quarta-feira, 14 de julho de 2021

Sexta-feira Da XVI Semana Comum,23/07/2021

QUEM É BOM, AMA, E QUEM AMA PORQUE É BOM

Sexta-Feira Da XVI Semana Comum

Primeira Leitura: Ex 20,1-17

Naqueles dias, 1 Deus pronunciou todas estas palavras: 2 “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão. 3 Não terás outros deuses além de mim. 4 Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que existe em cima, nos céus, ou embaixo, na terra, ou do que existe nas águas, debaixo da terra. 5 Não te prostrarás diante destes deuses nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento. Castigo a culpa dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração dos que me odeiam, 6 mas uso da misericórdia por mil gerações com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. 7 Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não deixará sem castigo quem pronunciar seu nome em vão. 8 Lembra-te de santificar o dia de sábado. 9 Trabalharás durante seis dias e farás todos os teus trabalhos, 10 mas o sétimo dia é sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu gado, nem o estrangeiro que vive em tuas cidades. 11 Porque o Senhor fez em seis dias o céu e a terra, o mar e tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou. 12 Honra teu pai e tua mãe, para que vivas longos anos na terra que o Senhor teu Deus te dará. 13 Não matarás. 14 Não cometerás adultério. 15 Não furtarás. 16 Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. 17 Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença”.

Evangelho: Mt 13,18-23

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 18 “Ouvi a parábola do semeador: 19 Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. 20 A semente que caiu em terreno pedregoso é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria; 21 mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, ele desiste logo. 22 A semente que caiu no meio dos espinhos é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a palavra, e ele não dá fruto. 23 A semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a palavra e a compreende. Esse produz fruto. Um dá cem outro sessenta e outro trinta”.

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Amar a Deus Que Nos Liberta e Amar ao Próximo, Nossos Irmãos

Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses além de mim”.

A Primeira Leitura nos apresenta o Decálogo (Dez palavras), conhecido também como Dez mandamentos. O decálogo é um sumário de dez preceitos absolutos, seguramente o mais antigo dos códigos bíblicos: sua origem se remonta, sem dúvida nenhuma, à época de Moisés. Com razão o decálogo pode ser chamado de decálogo de Moisés. 

O decálogo se situa no contexto da aliança, uma categoria de relação inter-humana adotada pela teologia bíblica para definir o povo de Deus. Neste contexto o decálogo é a norma pela qual o povo de Deus se guia: seu ser e seu fazer.

A aliança sempre supõe um ato bilateral. Mas o livro de Êxodo quer enfatizar a iniciativa de Deus. É Deus quem tem a iniciativa de libertar seu povo da escravidão do Egito e de fazer com ele uma aliança: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores; pois eu conheço as suas angústias. Por isso, desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-los subir daquela terra boa e vasta, terra onde corre leite e mel” (Ex 3,7-8). Trata-se do povo que reconheça a soberania de Deus (Javé). 

Por isso, o decálogo se inicia com as seguintes palavras: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses além de mim”. No primeiro mandamento se exige o reconhecimento do Deus único que se revelou como Salvador ou Libertador. A libertação é a obra de Deus: libertar o homem para ele ser livre. Consequentemente, o decálogo serve como meio pelo qual o povo se mantem na liberdade. E a liberdade é conquistada diariamente. O decálogo serve como ponto de referência para avaliar se cada membro do povo eleito está vivendo sua vida dentro daquilo que Deus quer. O que Deus quer é a liberdade do povo. 

O texto também quer afirmar a presença de Deus no povo e em sua história. Este é o significado da expressão “Eu sou”. Deus ou Javé é o Senhor do tempo e da história, Senhor Criador e Libertador. Deus está no tempo e na história. Israel será plenamente ele mesmo na medida em que servir unicamente a Deus e superar as tentações de adorar qualquer outro deus feito segundo a medida das necessidades humanas.

O decálogo não se chama lei e sim “palavras” (decálogo), são revelação de Deus e sua comunicação com aqueles que O conhecem. Seu objetivo é prolongar, perpetuar a relação criada no primeiro conhecimento que é a salvação da escravidão. Por isso, a relação e a comunicação são entre o Salvador e os salvados (libertados). A memória da libertação faz com que o povo eleito permaneça na gratidão ao Deus Libertador e evite escravizar o próximo. 

O decálogo contém duas ordens de preceitos: as que definem a atitude justa diante de Deus e as que regulam o comportamento com o próximo. Mas as duas ordens formam um todo indivisível. Não se responde a uma se não responde a outra igualmente. 

