terça-feira, 10 de dezembro de 2019

13/12/2019
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VIVER DE ACORDO COM A LEI DO SENHOR PARA VIVER NA HARMONIA E NA PAZ
Sexta-feira da II Semana do Advento


Primeira Leitura: Is 48,17-19
17 Assim diz Javé, o teu Redentor, o Santo de Israel: “Eu, o Senhor teu Deus, te ensino coisas úteis, te conduzo pelo caminho em que andas. 18 Ah, se tivesses observado os meus mandamentos! 19 Tua paz teria sido como um rio e tua justiça como as ondas do mar; tua descendência seria como a areia do mar e os filhos do teu ventre como os grãos de areia; este nome não teria desaparecido nem teria sido cancelado de minha presença”.


Evangelho: Mt 11,16-19
Naquele tempo, disse Jesus às multidões: 16 Com quem vou comparar esta geração? São como crianças sentadas nas praças, que gritam para os colegas, dizendo: 17 ‘Tocamos flauta e vós não dançastes. Entoamos lamentações e vós não batestes no peito!’ 18 Veio João, que nem come e nem bebe, e dizem: ‘Ele está com um demônio’. 19 Veio o Filho do Homem, que come e bebe e dizem: ‘É um comilão e beberrão, amigo de cobradores de impostos e de pecadores’. Mas a sabedoria foi reconhecida com base em suas obras”.
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É Preciso Viver De Acordo Com A Lei Do Senhor Para Viver Na harmonia e Na Paz


Continuamos ainda no Livro da Consolação do profeta Isaías (Is 40-55). A Primeira Leitura começa com a seguinte afirmação: “Assim diz Javé, o teu Redentor, o Santo de Israel”. Em nossa linguagem corrente, o termo “redenção” evoca a ideia de “resgate”, isto é, pagar no lugar do outro para resgatá-lo. Certamente, Jesus se põe em nosso lugar e paga duramente nossa justificação (cf. Is 53,4; Mt 8,17).


O mesmo termo, de origem hebraica, tem outro matiz: “Eu, o Senhor, sou teu Redentor, teu ‘Goel’”. No direito tribal primitivo havia um “Goel”: era o homem encarregado de ser responsável pela honra da tribo. Este termo se aplica a Deus para dizer que Deus se compromete no destino dos homens. Deus se compromete totalmente para salvar a humanidade com um amor apaixonado (cf. Jo 3,16). Esse amor se encarna em Jesus Cristo, o Deus conosco (cf. Mt 1,23; 18,20; 28,20).


Além disso na Primeira Leitura (Is 48,17-19) encontramos a reprovação a Israel da parte de Deus para explicar e justificar os sofrimentos e angústias suportados pelos israelitas no exílio na Babilônia: ”Ah, se tivesses observado os meus mandamentos! Tua paz teria sido como um rio e tua justiça como as ondas do mar; tua descendência seria como a areia do mar e os filhos do teu ventre como os grãos de areia; este nome não teria desaparecido nem teria sido cancelado de minha presença”.


O desterro é, para o povo, uma prova ou uma reprovação de Deus a Israel para que o povo Israelita conheça os caminhos de Deus e reconheça as consequências de sua infidelidade. O profeta quer relembrar seus compatriotas que todo pecado priva o homem das bênçãos de Deus. Por isso, toda infidelidade exige o desterro, símbolo da distância ou do afastamento de Deus.


Segundo o profeta, o maior pecado dos israelitas não é quebrar os mandamentos de Deus, e sim considerá-los inúteis para sua vida. Prescindir de Deus, de Sua vontade e de Suas leis leva o homem à solidão sem fim, ao isolamento da paz, pois ninguém está tão solitário do que aquele que vive sem Deus e Suas leis. Trata-se de uma vida sem direção, sem sentido. Deus jamais pode ser considerado como inimigo, ou como Aquele que tira o homem de seu prazer. Ao contrário, Deus é Pai que cuida de cada homem, que sempre estende Sua mão para o homem para que possa viver firmemente e seguramente.


No texto da Primeira Leitura Deus quer chamar atenção do homem sobre a importância de Suas leis. As leis do Senhor existem não para impor um jugo insuportável nem para oprimir o homem com carga pesada. Deus deu Sua leis para o homem como sinal ou luz para sua caminhada e para marcar o caminho da paz, da justiça e da felicidade: “Eu, o Senhor teu Deus, te ensino coisas úteis, te conduzo pelo caminho em que andas”. A lei do Senhor é uma direção para o homem a fim de chegar a sua realização plena.


