sábado, 28 de dezembro de 2019

02/01/2020
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SER VOZ E REFLEXO DE JESUS NA VIDA DIÁRIA


Primeira Leitura: 1Jo 2,22-28
Caríssimos: 22Quem é mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? O Anticristo é aquele que nega o Pai e o Filho. 23Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. Quem confessa o Filho possui também o Pai. 24Permaneça dentro de vós aquilo que ouvistes desde o princípio. Se o que ouvistes desde o princípio permanecer em vós, permanecereis com o Filho e com o Pai. 25E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna. 26Escrevo isto a respeito dos que procuram desencaminhar-vos. 27Quanto a vós mesmos, a unção que recebestes da parte de Jesus permanece convosco, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine. A sua unção vos ensina tudo, e ela é verdadeira e não mentirosa. Por isso, conforme a unção de Jesus vos ensinou, permanecei nele. 28Então, agora, filhinhos, permanecei nele. Assim poderemos ter plena confiança, quando ele se manifestar, e não seremos vergonhosamente afastados dele, quando da sua vinda.


Evangelho: Jo 1,19-28
19Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar: “Quem és tu?” 20João confessou e não negou. Confessou: “Eu não sou o Messias”. 21Eles perguntaram: “Quem és, então? És Elias?” João respondeu: “Não sou”. Eles perguntaram: “És o Profeta?” Ele respondeu: “Não”. 22Perguntaram então: “Quem és, afinal? Temos de levar uma resposta àqueles que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?” 23João declarou: “Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” — conforme disse o profeta Isaías. 24Ora, os que tinham sido enviados pertenciam aos fariseus 25e perguntaram: “Por que então andas batizando, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?” 26João respondeu: “Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis, 27e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias”. 28Isso aconteceu em Betânia além do Jordão, onde João estava batizando.
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A Primeira Leitura se encontra na parte da Carta que fala da heresia ou do anticristo (1Jo 2,18-27). O anticristo é aquele que não tem a suficiente fé em admitir a verdadeira encarnação do Filho de Deus; é o negador do Cristo verdadeiro. Para este tipo de pessoa, o autor da Carta usa os termos “sedutores”, “pseudoprofetas” e “anticristos”. A palavra no singular e no plural (anticristo/anticristos) designa todos aqueles que se opõem a Cristo; eles negam que Cristo seja homem verdadeiro. Eles não admitem que o mundo de Deus (o mundo de cima) possa manchar-se tocando o mundo de baixo. Este tipo de crença se espalha dentro da comunidade para a qual a Carta foi dirigida (1Jo 2,19).


O ato de ser anticristo é uma heresia. Heresia é confundir Cristo com o nosso pensar e o nosso querer; é fabricar um Cristo a nossa imagem e semelhança. Este Cristo manipulado e tantas vezes mudado é claro que não pode ser o Cristo Salvador. A final, “Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. Quem confessa o Filho possui também o Pai” (1Jo 2,23).


O fragmento da primeira leitura revela as linhas essenciais da falsa doutrina divulgada peloanticristoem uma época atormentada do final do século primeiro. Para essa falsa doutrina, Jesus não era considerado como o Messias nem como o Filho de Deus. Essa heresia cristológica considerava impossível que o Verbo Divino se fizesse carne à maneira humana. Mas para o apostolo João, testemunha ocular do Verbo Divino, o Verbo da vida (cf. 1Jo 1,1-4), negar a divindade de Jesus significa não ter comunhão com o Pai e não ter a verdadeira vida (1Jo 2,22-23; cf. Jo 20,30-31); negar a união do divino e do humano em Jesus significa seranticristoporque o humano em Jesus é o reflexo perfeito do divino, é o reflexo do Pai: “Aquele que me viu, viu o Pai(cf. Jo 14,9). E em outra ocasião Jesus disse: “Eu e o Pai somos um(Jo 10,30).


