segunda-feira, 12 de julho de 2021

Quarta-feira Da XVI Semana Comum, 21/07/2021

POR SER SEMENTE DE DEUS O CRISTÃO DEVE SER SEMEADOR DO BEM E CONTINUA ACREDITANDO NA PROVIDÊNCIA DIVINA

Quarta-Feira da XVI Semana Comum

Primeira Leitura: Ex 16,1-5.9-15

1Toda a comunidade dos filhos de Israel partiu de Alim e chegou ao deserto de Sin, entre Elim e o Sinai, no dia quinze do segundo mês da saída do Egito. 2 A comunidade dos filhos de Israel pôs-se a murmurar contra Moisés e Aarão, no deserto, dizendo: 3 “Quem dera tivéssemos morrido pela mão do Senhor no Egito, quando nos sentávamos juntos às panelas de carne e comíamos pão com fartura! Por que nos trouxeste a este deserto para matar de fome a toda essa gente?”. 4 O Senhor disse a Moisés: “Eu farei chover para vós o pão do céu. O povo sairá diariamente e só recolherá a porção de cada dia a fim de que eu o ponha à prova, para ver se anda ou não na minha lei. 5 No sexto dia, quando prepararem o que tiverem trazido, terão o dobro do que recolhem diariamente”. 9 E Moisés disse a Aarão: “Dize a toda a comunidade dos filhos de Israel: ‘Apresentai-vos diante do Senhor, pois ele ouviu a vossa murmuração’”. 10 Enquanto Aarão falava a toda a comunidade dos filhos de Israel, voltando os olhos para o deserto, eles viram aparecer na nuvem a glória do Senhor. 11 O Senhor falou, então, a Moisés, dizendo: 12 “Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel. Dize-lhes, pois: ‘Ao anoitecer, comereis carne, e pela manhã vos fartareis de pão. Assim sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus’”. 13 Com efeito, à tarde, veio um bando de codornizes e cobriu o acampamento; e, pela manhã, formou-se uma camada de orvalho ao redor do acampamento. 14 Quando se evaporou o orvalho que caíra, apareceu na superfície do deserto uma coisa miúda, em forma de grãos, fina como a geada sobre a terra. 15 Vendo aquilo, os filhos de Israel disseram entre si: “Que é isto?” Porque não sabiam o que era. Moisés respondeu-lhes: “Isto é o pão que o Senhor vos deu como alimento”.

Evangelho: Mt 13,1-9

1 Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia. 2 Uma grande multidão reuniu-se em volta dele. Por isso Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia. 3 E disse-lhes muitas coisas em parábolas: “O semeador saiu para semear. 4 Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram. 5 Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. 6 Mas, quando o sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz. 7 Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. 8 Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. 9 Quem tem ouvidos, ouça!”

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Deus Está Próximo Do Homem Na Sua Necessidade Através De Sua Providência

Continuamos a acompanhar a leitura do livro de Êxodo que fala da saída ou da libertação do povo eleito da escravidão do Egito rumo à Terra prometida. A peregrinação de Israel pelo deserto é um tempo intermédio entre a libertação do poder escravizador de Faraó, do Egito, e a entrada para a terra prometida (Ex 15,22-17,16; Nm 11-16; 20). Nesta peregrinação o Senhor não abandona seu povo em sua luta para a liberdade, mas toda etapa é dura, difícil. Por isso, o povo protesta e murmura. O deserto é luta, prova para medir até onde chega a maturidade do povo. Em seu peregrinar, isto é, na saída da escravidão à liberdade, da morte à vida, a falta de alimentos provoca a revolta. Em outras palavras, liberdade é esforço, mas o esforço é evitado pelo povo.

O povo já se esqueceu da vitória da travessia milagrosa do Mar Vermelho e da fidelidade de Deus. Temos mais memória por aquilo que falta do que por aquilo que temos e somos. Agora o povo eleito experimenta a dureza do deserto onde carece de tudo para a sobrevivência. Nisto, o povo começa de novo a protestar: “Quem dera tivéssemos morrido pela mão do Senhor no Egito, quando nos sentávamos juntos às panelas de carne e comíamos pão com fartura! Por que nos trouxeste a este deserto para matar de fome a toda essa gente?”. O pior inimigo de Moisés ao conduzir o povo para a liberdade é o próprio povo eleito, e não os egípcios. 

