sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

09/12/2019
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VIVER NA MISERICÓRDIA DIVINA E NA ESPERANÇA
Segunda-feira da II Semana do Advento


Primeira Leitura: Is 35,1-10
1 Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. 2 Germine e exulte de alegria e louvores. Foi-lhe dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Saron; seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus. 3 Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. 4 Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar”. 5 Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. 6 O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos, assim como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. 7 A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d’água; nas cavernas onde viviam dragões crescerá o caniço e o junco. 8 Ali haverá uma vereda e um caminho; o caminho se chamará estrada santa: por ela não passará o impuro; mas será uma estrada reta em que até os débeis não se perderão. 9 Ali não existem leões, não andam por ela animais depredadores, nem mesmo aparecem lá; os que forem libertados poderão percorrê-la, 10 os que o Senhor salvou voltarão para casa. Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos: cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto”.


Evangelho: Lc 5,17-26
17 Um dia Jesus estava ensinando. À sua volta estavam sentados fariseus e doutores da Lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E a virtude do Senhor o levava a curar.18 Uns homens traziam um paralítico num leito e procuravam fazê-lo entrar para apresentá-lo. 19 Mas, não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o desceram com o leito no meio da assembleia diante de Jesus. 20 Vendo-lhes a , ele disse: “Homem, teus pecados estão perdoados”. 21 Os escribas e fariseus começaram a murmurar, dizendo: “Quem é este que assim blasfema?” Quem pode perdoar os pecados senão Deus?” 22 Conhecendo-lhes os pensamentos, Jesus respondeu, dizendo: “Por que murmurais em vossos corações? 23 O que é mais fácil dizer: ‘teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘levanta-te e anda’? 24 Pois, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder de perdoar pecados — disse ao paralíticoeu te digo: levanta-te, pega o leito e vai para casa”. 25 Imediatamente, diante deles, ele se levantou, tomou o leito e foi para casa, louvando a Deus. 26 Todos ficaram fora de si, glorificavam a Deus e cheios de temor diziam: “Hoje vimos coisas maravilhosas!” (Lc 5,17-26).
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A Conversão Nos Abre o Caminho De Volta Ao Paraíso


Durante a segunda semana do Advento leremos algumas passagens da segunda parte do livro de Isaías (Is 40-55). Seu autor é outro escritor sagrado, profeta também, denominado “o Segundo-Isaías” (Deutero-Isaías) e que, sem dúvida, foi discípulos do primeiro.


O poema, que lemos na Primeira Leitura de hoje, foi inserido na primeira parte do livro de Isaías (Is 1-39), mas que, na verdade, ele faz parte do Segundo-Isaías (Is 40-55). Por isso, foi escrita por um discípulo do profeta Isaías ou talvez o Segundo-Isaías (Deutero-Isaías).


A época do Segundo-Isaías não é menos dramática daquela que seu predecessor viveu. O Segundo-Isaias se encontra em pleno exílio em Babilônia. Jerusalém foi destruída, o Templo de Jerusalém foi profanado pelos exércitos inimigos. Todos os judeus aptos para trabalhar foram deportados para Babilônia onde estavam condenados a duros trabalhos forçados.


Diante dessa situação surgiu profeta que medita sobre o “retorno à Terra Santa”. Ele é iluminado por Deus para enxergar algo de esperança no meio de tanta sofrimento e dor. O profeta se dirige aos cativos para anunciar uma vigorosa predição ou profecia de esperança: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar”. No texto da primeira leitura encontramos uma acumulação de imagens de alegria. Por isso, a segunda parte do livro de Isaías é chamada “o Livro da Consolação”. O profeta exerce aqui sua grande dom da consolação: animar a fé e o entusiasmo dos que, pelas circunstâncias adversas, caíram.


Sem dúvida, Deus suscita também em nossos dias gente deste estilo e por isso, precisamos ficar atentos. Todos os dias encontramos amigos, colegas e parentes, desorientados no mais essencial de sua existência. Sentem-se incapacitados para ir até o Senhor, e andam como paralíticos pela vida porque perderam a esperança ou nada enxergam de melhor na sua vida. Temos que guiá-los até a gruta de Belém, pois ali encontrarão o sentido de suas vidas.


A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d’água”, escreveu o profeta (Is 35,7). O deserto, com sua fertilidade, será a expressão do poder criador de Deus e um sinal que convidará Israel a confiar no poder de Javé.


O homem tem que começar a reconhecer seu deserto, pois o deserto é o lugar de encontro preferido de Deus. Deus sempre vem como um manancial de vida e de renovação. Além disso, é necessário que o homem reconheça que ele precisa ser salvo, e que seu pecado transformou o mundo de hoje em um deserto abandonado para demasiadas ferocidades.


