quinta-feira, 8 de julho de 2021

Sábado Da XV Semana Comum, 17/07/2021

JESUS É O AMOR ENCARNADO DO DEUS-PAI DE TODOS PARA SALVAR A HUMANIDADE

Sábado da XV Semana Comum

Primeira Leitura: Êx 12,37-42

Naqueles dias, 37 os filhos de Israel partiram de Ramsés para Sucot. Eram cerca de seiscentos mil homens a pé, sem contar as crianças. 38 Além disso, uma multidão numerosa subiu com eles, assim como rebanhos consideráveis de ovelhas e bois. 39 Com a massa trazida do Egito fizeram pães ázimos, já que a massa não pudera fermentar, pois foram expulsos do Egito, e não tinham podido esperar, nem preparar provisões para si. 40 A permanência dos filhos de Israel no Egito foi de quatrocentos e trinta anos. 41 No mesmo dia em que se concluíam os quatrocentos e trinta anos, todos os exércitos do Senhor saíram da terra do Egito. 42 Aquela foi uma noite de vigília para o Senhor, quando os fez sair da terra do Egito: essa noite em honra do Senhor deve ser observada por todos os filhos de Israel em todas as suas gerações.

Evangelho: Mt 12, 14-21

Naquele tempo, 14 os fariseus saíram e fizeram um plano para matar Jesus. 15 Ao saber disso, Jesus retirou-se dali. Grandes multidões o seguiram, e ele curou a todos. 16 E ordenou-lhes que não dissessem quem ele era, 17 para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: 18 “Eis o meu servo, que escolhi; o meu amado, no qual ponho a minha afeição; porei sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará às nações o direito. 19 Ele não discutirá, nem gritará, e ninguém ouvirá a sua voz nas praças. 20 Não quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio que ainda fumega, até que faça triunfar o direito. 21 Em seu nome as nações depositarão a sua esperança”.

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O texto da Primeira Leitura fala da saída do Egito ou da libertação do povo eleito das garras do opressor, do faraó, rumo à terra prometida. Tudo começou numa noite. O poder da opressão foi destruído pela ação poderosa de Deus em favor do povo, e eles saíram (Ex 12,37).

Quero destacar alguns pontos para nossa reflexão. 

1. Trata-Se De Uma Noite De Ternura E De Amargura Simultaneamente

A ternura do Senhor cuidando do seu povo eleito é exemplar na delicadeza com que, segundo o texto do Êxodo, velou à noite para que uma multidão simbólica de “seiscentos mil homens a pé, sem contar as crianças” se organizasse e partisse rumo à terra distante que seria sua terra prometida. 

Mas essa ternura divina não isentava o povo das enormes dificuldades: a travessia do mar vermelho, dos desertos, e as adversidades que acarretariam ou causariam como consequência. O modo divino de trabalhar providencialmente não altera em demasia as condições normais de nossa existência histórica, conforme lugar, tempo e outras circunstâncias. A peculiaridade divina é animar, guiar, criar atitude positivas para que, se trabalharmos honradamente, possamos sair triunfantes em qualquer empenho de libertação.

Também, Jesus Cristo, o Deus-conosco (Mt 1,23; 28,20), o Filho do Homem e Filho de Deus ensinava a verdade com amor e derramava sua graça sobre os pobres, mas tinha que ir impondo a nova lei: a justiça,  o amor e a paz, como paciente perseverança, disposto, inclusive, para a chegada de “sua hora”, isto é, sua entrega total e final na Cruz por nós. Jesus como Moisés e seus, teve de vigiar mais de uma noite para não deixar-se surpreender pelos adversários que espiavam seus passos para destruí-lo.

2. A Noite De Libertação É A Noite Da Páscoa 

Aquela foi uma noite de vigília para o Senhor, quando os fez sair da terra do Egito: essa noite em honra do Senhor deve ser observada por todos os filhos de Israel em todas as suas gerações” (Ex 12,42). É Páscoa! Páscoa é uma palavra com sabor de gozo compartilhado, alegria embriagante, canto de libertação, força que dá vida. A primeira leitura nos apresenta o grandioso espetáculo de uma multidão em marcha rumo à liberdade, pelo desígnio e pela força surpreendente do grande e forte Deus da ternura. O entusiasmo apodera-se do autor do Êxodo, que quer deixar os nossos olhos em êxtase perante o desfile maravilhoso de tantos homens, mulheres e crianças, que são como a expressão visível do poder divino. É como contemplar a glória de Deus em todos os libertados, que não terão mais dono ou senhor que o Rei do Universo, o Yahweh.

