sábado, 19 de setembro de 2020

26/09/2020-TEMPO PARA FAZER O BEM

VIVER FAZENDO O BEM ENQUANTO O TEMPO É DADO A CADA UM DE NÓS

Sábado da XXV Semana Comum

Primeira Leitura: Ecl 11,9-12,8

11,9 Alegra-te, jovem, na tua adolescência, e que o teu coração repouse no bem nos dias da tua juventude; segue as aspirações do teu coração e os desejos dos teus olhos; fica sabendo, porém, que de tudo isso Deus te pedirá contas. 10Tira a tristeza do teu coração, e afasta a malícia do teu corpo, pois a adolescência e a juventude são vaidade.12,1 Lembra-te do teu Criador nos dias da juventude, antes que venham os dias da desgraça e cheguem os anos dos quais dirás: “Não sinto prazer neles”; 2 — antes que se obscureçam o sol, a luz, a lua e as estrelas, e voltem as nuvens depois da chuva; 3quando os guardas da casa começarem a tremer, e se curvarem os homens robustos; quando as poucas mulheres cessarem de moer, e ficarem turvas as vistas das que olham pelas janelas 4e se fecharem as portas que dão para a rua; quando enfraquecer o ruído do moinho, e os homens se levantarem ao canto dos pássaros, e silenciarem as vozes das canções, 5e houver medo das alturas e sobressaltos no caminho, enquanto a amendoeira floresce, o gafanhoto se arrasta e a alcaparra perde o seu gosto, porque o homem se encaminha para a morada eterna, e os que choram já rondam pelas ruas; 6— antes que se rompa o cordão de prata e se despedace a taça de ouro, a jarra se parta na fonte, a roldana se arrebente no poço, 7— antes que volte o pó à terra, de onde veio, e o sopro de vida volte a Deus que o concedeu. 8 Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, tudo é vaidade.

Evangelho: Lc 9, 43-45

Naquele tempo, 43bTodos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia. Então Jesus disse a seus discípulos: 44“Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. 45Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido, de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.

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Viver a Vida Dignamente Como Dom De Deus

Lembra-te do teu Criador nos dias da juventude, antes que venham os dias da desgraça e cheguem os anos dos quais dirás: ‘Não sinto prazer neles’; antes que se obscureçam o sol, a luz, a lua e as estrelas, e voltem as nuvens depois da chuva” (Ecl 12,1-2).

Estamos no final do livro de Eclesiastes (Qohelet).  Hoje terminamos nossa meditação sobre o livro. Sobre este final, um dos especialistas em Antigo Testamento, Luís Alonso Schökel, comentou: “Aproximando-se do final de seu livro, o autor adota um tom lírico, melancólico, como um adeus à vida. Apesar dos limites e dos desenganos, ama intensamente a vida, sente-se mais entranhadamente quando vê que ela acabará. Luz e sol são temas simbólicos. Que a lembrança da noite que se aproxima torne mais intenso o desfrute do que resta. A morte, a noite, se antecipa em vida, num crepúsculo que é vida misturada com morte: por isso, é preciso desfrutar a juventude, que é meio dia, o sol no zênite, antes que seja tarde demais. O julgamento de Deus não significa castigo por ter  desfrutado; ao contrário: quem não aproveitar o prazo prestará contas de sua negligência”.

O livro de Eclesiastes termina com um belíssimo epílogo cheio de simpatia. A comunidade judaica e a comunidade cristã, ao aceitar o Eclesiastes como livro canônico (oficial), reconhecem o valor de umas palavras que fazem pensar, o valor de um homem que teve como primeira ilusão ajudar a fazer o raciocínio, que descobre no autoritarismo um sinal de debilidade e sabe que as ideias não necessitam do apoio da força. Utilizar o cérebro significa ir em busca do sentido da vida, ainda que isto gere dor. O autor de Eclesiastes repete o convite final: “Teme a Deus e guarda seus mandamentos, porque isso é ser homem; pois Deus julgará todas as ações, também as ocultas, boas e más” (Ecl 12,13-14).  Somente Deus permanece em um eterno presente, como enfatiza o Salmo Responsorial, implicitamente, ao falar do homem como um sopro (Sl 143/144). Algum dia terminará nossa peregrinação por este mundo, que passará com todas as lutas pela justiça e liberdade, de esforços por conquistar a paz e a felicidade.

Nesta parte conclusiva do Eclesiastes reaparece o tema da vaidade ou a inconsistência da vida: convite a saber viver a vida durante a juventude e constatação  da tristeza da velhice. Reaparece a forma de tese e antítese, a tensão constante entre a alegria e a tristeza, entre o otimismo e o pessimismo, entre a luz e a sombra, entre o gozosa beleza de viver a vida em flor e desconsolada visão da vaidade ou inconsistência de uma vida que se acaba. Muitos dizem : “Pena que a vida acaba!”.

