16/11/2018
CONTEMPLAR DEUS NA SUA CRIAÇÃO E VIVER PERMANENTE VIGILANTE NO AMOR
FRATERNO
Sexta-Feira
da XXXII Semana Comum
Primeira Leitura: 2Jo 4-9
4 Muito me alegrei, Senhora, por ter encontrado alguns dos teus filhos
que caminham conforme a verdade, segundo o mandamento que recebemos do Pai. 5 E
agora, Senhora, eu te peço – não que te esteja escrevendo a respeito de um novo
mandamento, pois se trata daquele que temos desde o princípio: amemo-nos uns
aos outros. 6 E amar consiste no seguinte: em viver conforme os seus
mandamentos. Este é o mandamento que ouvistes desde o início para guiar o vosso
proceder. 7 Acontece que se espalharam pelo mundo muitos sedutores, que não
confessam a Jesus Cristo encarnado. Está aí o Sedutor, o Anticristo. 8 Tomai
cuidado, se não quereis perder o fruto do vosso trabalho, mas sim, receber a
plena recompensa. 9 Todo o que não permanece na doutrina de Cristo, mas passa
além, não possui a Deus. Aquele que permanece na doutrina é o que possui o Pai
e o Filho.
Evangelho: Lc 17,26-37
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 26 Como aconteceu nos dias de Noé, assim
também acontecerá nos dias do Filho do Homem. 27 Eles comiam, bebiam,
casavam-se e se davam em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca. Então
chegou o dilúvio e fez morrer todos eles. 28 Acontecerá como nos dias de Ló:
comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam. 29 Mas no dia em
que Ló saiu de Sodoma, Deus fez chover fogo e enxofre do céu e fez morrer
todos. 30 O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do Homem for revelado. 31
Nesse dia, quem estiver no terraço, não desça para apanhar os bens que estão em
sua casa. E quem estiver nos campos não volte para trás. 32 Lembrai-vos da
mulher de Ló. 33 Quem procura ganhar a sua vida, vai perdê-la; e quem a perde,
vai conservá-la. 34 Eu vos digo: nessa noite, dois estarão numa cama; um será
tomado e o outro será deixado. 35 Duas mulheres estarão moendo juntas; uma será
tomada e a outra será deixada. 36 Dois homens estarão no campo; um será levado
e o outro será deixado.' 37 Os discípulos perguntaram: 'Senhor, onde acontecerá
isso?' Jesus respondeu: 'Onde estiver o cadáver, aí se reunirão os abutres.'
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Somos Chamados a Caminhar No
Amor e Na Verdade
A são João são atribuídas as três Cartas de
João. A Primeira Carta, mais longa, lemos durante o tempo de Natal. Hoje escutamos
ou lemos um resumo da Segunfa Carta, e amanhã a Terceira Carta.
A Segunda Carta de são João é dirigida a uma
comunidade chamada “a senhora eleita” ou escolhida; é uma comunidade local com
seus próprios líderes, que consideram o Presbítero (Ancião) como uma voz
autorizada. Neste qualitativo “escolhida” está subjacente o pensamento bíblico da
eleição. O mesmo que a Terceira Carta de são João, o autor se apresenta como “o
Ancião” ou “o Presbítero”. O modo em que se usa o título “Presbítero” indica
que seu papel é mais importante do que qualquer outro membro da comunidade.
A segunda Carta
é um tipo de síntese da Primeira Carta. Esta Carta tem a sua data de composição
na última década do século I.
A Segunda Carta de são João tem treze versículos
que trata, em primeiro lugar, da
importância da relação entre o mandamento do amor, que tem sua origem no Pai e em
sua transmissão histórica na pessoa de Jesus Cristo, e “a verdade”, isto é, a
revelação da identidade do Pai. Em segundo
lugar, trata também do grave problema representado pelos falsos mestres e
sua doutrina que negam a realidade humana de Jesus Cristo.
Em outras palavras, na Segunda Carta de são João
encontramos várias exortações que tem por finalidade caminhar na verdade e no
amor a fim de que não seja seduzido pelos falsos cristãos, os gnósticos, que o
autor os chama de “sedutores”. Esses falsos cristãos não aceitam a encarnação
de Jesus no sentido estreito. Para eles o Cristo celeste não se encarnou em
Jesus, mas que utilizou como uma espécie de instrumento para levar a cabo a sua
revelação.
