sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

16/12/2019
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DEUS SE SERVE DE QUALQUER PESSOA PARA REVELAR SUA VONTADE PARA A HUMANIDADE
Segunda-feira da III Semana do Advento

Primeira Leitura: Nm 24, 2-7. 15-17ª
Naqueles dias, 2 Balaão levantou os olhos e viu Israel acampado por tribos. O espírito de Deus veio sobre ele, 3 e Balaão pronunciou seu poema: “Oráculo de Balaão, filho de Beor, oráculo do homem que tem os olhos abertos; 4 oráculo daquele que ouve as palavras de Deus, que vê o que o poderoso lhe faz ver, que cai, e seus olhos se abrem. 5 Como são belas as tuas tendas, ó Jacó, e as tuas moradas, ó Israel! 6 Elas se estendem como vales, como jardins ao longo de um rio, como aloés que o Senhor plantou, como cedro junto das águas. 7 A água transborda de seus cântaros, e sua semente é ricamente regada. Seu rei é mais poderoso do que Agag, seu reino está em ascensão”. 15 E Balaão continuou pronunciando o seu poema: “Oráculo de Balaão, filho de Beor, oráculo do homem que tem os olhos abertos, 16 oráculo daquele que ouve as palavras de Deus, e conhece os pensamentos do Altíssimo, que vê o que o Poderoso lhe faz ver, que cai, e seus olhos se abrem. 17ª Eu o vejo, mas não agora; e o contemplo, mas não de perto. Uma estrela sai de Jacó, e um cetro se levanta de Israel”.


Evangelho: Mt 21,23-27
Naquele tempo, 23 Jesus voltou ao Templo. Enquanto ensinava, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se dele e perguntaram: “Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu tal autoridade?” 24 Jesus respondeu-lhes: “Também eu vos farei uma pergunta. Se vós me responderdes, também eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. 25 Donde vinha o batismo de João? Do céu ou dos homens?” Eles refletiam entre si: “Se dissermos do céu, ele nos dirá: ‘Por que não acreditastes nele?’ 26 Se dissermos: ‘Dos homens’, temos medo do povo, pois todos têm João Batista na conta de profeta”. 27 Eles então responderam a Jesus: “Não sabemos”. Ao que Jesus também respondeu: “Eu também não vos direi com que autoridade faço estas coisas”.
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Deus Pode Usar Como Instrumento Qualquer Pessoa para Se Revelar e Revelar Sua Vontade


A liturgia deste dia nos apresenta dois casos que mostram duas atitudes opostas: a do Balaão, o vidente, e a das autoridades contemporâneas de Jesus.


A Primeira Leitura nos apresenta um dos quatro oráculos de Balaão (cf. Nm 23,7-10; 23,18-24; 24,3-9; 24,15-19). O quarto oráculo em Nm 24,15-19 onde se encontra a Primeira Leitura de hoje é um dos poemas régios mais antigos de Israel onde se fala do futuro Messias: “Eu o vejo, mas não agora; e o contemplo, mas não de perto. Uma estrela sai de Jacó, e um cetro se levanta de Israel”. A imagem do CETRO é evidentemente real (cf. Gn 49,10). Fala-se também de “UMA ESTRELA”. No Oriente a aparição de uma nova estrela era considerada pelos magos como o prenúncio de um nascimento real (cf. Mt 2,2). A profecia de Balaão evoca, sem dúvida, a dinastia davídica.


Balaão era um vidente (adivinho) das margens do Eufrates. No texto da Primeira Leitura ele é chamado por Balac, rei de Moab para amaldiçoar seu inimigo Israel (cf. Nm 22). No entanto, por fidelidade à Palavra de Deus, ele abençoou Israel. A bênção se expressa em termos de beleza, de abundância e de força, tomado do meio vegetal, do reino animal e do mundo da guerra (Nm 24,5-9).