São João nessa Primeira Carta quer orientar nossa sensibilidade. Não se trata de fazer de Jesus um ídolo e sim de abrir nossos ouvidos à sua Palavra, pois Sua Palavra é vida e luz para nós todos: “No Verbo havia vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,4) e por isso nos orienta (cf. Jo 8,12). Um Jesus que não nos servir como caminho ao Pai (cf. Jo 14,6) é um Jesus que não nos interessa do ponto de vista da . Muitos querem um Jesus milagroso para ter uma vida confortável aqui neste mundo e esqueceram-se de um Jesus que os leva para a vida eterna. Jesus é o misterioso laço de união entre a humanidade caída e o Pai pronta para nos salvar: “Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. Confessa o Filho possui também o Pai” (1Jo 2,23).


Como cristãos somos essencialmente ouvintes da Palavra da Salvação, aceitadores do Filho, e escutando-O nos realizamos como filhos do Pai celeste e irmãos dos demais homens. A Igreja é formada pela escuta da e pela vivência da Palavra de Deus. O que nos é pedido não é essencialmente nosso conhecimento ou nosso saber, e sim nossa fidelidade. Fidelidade é guardar ou observar o que é ouvido da Palavra de Deus (cf. Mt 7,24; Jo 14,23). Por isso, o verbo que mais vezes se repete na primeira leitura, é “permanecer”. É um verbo que fala de fidelidade, de perseverança, de manter na verdadeira sem deixar-se enganar. Permanecer em Jesus significa ter nele.  Há várias maneiras de ser fiel: com o pensamento e o coração, com as palavras de testemunho que damos diante dos demais e com as ações, com os compromissos, com as obras e com as decisões da vida diariamente, de acordo com o mandamento do Senhor resumido no amor fraterno.   


De nós não será pedido conta de nossos conhecimentos e sim de nossa fidelidade. Seremos cristãos e seremos salvos, se aceitarmos Jesus, o Enviado do Pai e nos identificarmos com Ele. É contemplar Jesus para contemplar Deus. Jesus é a única e verdadeira revelação de Deus. Há certas afirmações típicas de são João sobre esta revelação: “Ninguém vai ai Pai senão por mim” (Jo 14,6); “Quem conhece o Filho, conhece também o Pai” (Jo 8,19); “o Filho é o único capaz de revelar o Pai” (Jo 14,7).


E lemos no texto do Evangelho de hoje o testemunho de João Batista acerca de Cristo. Para a perguntaQuem és tu?”, João Batista confessa, evitando qualquer mal-entendido acerca de sua pessoa e de sua própria missão, que não é o Cristo, o Salvador esperado. Este testemunho em forma de afirmação negativa que sai da boca de João Batista é uma autêntica confissão de no messianismo de Jesus. João Batista se define apenas com as palavras do profeta Isaias: “Voz que clama no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” para preparas vinda de Cristo. Ser voz é ser uma mensagem, é ser uma chamada aos demais para o bem, para a Luz que ilumina. A voz é feita para proclamar, para anunciar e para denunciar. É preciso nivelar as relações humanas, pois todos os seres humanos têm a mesma substancia humana. Não há super-criatura. É preciso aplainar. Onde houver estrada plana, haverá facilidade para caminhar. Quando um reconhece no outro como ser humano, a convivência se torna mais fácil. Ninguém tratará a outro desumanamente. Eu sou ser humano. O outro é ser humano. Deus se fez humano para salvar o ser humano.


João Batista não é a luz. Ele é apenas uma lâmpada que tem tempo limitado de duração. Ele é apenas aquele quetestemunha da verdadeira Luz que é o próprio Jesus Cristo (cf. Jo 8,12). Ele não é a Palavra Encarnada, mas somente a voz que prepara o caminho com a purificação dos pecados através de seu batismo: Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis”.


