20/12/2019
DEIXAR-SE
FECUNDAR POR
DEUS PARA FECUNDAR OS DEMAIS
20 de Dezembro
Primeira Leitura: Is 7,10-14
Naqueles dias, 10 o
Senhor falou com Acaz, dizendo: 11 “Pede ao Senhor teu Deus que te faça ver um sinal, quer
provenha da profundeza da terra, quer venha das alturas do céu”. 12 Mas
Acaz respondeu: “Não pedirei nem tentarei o Senhor”. 13 Disse o profeta: “Ouvi
então, vós, casa de Davi; será que achais pouco incomodar os homens e passais a
incomodar até o meu Deus? 14 Pois bem, o próprio Senhor
vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe
porá o nome de Emanuel”.
Evangelho: Lc 1,26-38
26No
sexto mês ,
o anjo Gabriel foi enviado
por Deus
a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27a uma virgem ,
prometida em casamento
a um homem
chamado José. Ele era
descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. 28O anjo
entrou onde ela
estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça , o Senhor está contigo !” 29Maria
ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar
qual seria o significado
da saudação . 30O anjo ,
então , disse-lhe: “Não
tenhas medo , Maria, porque
encontraste graça diante
de Deus . 31Eis que
conceberás e darás à luz um filho , a quem porás o nome
de Jesus. 32Ele será grande , será chamado Filho
do Altíssimo, e o Senhor Deus
lhe dará o trono
de seu pai
Davi. 33Ele reinará para sempre sobre os descendentes
de Jacó, e o seu reino
não terá fim ”.
34Maria perguntou ao anjo : “Como acontecerá isso ,
se eu não
conheço homem algum ?”
35O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre
ti, e o poder do Altíssimo te
cobrirá com a sua
sombra . Por
isso , o menino
que vai nascer
será chamado Santo , Filho
de Deus . 36Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na
velhice. Este já
é o sexto mês
daquela que era
considerada estéril , 37porque para Deus nada é impossível ”. 38Maria, então ,
disse: “Eis aqui
a serva do Senhor ,
faça-se em mim
segundo a tua palavra !”
E o anjo retirou-se.
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Nosso
Deus É Emanuel
“Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um
filho, e lhe porá o nome de Emanuel”.
Todos os exegetas concordam em colocar
essa profecia no seguinte contexto histórico: o rei Acaz, cercado pela coalizão
do rei de Damasco e do rei de Samaria, está totalmente fora de si e prestes a
sacrificar seu próprio filho. Isaías vai vê-lo e pede que ele não se preocupe
porque: se ele mantiver sua "fé" em Deus, sua dinastia estará
assegurada por uma promessa divina ... O próprio Deus pretende intervir: um
"filho" é anunciado a ele, um novo herdeiro do trono de Davi. Aquele
filho prometido por Deus será Ezequias, o rei piedoso que reinará em Jerusalém.
Mas por trás
desse contexto histórico, o Messias é descrito.
A solenidade desse oráculo, o nome dado
à criança: "Deus conosco"
... o termo que designa para sua mãe, a "Virgem" ... o fato de que é
um sinal de Deus ... Tudo isso orientou os teólogos para uma interpretação
messiânica. O Evangelista Mateus vai citar precisamente esta profecia no seu
evangelho (cf. Mt 1,22-23).
“Naqueles dias, o Senhor falou com Acaz, dizendo: ‘Pede ao Senhor teu Deus que te
faça ver um sinal, quer provenha da profundeza da terra, quer venha das alturas
do céu’”.
“Acaz” é forma abreviada de “Jeoacaz”, (hebraico),
que significa “o Senhor tem possuído”. O rei Acaz foi sucessor de seu pai Jotão,
e reinou por dezesseis anos (16) em Judá, durante o final conturbado do reino
de Israel, no Norte (742-727 a.C). Seu governo foi caracterizado por muitos
problemas e ele mesmo recebeu esse epitáfio: “Não fez o que era reto aos olhos
do Senhor, seu Deus, como Davi, seu pai” (2Rs 16,2). Ele deixou de ser possuído
por Deus conforme o sentido de seu nome. Acaz conquistou essa reputação por
aprovar a colocação das imagens dos ídolos no Templo de Jerusalém (2Rs 16,10-16).
Ele até ofereceu sacrifícios aos deuses de Damasco (2Crônicos 28,23). Trata-se
de sincretismo religioso.
O profeta Isaías estava em atividade
nessa época e os capítulos 7 a 10 de seu livro nos dão uma visão do estado do
governo de Acaz. O rei Acaz e o profeta Isaías ficam frente a frente. Acaz
solicita a ajuda a Síria para vencer seus vizinhos inimigos. Sob uma falsa
religiosidade oculta uma absoluta falta de fé na intervenção divina. O profeta
Isaías lhe oferece um sinal: o nascimento de um menino, encarnação da benevolência
de Deus, de sua presença salvadora: Emanuel, Deus-conosco. O menino pode ser
historicamente o próprio filho do rei, próximo a nascer. Mas no contexto profético
designa já o Messias. E com ele, como parte inseparável do próprio sinal, se
associa a mãe (Virgem). O menino é puro dom de Deus, fruto da fé. Aquela maternidade
(de Maria) se entenderá dentro das maternidades prodigiosas do Antigo
Testamento.
