segunda-feira, 12 de julho de 2021

Terça-feira Da XVI Semana Comum,20/07/2021

TRANSFORMAR A FAMILIA HUMANA EM FAMÍLIA DE DEUS

Terça-feira da XVI Semana Comum

Primeira Leitura: Ex 14,21-15,1

Naqueles dias, 21 Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez recuar o mar com um vento forte de oriente toda a noite, e pôs o mar a seco. As águas dividiram-se, 22 e os filhos de Israel entraram pelo meio do mar, por terra seca, e as águas eram para eles um muro à sua direita e à sua esquerda. 23 Os egípcios perseguiram-nos, e todos os cavalos do faraó, os seus carros de guerra e os seus cavaleiros, entraram atrás deles para o meio do mar. 24 E aconteceu que, na vigília da manhã, o Senhor olhou da coluna de fogo e de nuvem, para o acampamento dos egípcios, e lançou a confusão no acampamento dos egípcios. 25 Ele desviou as rodas dos seus carros de guerra, e eles conduziam com dificuldade. Os egípcios disseram: «Fujamos diante de Israel, porque o Senhor combate por eles contra o Egito». 26 O Senhor disse a Moisés: «Estende a tua mão sobre o mar, e que as águas voltem sobre os egípcios, sobre os seus carros de guerra e sobre os seus cavaleiros» 27Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o mar voltou ao seu leito normal, ao raiar da manhã, e os egípcios a fugir foram ao seu encontro. E o Senhor desfez-se dos egípcios no meio do mar. 28ª s águas voltaram e cobriram os carros de guerra e os cavaleiros; de todo o exército do faraó que entrou atrás deles no mar, não ficou nenhum. 29 Os filhos de Israel caminharam em terra seca, pelo meio do mar, e as águas eram para eles um muro à sua direita e à sua esquerda. 30 O Senhor salvou, naquele dia, Israel da mão do Egito, e Israel viu os egípcios mortos à beira do mar. 31Israel viu a mão poderosa com que o Senhor atuou contra o Egito, o povo temeu o Senhor e acreditou nele e em Moisés, seu servo. 1 Então, Moisés cantou, e os filhos de Israel também, este cântico ao Senhor. Eles disseram: «Cantarei ao Senhor que é verdadeiramente grande: cavalo e cavaleiro lançou no mar.

Evangelho: Mt 12, 46-50

Naquele tempo, 46 enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus pergun­tou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 49 E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. 50 Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

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Deus Está Do Lado Dos Oprimidos E Quer Libertá-los

O texto da Primeira Leitura fala da passagem do povo eleito pelo mar vermelho pela providência divina. A sucedida travessia, libertando-se das garras do poder opressor, termina com um canto de louvor a Deus pela sua providência.

Mas temos que compreender este relato de acordo com o estilo que lhe caracteriza: é normal que um povo conte em estilo épico os acontecimentos que rodeiam seu nascimento ou seu surgimento (Cf. Sl 77/78; 113/114; Sb 10,18; 11-14). A versão atual deste texto é um resumo de diferentes tradições distintas para as quais quem opera o prodígio da separação das águas é a mão de Moisés (Tradição Sacerdotal) ou Deus e o vento (Tradição Javista) ou também o anjo de Deus (Tradição Eloísta). Mas todos estes relatos conservam unanimamente o caráter providencial e estrondoso (estrepitoso) de uma intervenção de Deus que conduz o povo para a liberdade mediante a destruição dos carros e dos cavalos da potência inimiga. Deus sempre está do lado dos justos contra qualquer tipo de opressão, exploração, desonestidade, injustiça, e assim por diante. Em toda a nossa vida estaremos lutando contra o mal, com intenção de nos libertar de todo tipo de escravidão. Mas no Batismo o amor de Deus nos alcançou e sua graça libertadora jamais nos abandona. 