“No deserto, é possível redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no mundo de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda que muitas vezes expressos implícita ou negativamente. E, no deserto, existe sobretudo a necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança». Em todo o caso, lá somos chamados a ser pessoas-cântaro para dar de beber aos outros. Às vezes o cântaro transforma-se numa pesada cruz, mas foi precisamente na Cruz que o Senhor, trespassado, Se nos entregou como fonte de água viva. Não deixemos que nos roubem a esperança!”, o Papa Francisco nos relembra através de sua exortação (Evangelii Gaudium n. 86.


O poema de Is 35,1-10 tem como tema a volta ao Paraiso. Deus recriará o Paraíso. Tudo será bom outra vez! Haverá abundância para todos e os corações humanos voltarão alegres. A harmonia será reestabelecida. Isso é possível pela vinda do Messias. A vinda do Salvador transformará o deserto em paraíso (Is 35,1-2; cf. Is 41,17-20; 43,20; 48,21); todas as enfermidades serão curadas (Is 35,5-6) e a própria fadiga vai desaparecer (Is 35,3). O profeta anuncia que com a vinda do Salvador as maldições atribuídas à queda de Adão, por causa da desobediência ao mandamento do Senhor, serão abolidas. O Novo Adão, o Messias prometido, possibilita a conquista do Paraíso graças à sua obediência e à sua fidelidade até a morte ao Pai.


Graças a Deus, hoje vivemos no Kairós, no tempo da graça, pois o Senhor veio e se tornou um de nós para nós salvar. Ele nasceu nosso nascimento, viveu nossa vida, sofreu nossos sofrimentos, ressuscitou nossa ressurreição e por isso, nos prepara o caminho para o Paraíso. Somos chamados a seguir os passos do Senhor, se quisermos alcançar o Paraíso.


A primeira leitura quer nos relembrar que o Paraíso será conquistado novamente toda vez que voltarmos a depositar nossa fé em Deus e toda vez que vivermos de acordo com os mandamentos do Senhor resumidos no amor a Deus e ao próximo. O ódio, a vingança, as agressões, desunião e assim por diante fazem o Paraíso desaparecer de nossa vida e de nossa convivência. As disputas interesseiras e egoístas só causam sofrimentos. Ao contrário, o amor fraterno garante uma vida de paz e de harmonia, uma vida paradisíaca. Para voltar à paz social, temos que nos converter permanentemente. O pecado nos afasta do bem, dos outros e de Deus. A conversão nos aproxima de Deus e por isso, da paz, da felicidade, do Paraíso.


Dentro deste contexto podemos entender que a primeira missão de Jesus é tirar o pecado do meio da humanidade e de cada coração humano que causa tanta dor, tanta paralisia, tanto desespero! “Homem, teus pecados estão perdoados”. Temos que nos aproximar de Jesus para ouvir dele as palavras de misericórdia que elimina nossa miséria para que voltemos a viver a vida na alegria, no ânimo e na esperança sabendo que Deus está conosco e sabendo que temos outros irmãos da mesma jornada nesta vida. Não estamos sós!


Misericórdia Divina Elimina a Miséria Humana


Jesus está diante de um paralítico. Todos sabem que um paralítico é incapaz de fazer qualquer coisa por si mesmo, mas sempre com a ajuda dos outros. Um paralítico representa uma total dependência de tudo e de todos, representa uma paralisia total.


Mas em Jesus Cristo Deus põe seu poder à disposição da incapacidade do homem, pois só Deus pode salvar. O homem não pode salvar-se por si só. Ele pode e deve encontrar-se com Deus que vem em Jesus Cristo. Mas para chegar até Jesus é preciso ter perseverança e superar todos os obstáculos de origem pessoal representada pela paralisia, e de origem externa representada pela multidão que se interpõe entre o necessitado (o paralítico) e Jesus (poder divino). Quando salva o homem, Deus salva por amor e com amor. O infinito poder de Jesus Cristo é o poder do Amor infinito. Não há salvação sem amor. Jesus Cristo se inclina sobre o homem nas suas misérias para salvá-lo por amor. A salvação em sentido cristão está no amor de Deus e do próximo, em adorar a Deus e em servir o próximo por amor.


Hoje através do texto do evangelho lido neste dia Jesus se apresenta realmente como nosso Salvador. Ele nos abriu a porta do céu, a porta da salvação. Nosso Senhor Jesus Cristo não somente veio para nos socorrer em nossas pobrezas (Jo 10,10). Ele é o médico de toda enfermidade, mas Ele não veio somente para curar nossas enfermidades e carregá-las sobre seus ombros (Mt 8,17). Ele veio para nos libertar da escravidão do pecado e da morte a fim de nos conduzir para a Casa Paterna (cf. Jo 14,1-6) onde todos têm espaço e convivem em paz e amor como irmãos, pois “Deus é amor” (1Jo 4, 8.16). Jesus é a água que fecunda nossa aridez interior, a luz daqueles que ansiavam ver, a valentia dos que se sentem acovardados. Jesus é aquele que cura, que perdoa e que salva. Como na cena do Evangelho de hoje: Jesus vê a fé daquelas pessoas que carregam o paralítico, acolheu com amabilidade o paralitico, curou-o de seu mal e perdoa-lhe seus pecados apesar do escândalo de algumas pessoas presentes.