Porém, Acaz não está disposto a mudar
sua política de pacto com Assíria e cheio de hipocrisia recusa o sinal. O profeta
Isaías não aguenta mais. E reprovando sua conduta faz este maravilhoso anúncio
de que a fidelidade e a garantia de Deus estará sempre com o povo que acredita
n´Ele. Uma promessa foi feita por meio do profeta Isaías, que seria suficiente
para fortalecer sua confiança: “Se não o crerdes,
certamente não ficareis firmes” (Is 7,9b). No entanto, o rei Acaz não quer
pedir um sinal. Ele tem planos de alianças militares que ele não quer
confrontar com a vontade de Deus.
A verdade, contudo, é que, com essa
confiança já comprometida, a queda de Judá se tornou inevitável e Deus usou a
babilônia como seu instrumento para trazer o juízo divino. Mesmo assim, o
profeta Isaías fala com ele e assegura-lhe que os planos de Deus para a
dinastia davídica serão cumpridos: uma Virgem dará à luz um filho e eles o
chamarão Emanuel, Deus conosco.
Como foi dito anteriormente, o filho do
qual se fala o texto é provavelmente Ezequias. Mas, como lemos no profeta
Isaías, já se refere ao futuro Messias, o Rei perfeito do fim dos tempos. A
versão grega já traduziu a palavra "menina" por "virgem",
para sublinhar a miraculosa intervenção divina.
Em meio de suas preocupações de rei e
de homem político atacado por seus inimigos, Deus continua a estar no comando
para cumprir suas promessas. Isto significa que a história não é unicamente
profana. A história é o lugar em que “Deus dá um sinal”. O próprio Jesus
reprovará os judeus de seu tempo por não saber reconhecer os sinais que Deus
lhes fazia (cf. Mt 16,1-4).
Na verdade, não há nenhum dia da vida
de cada um de nós que não tenha apelos ou sinais de Deus. Basta parar para
identificar esses apelos e seus sentidos para nossa vida. Esses sinais não são
vistosos nem milagrosos, mas muito cotidianos que necessitam lê-los e
interpretá-los.
No Evangelho de hoje, guiados por
Lucas, nós interpretamos a passagem do profeta Isaías com gozosa convicção: a
Virgem é Maria de Nazaré, e seu filho é o Jesus Cristo (Messias).
Deus
Quer Salvar o Mundo Através De Cada Um De Nós como Maria
O relato da “Anunciação” de Jesus é
paralelo ao do dia anterior que anunciava o nascimento de João Batista. Este
relato está cheio de reminiscências bíblicas que podem ser verificadas nas
“notas” do rodapé das Bíblias publicadas recentemente. É conveniente deixar-se
levar pelo encanto dos detalhes e a contemplação do mistério da fé que se
esconde neles.
Nazaré da Galileia.
Nazaré: povoado ou vila insignificante, desconhecido do AT. A simplicidade da
casa de Maria contrasta com a solenidade da anunciação a Zacarias, no marco
sagrado do Templo, em Jerusalém, a capital. Galileia: província desprezada pela
mistura de judeus e pagãos.
Uma jovem desposada cujo nome é Maria.
É uma moça do povo muito simples que nada a distingue de suas companheiras. A
moça do povo. Maria, uma humilde moça é eleita por Deus para ser a Mãe do
Esperado, do Emanuel, do Deus-Conosco. O
anjo a chama de “cheia de graça”, “bendita entre as mulheres” e lhe anuncia uma
maternidade que não vem da sabedoria ou das forças humanas e sim do Espírito
Santo, porque seu Filho será o Filho de Deus altíssimo.
Maria é desposada com certo varão da
descendência de Davi cujo nome é José. José é, então, de etnia real despojado
de toda grandeza: é um artesão, um carpinteiro, sem nenhuma pretensão de ocupar
um trono. No entanto, através dele será cumprida a promessa feita a Davi.
A moça simples, Maria, mostra sua
atitude de disponibilidade para Deus apesar da pouca experiência como jovem,
mas que acredita plenamente na Palavra de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor,
faça-se em mim segundo a Tua Palavra!”. Esse “Faça-se” não é somente no
momento da anunciação e sim será para toda a vida, inclusive será na sua
presença dramática ao pé da Cruz do seu Filho, Jesus (cf. Jo 19,25-27).
Maria aparece já desde agora como a
melhor mestra da vida cristã. O mais acabado modelo de todos os que têm
disponibilidade de dizer “sim” à vontade ou ao plano de Deus. Maria é o melhor
espelho no qual cada cristão pode se espelhar. É possível ser instrumento do
Senhor desde que saibamos nos deixar fecundar pela Palavra de Deus para que
possamos fazer nascer o Salvador para nosso mundo.
Não é por acaso que de todas as cenas que a Igreja usa na liturgia do Advento, a
anunciação a Maria é a mais famosa por excelência. A anunciação do Anjo do
Senhor a Maria tem aparecido frequentemente na teologia, na espiritualidade, na
arte, na música e na literatura.