 Por sua própria condição de um verdadeiro vidente, Balaão é capaz de reconhecer em Javé, o Deus de Israel cujo poder é capaz de destruir quem pede para amaldiçoar Israel. Por esse reconhecimento, em vez de amaldiçoar, Balaão bendiz ou abençoa Israel. Pelo temor que tem de Javé, o Deus de Israel, Balaão não teve medo de enfrentar o rei de Moab, Balac. E Deus usa Balaão para abençoar Israel, Seu povo. Deus toca o coração de Balaão, o vidente, e esse vidente se converte em um dos melhores profetas do futuro messiânico. Em seus poemas breves, cheios de admiração, em vez de amaldiçoar ou em vez de maldizer, ele bendiz/abençoa o futuro de Israel.


Balac, rei de Moab, irado porque da boca de Balaão somente saíam bênçãos para Israel e não maldições como eram seus desejos, bateu palmas em sinal de repulsa e desprezo e mandou Balaão abandonar o país para voltar para sua terra natal sem nada receber pagamento em função de seu oráculo (Nm 24,10-11). Mas Balaão continua manter sua fidelidade à voz divina.


Quantas vezes, para nos afirmar, usamos os outros para derrubar os nossos rivais profissionais, políticos ou sociais, religiosos ou pastorais, como aconteceu com Balaão que foi usado pelo rei Balac para amaldiçoar Israel a fim de que seu reino ficasse forte. Mas Balaão, como um homem de Deus, não se deixou usar como instrumento da maldade. Balaão é fiel à Palavra de Deus. Por essa fidelidade aos mandamentos de Deus, Balaão só pratica o bem e mostra o bem para os outros: “Como são belas as tuas tendas, ó Jacó, e as tuas moradas, ó Israel! Elas se estendem como vales, como jardins ao longo de um rio, como aloés que o Senhor plantou, como cedro junto das águas”.  São as surpresas de Deus, que não se deixam manipular nem entram em nossos cálculos. Somos nós que devemos ver e escutar o que Deus quer. Em resumo, não podemos usar os outros para praticar a maldade nem nos deixemos usar pelos outros para praticar o mal. O mal e a maldade não se encontram em Deus e por isso, eles não tem futuro. O bem e a bondade, o amor e a misericórdia se encontram em Deus e podem se encontrar no homem, e, por isso, eles têm futuro. Vale a pena investirmos no bem, na bondade, no amor, na caridade, na solidariedade e assim por diante, pois trata-se de um investimento que nunca falha, pois Deus é envolvido nisto tudo.


Além disso, o testemunho da presença de Deus em nossa história não nos vem sempre através de pessoas importantes e notáveis. Outras pessoas muito mais simples, não contadas pela sociedade, pessoas das quais menos esperamos, mas que nos dão exemplo com sua vida de valores do evangelho, podem ser os profetas que Deus nos envia para que entendamos as intenções de salvação de Deus. Essas pessoas não fazem muito barulho; são silenciosas na vida cotidiana. Podem ser adultos ou jovens, homens ou mulheres, leigos ou religiosos, pessoas de pouca cultura ou grandes doutores, crentes ou distantes da Igreja. A voz de Deus nos pode vir das direções mais inesperadas, como no caso de Balaão. Por isso precisamos estar atentos permanentemente. O Espírito de Deus sopra para onde quer e por quem quer. Balaão, o vidente, sem pertencer ao povo de Israel e sem ser ungido como profeta em Israel é capaz de ser voz da Palavra de Deus para o próprio povo da Israel: “Eu o vejo, mas não é para agora, percebo-o, mas não de perto: um astro sai de Jacó, um cetro levanta-se de Israel, que fratura a cabeça de Moab, o crânio dessa raça guerreira”, disse Balaão.


Quem Não Tem A Autoridade Usa o Poder Para Ditar (Ser Ditador)


O contrário de Balaão são as autoridades ou gerentes do povo da época de Jesus. Eles, preocupados pela ortodoxia, pela verticalismo, pela segurança da autoridade competente, exigem de Jesus uma prova de sua autoridade: “Com que autoridade tu fazes estas coisas? Quem te deu tal autoridade?”.


