quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Domingo, 13/09/2020: PERDÃO MÚTUO

PARA AMAR DE VERDADE TEMOS QUE APRENDER A PERDOAR SEMPRE

XXIV Domingo Comum Do Ano Litúrgico A

 

                            Evangelho de hoje (Mt 18,21-35) - Egídio Serpa | Egídio Serpa - Diário do  Nordeste     

                            A parábola do credor incompassivo | Estudos Bíblicos Teológicos Evangélicos     

I Leitura: Eclo 27,33- 28,9

33 O rancor e a raiva são coisas detestáveis; até o pecador procura dominá-las. 28,1 Quem se vingar encontrará a vingança do Senhor, que pedirá severas contas dos seus pecados. 2 Perdoa a injustiça cometida por teu próximo; assim, quando orares, teus pecados serão perdoados. 3 Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura? 4 Se não tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão dos seus pecados? 5 Se ele, que é um mortal, guarda rancor, quem é que vai alcançar perdão para os seus pecados? 6Lembra-te do teu fim e deixa de odiar; 7 pensa na destruição e na morte, e persevera nos mandamentos. 8 Pensa nos mandamentos, e não guardes rancor ao teu próximo. 9 Pensa na aliança do Altíssimo, e não leves em conta a falta alheia!

 

II Leitura - Rm 14,7-9

Irmãos: 7 Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. 8 Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor. 9 Cristo morreu e ressuscitou exatamente para isto, para ser o Senhor dos mortos e dos vivos.

 

Evangelho: Mt 18,21-35

Naquele tempo, 21Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” 22Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Porque o Reino dos Céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. 24Quando começou o acerto, levaram-lhe um que lhe devia uma enorme fortuna. 25Como o empregado não tivesse com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. 26O empregado, porém, caiu aos pés do patrão e, prostrado, suplicava: ‘Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo!’ 27Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida. 28Ao sair dali, aquele empregado encontrou um de seus companheiros que lhe devia apenas cem moedas. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Paga o que me deves’. 29O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: ‘Dá-me um prazo, e eu te pagarei!’ 30Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia. 31Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão e lhe contaram tudo. 32Então o patrão mandou chamá-lo e lhe disse: ‘Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. 33Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’ 34O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. 35É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”.

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Um olhar Geral Para As Leituras Deste Domingo

 

O perdão é o tema que sobressai nas leituras deste Domingo. O texto do Livro de Eclesiástico, que lemos na Primeira Leitura, nos fala da atitude que o israelita deveria adotar diante do ofensor. O texto sagrado (Primeira Leitura) antecipa, de algum modo, a petição do Pai Nosso no evangelho: Perdoai-nos as nossas ofensas como também perdoamos aos que nos ofenderam. O autor do Eclesiástico considera a inevitável caducidade da vida terrena, a morte dos viventes e a conseguinte corrupção ou decomposição. Esta meditação faz o autor do Eclesiástico ver que é vão adotar uma atitude de ira e de vingança em relação ao nosso próximo. Que misericórdia seremos capazes de pedir a Deus no Dia do Juizo, se nós mesmos nunca oferecemos esta misericórdia aos demais homens? Por isso, a vingança, a ira e o rancor são coisas de pecadores e por isso, não cabem em um homem crente. A postura sábia, pelo contrário, consiste em frear a ira, observar os mandamentos e recordar a Aliança do Senhor. A ideia que subjaz é profunda: aquele que não perdoa as ofensas recebidas, não receberá a remissão de seus pecados. No texto de Eclesiástico fica definitivamente anulada a lei de “talião”: olho por olhos, dente por dente. Existe uma atitude mais sábia de um homem que crê em Deus: é a atitude do perdão, não a da vingança justiceira.

 

No Evangelho de hoje, o tema se propõe novamente na parábola dos devedores insolventes. Jesus nos mostra que diante de Deus não há homem justo que esteja livre de débito/dívida. Se Deus em sua misericórdia  teve compaixão de nossas misérias, não devemos fazer o msmo em relação ao nosso próximo? No fundo, trata-se de ser imitadores de Cristo, pois diante de seus inimigos não tem outra palavra senão o perdão: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). Somente o perdão pode apagra a sede de vingança e abrir o coração para uma reconciliação autentica e duradoura.

 

O texto da Carta aos Romanos que lemos na Segunda Leitura, por sua vez, nos apresenta a soberania de Cristo, Senhor dos vivos e dos mortos. Se vivemos, vivemos para o Senhor, se morremos para o Senhor que morremos. Nós não podemos nos constituir em donos da vida e da morte nem tampouco em juízes de nossos irmãos.