Consciente ou inconscientemente vivemos obedecendo as leis da própria vida. Se subirmos numa árvore, temos que subir com segurança, pois existe a lei da gravidade. A lei da sobrevivência nos obriga a nos alimentarmos e a bebermos algum líquido. Para uma nave espacial chegar a qualquer outro planeta, os cientistas devem obedecer à lei espacial. Isto significa que para vivermos com segurança e para termos paz, temos que viver de acordo com as leis, especialmente os mandamentos do Senhor. Não há liberdade sem regra ou lei. Deus tem apenas Dez Mandamentos que Jesus os resume em um só: amor que tem três direções: Deus, o próximo e a si mesmo. Somente quem sabe se valorizar, valoriza o outro. Quem sabe se respeitar, respeita o outro. Quem aprende a se amar, ama o outro. Para viver em paz, em harmonia, em comunhão de irmão o homem deve aprender a amar Deus, o próximo e a si mesmo. Por este caminho não há outro caminho melhor. Por este mandamento não há outro mandamento mais redentor do que este.


Quanto Mais Se Aproxima Da Natureza Mais se Encontra O Sentido Da Vida


Jesus é um grande observador da vida cotidiana e da natureza. Ele contempla tudo e nada escapa de seu olhar. Seu olhar é atento, penetrante e sensível para tudo e diante de tudo. Jesus é uma pessoa que está sempre ligada com tudo e está conectado com o Pai do céu, simultaneamente. Ele observa tudo: a natureza (árvores, aves, flores, plantações, chuva, relâmpago, etc.), as atividades dos homens como agrícola, pescaria, agropecuária (ovelha, cabrito, cordeiro etc.), construir casas, casamento, banquete etc. para depois tirar alguma lição para a própria vida das pessoas de seu tempo. Basta ler todas as parábolas de Jesus logo confirmaremos a verdade de tudo o que foi dito. Para Jesus a vida cotidiana com seus acontecimentos e a natureza servem como se fosse um grande livro divino onde ele lê página por página, dia após dia, suas mensagens ou suas lições para a própria vida do homem.


Desta vez Jesus nos conta sua observação sobre a atitude de crianças que brincam nas praças. Com certeza, um dia ele observou as crianças que brincavam em uma praça que repetiam o seguinte refrão durante a brincadeira: “Tocamos flauta e vós não dançastes. Entoamos lamentações e vós não batestes no peito!”. Um dia ele usou essa observação para falar do comportamento de seus contemporâneos diante de João Batista e diante do próprio Jesus.


João Batista, como o Precursor do Senhor, se apresenta como um homem austero, que não comia comidas cotidianas nem bebia bebida alcoólica. João Batista não se deixa dominar pelas coisas e sim domina as coisas. Ele comia apenas gafanhotos e o mel silvestre e se vestia de pele de camelo. Por causa disso, seus contemporâneos que tem mentalidade hedonista e que procuram a todo o custo o prazer consideram João Batista como “louco”.


Na verdade, a vida de João Batista é uma crítica severa sobre o hedonismo e o consumismo sem freio que causam tristeza para tantas pessoas que acabam vivendo uma vida solitária mesmo que se encontrem no meio da multidão ou no meio de uma festa, e que sacrificam tantas pessoas em nome do seu prazer. Nosso coração não está sedento de prazer, de poder, de fama, de riqueza e sim de sentido. O que nos frustra e tira a alegria de viver é a falta ou a ausência de significado de nossa vida. Não passamos a ser felizes perseguindo a felicidade. Nós nos tornamos felizes vivendo uma vida que signifique alguma coisa. Geralmente, as pessoas mais felizes que conhecemos são aquelas que se esforçam para serem generosas, solidárias, compassivas, prestativas, atenciosas, confiáveis, mansas, amorosas... Quem desejar fazer a experiência da verdadeira e autentica alegria, deve aprender primeiro a renunciar à intemperança e aos prazeres efêmeros, deixar de pensar só em si mesmo e nos seus interesses. Ao fazer alguém feliz, nós seremos felizes verdadeiramente.


Jesus veio com seu projeto de felicidade (cf. Mt 5,1-12), trouxe a vida em abundância para todos (cf. Jo 10,10), anunciou a igualdade (cf. Mt 20), pois todos são filhos e filhas de Deus, e por isso, comia e bebia com os excluídos da sociedade (pecadores, publicanos, prostitutas, doentes etc.). Ele anunciava um Deus que é bom, que é amor, que não exclui nem castiga quem errou, que convida para a festa com Ele todos os homens sejam bons sejam maus (Mt 22,10; Mt 5,45). É um Deus da misericórdia. “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré.... Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.” (Papa Francisco: Bula Vultus Misericordiae n.1 e 2). Em outras palavras, Jesus ensina os homens o passo de dança alegre da vida como um prelúdio da felicidade celeste no banquete eterno com Deus de Amor (cf. 1Jo 4,8.16). Mas por causa de sua maneira de viver e de conviver, Jesus é chamado de “comilão” e “beberrão”.


