domingo, 4 de abril de 2021

Quinta-feira Na Oitava Da Páscoa,08/04/2021

O SENHOR DÁ A PAZ E ABRE NOSSA INTELIGÊNCIA  QUANDO SEU NOME É ASSUNTO DE NOSSA CONVERSA

Quinta-Feira Na Oitava da Páscoa

 


Primeira Leitura: At 3,11-26

Naqueles dias, 11 como o paralítico não deixava mais Pedro e João, todo o povo, assombrado, foi correndo para junto deles, no chamado “Pórtico de Salomão”. 12 Ao ver isso, Pedro dirigiu-se ao povo: “Israelitas, por que vos espantais com o que aconteceu? Por que ficais olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar com nosso próprio poder ou piedade? 13 O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus de nossos antepassados glorificou o seu servo Jesus. Vós o entregastes e o rejeitastes diante de Pilatos, que estava decidido a soltá-lo. 14 Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes a libertação para um assassino. 15 Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas. 16 Graças à fé no nome de Jesus, este Nome acaba de fortalecer este homem que vedes e reconheceis. A fé que vem por meio de Jesus lhe deu perfeita saúde na presença de todos vós. 17 E agora, meus irmãos, eu sei que vós agistes por ignorância, assim como vossos chefes. 18 Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer. 19 Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados. 20 Assim podereis alcançar o tempo do repouso que vem do Senhor. E ele enviará Jesus, o Cristo, que vos foi destinado. 21 No entanto, é necessário que o céu o receba, até que se cumpra o tempo da restauração de todas as coisas, conforme disse Deus, nos tempos passados, pela boca de seus santos profetas. 22 Com efeito, Moisés afirmou: ‘O Senhor Deus fará surgir, entre vossos irmãos, um profeta como eu. Escutai tudo o que ele vos disser. 23 Quem não der ouvidos a esse profeta, será eliminado do meio do povo’. 24 E todos os profetas que falaram, desde Samuel e seus sucessores, também eles anunciaram estes dias. 25 Vós sois filhos dos profetas e da aliança, que Deus fez com vossos pais, quando disse a Abraão: ‘Através da tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra’. 26 Após ter ressuscitado o seu servo, Deus o enviou em primeiro lugar a vós, para vos abençoar, na medida em que cada um se converta de suas maldades”. 

Evangelho: Lc 24,35-48

Naquele tempo, 35os discípulos contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. 36Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!” 37Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma. 38Mas Jesus disse: “Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? 39Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. 40E dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés. 41Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” 42Deram-lhe um pedaço de peixe assado. 43Ele o tomou e comeu diante deles. 44Depois disse-lhes: “São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. 45Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, 46e lhes disse: “Assim está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia 47e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48Vós sereis testemunhas de tudo isso”.

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Reconhecer-se Pecador Para Que o Poder de Deus Possa Atuar-se

Israelitas, por que vos espantais com o que aconteceu? Por que ficais olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar com nosso próprio poder ou piedade?”. Assim fala Pedro aos israelitas depois que o paralítico voltou a andar. Pedro é sempre quem toma a palavra em nome do grupo dos discípulos.

Depois da cura do paralítico (veja a Primeira Leitura do dia anterior), Pedro aproveita a boa disposição do povo para dirigir-lhes uma nova catequese sobre Jesus em cujo nome curou o paralítico. Trata-se da segunda proclamação ou da apresentação do anúncio (Querigma) bem semelhante à anterior (Cf. At 2,22ss).  Seus ouvintes são judeus. Por isso, Pedro argumenta a partir do AT, isto é, a partir dos anúncios de Moisés e dos profetas mostrando a “continuidade” entre “Deus de nossos pais” e os acontecimentos atuais. O discurso de Pedro ajuda os ouvintes a lerem a história como História de Salvação que culmina em Cristo Jesus, e depois da vinda do Espirito Santo, na constituição da comunidade messiânica reunida em torno do Senhor Ressuscitado, Autor da vida. 

Este anúncio tem um objetivo bem claro: a necessidade e a urgência de conversão como condição sine qua non para acolher a oferta da salvação de Deus. A conversão é desviar-se do mal e voltar-se para Deus. É uma profunda mudança interior que envolve toda a pessoa humana. Uma volta para Deus com todo o coração, a mente e a alma. Afeta a razão e a vontade.

O Messias anunciado já veio e é o próprio Jesus de Nazaré a quem Israel recusou. Pedro interpela com uma linguagem muito direta aos judeus: “Vós o entregastes e o rejeitastes diante de Pilatos, que estava decidido a soltá-lo. Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes a libertação para um assassino. Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas”. Trata-se de uma coisa sínica: indultou ou perdoou a um assassino (Barrabás) e matou o Autor da Vida (Jesus de Nazaré)! Mas Pedro anuncia que através de sua ressurreição, Jesus se converteu num Salvador de todos e portanto todos têm que se converter a Ele: “Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados. Assim podereis alcançar o tempo do repouso que vem do Senhor...  Após ter ressuscitado o seu servo, Deus o enviou em primeiro lugar a vós, para vos abençoar, na medida em que cada um se converta de suas maldades”.