 

Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos”. É profunda a afirmação de são Paulo em sua Carta aos Romanos. Tudo isto quer dizer que todo o acontecer humano deve ser valorizado em função de nossa pertença a Cristo. Se vivemos e morremos para Cristo, então todos os acontecimentos cotidianos têm seu sentido por causa de nossa pertença a Cristo. Não há nada que aconteça por acaso. Tudo encontra seu sentido em Cristo Jesus, pois somente Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história. Só é possível entender a verdade sobre o homem sob a luz do Verbo Encarnado, porque Deus elevou o homem para a participação da natureza divina. Quem desejar compreender a fundo sua própria existência, ou a existência humana em geral, deverá dirigir-se com toda sua capacidade, com todo seu ser e possibilidades a Cristo Redentor. Pois, “Cristo morreu e ressuscitou exatamente para ser o Senhor dos mortos e dos vivos”.

 

Tudo  o que foi dito quer nos dizer que devemos aprender a perdoar, perdoando. O Papa João Paulo II nos disse: “Na verdade, o perdão é primariamente uma decisão pessoal, uma opção do coração que vai de encontro ao instinto espontâneo de devolver o mal com o mal. Tal opção tem o seu termo de comparação no amor de Deus, que nos acolhe apesar do nosso pecado, e o seu modelo supremo no perdão de Cristo que do alto da cruz rezou: ‘Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem: Lc 23, 34’” (Mensagem Para A Celebração Do XXXV Dia Mundial Da Paz 1° De Janeiro De  2002).

             

O Homem É Perdoado Por Deus Para Perdoar Os Demais Homens, Em Consequência

 

O rancor e a raiva são coisas detestáveis; até o pecador procura dominá-las. Quem se vingar encontrará a vingança do Senhor, que pedirá severas contas dos seus pecados. Perdoa a injustiça cometida por teu próximo; assim, quando orares, teus pecados serão perdoados”, assim lemos na Primeira Leitura tirada do livro de Eclesiastico.

 

Na Bíblia há dois atributos básicos de Deus que são a justiça e a misericórdia. Na Bíblia Deus usa muito mais a misericórdia do que a justiça. Por isso, o Papa Bento XVI escreveu na sua encíclica: “O amor apaixonado de Deus pelo seu povo — pelo homem — é ao mesmo tempo um amor que perdoa. E é tão grande, que chega a virar Deus contra Si próprio, o seu amor contra a sua justiça. Nisto, o cristão vê já esboçar-se veladamente o mistério da Cruz: Deus ama tanto o homem que, tendo-Se feito Ele próprio homem, segue-o até à morte e, deste modo, reconcilia justiça e amor” (Deus Caritas Est n.10). “Agora o amor já não é apenas um ‘mandamento’, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro” (Idem n.1b).

 

Segundo o autor do Eclesiastico, os que se vingarem contra os outros (cf. Eclo 27,30-28,1), terão que encarar a justiça de Deus. Sobre esta mesma dinâmica podemos entender a mensagem da parábola que lemos no evangelho de hoje (Mt 18,23-35), que fala da importância do perdão prolongado ou estendido, isto é, ao receber o perdão de Deus, o homem tem a obrigação de perdoar os outros. Os que procuram ou suplicam a misericórdia de Deus devem estar dispostos a ser misericordiosos para com os demais homens: “Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). A misericórdia praticada ou vivida em relação aos demais evita até o julgamento de Deus, como escreveu São Tiago: “O julgamento será sem misericórdia para aquele que não pratica a misericórdia. A misericórdia, porém desdenha o julgamento” (Tg 2,13).

 

O valor real da ajuda ao inimigo em sua necessidade (Ex 23,4s; Pr 25,21) não se deconhece totalmente no Antigo Testamento. Em nosso texto da Pimeira Leitura se recusa expressamente o espirito vingativo e se promete o perdão aos que sabem perdoar. Nele se antecipa já o que se diz na petição do Pai-Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6,12; cf. Mc 11,25s; Lc 6,37).

 

Se Deus Nos Ama Incondicionalmente, Então Não Devemos Limitar Nosso Perdão Aos Demais

 

Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete, deves perdoar o teu irmão”, é a resposta de Jesus à pergunta de Pedro sobre quantas vezes deve perdoar o irmão que peca.

         

O Evangelho deste Domingo é a segunda parte do Sermão sobre a Igreja (Discurso sobre a vida cominitária).