“Homem, teus pecados estão perdoados!”, disse Jesus ao paralítico. Eu preciso que Jesus se aproxime de mim para dizer tais palavras. A Palavra de Deus ressoa como uma condenação da minha cegueira espiritual, da minha vida sem freio no pecado, da minha vida paralisada por causa das coisas fúteis, da minha falta de fé por causa das preocupações exageradas como se Deus não fosse um Pai, do meu hedonismo que me causou viver na minha solidão incurável, pois nosso “coração continuará inquieto enquanto não repousar em Deus” (Santo Agostinho).


A Palavra de Deus não se limita apenas em denunciar meu pecado e minha vida sem rumo, mas ela também me brinda com a grande notícia do perdão: “Homem, teus pecados estão perdoados!”. Por isso, posso viver a minha liberdade que o pecado me paralisava tanto tempo. O perdão dos pecados é mais urgente do que qualquer coisa porque o pecado é a maior das desgraças que tortura ou aflige a humanidade. O Reino de Deus se manifesta, sobretudo, como reconciliação do meu ser com Deus, como nova possibilidade, dando-me a graça de voltar a empreender o caminho depois das paralisias de minha liberdade causada por minha culpa ou pelos meus pecados.


O Reino de Deus se aproxima porque Deus decidiu oferecer seu perdão aos homens: “Homem, os teus pecados estão perdoados!”. Disposto a demonstrar a força salvadora do “Evangelho do Reino de Deus”, Jesus começa a comunicar ao paralítico a Boa Notícia da reconciliação com Deus. Jesus confere o perdão libertando o homem do complexo de culpa e possibilitando sua relação com Deus e com os demais homens. Não há notícia que seja melhor do que a notícia da reconciliação com Deus. Cada reconciliação feita é o céu que se ganha. Mas Jesus não se contenta com o perdoar os pecados e sim que tenhamos consciência de que o perdão é real e cura também as enfermidades físicas. Jesus Cristo é a encarnação da resposta de Deus ao pecado do homem, pois Ele é Aquele que foi enviado para proclamar a libertação aos prisioneiros de todo tipo de escravidão.


O perdoa bíblico é o ato pelo qual Deus põe fim a uma situação desgraçada, originada pelo pecado. É uma anistia, um ato que restabelece o ser humano em relação filial com Deus e em comunhão com os irmãos. Deus se mostra misericordioso ao perdoar; quer a conversão, não a morte, mas exige o reconhecimento da fé e da contrição do coração. Só os corações contritos recebem o dom do perdão. Se o pecado é um entregar-se ao nada, o perdão tira o homem do nada para voltar a ser uma pessoa livre. O campo de nossa miséria é muito menor do que o campo da misericórdia de Deus. Por isso, podemos melhorar nossa vida apoiando-nos na misericórdia de Deus.


É bom tirarmos alguma lição do comportamento dos escribas e fariseus. Os escribas vivem discutindo o que pode e o que não pode. Ama menos quem se preocupa apenas com as regras ou normas. As regras servem como meio para nos ajudar no alcance de nossos objetivos. Jesus, ao contrário “passa a vida fazendo o bem” (cf. At 10,38), mostrando para nós um Deus que é Pai que se preocupa com a salvação de seus filhos, todos nós. Por isso, Jesus é capaz de “transgredir” uma lei por sagrada que ela possa ser considerada como o Sábado para os judeus em nome de um ser humano que está precisando de salvação ou de ajuda. O que se quer ressaltar é o sentido da missão do próprio Jesus que é uma missão de perdão e reconstrução/restauração total do homem (Mc 2,10.17; 19,28). Por isso, Jesus faz do homem o centro de sua mensagem.  


Jesus não quer acabar ou parar com sua grande obra de salvar os homens. Por isso, não somente temos que conhecer nosso Deus de salvação que nos oferece em Jesus Cristo. Como beneficiados dos dons de Deus, temos que ser parceiros de Deus neste mundo. Temos que ser os primeiros em nos preocupar com o bem e a salvação dos demais trabalhando intensamente e utilizando todos os meios ao nosso alcance para conduzir os demais para a presença do Senhor de tal forma que também eles possam encontrar n’Ele o perdão de seus pecados e a vida eterna, a exemplo daqueles homens no evangelho de hoje que carregam o paralítico até Jesus.


Quem não tem fé, continua a pensar que os mais graves problemas da humanidade são: a saúde, a economia, a gestão do poder, o subdesenvolvimento, os desequilíbrios ecológicos… Somente quem tem fé reconhece que o mais grave problema do homem é o pecado e a falta de amor. Daí provém outros problemas maiores na sociedade. Na Bíblia o “pecado” não é somente a culpa de um indivíduo consciente, mas principalmente uma estrutura. Esta estrutura é tirânica em relação aos homens.
P. Vitus Gustama,svd

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