quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

14/12/2019
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PARA SER SANTO É NECESSÁRIO SER PURIFICADO PELO FOGO DE DEUS
Sábado da II Semana do Advento


Primeira Leitura: Eclesiástico 48,1-4.9-11
Naqueles dias, 1 o profeta Elias surgiu como um fogo, e sua palavra queimava como uma tocha. 2 Fez vir a fome sobre eles e, no seu zelo, reduziu-os a pouca gente. 3 Pela palavra do Senhor fechou o céu e de lá fez cair fogo por três vezes. 4 Ó Elias, como te tornaste glorioso por teus prodígios! Quem poderia gloriar-se de ser semelhante a ti? 9 Tu foste arrebatado num turbilhão de fogo, num carro de cavalos também de fogo, 10 tu, nas ameaças para os tempos futuros, foste designado para acalmar a ira do Senhor antes do furor, para conduzir o coração do pai ao filho, e restabelecer as tribos de Jacó. 11 Felizes os que te viram, e os que adormeceram na tua amizade!


Evangelho: Mt 17,10-13
Ao descerem do monte, 10 os discípulos perguntaram a Jesus: “Por que os mestres da Lei dizem que Elias deve vir primeiro?” 11 Jesus respondeu: “Elias vem e colocará tudo em ordem. 12 Ora, eu vos digo: Elias já veio, mas eles não o reconheceram. Ao contrário, fizeram com ele tudo o que quiseram. Assim também o Filho do Homem será maltratado por eles”. 13 Então os discípulos compreenderam que Jesus lhes falava de João Batista.
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Palavras Proféticas São Palavras Que Purificam Para Poder Encontrar-se Com o Salvador


O profeta Elias surgiu como um fogo, e sua palavra queimava como uma tocha”.


O texto da Primeira Leitura foi escolhido para corresponder com a leitura do Evangelho. No tempo de Jesus, o retorno de Elias era esperado. Os escribas se apoiaram num texto de Malaquias (3, 23), tomado em um sentido material: "Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes que chegue o Dia de Javé, grande e terrível". Eles estavam convencidos de que Deus enviaria Elias antes de seu Messias.


Novamente a pessoa de João Batista, de quem Jesus falará no evangelho, é prefigurada pelo profeta Elias, uma das personagens mais importantes do A.T.


O livro do Eclesiástico descreve Elias como "um fogo". Seu temperamento era vivo e energético. Suas palavras eram como "uma fornalha". Ele anunciou as secas como castigo de Deus. Ele lutou incansavelmente contra a idolatria de seu povo. Ele é o profeta, defensor do monoteísmo. Elias era inabalável em sua denúncia dos abusos das autoridades, trazendo o fogo sobre as ofertas do Senhor em seu desafio aos deuses falsos, e, finalmente, desapareceu misteriosamente em uma carruagem de fogo, foi arrebatada ao céu.


Mas no fundo, Elias, que viveu nove séculos antes de Cristo, era o profeta da esperança escatológica, que pela tradição popular voltaria para preparar imediatamente o dia do Senhor. Sua missão então seria "apaziguar a ira" de Deus, "reconciliar pais com filhos" e "restabelecer as tribos de Israel". É por isso que no Salmo Responsorial (Sl 79/80) cantamos: “Ó Senhor, convertei-nos”. Para o povo de Israel, Elias era o profeta por excelência. Ele era capaz de falar de Deus e de falar com Deus com absoluta naturalidade e ao mesmo tempo com firmeza. A tradição popular esperava o retorno deste profeta ao final da história, no Dia de Javé.


Jesus faz uma leitura desta tradição e da vida de João Batista. De acordo com isso, João Batista encarna as esperanças do povo depositadas em Elias. Sua vida coerente, sua coragem para denunciar o pecado e sua morte como produto de sua vida indicavam que o Grande Dia do triunfo de Deus estava se aproximando.