Mas o Deus de Israel não é um Deus que condene e sim o Deus que salva. Deus, mais uma vez, se mostra próximo. Serve-se de dois fenômenos naturais (maná e codornizes) que, por sua oportunidade, foram interpretados como atuações prodigiosas de Deus para com seu povo. Um bando de codornizes que migram e ficam ao alcance dos israelitas, e o maná, uma espécie de resina comestível de alguma árvore ou de algum tipo de orvalho alimentar. O nome “maná” vem da exclamação dos israelitas: "O que é isso?", Que em sua língua soa: "man-hú"? No maná (e nas codornizes), o povo experimenta a presença salvífica, ainda que a fé fique submetida à prova. 

O Salmo 77, que rezamos hoje como o Salmo Responsorial, se faz eco do relato: “Ordenou às nuvens lá dos céus, e as comportas das alturas fez abrir; fez chover-lhes o maná e alimentou-os, e lhes deu para comer o pão do céu. ... Fez chover carne para eles como pó, choveram aves como areia do oceano; elas caíram sobre os seus acampamentos e pousaram ao redor de suas tendas”. Deus sempre aparece disposto a ajudar seu povo. Enxerguemos esta presença misteriosa mas atuante! 

Para o caminho de nosso deserto temos um alimento especial. Foi o próprio Cristo quem relacionou a Eucaristia com o maná do deserto (Jo 6,31ss). Os interlocutores de Jesus lhe dizem: “Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que está escrito: pão do céu lhes deu de comer”. E Jesus, que acaba de multiplicar os pães para dar de comer para a multidão, se apresenta a si mesmo como o Pão: “Em verdade os digo, não foi Moisés quem deu o pão do céu: é meu Pai que os dá o verdadeiro pão do céu... Eu sou o Pão da vida. E o pão que vou dar-lhes é minha carne pela vida do mundo”. O maná e as codornizes que Deus nos presenteia para nosso caminho hoje são sua Palavra, a Eucaristia que é o Pão da vida e a ajuda das demais pessoas que compartilham vida conosco e com os que caminham conosco na peregrinação neste mundo rumo à Pátria celeste.

Além disso, em nossa vida há momentos, mais ou menos conscientemente, em que não queremos ser salvos em nome de nossos prazeres escravizantes. Ou que as pessoas às quais procuramos ajudar em sua libertação, mas que nem sequer sabem que necessitam de ser salvas, como os israelitas que preferem prazeres escravizantes a serem livres. Os ídolos, apesar de nos tornarem seus escravos, podem nos atrair mais do que nossa própria liberdade. Porque o pôr-se em marcha e a aventura do deserto em que carece de tudo e incomodidade que leva consigo a liberdade, podem infundir medo.

A conquista desta liberdade, que Israel a conquistou, sempre foi e será dura. O povo de hoje, como o de ontem, murmura e protesta diante de qualquer dificuldade. Trata-se do medo da liberdade e de maturidade. O homem de todos os tempos sempre preferiu a escravidão com uma relativa comodidade à liberdade com dureza e esforço. A liberdade é risco. De alguma forma, todos nós somos perseguidos por algum tipo de medo. Todos nós lutamos com a questão da liberdade, pois não podemos evoluir e criar a não ser que nos sintamos livres para fazê-lo. De fato, nosso progresso será proporcional à liberdade que sentimos de respirar, de nos mover, de viver a vida plenamente. Ninguém evolui emocionalmente, intelectualmente e espiritualmente se sua energia está sendo gasta para controlar alguém. Este é um jogo que ninguém ganha. Ninguém está livre até todos nós estarmos livres. Só com a liberdade encontraremos alegria no trabalho, no lar e com os amigos. Dando liberdade aos que nos cercam, teremos a satisfação de vê-los gozar da alegria que ela traz. 

Somos Chamados a Ser Semeadores Do Bem e Da Bondade

Mt 13 é o terceiro dos cinco grandes discursos do Evangelho de Mt.  Mt 13 é o discurso sobre o mistério ou a natureza do Reino dos Céus em parábolas (sete parábolas). A maior parte das parábolas Jesus tira da vida, do trabalho das pessoas humildes do campo ou da vida doméstica. Jesus é um bom observador e olha com amor às pessoas que ele encontra no caminho.