 

Um dos maiores desafios para quem vive em comunidade ou em qualquer tipo de convivência, como também na comunidade de Mt, é o perdão. A sobrevivência de qualquer comunidade humana ou de qualquer convivência depende da capacidade que seus membros têm de perdoar. Sem isto, não há comunidade ou convivência que possa subsistir por muito tempo. O perdão refaz as pontes, encurta as distâncias e desarma os espíritos. Quando a pessoa não perdoar, ela se torna refém do próprio ódio ou rancor, e consequentemente perde a liberdade. O perdão é que possibilita a própria existência e a continuação da comunidade ou de uma convivência. Sem perdão não existe vida fraterna, vida conjugal, vida familiar ou vida comunitária. E de modo especial, devemos estar sempre conscientes de que a comunidade cristã (ou qualquer convivência humana) é constituída de homens ao mesmo tempo santos e pecadores e que só continuam vivos porque Deus renuncia à vingança. Se Deus respondesse às ofensas humanas, às nossas ofensas, eliminando o pecador, sem dúvida nenhuma, boa parte da humanidade deveria desaparecer. Por que nós, seres humanos pecadores temos tanta dificuldade de perdoar, enquanto Deus que é santo tem a facilidade de perdoar? Será não chegamos nem um pouco à santidade de Deus a qual todos nós somos chamados? (Cf. Mt 5,48). Isto nos leva a perguntar ou questionar sobre a autenticidade de nossa vida espiritual. Os exercícios da vida espiritual: as orações, as leituras e as meditações sobre a Palavra de Deus, as missas celebradas ou participadas, têm transformado nossa convivência para uma convivência mais fraterna?

           

Na primeira parte do Evangelho deste domingo fala-se da pergunta de Pedro sobre quantas vezes deve perdoar(v.21). A segunda parte é a resposta de Jesus a essa pergunta que se segue com uma parábola(vv.22-34). E termina com a conclusão da parábola(v.35) que fala da correspondência entre o perdão dado e o perdão recebido.

          

Os judeus diziam que o máximo de vezes a perdoar era quatro. E quem perdoava sete vezes já era considerado santo. Pedro é generoso porque ele eleva o número para sete, pensando chegar ao ideal de Jesus.

          

Mas qualquer que seja o motivo que leva Pedro a fazer sua pergunta ou a elevar o número quatro para o sete, uma coisa é certa: ele quer como os judeus na época, que Jesus confirme a existência de um limite no exercício da caridade cristã, especialmente no perdão. É confortador saber quando e onde se pode, com tranqüila consciência, ignorar injunções da caridade cristã, pois é mais interessante saber quando cessam do que onde começam tais obrigações. Parece, de fato, mais que justo que em certo momento possamos dizer: “Basta! Afinal somos homens! Não agüento mais! “Isto nos indica que nós queremos ser o eco do nosso ambiente ou queremos repetir o pensamento de Pedro. Jesus, porém, nos diz que devemos ser o eco daquilo que Deus fez por nós.  O perdão é o espaço que nos damos para nos deixar crescer e transformar. É abrir o futuro para nós mesmos e para o nosso semelhante. E ninguém é homem pelo fato de poder “explodir”, mas pelo fato de poder desenvolver em si e transmitir aos outros aquilo que Deus nos deu. Assim o perdão não é apenas uma exigência moral, mas o testemunho visível da reconciliação de Deus operando em cada um de nós. Por que a lei do perdão é vinculante, e não facultativa: é como um contrato firmado com o sangue de Cristo. Depende de mim ratificá-lo, derramando sobre os meus semelhantes aquilo que Deus me deu. Por isso, quando alguém perdoa o semelhante, na verdade, ele está agindo em conformidade com Deus que concede prodigamente o seu perdão ao ser humano.

           

Se Pedro pergunta se só até sete vezes perdoa, Jesus enfatiza o perdão sem limite:70 vezes sete(v.22). Na verdade é uma alusão a Gn 4,24(cântico de Lamec): “Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta e sete”.  Os LXX traduziram mal o texto hebraico, mudando 77 por setenta vezes sete. O perdão deve estender-se até onde chegou a dor ou o desejo de vingança. Em outras palavras, o perdão deve ser proporcional à dor que sentimos causada por nosso semelhante ou ao desejo de vingança que temos contra quem nos fez mal. Este é o perdão de coração como diz o Evangelho de hoje.

          

Só é capaz de agir assim quem tem o coração repleto da misericórdia de Deus. Pois o modelo inspirador da ação cristã é a misericórdia.

        

A parábola do devedor implacável serve de conclusão do perdão sem limite de Deus para quem peca ou para todos nós, pecadores. O interesse de Jesus em contar esta parábola é destacar um fato: a enorme distância que existe entre o coração de Deus e o coração humano. Na parábola tudo parece desproporcional. A dívida do empregado nesta parábola é a de dez mil talentos (= cem milhões de denários). Cem mil era o maior número com que se contava e o talento era a maior unidade monetária em todo Oriente Médio. Este número (dez mil talentos), na época de Jesus, correspondia a duzentos mil anos de trabalho de um operário; operário nenhum no mundo jamais teve tanto dinheiro. Este número tem a finalidade de mostrar a imensidão da misericórdia de Deus. Porque para Deus não há pecado algum que Ele não perdoe e não há pecado algum maior do que o Seu amor. E Deus quer os seus filhos(as) perdoem como ele sempre os perdoe.