Páscoa é a própria imagem da vitória. Não somente derrotou seus opressores, mas também eles mesmos sentem o desejo de sair do lugar que era um cárcere (Egito) para eles. Uma imagem inesquecível: Deus saiu para defender os seus; Deus vive e dá vida. 

Todos nós somos, de alguma forma e de outra, perseguidos por medo de algum tipo. Aquilo que aprendemos através da dor e ao crescermos além de nossos temores só poder ser avaliado em retrospectiva. 

Se quisermos ter um bom futuro, precisamos extrair ensinamentos ou lições do passado, mas nossa liberdade exige que façamos escolhas com base nas necessidades do presente, e não do passado. Nada permanece imóvel para seres vivos, especialmente para o ser humano. A mudança é a lei da vida. Nossa vida exige uma participação ativa e criativa em cada instante. Mas, às vezes, como o povo eleito, ficamos presos a situações, como um casaco pendurado num cabide. Quando estamos “pendurados”, mantemos a atenção só no que nos tolhe e não conseguimos aprender nada. Se escolhermos a liberdade de vivenciar o fluxo da natureza que sempre se renova, poderemos escapar da mentalidade do cabide com casaco. Mas, de vez em quando, escolhemos, infelizmente, ficar pendurados por medo do desconhecido talvez até medo da liberdade. Se passarmos a maior parte de nossa vida num ou noutro cabide, é possível que não tenhamos muita confiança em nós mesmos e por isso, paralisamos nosso crescimento.

3. A salvação Divina É Dirigida a Todos

Os filhos de Israel partiram de Ramsés para Sucot. Eram cerca de seiscentos mil homens a pé, sem contar as crianças. Além disso, uma multidão numerosa subiu com eles, assim como rebanhos consideráveis de ovelhas e bois” (Ex 12,37-38). 

Muitos textos enfatizam essa diversidade étnica, esse tipo de universalidade, na partida do povo de Deus da terra de opressão, Egito. Trata-se de um grupo heteróclita/heterogêneo (Dt 29,10; Josué 8,35; Lv 24,10): estrangeiros, egípcios, vítimas talvez também da ditadura/opressão do Faraó, que aproveitaram para fugir do Egito. 

Tudo isto quer nos dizer que a salvação de Deus não se dirige somente a um pequeno grupo de privilegiados e sim que tem dimensões universalistas: todos os que sofrem a opressão dos poderosos mundanos são chamados por Deus para a liberdade de filhos e filhas de Deus. Por isso, o redator do texto, que lemos na Primeira Leitura, acrescenta: “Além disso, uma multidão numerosa subiu com eles, assim como rebanhos consideráveis de ovelhas e bois”. Deus é de todos e para todos, pois todos são filhos e filhas muito amados de Deus (Cf. Jo 3,16). 

Viver Para Amar e Amar Para Salvar 

Continuamos com as controvérsias entre Jesus e as autoridades do seu tempo. Nos versículos anteriores do texto do evangelho deste dia Mt relatou a atividade de Jesus de curar muitos doentes no Sábado, dia sagrado para os judeus. Relatou-se que Jesus curou um homem de mão seca dentro da sinagoga (cf. Mt 12,9-13). Era proibido curar no Sábado, o dia sagrado. Para Jesus o sagrado é o ser humano (cf. 1Cor 3,16-17) e não o dia. Por isso, para Jesus salvar um ser humano está acima de qualquer lei religiosa, por mais sagrada que ela pareça ser. A lei religiosa existe em função do ser humano. Naturalmente os dirigentes do povo desaprovaram a atividade de Jesus. Por isso, decidiram matá-lo.

A hostilidade dos fariseus (Mt 12,14) é o ponto terminal do relato referido à atividade de Jesus durante o Sábado numa sinagoga. Diante da hostilidade, Jesus muda seu espaço: “Ao saber disso, Jesus retirou-se dali”, mas continua curando a todos. Sua tarefa é ajudar, socorrer e reviver a todos aqueles que se encontram ameaçadas na sua dignidade. 