As parábolas são relatos concretos e cheios de imagens destinados para a melhor compreensão de uma ideia. As parábolas têm uma função didática. No evangelho elas são comparações que ensinam ou transmitem uma verdade sobre o Reino de Deus. Para captar seu sentido, é preciso estar em sintonia com Jesus, pois o Reino se faz presente nele (Mt 13,10). E o Reino que se faz presente nas palavras e sinais de Jesus (Mt 4,17-11,1), segue adiante apesar da recusa dos fariseus (Mt 11,2-12,50), convocando o novo povo de Deus (Mt 13,53-16,20). E aparece claramente neste discurso a atitude dos discípulos e a da multidão (fariseus): os discípulos entendem as parábolas porque Deus tem lhes revelado os mistérios do Reino, enquanto que a multidão não entende porque seu coração está fechado (Mt 13,10-17). 

1. Somos Chamados a Ser Semeadores do Bem                 

Jesus começa a contar a parábola do semeador dizendo: “O semeador saiu para semear” (Mt 13,3).

A semente da qual fala o evangelho deste dia é a Palavra de Deus. A palavra é o principal meio de comunicação, fonte de aproximação entre as pessoas, o meio de denegação do isolamento, a possibilidade de amor e de ânimo e é a expressão de nós mesmos. A palavra é fonte de vida e não apenas um simples som para comunicar “ideias” e transmitir “informações”. Há palavras que transtornaram vida inteiras com sua mensagem. Um bom livro pode abrir horizonte novo e possibilita novos caminhos. Dirigir-se a palavra é abrir-se à comunicação com o tu humano, constituir-se o nós e comparecer diante de Deus, o Tu dos homens. Dirigir a palavra é tudo quando a palavra é o que deve ser: uma palavra de amor, expressão da própria intimidade, revelação do mais profundo que cada um de nós é. Quando pronunciarmos uma palavra sem amor, degradaremos este dom maravilhoso da comunicação.         

Deus expressa seu amor através da Palavra. Sua Palavra é como a nossa, porém é muito mais. A Palavra de Deus é viva, dotada de poder e é fecunda. A Palavra de Deus é vida pela qual foi criado o universo do nada. Através da Palavra de Deus recebemos a salvação que é a nova criação. Quem a escuta e a acolhe em seu coração começa uma nova vida. Nele germina a Palavra de Deus e este homem se faz expressivo para os homens no amor e responde com amor ao amor de Deus. De outra forma podemos dizer que a Palavra de Deus tem força: possui uma potência total para transformar os corações. Por isso, é preciso ler, meditar e deixar esta Palavra modelar nossa vida.         Por isso, Santo Agostinho dizia: “Escutando a Palavra de Deus, deixa-a aninhar-se em tua alma. Não a expulsa de ti. Não te contentes em tê-la contigo. Ajuda-a a crescer e a dar fruto em ti” (Serm. 343,1)

O semeador saiu para semear”. Sair é interromper o silêncio, quebrar o isolamento, tomar passos para começar a caminhar, abrir o coração para deixar a palavra de amor sair ao encontro do outro. É sair para semear o bem para todos. Fomos criados para nos comunicar e comunicar o bem. Somos seres comunicados e comunicáveis. Não se comunicar e não comunicar o bem seria uma negação à nossa própria natureza humana e divina.         

2. O Fracasso não Significa o Fim de Tudo, Mas É Um Chamado à Esperança                       

Aparentemente o pobre “semeador” não tem boa sorte. A parábola começa nos contando três fracassos: em primeiro lugar, os pássaros comem as sementes antes de germinarem; em segundo lugar, as plantinhas são queimadas pelo calor do sol antes de poderem crescer; e por fim, a planta que cresceu é sufocada pelas más plantas. Até neste ponto, o trabalho do semeador parece inútil completamente. Tudo isto é a imagem do Reino de Deus. Mas no fim da história o semeador não ficará decepcionado, pois “outras sementes caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente”. 

A Palavra de Deus não pode falhar porque Deus é Deus: “... a palavra que sair da minha boca não voltará para mim vazia; antes realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”, diz o Senhor através do Livro do profeta Isaias Is 55,11. Deus não fala por falar, Deus fala para salvar os homens. Por esta razão a parábola de hoje é uma chamada à esperança e à confiança em Deus. Mas a Palavra de Deus não é um fato consumado no sentido de que uma vez conhecida o homem não precisa mais fazer nada. A Palavra de Deus é uma promessa que avança para seu cumprimento. A Palavra de Deus está carregada de tensão escatológica.          