Hoje são João nos oferece uma definição de
amor: “Amar consiste no seguinte: em
viver conforme os seus mandamentos”. Literalmente: que caminhemos segundo
os mandamentos do Senhor. Amar não é o que eu penso que seja amor, nem o que
sinto ou digo sobre o amor.
O amor está ligado à obediência, como lemos
no Evangelho de João: “Se me amais,
guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15). Antes de pedir nossa obediência,
Deus nos pediu para receber seu amor: “Ele
nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Quem conhece a verdade e doçura desse amor
sente que dessa fonte somente vem o bem. Não podemos dizer que amamos se não é
no âmbito do amor genuíno, o amor verdadeiro que Deus nos deu. De modo que
obedecer não é outra coisa a não ser permanecer em seu amor (Cf. Jo 15,9). Fora
desse amor, o amor não é amor. Obedecer é ser fiel ao estilo de amor que Cristo
nos deu na Cruz e nos renova no altar eucarístico.
E a única prova de nosso amor por Deus é
nosso amor ao próximo. Este é o mandamento, diz são João, que ouvimos desde o
princípio dentro do qual devemos
caminhar. Amor é único que cura os males da comunidade.
Estejamos Preparados Para a
Última Vinda Do Senhor
Continuamos a escutar as últimas e
importantes lições de Jesus no seu caminho para Jerusalém onde Ele será
crucificado, morto e glorificado (Lc 9,58-19,28).
No texto do evangelho do dia anterior, Jesus
nos anunciava sobre a imprevisibilidade da chegada do Reino de Deus (cf. Lc 17,20-25). No texto do evangelho de hoje
Jesus reforça sua afirmação comparando sua vinda à do dilúvio no tempo de Noé e
ao castigo sobre Sodoma no tempo de Ló (Lot). E por isso, Jesus quer que
estejamos permanentemente vigilantes. Trata-se, então, da lição sobre a
vigilância.
Para falar sobre a vigilância no texto do
evangelho de hoje Jesus usa uma linguagem apocalíptica, aludindo, uma parte,
aos dias cruciais de Noé e do dilúvio, e outra parte, aos dias cruciais do
encontro derradeiro dos homens com Deus, seu Criador. Em ambos os tempos se
encontram Deus, amor, Criador, juiz misericordioso e nós, homens, pecadores,
objetos do amor misericordioso de Deus (cf. Jo 3,16; Jo 13,1).
O juízo de Deus se revela em forma de
surpresa (Lc 17,26-32), como aconteceu na época de Ló (Lot) onde os homens
continuavam ocupados em grandes afazeres da vida: fortuna, diversão, comida,
negócios, vida familiar, vida de prazer e assim por diante, e foram
surpreendidos por uma fatalidade.
Às vezes, o centro da vida de uma pessoa é o
trabalho. Muitas pessoas estão submersas nas realidades temporais que absorvem
totalmente sua atenção: subsistência, vida família, vida profissional
(carreira), dinheiro e os demais bens materiais, prazer e assim por diante. Mas
a vida está acima e além da história e do tempo. Deus é quem dá sentido à vida
dos homens. Deus é quem responde os anseios mais profundos. A vida sem sentido
se torna vazia. O sentido da vida está n’Aquele que criou a vida. Por isso, “O
homem, para onde se dirija, sem se apoiar em Deus, só encontrará dor. E ninguém
está tão só do que aquele que vive sem Deus” (Santo Agostinho). Para
algumas pessoas há uma dependência exagerada do trabalho. Quando há
dependência, não há liberdade. Há pessoas que se entreguem a tudo desde que não
fiquem no vazio. Mas cedo ou tarde chegará esse vazio quando a pessoa perder
suas forças para trabalhar. O trabalho absorve tanto a vida de um ser humano a
ponto de ele esquecer a dimensão profunda de sua vida. “Saberás da dor de estar só e da pena de estar com muitos...
