seu coração, os seus nervos se tranquilizam. Com a paz de Deus, os
oprimidos ganham força, os aflitos e desesperados o alento e esperança, os
desorientados a direção, os que estão na escuridão a luz, os inimigos a
reconciliação, e os pecadores o perdão. Por isso, a paz é o maior dom que você
recebe de Deus e o maior presente que você pode ou possa dar para os outros.
Para que a paz possa reinar nossa vida temos
que ficar desarmados em todos os sentidos. Não são só os outros que estão
armados. Cada um tem o seu próprio coração armado, à defensiva por causa da
soberba, e agressivo por causa da ambição de poder e de domínio. Enquanto não
estivermos desarmados completamente por dentro e por fora, falar da paz é uma
perda de tempo e energia, pois a paz verdadeira está longe de nós. Enquanto não
estivermos em paz com Deus, com a nossa consciência, com os de casa e resto dos
familiares, com os vizinhos, amigos, companheiros de trabalho é inútil abrirmos
a garrafa de champanhe ou vinho. Não há paz sem fraternidade, justiça, amor e
perdão. É urgente ficarmos desarmados completamente por dentro e por fora.
Única “arma” permitida na convivência é o amor mútuo, pois ele é o maior de
todos os mandamento e o resumo da vida eterna.
Que Maria, a Mãe do Príncipe da Paz,
interceda por nós para que, como ela, possamos também ser geradores ou
construtores da paz neste mundo. Como dizia Sto. Agostinho: “Não basta ser
pacífico. É necessário ser “promotor da paz” (Serm. 357,1). A paz entre o homem e Deus é a harmonia da obediência
do homem à vontade de Deus. A paz de todas as coisas é a tranquilidade da ordem”
(Cidade de Deus, 19,13,1).
P. Vitus Gustama,SVD
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