Por que ficais olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar com nosso próprio poder ou piedade?”, perguntou Pedro retoricamente aos judeus. Há pouco tempo Pedro negou ser discípulo de Jesus (Cf. Mt 26,69-75). Agora ele sabe que é pecador. Ele se reconhece pecador, nem mais piedoso nem mais santo do que qualquer pessoa. Por isso, com toda a humildade ele reconhece que o poder para fazer o paralitico voltar a andar não é seu poder. O poder que maneja procede de Cristo. Pedro está tão unido a Cristo a ponto de se tornar instrumento muito eficaz de Jesus para acontecer o milagre na vida do paralítico que voltou a andar. “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!”. Pedro sabe que com sua própria força, ele jamais poderia fazer nada de grandeza como este milagre. Ele tem somente Cristo em quem se apoia totalmente. Em nome de Jesus é que o paralítico voltou a viver uma vida de um homem normal com seu direito de ir e de vir livremente. 

Até neste ponto precisamos pedir ao Senhor a ajuda para que possamos exercer qualquer tarefa na Igreja do Senhor com humildade. A humildade faz todos nós reconhecermos nossos limites e limitações. Este reconhecimento torna-nos mais responsáveis naquilo que devemos fazer. A exemplo de Pedro precisamos nos apoiar sempre no Senhor Ressuscitado para que possamos ser seus instrumento eficaz para ajudar quem se encontra paralisado na vida, isto, aquele que perdeu o horizonte desta vida. Ser intermediário da graça de Deus significa deixar passar por nossas vidas os benefícios que Deus quer por meio de nós. Isto se chama “ministério”.

Coragem De Ser Testemunha Do Cristo Ressuscitado, Autor Da Vida 

Vós matastes o Autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas”, disse Pedro aos judeus.

Neste discurso Pedro enfatiza que a morte de Jesus foi o resultado da vontade dos judeus de tirá-lo para sempre da convivência. E a ressurreição de Jesus é uma resposta de Deus à condenação feita pelos judeus para mostrar que tudo que Jesus fez e disse era a vontade de Deus.

Aqui Pedro dá a Jesus um título pouco habitual: “Autor da Vida” (cf. Jo 1,1-4). O milagre sobre o paralítico que voltou a andar é um sinal de que Jesus é o Dono da vida, isto é, aquele que conduz o povo à liberdade e à salvação. Como Autor da Vida nenhum poder humano será capaz de destruir Jesus. Jesus continua a ser o Vitorioso, o Vivente por excelência. Por isso, vale a pena crer em Jesus se quisermos viver uma vida em abundância, uma vida divina que quando encontrar a morte, a supera. Comungar o Corpo do Senhor significa entrar em comunhão de Vida. Mas esta comunhão de vida transforma o comungante em defensor e protetor da própria vida e da vida alheia em qualquer instância e circunstâncias. Se Jesus é o Autor da Vida, isto significa a vida que tem em outra pessoa pertence ao Senhor. Agredir uma vida significa agredir o próprio Autor da vida. Tratar mal a uma vida significa tratar mal ao próprio Autor da vida. 

O texto do Evangelho de hoje nos mostra que Jesus continua vivo e vive entre os discípulos através do episódio de Emaús. Como Autor da vida, Jesus volta à vida.

É Preciso Deixar Jesus No Centro De Nossa Vida e Convivência Para Que A Paz Do Senhor Permaneça 

Ainda os discípulos estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: ´A paz esteja convosco! ´”

A cena do texto do evangelho lido neste dia é a continuação da cena do evangelho do dia anterior. O relato começa com o testemunho dos discípulos de Emaús, isto é, aqueles que em sua trajetória viveram a experiência pessoal do encontro com o Senhor ressuscitado no caminho e na fração do pão. É a experiência que enche seus corações e os impulsiona a anunciarem ou contarem a grande notícia de que Jesus vive e vive realmente.                         

Durante a partilha dessa experiência, Jesus aparece no meio deles e os saúda com o Shalom (paz): “A paz esteja convosco!”. 

Em que consiste a paz que Jesus nos oferece? A paz que o Senhor ressuscitado nos oferece não consiste na tranquilidade que se sente quando um está plácido e comodamente está sentado ou vive sem que ninguém ou nada o incomode. A paz de Cristo ressuscitado que nos oferece consiste em saber que somos amados, protegidos e compreendidos por Deus. Trata-se de uma relação harmoniosa com Deus, com o próximo, consigo próprio, e com a natureza.  Quando cada elemento ocupa seu próprio lugar e desempenha seu próprio papel responsavelmente, haverá a paz e ordem. Os discípulos recebem o Shalom do ressuscitado. Mas receber a paz de Deus não é suficiente. É preciso viver o Shalom, isto é, viver em harmonia com tudo e com todos. A harmonia sempre cria uma beleza. Harmonia é sintonia. As cores que se colocam harmoniosamente nos apresentam uma beleza admirável. Dizia Santo Agostinho: “Não basta ser pacifico. É necessário ser promotor da paz. Não basta estar disposto a perdoar ou ignorar os inimigos, é preciso amá-los e ter compaixão... Deves amar a paz sem odiar os que fazem a guerra” (Serm. 357,1). 