Por isso, a resposta de Jesus sobre o profeta Elias é clara: Elias já veio. É João Batista. Mas não o reconheceram como não reconheceram em Jesus o Messias. É uma excelente ocasião de aprender dos lábios de Jesus que não se devem interpretar todas as passagens da Sagrada Escritura de um modo demasiado simples, liberal ou infantil. Temos aqui um excelente exemplo de interpretação dos sinais dos tempos que o próprio Jesus nos dá. Existe uma maneira superficial de olhar a história e os acontecimentos.


Muito mais frequentemente do que pensamos, através de muitas pessoas e de muitos acontecimentos, há muitas vindas de Deus para restaurar o mundo, em geral, e para restaurar nossa vida, em particular. Aceitar, reconhecer esses "profetas" não é fácil. E há tantos falsos profetas nos nossos dias! No entanto, eles podem ser reconhecidos por seus frutos para saber se eles são verdadeiramente profetas (cf. Mt 7,15-20). O teste decisivo sempre será, e até o fim, o amor de Deus e dos outros na concretude da vida. Trata-se de um amor universal.


O profeta Elias surgiu como um fogo, e sua palavra queimava como uma tocha”. O fogo é uma imagem constante na Bíblia para simbolizar Deus. No Sinai, Deus se manifestou no fogo da tormenta. É natural que o portador da vontade divina tenha um rosto de fogo. O fogo será o instrumento da última purificação dos últimos tempos. Essa imagem sugestiva provém seguramente do fato de que, nos sacrifícios primitivos, o fogo era o elemento que unia o homem a Deus. O fogo “comia” logo a vítima para consumar a comunhão com Deus.


Quanto mais nos aproximarmos de Deus, mais purificação acontecerá na nossa vida. Quem se aproxima de Deus se reconhece pecador e precisa do “fogo” de Deus para purificar suas imundices. Aproximar-se de Jesus é estar ao lado da própria pureza que nos contagia para que voltemos ao nosso estado primordial para o qual fomos criados: “Deus viu que tudo era muito bom”, disse Deus no sexto dia em que Ele criou o ser humano (Gn 1,31).


João Batista É Novo Elias


Elias vem e colocará tudo em ordem. Ora, eu vos digo: Elias já veio, mas eles não o reconheceram”.


Depois da transfiguração (Mt 17,1-8), Jesus desce do monte, mas continua conversando com seus discípulos. Um dos assuntos dessa conversa é sobre o profeta Elias bem conhecido entre o Povo eleito e bem admirado pela sua luta contra a corrupção social, principalmente, pela sua luta para defender o monoteísmo contra qualquer tipo de idolatria e o panteísmo. O povo eleito considera Elias como um profeta cuja palavra é semelhante ao fogo. Porém não para queimar ou aniquilar e sim para purificar o Povo de Deus, pois a palavra que ele anuncia é a Palavra de Deus. E a força da Palavra de Deus nunca é devastadora, pois ela tem uma função de purificar e de transformar qualquer pecador em filho de Deus novamente. A Palavra de Deus ilumina qualquer mente escura para voltar a enxergar a beleza da vida: “Tua palavra (Senhor) é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (Sl 118,105).


Entre os rabinos e os escribasdiscussões sobre o regresso do profeta Elias antes do juízo. A discussão se baseia na profecia do profeta Malaquias: “Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes que chegue o Dia de Javé, grande e terrível. Ele fará voltar o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, para que eu não venha ferir a terra com anátema” (Ml 3,23-24). Para recusar a messianidade de Jesus, os escribas diziam que Elias não tinha vindo ainda. Dentro desta afirmação percebemos a objeção da cristã em suas primeiras discussões na Igreja primitiva.


Jesus aceita a tese da volta do profeta Elias, porém nega qualquer visão de fantasia bem difundida entre o povo sobre essa volta. Em vez disso, Jesus convida seus discípulos a discernirem o plano de Deus que está se manifestando diante de seus olhos. “Elias vem e colocará tudo em ordem... Elias veio, mas eles não o reconheceram”, afirma Jesus. Na primeira afirmação Jesus usa o vervir” no presente no sentido de que é verdade que Elias precederá ao Messias. Na apocalíptica judaica, Elias devia vir para “pôr tudo em ordemem Israel para que a vinda do Messias tivesse lugar em meio da alegria de um povo purificado. A figura de Elias se encaixa perfeitamente na missão de João Batista como o Precursor do Messias.