O testemunho de João Batista pretende suscitar a em todo mundo para o grande desconhecido, o Portador da salvação, que vive entre os homens (Jo 1,14). Por isso, a de João Batista está orientada ao anúncio de Jesus e não é apenas para o consumo próprio. João Batista é aquele que chama atenção, não para si mesmo e sim para Aquele é o verdadeiro Salvador. João Batista nos ensina que a deve ser transformada em anúncio, o fiel deve se tornar em anunciador da Boa Nova. Todo cristão é um propagador da Palavra de Deus na aridez espiritual de nosso mundo, um propagador que chama os outros ao encontro de Jesus Cristo que é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).


João Batista testemunha Jesus Cristo com fidelidade e valentia. Não quer falar de si mesmo, nem contar seus méritos nem suas façanhas. João Batista somente quer que os outros o considerem como “a voz que clama no deserto”, a voz que prepara os caminhos de Deus, a voz que chama todos a preparar o lugar de Deus no mundo, especialmente no coração de cada um. A voz desaparece, mas a mensagem fica.


O cristão é chamado a ser anunciador da Boa Nova, a ser a voz que grita, com a própria vida, a verdade de Cristo apesar da pobreza que experimenta e da fragilidade de suas palavras humanas. O cristão é o homem que se define em função de Cristo, d’Aquele que vem sempre aos seus para comunicar salvação e vida.


Como cristãos e como pessoas do bem devemos ser a voz de Deus sobre o amor neste mundo. Podemos desaparecer, mas a marca de amor que testemunhamos e transmitimos deve ficar para sempre entre as pessoas. Além disso, nós, como João Batista, deveríamos falar menos de nós mesmos, acreditar menos em nós mesmos e nos converter em “a vozquetestemunho de Deus, de seu amor presente em Jesus Cristo.


Santo Agostinho comenta: João era voz, mas o Senhor é a Palavra que no princípio já existia. João era uma voz provisional; Cristo, do princípio, é a Palavra eterna. Ao tirar a palavra, o que será a voz? Se não houver conceito, tudo será nada mais do que ruído vazio. A voz sem palavra chega ao ouvido, mas não edifica o coração. João é a voz que grita no deserto, a voz que rompe o silêncio...”.


Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’”. Somos chamados a ser voz do Senhor neste mundo. Ser voz é uma vocação muito humilde, mas é maior de todas. Ser voz é ser uma mensagem, é ser uma chamada aos demais para o bem, para a Luz que ilumina. A voz é feita para proclamar, para anunciar e para denunciar. A voz deixará de ser voz, se não gritar, se não proclamar, anunciar e denunciar. A voz se condenará, se deixar de anunciar a mensagem sobre o bem. Uma voz do bem é capaz de renovar o mundo. Se faltarem as vozes do bem para anunciar e denunciar, o mundo perderá sua consciência. Por esta razão, como vale e quanto vale sua voz! Como vale e quanto vale sua palavra! Como vale e quanto vale sua mensagem! Como vale e quanto vale seu grito que rompe o comodismo, que rompe o modo de viver sem vida.


É preciso fazer o encontro pessoa com Jesus e contemplar Jesus Cristo, Luz do mundo para que sejamos reflexos de sua luz para os outros, iluminado suas vidas embora o reflexo dure apenas em pouco tempo. Ser reflexo de Cristo é levar um raio de esperança aos corações entristecidos. Ser reflexo de Cristo é levar um sorriso gratuito numa sociedade violenta. Ser reflexo de Cristo é saber apreciar o lado bom das coisas e das pessoas e entender que nem tudo é relativo, pois existe o Absoluto: Deus. Ser reflexo de Cristo é encontrar o sentido da vida a partir da luz da Palavra de Deus. Sejamos como vela. Ela se consome iluminando a circunstância. A vida de uma vela dura pouco tempo, mas é suficiente para espantar a escuridão e mostrar o caminho a seguir. Neste mundo todos os cristãos são vozes vivas de Cristo para os outros e são luzes para apontar o caminho certo a ser trilhado.
P. Vitus Gustama,svd

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