Saberás das escuras que são as noites e os longos que podem ser os dias...
Saberás da fome da carne e da angústia do espírito...”, escreveu o
Papa João XXIII (São João XXIII). Não se pode ignorar que tudo quanto se
alcança (materialmente, socialmente) se perde. Só o que se é, permanece. A vida
nunca é o que se tem. A vida é o que se é.
“Saberás que o amor ajuda. Que a compreensão alenta. Que a
esperança sustenta. Que a fé engrandece. E que tu estás com o Senhor”
(João XXIII).
Em silêncio de cada dia Deus continua nos
chamando para uma autêntica verdade de nossa vida. Para poder ouvir esse Deus é
necessário criar o silêncio dentro de nós. Noé escutava esse Deus e se salvou
do dilúvio (cf. Gn 7,1-8,22). Ló (Lot) escutava a voz de Deus e se escapou do
fogo devorador (cf. Gn 19,1-29). O silêncio possibilita a presença da
eternidade. No silêncio posso me encontrar com a própria verdade. No silêncio
posso encontrar meu eixo e minha salvação. Ao contrário, no meio de muito
barulho e de muita agitação nada se escuta claramente e nada se vê nitidamente.
A agitação não deixaria de ser uma fuga do encontro consigo próprio e com a
verdade. O silêncio é um verdadeiro encontro. Qualquer encontro dá-se e
realiza-se a partir do esvaziamento para possibilitar o próprio encontro e a
partilha. Somente podemos apertar a mão do outro se as duas mãos (a minha e a
do outro) estiverem vazias.
Diante desta chamada silenciosa de Deus há
dois tipos de reações: os que estão demasiadamente ocupados em seus negócios
preferem não escutar, pois para eles isso tiraria seu momento de prazer como os
habitantes de Sodoma. E os que, escutando em princípio a chamada, sentindo a
nostalgia do mundo que abandonaram, voltam ao mundo antigo, como aconteceu com
a mulher de Ló (Lot) e se tornou vítima fatal dessa volta para o mundo antigo
(cf. Gn 19,26). São Pedro nos alerta com as seguintes palavras: “Com efeito,
se, depois de fugir às imundícies do mundo pelo conhecimento de nosso Senhor
Jesus Cristo, de novo são seduzidos e se deixam vencer por elas, o seu ultimo
estado se torna pior do que o primeiro” (2Pd 2,20; leia 2Pd
2,4-22). Foi isso que aconteceu com a mulher de Ló (Lot). Não podemos seguir a
Jesus que é a novidade de nossa vida e viver como antes.
O tempo de Deus é um dom, mas por sua
natureza está ligado a uma tarefa que devemos realizar. Para responder
adequadamente a esse dom é exigido de nós um compromisso no qual estamos
obrigados a empenhar toda nossa força e nossa atuação para praticar o bem. A
liberdade que nos é concedida deve adequar-se ao querer de Deus acerca da
história dos homens e sua salvação. E as leituras bíblicas destes dias são um
aviso para que estejamos preparados e vigilantes permanentemente olhando com
seriedade para o futuro vivendo o presente na sua profundidade e tratar a vida
com carinho, pois a vida é de Deus e Deus está nela.
Deus está aqui e agora na vida de cada um de
nós. Deus se faz homem em Jesus Cristo e Jesus Cristo se faz alimento para nós
na Palavra proclamada, meditada e vivida e na Eucaristia. O Jesus eucarístico
que recebemos na Eucaristia será nosso Juiz, como Filho do Homem, e, Ele nos
assegura: “Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e Eu o
ressuscitarei no ultimo dia” (cf. Jo 6,35-57). Aceitar Jesus Cristo e
reconhecê-Lo como nosso Deus (Jo 1,1-3.14), como Caminho, Verdade e Vida (Jo
14,6) significa não perder a oportunidade de que Aquele que é esperado como
Juiz no final dos tempos, chegará para nós como Pastor misericordioso para nos
levar, nos seus ombros, de retorno para a casa do Pai (cf. Jo 14,1-3). Então,
estaremos certos de que seremos de Deus e estaremos com Ele na felicidade
eterna.
P. Vitus Gustama,svd
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