         

Em contraste com a bondade inesgotável de Deus, há ao invés, a mesquinhez do coração do homem, que não sabe perdoar as menores ofensas. Isto se mostra através da crueldade do devedor perdoado para com seu semelhante. Ele não quer saber do seu semelhante que tem apenas pequena dívida e manda prendê-lo até que pague essa pequena dívida. Isto quer dizer que ele foi embora feliz sem nenhuma transformação no seu coração. Ao saber da crueldade desse empregado miserável, na sua indignação o rei manda prendê-lo para ser torturado até que pague toda a sua dívida(v.34).

          

Jesus conclui a parábola dizendo: “É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”(v.35 cf. Mt 6,15). Muitas pessoas não percebem que, cada vez que insistem em não perdoar, em guardar ira, ódio e rancor no coração, estão indo para o túmulo mais cedo. “O ódio é uma coisa morta. Quem de vocês quer ser uma tumba?”(Kahlil Gibran). Se não somos capazes de perdoar, tampouco podemos receber o perdão, pois o perdão recebido é o perdão dado. Além disso, se não perdoarmos como Deus nos perdoou, estamos deixando que a amargura, o ódio, rancor e raiva se instalem em nós de maneira a envenenar nossa vida e esses sentimentos podem destruir nossa vida, uma comunidade inteira e uma família toda.

          

O ensinamento da parábola, portanto, é claro: os cristãos são filhos de Deus, por isso devem ter um coração grande como o de Deus. Porque quando o amor é grande qualquer defeito torna-se menor, já que o amor tudo pode. Mas os erros são grandes quando o amor é pequeno.

          

Por isso, perdoar não é uma atitude para gente fraca. A vingança é que o prazer do ofendido e o ódio rancoroso é o único refúgio do mais fraco. Quando se odeia alguém, o que se quer, no fundo, é que ele sofra e até se fica satisfeito com seus sofrimentos. O difícil, o que demonstra fortaleza, magnanimidade de espírito, maturidade humana e cristã não é vingar-se, mas perdoar e romper a espiral da violência pelo amor sincero e reconciliador. Por isso, uma das experiências mais sublimes é a experiência de perdoar e ser perdoado.

          

A falta da compaixão para com o semelhante, a dificuldade de perdoar o semelhante nos revela a nós mesmos que existe em nós um instinto de perversidade e nos faz descobrir um eu hostil, atraído pelo mal. Isto quer dizer que existe violência em nosso coração e seria ingênuo e perigoso negá-lo. Perdoar, neste sentido, significa abandonar os desejos sutis de vingança, é renunciar a fazer justiça em causa própria.

          

Quem perdoa e é perdoado hoje, sempre tem possibilidade de voltar a pecar amanha, porque nossa fidelidade a Deus pode não ser definitiva. No entanto, sempre que nos convertermos e voltarmos arrependidos, encontraremos um Pai bondoso e misericordioso para nos acolher e perdoar. A simples consciência da imensidade do perdão recebido de Deus deveria ser suficiente para motivar cada um de nós a perdoar. Ao contrário, a insensibilidade em relação ao dom recebido de Deus torna impossível a concessão de perdão ao semelhante.

        

Um homem escreveu: “Quereis ser feliz por um instante? Vingai-vos! Quereis ser feliz para sempre? Perdoai!” (Henri Ladordaire).

          

Será que somos felizes para sempre? Ou será que tem ainda alguém que ainda não perdoamos? Se for assim, vamos ouvir novamente o que disse Jesus no Sermão da Montanha: “...se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; e depois virás apresentar a tua oferta” (Mt 5,23-24).

          

Vamos refletir um pouco sobre as palavras de J. F. Kennedy: “Perdoe seus inimigos, mas não esqueça seus nomes”. É isto que se chama perdão? Ao perdoar, não nos esquecemos; lembramos de maneira diferente. Apagar parte de nossa memória é apagar parte de nossa identidade como pessoas. Lembramo-nos agora de uma maneira que não transmite rancor nem ressentimento pelo que foi feito. Lembramo-nos agora a partir da perspectiva de Deus, por assim dizer, por causa da graça da reconciliação. A lembrança agora é construtiva. O perdão torna-se, assim, o caminho de libertação. O passado não é capaz mais de nos prender, pois a nossa lembrança se torna construtiva.

 

Deixemos hoje as seguintes interrogações que podem complementar a interrogação de Pedro:

 

1). Eu em relação aos outros no perdão:

Quantas vezes eu tenho que perdoar os outros? O que é que eu tenho que perdoar nos outros? Eu devo colocar o limite para o perdão que eu devo dar aos outros?

 

2). Os outros em relação a mim no perdão:

Quantas vezes os outros devem me perdoar? O que devem me perdoar? Os outros devem colocar o limite para o perdão que eles devem me dar?

P. Vitus Gustama,svd

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