A parábola do Semeador é uma mensagem de otimismo e de esperança, como o cristianismo é uma religião de otimismo. As palavras humanas são apenas palavras e que muitas vezes estão longe de nossos atos (separação entre o que se fala e se faz). Não é assim com Deus. O termo “dabar” em hebraico significa simultaneamente palavra e ato (veja Gn 24,66; Jz 6,29; Am 3,7). Através do relato da criação em Gênesis sabemos como é poderosa a Palavra de Deus. Para ela, não há obstáculo que não possa ser atravessado. O que Deus diz, acontece instantaneamente (Gn 1,6.9.11.14). A Palavra de Deus, o poder de Deus superará frustrações na nossa vida.         

O perigo que podemos ter é a nossa surdez ou a nossa cegueira diante da Palavra de Deus. Se formos surdos e o nosso coração estiver fechado, então, não saberemos perceber suficientemente os sinais do Reino de Deus na nossa vida ou na história e Consequentemente ficaremos perdidos nesta vida.  

3. Deus Pede a Colaboração de Cada um de nós de Acordo com as Possibilidades Existentes

A parábola nos mostra que cada tipo de terra recebe a semente para dizer que como é generoso nosso Deus. E cada tipo de terra acolhe a semente em seu seio e a faz crescer segundo suas próprias possibilidades. Há terras melhores e há terras piores. Mas não se pede à terra infértil uma boa colheita. Disto o semeador já sabe.           

O mesmo acontece com a Palavra de Deus. A Palavra de Deus é lançada em todas as direções, a todas as classes de pessoas, pois Deus ama a todos e cada um em particular. A Palavra de Deus não é um alimento reservado a uns poucos privilegiados. Ela chega ao nosso coração.           

E nós seres humanos não somos todos iguais na nossa capacidade. Entre nós há muitas diferenças: cultura, educação, inteligência e assim por diante. Podemos dizer que nós somos a terra. Em todos, de uma forma ou de outra, o Semeador-Deus deixa cair a semente da Palavra. E Deus pede a cada um de nós frutos conforme suas possibilidades. Deus não condena ninguém nem pede a todos que deem 100%. Simplesmente Deus pede a cada um de nós o que pode dar. Não é tanto o resultado, mas o amor no empenho. No Reino de Deus, se você se der muito no bem que faz, não importa o resultado. Vale pelo amor no seu empenho e pela sua dedicação. Quem pode avaliar ou valorizar aquilo que produzimos é o próprio Deus, pois Ele é o supremo Bem. No Reino de Deus não existe trabalho inútil; nada se esbanja. “Ainda que aos olhos dos homens grande parte de seu trabalho pareça inútil e vão, ainda que os fracassos pareçam somar-se aos fracassos, Jesus está transbordando de alegria e de certeza; a hora de Deus chega, e com ela, uma colheita abundante superior a toda súplica e imaginação” (Joaquim Jeremias).             

Vale a pena cada um perguntar-se: Que tipo de coração você tem? Um coração pedregoso, coração duro como pedra sem nenhuma sensibilidade humana até não sente a força da Palavra de Deus? Um coração endurecido pelas decepções na sua vida? Quem tem coração endurecido, não tem capacidade de ouvir e ver. Ele somente é capaz de ver o que lhe interessa. Ou você tem um coração cheio de espinhos pronto para criticar e machucar quem tenta aproximá-lo? Quem machuca ou critica constantemente é porque tem muitos espinhos no coração. Quem fere é porque tem muitas feridas. Ou você tem um coração bom, cheio de amor para dar? A Palavra de Deus quando for meditada seriamente, ela vai suavizando nosso coração como foi prometido ao profeta Ezequiel: “Eu lhes darei um só coração e os animarei com um espírito novo: extrairei do seu corpo o coração de pedra, para substituí-lo por um coração de carne a fim de que observem as minhas leis, guardem e pratiquem os meus mandamentos, sejam o meu povo e eu o seu Deus” (Ez 11,19s). A Palavra que Deus nos dirige é sempre eficaz, salvadora e cheia de vida. Mas se não encontrar coração bom não serão produzidos seus frutos. A eficácia da Palavra de Deus é também condicionada pelo tipo de acolhimento e o tipo de coração que temos. Recordemos que podemos ser pedregosos (insensíveis), árvore sem raízes, pessoas seduzidas unicamente pelas coisas materiais. Desta maneira se afoga o projeto que o Senhor tem sobre nós: a salvação. O projeto não se realiza quando não aprendermos a ser bons ouvintes e praticantes da Palavra de Deus.

P. Vitus Gustama,svd

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