Diante do comportamento de seus contemporâneos Jesus deu uma resposta cheia de sabedoria: “Mas a sabedoria foi reconhecida com base em suas obras”.  Trata-se de um provérbio.


Quando se fala da sabedoria no mundo grego, e também em nosso mundo, pensa-se simplesmente na ciência. O mundo da Bíblia pensa de maneira distinta. A sabedoria, sem qualificativo nenhum, é a sabedoria de Deus. Com ela faz-se referência ao plano de Deus sobre o mundo e sua execução através dos homens eleitos por Deus para realizá-lo.


Com o provérbio “Mas a sabedoria foi reconhecida com base em suas obras”, o evangelista Mateus quer afirmar que, tanto João Batista como Jesus são agentes na realização do plano de Deus. A conduta dos dois pode parecer equivocada e ser julgada como tal pelos dirigentes do povo judeu na sua época, mas as obras dos dois (João Batista e Jesus) demonstram que estão na linha da verdade e, portanto, os equivocados são os próprios gerentes do povo. A obra salvadora que Jesus levou até o fim no mundo demonstra que aqueles que O recusaram não tinham razão, pois Jesus é a sabedoria de Deus, pois Ele é o Verbo de Deus.


O retrato de muitos cristãos que não levam a sério os ensinamentos de Jesus em suas vidas pode ser, em parte, o mesmo que os dirigentes do povo na época de Jesus. Há pessoas insatisfeitas crônicas, que se refugiam em suas críticas ou veem somente o mau na história e nas pessoas e sempre se queixam. A insatisfação crônica conduz a pessoa ao perfeccionismo. Uma pessoa perfeccionista considera inaceitável qualquer coisa que não seja perfeito. O perfeccionismo é capaz de roubar a felicidade e a alegria de viver.


Somos chamados a ser excelentes e não perfeccionistas. Excelência é a habilidade de melhorar continuamente. Estamos encarando a mudança de tempo. E isto supõe a abertura às mudanças, à renovação, à inovação, a flexibilidade diante do fracasso e a aceitação dos próprios erros e não fiquemos nas estruturas que não fazem ninguém crescer para frutificar mais. É possível ser uma pessoa feliz, livre e desfrutar a vida mesmo sem ser perfeito.  Será que isso é uma expressão de não querer mudar? Quem não quer mudar por amor e pelo bem, será, um dia, obrigado a mudar pela dor.


Mas a sabedoria foi reconhecida com base em suas obras”. Há duas maneiras de viver sabiamente que se complementam ou dois modos de dançar na vida: a maneira de João Batista que nos leva a viver na sobriedade, mas sem perder a alegria de viver como ensinou Jesus através da convivência amorosa como os irmãos do mesmo Pai do céu. Em tudo na vida é preciso nos perguntarmos: tem algo positivo para mim e para os que convivem e trabalham comigo ao fazer, ao falar, ao escrever ou ao comentar alguma coisa?


Além disso, tudo na vida tem seu tempo (cf. Ecl 3,1ss). Reconhecer a hora de Deus, o tempo oportuno, o tempo da graça, o Kairós é um sinal de sabedoria. Somente os simples de coração têm essa capacidade. Se para Deus tudo é simples, para o simples tudo é divino. A simplicidade é a transparência no olhar, a retidão no coração e no comportamento e a sinceridade no discurso, sem nenhuma simulação. A simplicidade é a sabedoria dos santos e a virtude dos sábios.


Como os contemporâneos de João Batista também eu sou convidado pela figura de João Batista para fazer sinceras obras de penitência. Reconhecer a hora de Deus, para mim, significa tirar as máscaras para viver na transparência, renunciar a olhar apenas de um ângulo sobre a vida e seus acontecimentos, aprender o olhar tudo a partir de Jesus Cristo: um olhar de um irmão.


Mas a hora de Deus não é somente a hora da penitência e de mudança de vida. É também a hora do gozo, da alegria que o Evangelho de Jesus nos traz. O gozo evangélico nascerá em mim ao reconhecer que Jesus não se envergonhou de ser chamado de “amigos de publicanos e pecadores”. O perdão que me anuncia não se reduz a uma mera palavra ou uma notícia genérica de Deus diante das minhas falhas e fraquezas, mas que é acontecimento desconcertante, pois Deus continua me amando e voltei a amar o Deus de amor. Apesar de eu ser pecador Deus me convida para o banquete divino. Não se trata de uma festa que se deixa para amanhã. Esta festa para mim é hoje. Eu preciso ouvir atentamente o que o Senhor disse para Zaqueu: “Hoje a salvação entrou nesta casa”. “Esta casa” sou eu, é minha família, são meus amigos e meus irmãos em Cristo.
P. Vitus Gustama,svd

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