Para levar os discípulos à urgência de conversão, Jesus identifica, então, expressamente o profeta Elias com João Batista, o último grande profeta do Antigo Testamento. Os discípulos compreendem, naquele momento, essa identificação: “Então os discípulos compreenderam que Jesus lhes falava de João Batista (Mt 17,13). Porém, mais tarde eles vão cair novamente na incompreensão e incredulidade (cf. Mt 15,20).


João Batista é uma das figuras mais marcantes e predominam durante o Advento, na preparação a vinda do Deus encarnado. Em analogia com a missão do profeta Elias, João Batista quer enfatizar dois pontos importantes. Em primeiro lugar, minha relação com Deus. Eu preciso voltar para Deus que me ama por mim mesmo incondicionalmente, pois Deus em si mesmo é perfeito. Sou eu que preciso aproximar-me de Deus para que eu seja um reflexo do amor de Deus para o próximo. Meu encontro com Deus é sempre um encontro de dois amores: o amor eterno de Deus por mim e meu amor por Deus (voltei a amar o Amor eterno para que eu seja eterno). Meu amor para Deus é muito mais para mim mesmo do que para Deus que é o próprio Amor (cf. 1Jo 4,8.16). Amando eu me tornarei amoroso e amável.


Mas não basta ter boa relação com Deus. Por isso, João Batista me convida para que sane minhas relações com os outros homens, com meu próximo. Trata-se da minha relação com os outros, pois próximo é a passagem obrigatória ao encontro de Deus. Diante da divisão e do ódio eu preciso me regenerar no amor e na unidade. Diante da exclusão eu preciso reafirmar a comunhão, a participação, a fraternidade e a solidariedade. Diante da irresponsabilidade culpável, eu preciso viver e proclamar a verdade da responsabilidade ao viver de acordo com os valores. Diante da violência e da discórdia eu preciso me reconciliar e me renovar na paz comigo mesmo, com Deus e com o próximo. Diante da escravidão do pecado eu preciso apostar firmemente na liberdade de filhos de Deus.


Por isso, um dos grandes ministérios que nos é recomendado em qualquer comunidade cristã, especialmente no tempo forte liturgicamente é o ministério de reconciliação. Esta é uma das mais importantes tarefas e um dos melhores testemunhos que podemos ou possamos dar para o nosso mundo (comunidade, grupo, pastoral, movimento etc.) tão dividido pelo egoísmo, pelo ódio, pela injustiça, pela violência e pela guerra. A própria experiência humana, do ponto de vista antropológico, reclama reconciliação. Por isso, a reconciliação não deixa de ser também uma necessidade antropológica. Reconhecemos que não é fácil perdoar como ser perdoado, pois a reconciliação exige uma mudança no ofensor e no ofendido simultaneamente. O ofensor não fica perdoado porque o ofendido esquece a ofensa recebida e sim porque ambos se reencontram no amor.


Neste sentido, eu preciso deixar-me interpelar por João Batista cuja voz queima as impurezas em mim. João Batista é, como o profeta Elias, fogo irresistível, profeta cuja palavra ilumina meu caminho e o da minha comunidade. Além disso, eu preciso estar consciente de que como Elias e João Batista foram perseguidos pelos poderosos e não compreendidos pelos seus contemporâneos, eu posso ter a mesma sorte. Mas ao mesmo tempo, apesar de tantas oposições e obstáculos, a Palavra de Deus sairá vitoriosa. Por isso, viver sem confiar na Palavra de Deus deve ser impossível.  A Palavra de Deus será plena em nós quando estivermos plenamente na Palavra de Deus” (Santo Agostinho. Serm. 1, 133).
 
P. Vitus Gustama,svd

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