Na Eucaristia o Senhor se faz presente entre nós para nos manifestar todo o amor que ele nos tem. A partir desse amor é que Ele nos concede seu perdão e sua paz. Ao participar da Eucaristia, nós devemos nos sentir amados por ele. Por isso, a participação na Eucaristia nos compromete a darmos testemunho da vida nova que Deus infundiu em nós. Devemos, portanto, ser construtores da paz. Trata-se de uma paz que brota do amor sincero que nos faça próximos do nosso próximo em suas angustias e esperanças, como Jesus que aparece, repentinamente, no meio dos discípulos. 

Depois da ressurreição Jesus apareceu no meio dos discípulos que estavam com o medo. Mas sem dúvida nenhuma, o assunto entre eles era sobre Jesus. E Jesus tinha prometido aos discípulos: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou Eu no meio deles” (Mt 18,20). Cada conversa sobre Jesus e assuntos ligados a ele, Jesus está presente para dar o Shalom, a paz e para acalmar qualquer situação por fervente que ela pareça ser. Ele está presente para dar ajuda em cada conversa sobre ele e sobre os seus ensinamentos. Jesus aparece no momento em que a experiência individual começa a ser coletiva, comunitária em Jesus, sem destruir a experiência pessoal/individual. O Ressuscitado é a força que interpela à comunidade e é experiência de unidade. Por isso, desta vez, Jesus é reconhecido na comunidade reunida em Seu nome. 

A dúvida e o medo dos discípulos são evidentes, como em todas as aparições do Ressuscitado. E Jesus tem que acalmá-los: “Por que estais preocupados e por que tendes dúvidas no coração?”. Para acabar com a dúvida dos discípulos Jesus come com eles. Mas a comunidade deve ter algo para oferecer a Jesus, é algo que os alimenta diariamente: o peixe: “Tendes aqui alguma coisa para comer?”, pergunta-lhe Jesus. “Deram-lhe um pedaço de peixe assado”, comenta o evangelista Lucas. Será que temos algo a oferecer a Jesus ou somente pedimos algo de Jesus? O que devemos oferecer a Jesus é aquilo que nos sustenta e dignifica diariamente. A partir daquilo que oferecemos a Jesus é que podemos alimentar a multidão faminta de tudo. 

O fruto da presença de Jesus no meio dos discípulos que conversam sobre ele é a abertura do entendimento, o horizonte ampliado sobre a vida: “Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras”, assim comenta o evangelista Lucas. A inteligência nos capacita a resolvermos os problemas, pois a inteligência é o conjunto de funções psíquicas e psicofisiológicas que contribuem para o conhecimento, para a compreensão da natureza das coisas e do significado dos fatos. Estar aberto a Deus e conversar com Deus permanentemente nos leva a compreendermos tudo na nossa vida, pois o próprio Deus abrirá nossa inteligência.

Nós podemos também reconhecer Jesus na fração do pão eucarístico, na Palavra bíblica proclamada, meditada e partilhada, e na comunidade reunida em Seu nome partilhando o que se tem para quem é carente em tudo. Nós necessitamos, como a primeira comunidade, de uma catequese especial para que seja aberto nosso entendimento a fim de entendermos a vida e as coisas que acontecem nela, pois nada escapa do olhar de Deus quando deixamos que ele tenha espaço nas nossas conversas e quando seu lugar está bem no meio de nós. Em cada Eucaristia ele aparece no meio de nós e é o principal alimento no qual se encontra a força necessária para nossa vida. Ao se alimentar da Eucaristia, cada um deve se converter em força para os outros, especialmente para aqueles que não têm mais ânimo para lutar, pois estão céticos em tudo e sobre tudo na vida. Estas pessoas precisam escutar novamente a promessa infalível de Jesus: “No mundo vocês terão tribulações, mas tenha coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33b). Cada cristão deve se converter nesta frase: “Não tenha medo! Jesus venceu o mundo”. O cristão é aquele que acalma e serena os outros, pois ele sabe que está sempre com o Jesus ressuscitado. 

Com os olhos da fé na Fração do Pão e na força de sua Palavra é que saiamos da celebração para dar testemunho de Cristo na vida. Aos Apóstolos, a última palavra que lhes dirige é esta: “Vós sereis testemunhas de tudo isso”. Desde princípio, ser apóstolo é ser testemunha da ressurreição de Jesus Cristo (At 1,22). Ser cristão é ser testemunha de que viver a vida com Deus e com todas as suas consequências é uma vida vitoriosa, uma vida que não termina na morte, e sim na ressurreição com Jesus. Deus pode tardar, mas nunca falha. Atrás da cruz de Jesus está a vida sem fim. Precisamos ter um olhar penetrante além dos sentidos para entender o recado de Deus.

P. Vitus Gustama,svd

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