A maneira de atuar de Jesus é totalmente contrária à maneira de atuar dos fariseus. Observemos o contraste nesta controvérsia entre Jesus e seus adversários: Os adversários planejam matar Jesus, e Jesus planeja um serviço de caridade, de amor e de proximidade dos necessidades. Os adversários tomam atitudes violentas, e Jesus cumpre a visão profética de bendizer e de apreciar todos os detalhes da bondade que estão ao Seu alcance. O mal e o bem, chocando-se mutuamente, caminham em paralelo. O objeto da ação é o mesmo homem tanto para o bem como para o mal. Um coração que ama se enfrenta com um coração maldoso. Jesus será vítima disso, mas Deus bota a vida onde o homem põe a morte. Por isso, Jesus será ressuscitado por Deus, Seu Pai.

Jesus não lhes responde com ações violentas. Como verdadeiro Servidor de Deus, Jesus busca que a verdade brilhe sobre as trevas da morte e da miséria. A missão de Jesus é pacifista, solidária e defensora da justiça e do direito. Somente de um homem assim, sem pretensões mundanas é que o povo pode esperar a salvação. 

Por que os dirigentes do povo defendem tanto a lei supostamente sagrada e não defende o ser humano, que é o filho de Deus, templo do Espírito Santo, segundo São Paulo? (cf.1Cor 3,16-17). É por causa do império dos interesses econômicos e sociais. Quando o dinheiro se torna o objetivo da vida de uma pessoa, ela não admite rivais.  E se tiver rivais, será eliminado. Quem se entrega ao dinheiro, não consegue ver mais ninguém senão a si mesmo. O dinheiro se revela uma arma mais letal do que as armas nucleares, quando usado unicamente em vista dos interesses de alguns. É por isso que Jesus disse que, ou se serve a Deus, ou se serve ao dinheiro (cf. Mt 6,24). Quem se preocupa com a própria glória não se preocupa com o bem do outro. 

Jesus age como um profeta: falar em nome de Deus na defesa da igualdade e da fraternidade, embora Jesus seja mais do que um profeta, pois ele é a encarnação do amor de Deus, Deus-Conosco. Os profetas do Antigo Testamento com muita frequência se atiram contra as prepotências dos ricos em relação aos pobres, por sensibilidade social, mas, sobretudo, por sensibilidade teológica no sentido de que as injustiças entre os homens quebram a relação com Deus. O mal que se faz ao homem é mal feito a Deus (cf. Mt 25,40.45). 

O verdadeiro objetivo da vida de Jesus é amar para salvar (Jo 3,16). Esse objetivo se expressa da seguinte maneira: “Não quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio que ainda fumega, até que faça triunfar o direito”. Jesus veio não para desencorajar e sim para encorajar. Ele veio não para ameaçar o fraco com condenação e sim com a compreensão. Jesus veio não para apagar “o pavio que ainda fumega” e sim para fortalecer sua luz a fim de clarear mais. Por isso, “Em seu nome as nações depositarão a sua esperança”. Tudo em Jesus era manifestar o amor de Deus para os homens. Logo, tudo na vida de cada cristão deve ser a manifestação do amor de Deus, porque o amor humaniza e diviniza, cria a fraternidade e a comunhão, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). 

Como cristãos seguidores de Cristo, nós temos em Jesus nosso espelho para podermos nos ver melhor ou para comprovar se aprendemos ou não as principais lições de nosso Mestre Jesus. Temos que fazer chegar para as pessoas a mensagem de amor de Jesus. Mas não devemos impor, e sim propor, não gritar e sim anunciar motivando, respeitando a situação de cada pessoa.

Por isso, como cristãos, nós devemos ser contrários a toda a forma de luta violenta, mas também devemos agir energicamente com todas as iniciativas e meios não violentos, para afirmar a justiça, o respeito pelos direitos humanos, pela fraternidade, pela dignidade de cada pessoa e pela caridade no mundo. Podemos combater o pecado sem eliminar o pecador, pois Deus odeia o pecado, mas não se cansa de perdoar quem se converte: “Porventura, tenho Eu prazer na morte do ímpio? Porventura, não alcançará ele a vida se ele se converter de seus maus caminhos?” (Ez 18,23). A missão de cada cristão, a exemplo do mestre Jesus, é pacifista, solidária e defensora da justiça e do direito. É “Não quebrar o caniço rachado, nem apagar o pavio que ainda fumega, até que faça triunfar o direito”.

P. Vitus Gustama,svd

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