Na anunciação do nascimento de João
Batista (Lc 1,5-25), o anjo aparece num lugar sagrado, por excelência, no
Templo de Jerusalém. A aparição do anjo a Maria acontece em Nazaré, uma cidade
desprezada de uma terra desonrada e desconhecida. Até Natanael, o futuro
apóstolo do Senhor perguntou: “De Nazaré
pode sair coisa boa?” (Jo 1,46). Esta diferença sublinha uma nova economia
onde Deus se oferece, não mais na economia do templo de pedra, o lugar sagrado,
a sacralidade, mas num lugar pobre, vulgar, até desprezado, naquilo que os
homens desprezam e julgam insignificante e humilde e na pessoa simples, como
Maria. Como disse o Papa Bento XVI: “Deus não habita num móvel, e sim numa
pessoa, num coração: Maria, Aquela que trouxe no seu ventre o Filho Eterno de
Deus que se fez homem, Jesus, nosso Salvador”.
A eleição de Maria como Mãe do Salvador
não é fruto de uma obra humana, e sim o fruto da complacência gratuita de Deus,
da pura graça, pois Deus se antecipa à obra do homem e é o pressuposto absoluto
de toda a iniciativa humana.
A graça é benefício absolutamente
gratuito, livre e sem motivo (cf. Ex 33,12. 19; 34,6). Por isso, a graça é o
espaço, é o lugar onde a criatura pode encontrar o seu Criador e ao encontrar o
Criador o ser humano se encontra. Pela graça de Deus nós somos o que somos (cf.
1Cor 15,10). Pela graça, Deus baixa-se em direção à criatura.
Lucas coloca esta cena
na narrativa da infância
de Jesus para destacar
Maria como modelo
de qualquer cristão :
Ela é a primeira discípula-modelo;
modelo de fé
e modelo de quem
medita a Palavra de Deus no coração
e de quem vive de acordo com a Palavra de Deus (cf. Lc 1,38).
Maria
É A Primeira Discípula-Modelo
A primeira
mensagem dessa anunciação
é centrada na concepção de Jesus como Messias e Filho de Deus .
E Lucas apresenta Maria como a primeira a ouvir e a acertar a mensagem , para depois
proclamá-la (Lc 1, 39-45). Sua condição de discípula
realiza-se quando ela
diz “sim ” à vontade
de Deus a respeito
de Jesus. Mas tal
prontidão lhe
é possível porque
Maria já dispõe da graça
de Deus pelo seu modo de vida . Desta maneira
não há exagero
ao dizer-se que Maria ouviu o Evangelho de Jesus Cristo
e de fato , foi a primeira
a fazê-lo. Assim Lucas eleva Maria à condição de primeira
discípula-modelo e Lucas fornece aqui a mais forte evidência para o fato importantíssimo de que
ela é discípula
de Jesus.
Maria
É Modelo De Fé
Duas coisas
transparecem de Maria em relação à fé : Sua vida de fé , de entrega humilde e confiante
que não
entende tudo , mas
confia, e sua fé
que cresce mediante
a reflexão e a meditação .
E a vida vai tornando manifesto daquilo que
lhe era
confuso. Mas certamente
é próprio da fé
viver no lusco-fusco (o anoitecer ) e criar luz na medida em que acolhe e
se entrega ao plano
de Deus . A fé
convive com a perplexidade, mas não pode subsistir com a incredulidade . Deve-se superar
a incredulidade . Faz parte da fé aqueles momentos
de escuridão , onde
a razão se cala
e a alma se entrega
a Deus .
Maria
é modelo de quem
medita a Palavra de Deus
Quantas vezes
Deus se comunica conosco ,
mas a sua
Palavra não
penetra em nós . Por que isso
acontece? Com toda
a agitação e barulho
ao nosso redor
ou dentro
de nosso próprio
coração temos muita
dificuldade em
parar para escutar
a voz interior ,
a voz de Deus .
Certamente a vida
equilibrada e com sentido
começa com
a criação de um
espaço interior ,
no qual a pessoa
vai juntando os acontecimentos e procura seu sentido e com certeza pode perceber os sinais de Deus
na vida .
A partir de
Maria, a acolhida da Palavra nem sempre é consequência
de uma escuta em
que ela
é ouvida com
total clareza .
Maria passou pela experiência
da obscuridade que
envolve a Palavra (cf. Lc 2,34s.49s). A Palavra é acolhida na fé ,
independentemente da clareza de seu significado .
Maria vem nos
ensinar a cultivar a
interioridade. Guardar as coisas
no coração , meditar
e buscar sentido
nos acontecimentos
e preparar-se para o que
vai acontecer . Deus
se comunica através da vida e da Palavra
inspirada, a Bíblia . Somos chamados, a exemplo de Maria, a cultivar
a interioridade, para meditar
fatos e palavras
da vida e da Bíblia ,
guardá-las no coração e melhorar nossa
prática cristã.
P. Vitus Gustama,svd
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