As distintas tradições que falam da passagem do Mar Vermelho não tem evidentemente conhecimento dos fatos em si. Sua visão é, antes de tudo, religiosa: trata-se, para elas, de explicar que as origens do povo hebreu se devem, antes de tudo, à iniciativa divina através de sua providência. Todos os fatos registrados, desde o anjo de Deus (Javé) à vara de Moisés, da coluna à oração do patriarca, tendem unicamente a destacar aquela prioridade da ação de Deus na salvação e na constituição do povo. Mas todos os povos têm tendência a dar um tom épico  para suas origens e quando um povo como Israel se considera o povo eleito de Deus, é normal que este caráter épico ressoa até na própria ação de Deus sobre os seus.

O texto da Primeira Leitura lemos também na Vigília pascal. Ao ler este texto na Vigília Pascal devemos entende a Páscoa em três níveis.

Em primeiro lugar: Como os judeus, estamos convencidos de que naquele dia (passagem do Mar Vermelho) Deus salvou Israel. Cantamos esta libertação na proclamação da Páscoa: “Esta é, Senhor, a noite que retiraste os filhos de Israel do Egito e os fizeste atravessar o Mar Vermelho a pé enxuto”. Foi a Primeira Páscoa. 

Em segundo lugar:  Esta Páscoa é uma figura da Segunda Páscoa, a Páscoa de Cristo, que passa para a Nova Vida do Ressuscitado pela morte: “Ó noite, em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor”.

E em terceiro lugar:  Mas também recordamos que a Páscoa de Jesus salvou a todos nós, e que os cristãos, através das águas do Batismo, experimentamos, de alguma forma, a passagem das trevas à luz, da escravidão à liberdade: “ Ó noite em que a coluna luminosa as trevas do pecado dissipou, e aos que creem no Cristo em toda a terra em novo povo eleito congregou”. Ou, como diz a oração (segunda opção) que segue a leitura deste texto na Vigília: “O Mar Vermelho era a imagem da fonte batismal, e o povo libertado da escravidão, a imagem da família cristã”. 

Além disso, o texto quer nos dizer também que Deus é sempre providente para aqueles que são fieis a Ele e aos seus mandamentos. Chamamos divina providência para as disposições pelas quais Deus conduz a obra de sua criação para a perfeição. Deus guarda e governa, por sua providência, todos aqueles que creem n´Ele. O testemunho da Sagrada Escritura é unânime: a solicitude da divina providência é real e imediata. Deus cuida de tudo, das coisas mais pequenas (aparentemente insignificantes) até os acontecimentos maiores do mundo e da história. A Sagrada Escritura afirma com força a sabedoria absoluta de Deus no curso dos acontecimentos: “Nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz” (Sl 113/114,11) e de Cristo se diz:       “Aquele que tem a chave de Davi, o que abre e ninguém mais fecha, e fechado, ninguém mais abre” (Ap 3,7;  “muitos são os projetos do coração humano, mas é o desígnio de Deus que permanece firme” (Pr 19,21).

Jesus pede um abandono filial na providência do Pai celestial que cuida das menores necessidades de seus filhos: “Não andeis preocupados, dizendo: Que iremos comer? Ou, o que iremos beber? ... Vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas as coisas. Buscai, em primeiro lugar, seu Reino e sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,31-33; cf. Mt 10,29-31). Acreditamos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Mas os caminhos de sua providência são muitas vezes para nós desconhecidos. É assim que diz o Novo Catecismo da Igreja Católica. 

É Preciso Transformar a Família Humana Em Família Divina Para Que Seja Salva

Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”, disse Jesus. A maior parte das religiões do mundo se apoia na família, comunidade natural. Jesus edifica sua religião ou sua comunidade não sobre as relações familiares, e sim sobre uma comunidade de tipo seletivo em virtude da fé para elevar a família humana para a família de Deus. Para divinizar a família humana é preciso que Deus seja o centro de cada família e é preciso que cada membro viva de acordo com a Palavra de Deus.