Até o último momento, nosso autor faz gala de um sutil “ironia” que lhe permite perceber as incongruências da existência humana. Mas sua ironia é criadora, pois ele busca a correção e não a destruição; ele quer ensinar a atualizar a atualidade, isto é, o momento presente aberto ao futuro, eliminando os anacronismos  paralisantes, pois sempre tem-se a tentação de  se ficar parado em algo pontual da vida, em vez de olhar para o seu conjunto. A vaidade ou a inconsistência que o Eclesiastes denuncia é algo muito próximo da idolatria. Sua ironia não destrói aniquilando o incongruente  e sim  que constrói  tratando de integrá-lo na racionalidade. Em outras palavra,  o homem deve estar preparado para receber o dom que Deus lhe dá. O tempo é dom de Deus. Por isso, é possível reconhecer Deus, Doador de todos os dons, no tempo dado ao homem.  E o dom tem finalidade para edificar a vida humana. Logo, o tempo deve ser aproveitado para construir dignamente a vida humana. Ninguém pode deixar o tempo fluir sozinho. Cada um, a partir de suas possibilidades, deve valorizar o tempo que está sempre fugindo a fim de melhorar cada vez mais a própria vida e a vida das pessoas ao redor.

Diante da fugacidade do tempo que representa ser jovem, o Pseudo-Salomão recorda que o gozo da vida somente terá sentido se está emoldurado  no temor de Deus e este temor deve acontecer desde já antes que o sol e a lua obscureçam e antes que as nuvens e a chuva voltem.

Os jovens já podem começar a ser sábios se são capazes de aproveitar a vida e vive-la em plenitude, mas responsavelmente. Eles darão conta de sua vida diante de si mesmos, e diante de sua família, e diante da comunidade, e diante de seu próprio futuro, e, finalmente, diante de Deus. “Teme a Deus e guarda seus mandamentos, porque isso é ser homem; pois Deus julgará todas as ações, também as ocultas, boas e más” (Ecl 12,13-14).  

Sacrificar-se Para o Bem De Todos Como Jesus Que Passou a Vida Fazendo o Bem

Todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia”.

Nós nos encontramos no quadro de instruções finais de Jesus na Galiléia. Jesus mostra claramente aqui o sentido da própria missão e a daqueles que querem segui-Lo. Segundo o plano do seu evangelho, o evangelista Lucas termina assim as atividades de Jesus na Galileia (Lc 4,14-9,50). Daqui em diante Jesus vai começar seu caminho ou seu êxodo para Jerusalém onde ele será crucificado, morto e glorificado.

O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. O título “Filho do Homem” se encontra seu sentido em Dn 7,13-14 e “vai ser entregue” em Is 53,2-12. O sofrimento de Jesus é causado pelos homens do templo e do poder.

Para o evangelista Lucas, este é o segundo anúncio da Paixão de Jesus e o situa no momento em que “Todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia”. Esta admiração surge no momento em que Jesus curou um menino da epilepsia (Lc 9,37-43) e fez outros sinais. E Lucas registrou que esse menino era filho único. Esse filho único se refere a Jesus, Filho único do Pai (cf. Mt 21,33-46). Através desse menino Jesus está falando de Si próprio. A cura do menino antecede o segundo anúncio da Paixão do Filho único do Pai.

Neste anúncio Jesus quer revelar que sua vida é um sacrifício para o bem de todos. Jesus pensa somente na salvação sem fugir das consequências trágicas. Ele se sacrifica como uma vela que se consome aos poucos iluminando seu redor.

Lucas nos relatou que os discípulos não entenderam o sentido desse anúncio. Em outras ocasiões os evangelistas descrevem os motivos dessa incompreensão: os seguidores de Jesus tinham em sua cabeça um messianismo político, com vantagens materiais para eles mesmos, e discutiam sobre quem ia ocupar os postos de honra e quem ficaria do lado direito ou do lado esquerdo de Jesus. A cruz não entrava em seus planos. Eles queriam seguir a Jesus pelas próprias vantagens e não pela vida dedicada em prol da salvação de todos.

Os discípulos não entendem que este é o maior ato de amor e o maior sentido da vida. O resultado dessa incompreensão será contado no seguinte episódio em que haverá a disputa sobre a primazia no grupo (Lc 9,46-48).

Todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia”. Jesus desperta realmente admiração por seus gestos milagreiros e pela profundidade de suas palavras. Deste tipo de Jesus gostamos também e não somente os primeiros discípulos de Jesus. Mas não entendemos, como os primeiros discípulos, o Jesus Servidor, o Jesus que lava os pés dos discípulos, o Jesus que se entregou à morte para salvar a humanidade, o Jesus que se aproxima do pecador para dialogar, o Jesus que faz refeição com os pobres e pecadores. Queremos apenas o consolo e o prêmio e não o sacrifício e a renúncia. Preferiríamos que Jesus não nos dissesse: “Quem quer me seguir renuncie a si mesmo, tome sua cruz de cada dia e me siga”.

Mas ser seguidor de Jesus pede radicalidade e não podemos crer num Jesus que O fazemos a nossa medida. Ser colaborador de Jesus na salvação do mundo exige seguir Seu mesmo caminho que passa através da cruz e da entrega. É sofrer com Jesus para salvar o mundo.

Vale a pena cada um fazer um exame sério de consciência sobre o texto do evangelho de hoje a partir da vocação e da função que cada um tem na Igreja ou em uma comunidade. Como sacerdote ou religioso/ religiosa, qual meu motivo para ser sacerdote ou para ser religioso/religiosa? Será que eu procuro a vocação religiosa e sacerdotal em função da segurança institucional e não como paixão pela vida de Cristo dedicada pela salvação de todos? Será que o pensamento de querer ser sacerdote ou religioso (a) carreirista tem como motor da minha ambição? Como leigo ou leiga, qual meu motivo verdadeiro para trabalhar na minha comunidade? Há alguma vantagem pessoal escondida atrás dessa atividade, ou por que eu quero ser outro Cristo na minha comunidade? Mas será que eu levo a sério o motivo de ser outro Cristo com todas as suas conseqüências na minha comunidade?

É preciso que não tenhamos medo de nos gastar pelas causas e pelos grandes ideais de Jesus, pois por este caminho é que haverá a vida glorificada, a vida ressuscitada. Como cristãos, não podemos viver e conviver inutilmente nem podemos, conseqüentemente, morrer inutilmente. A vida dedicada pelo bem de todos jamais morre. É estar com Cristo. E estar com Cristo significa não parar de existir. Este é o ideal do ser do cristão.

Creio que uma vida só pode chegar à sua plenitude, se a enchermos de uma série de certezas ou convicções profundas. No fundo tudo se reduz a uma questão de amor: amar e ser amado. Do contrário, somente há sempre o mesmo resultado: destruição, sofrimento, opressão, injustiça, deslealdade, traição, exploração e assim por diante. Uma vida significativa é feita de uma série de pequenos atos diários de decência e bondade, que quando somados no final, resultam, paradoxalmente, em algo grandioso. Pela prática de atos justos, aprendemos a ser justos; pela prática de atos de autocontrole, aprendemos a ter autocontrole; e pela prática de atos de coragem, chegaremos a ser corajosos. A nossa vida relativamente curta, neste mundo, é apenas faísca na tela da eternidade. Jesus viveu mais ou menos apenas 33 anos de vida. No entanto ele conseguiu influenciar o mundo inteiro. A vida passa, pois há um tempo para cada coisa. Você já imaginou que quanta coisa boa que você poderia fazer agora mesmo em favor da humanidade? Isto é seu tempo de milagres. E você pode, independentemente de sua idade, etnia, profissão e religião.

Não se arrependa por você ter dado o melhor de si, mesmo que você sofra algum desentendimento ou alguma ofensa por ter feito uma coisa boa na sua vida. Agindo assim, sua vida se transformará. Se você não se impuser à vida, ela se imporá a você. Lembre-se de que os dias transformam-se em semanas, as semanas em meses e os meses em anos. Quando menos se espera, tudo chega ao fim, e você se vê sem nada além de um coração ressentido por uma vida vivida pela metade. Comece a ser a pessoa que você realmente é, fazendo o possível para enriquecer o mundo à sua volta. A bondade é simplesmente o aluguel que devemos pagar pelo espaço que ocupamos neste planeta.

P. Vitus Gustama,svd

 

Para Refletir

“Há ideais que nos ajudam a viver e a crescer,

Porque nos aproximam do melhor de nós mesmos,

E há ideais que nos paralisam

Porque nos fazem correr atrás de miragens inalcançáveis.

 

Um verdadeiro ideal nunca é plenamente alcançado,

Mas ajuda a caminhar toda a vida.

 

Viver sem um ideal é como viver sem sentido

E caminhar sem objetivos.

 

Muito homens correm toda a vida para ter coisas,

Porque não sabem o que querem ser.

E você, sabe?”

(Autor: René Juan Trossero)

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