As pessoas simples entendem a mensagem de João Batista como também a mensagem de Jesus. Enquanto que os dirigentes do Povo e os entendidos não querem entender. A pior cegueira é a cegueira voluntária. É fingir não ver. Aquele que finge não é que vê mais do que os outros. Aqui se cumpre mais uma vez o que Jesus dizia: os que se creem sábios, não sabem nada. Somente são os simples e humildes que alcançam a verdadeira sabedoria. Não sejamos ignorantes militantes em que achamos que sabemos, mas na verdade não sabemos de nada.


Os dirigentes do povo não sabem que a autoridade nem sempre está ligada ao poder, pois, dentro deste contexto, Deus não se manifesta verticalmente e sim a partir dos pobres e excluídos pelas mesmas autoridades (cf. Mt 11,25). O mesmo pensava Balac, rei de Moab que por ter o poder, ele convocava o vidente Balaão para amaldiçoar o povo de Israel. Mas o vidente Balaão é uma pessoa de coração puro e por isso, o Deus de Israel se revelou a ele para abençoar o povo de Israel em vez de amaldiçoá-lo.


Tudo isto quer nos dizer que Deus se manifesta não a partir do poder e sim a partir de Sua própria iniciativa ali onde tem um coração disposto e puro a reconhecê-Lo, como O reconheceu Balaão, o vidente. A revelação de Deus exige um reconhecimento muito além das estruturas e dos canais de autoridades comuns e conhecidas. Onde há simplicidade e coração puro, Deus se faz presente e a pessoa em questão se torna instrumento eficaz de Deus para transmitir Sua Palavra Salvadora para a humanidade.


Nós sabemos que o Enviado de Deus, Jesus Cristo, veio há mais de dois mil anos e como Ressuscitado continua a estar presente na nossa vida (cf. Mt 28,20). O Deus de ontem é o Deus de hoje e o Deus de amanhã (cf. Hb 13,8). Seu amor por nós não muda. Também nós somos ontem, hoje e amanhã. Vivemos um pouco melhor hoje em função da aprendizagem do que aconteceu ontem para ter o futuro melhor. Cada dia, ao longo da jornada, nos pequenos encontros pessoais e nos acontecimentos de cada dia, sucede uma continuada vinda de Deus à nossa vida para nos revelar algo e para fazer algum(s) apelo(s) para cada um de nós. Cada dia devemos nos perguntar: Qual é o apelo de Deus para mim hoje? O que Deus quer de mim através de tantos acontecimentos que eu presencie e eu li nos jornais? Estejamos atentos para o apelo de Deus diariamente. Não há dia sem o apela de Deus para cada um de nós. Os sinais de Deus são numerosos diariamente. Não necessitamos pedir a Deus algum sinal. Basta ler e interpretar os sinais acontecidos na nossa vida cotidiana.


Jesus, no Evangelho de hoje, nos mostra que não é a sabedoria dos homens que vence, e sim o auxílio do Espírito santo (cf. Mt 10,19-20). Algumas vezes temos medo de enfrentar críticas de nossos colegas de trabalho ou saímos em defesa quando a Igreja for atacada, os sacramentos, a vida espiritual e assim por diante. Recordemos que Jesus prometeu a assistência nos momentos difíceis nos quais se põe em jogo nossa vida cristã ou a verdade. Aprendamos a confiar na ação de Deus em todo momento sendo autênticos em nosso testemunho cristão. Deus estará sempre conosco (cf. Mt 28,20).


Que Deus nos conceda a graça de sermos uma bênção para os outros como Balaão, o vidente, a graça de sermos um sinal de amor, da ternura e da misericórdia do Senhor para nossos irmãos convertendo, assim a Igreja num sinal crível do amor do Senhor em meio do mundo. Que não nos deixemos usar pelos outros para praticar o mal e a maldade. Ao contrário, que nos deixemos usar por Deus para praticar o bem e a bondade a exemplo de Balaão.
P. Vitus Gustama,svd

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