A evolução do mundo técnico tende a tirar o homem de suas comunidades naturais para submergi-lo em comunidades mais “artificiais” ou “mais seletivas”. Por isso, a família vive, muitas vezes, de maneira dramática o conflito das gerações que caracteriza a nossa época. Os pais rezam melhor em companhia de seus amigos do que em família, com seus filhos e familiares. Mas se todos se preocuparem com a vontade de Deus ao praticar o bem, ao viver o amor fraterno, o único que nos edifica, humaniza e diviniza, acabarão salvar a comunidade natural que é a família humana. Por isso, Jesus afirma hoje: “Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,50). O verbo “fazer” é característico da narração do evangelista Mateus. Os fariseus dizem e não fazem (Mt 23,3.15). Unir-se a Cristo não significa outra coisa que fazer a vontade de seu Pai. No evangelho de São João Jesus fala de outra maneira para a mesma coisa: “Vós sois meus amigos se praticais o que vos mando” (Jo 15,14). Trata-se de uma família ou uma comunidade de Deus, e por isso, de uma comunidade de salvação. 

Jesus, por sua encarnação, entrou no mundo e formou parte de nossa humanidade, de uma verdadeira humanidade, com os laços de sangue e de cultura. Ele se tornou humano para nos divinizar. Ele nasceu numa família para santificar a família. Ele viveu em um país determinado, Palestina; tinha uma mãe, Maria. Essas realidades humanas têm grande importância, constituem realmente o lugar de nossa vida. 

Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?”, pergunta Jesus. A pergunta não significa um desprezo de Jesus à sua mãe, Maria. Maria sempre cumpriu a vontade de Deus: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Ela foi chamada pelo anjo Gabriel de “cheia de graça” e que ela “está com o Senhor” (Lc 1,28). Além disso, ninguém amou Sua mãe melhor que o próprio Jesus. E nenhuma mãe amou melhor seu Filho, Jesus Cristo, Deus-Conosco do que a própria Maria, a mãe de Jesus. Ela acompanhava seu filho Jesus até ao pé da cruz, enquanto muitos discípulos o abandonaram (Jo 19,25-27).

É claro que a resposta de Jesus para a própria pergunta mostra que Jesus relativiza os vínculos familiares em função da vontade de Deus. Com esta pergunta Jesus quer nos revelar algo muito importante: o discípulo, cada cristão, cada cristã que vive os ensinamentos de Jesus é um parente de Jesus. Jesus oferece aos homens a qualitativa intimidade de sua família. A família humana de Jesus viveu conforme a vontade de Deus: José que criou Jesus era chamado de “o justo”, aquele que vive segundo os mandamentos de Deus (cf. Mt 1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi chamada pelo anjo de “cheia de graça” (cf. Lc 1,28).

Por isso, a família humana de Jesus serve de exemplo para todas as famílias humanas. Que é possível formar uma família de Deus nesta terra quando Jesus se torna o centro de todos. Quando Jesus fica no meio, tudo se ordena e tudo se une e todos formarão um círculo de irmãos ao redor de Jesus Cristo. Quando Cristo se torna o centro, todos ficarão olhando para Ele para saber o que se deve fazer e como se deve fazer. Se alguém ocupar o centro, que é o lugar de Cristo, todos terão um olhar sem direção ou cada um vai criando sua própria direção. “Onde te envaideceste, ali mesmo caíste” (Santo Agostinho. Serm. 131,5). Jesus Cristo deve ser o fator central para que todos tenham a mesma direção: formar uma família divina logo nesta terra onde o amor fraterno é a única identidade para todos: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35). “Quando se enfraquece o amor, também se enfraquece o fervor”, dizia Santo Agostinho (In ps. 85,24). A única maneira de salvar a família humana ou qualquer comunidade é transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo com os mandamentos de Deus.

Entre Deus e os homens já não há somente relações frias de obediência e de submissão como entre o patrão e o empregado. Com Jesus entramos na família divina, como seus irmãos e irmãs, como sua mãe. Se em todos os meus atos e atitudes de cada dia, se em todos os minutos de minha vida procurar me manter unido a Deus, serei irmão de Jesus, farei parte da família de Deus desde aqui na terra junto aos outros irmãos e irmãs no mundo inteiro que fazem a mesma coisa. 

Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. O Reino de Deus cria uma nova família que ultrapassa todos os laços terrenos sem diminuir o valor da família. A vivência da vontade de Deus eleva a família humana para o nível divino. Por isso, a frase de Jesus acima citada deve servir de orientação para nossa vida diária. Será que faço parte da família de Jesus?

P. Vitus Gustama,svd 

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