Na primeira ordem (os três primeiros mandamentos) se exige o reconhecimento do Deus único que se revelou como Libertador ou Salvador. Este reconhecimento exclui a divinização de falsos absolutos e as representações criadas do Deus transcendente, proíbe o uso em vão o nome de Deus e recorda sempre Deus como Criador e Libertador (o dia de descanso (Sábado) é considerado como o dia de recordação da libertação). Trata-se de amar a Deus sobre todas as coisas criadas por Ele. 

O livro de Êxodo vai sublinhando que é Deus quem tem a iniciativa de libertar seu povo do Egito e de fazer com ele uma aliança: trata-se de formar um povo de homens livres que sirvam e reconheçam a soberania de Javé (Deus).

Consequentemente, o decálogo se inicia com esta afirmação de DEUS COMO ÚNICO SENHOR DO POVO. Israel será plenamente ele mesmo na medida em que servir unicamente a Javé (Deus) e superar as tentações de adorar a qualquer outro deus feito segundo a medida das necessidades humanas. E ao mesmo tempo, as primeiras palavras são uma afirmação da PRESENÇA DE DEUS NO POVO (“Eu Sou”) e em sua história. O primeiro mandamento será a característica decisiva da fé de Israel. 

Javé (Deus) é o Senhor do tempo e da história; é o Senhor Criador e Libertador. O Sábado faz o povo viver  em comunhão com Deus, no gozo de pertencer a Ele. Por isso, neste dia (Sábado) o povo tem que ter o descanso de todas as ocupações, um descanso que não afeta somente os filhos de Israel, mas também seus escravos e seus gados, como sinal de que a criação inteira pertence a Deus, Criador de todas as coisas.

E Javé (Deus) é Senhor também da vida. Por isso, Ele é chamado de “Pai”. O respeito pela vida começa pelo respeito aos pais que, a semelhança de Deus, são os transmissores desta vida e incide naqueles pontos que se considirevama imprescindível para que todos pudessem viver dignamente, posto que atentar contra os bens dos demais é privá-los do que lhes é essencial para sua vida. 

Dentro da primeira ordem é incluída a seguinte afirmação: “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que existe em cima, nos céus, ou embaixo, na terra, ou do que existe nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante destes deuses nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento” (Ex 20,4-5).

Quando na Bíblia é lido no livro de Êxodo (ou outros) onde aparentemente é proibido ter imagens, não está se referindo a qualquer tipo de imagens e sim aos ídolos.

Há uma grande diferença entre uma imagem e um ídolo. Uma imagem é qualquer tipo de estátua ou fotografia que representa alguém ou algo. Um ídolo é um falso deus que se põe no lugar de Deus, como no caso de bezerro de ouro (Cf. Ex 32,7-10). A Igreja condena a idolatria desde os tempos dos apóstolos clara e consistentemente. A Igreja primitiva dos primeiros Padres nos adverte contra este pecado, e os concílios da Igreja também se ocuparam deste tema, por exemplo, o Segundo Concílio Nicea (787); O catecismo do Concílio de Trento (1566); O Novo Catecismo da Igreja Católica de1993 n.2112-2114.

São Paulo diz que a avareza e outras coisas semelhantes são idolatria: “Mortificai vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixão, desejos maus, e a cupidez (cobiça, avareza), que é idolatria. Essas coisas provocam a ira de Deus sobre os desobedientes” (Cl 3,5). Jesus claramente nos mostrou que isto é idolatria: “Ninguém pode servir a dois senhores... não podeis servir a Deus e às riquezas/Mammon” (Mt 6,24). Se o dinheiro/riqueza, o amigo, o artista, o trabalho etc., toma o primeiro lugar, correspondente a Deus, estes se convertem em ídolos. É idolatria se ocupam o lugar de Deus porque somente a Ele se pode adorar. Estas coisas são criaturas, não são o Criador. Não devemos pensar que a Divindade seja semelhante a ouro ou prata ou pedra preciosa, escultura de arte (At 17,29).

Por isso, quando na Bíblia se “fala de proibição de imagens” está referindo aos ídolos e não a qualquer tipo de imagem. De fato, se lemos atentamente, no versículo anterior fala-se claramente de “outros deuses” (Ex 20,2). A proibição é sobre o ter ídolos ou falsos deuses (Ex 25,1; Ex 25,8; Ex 25,18; Ex 25,18). A Bíblia claramente nos diz que Deus mandou fazer imagens de dois querubins ou anjos para serem colocados no templo (Ex 25,18). É óbvio que se Deus mandou fazer estas imagens é porque não estava em contra deles. O que é recusado não é ter imagens e sim ídolos ou deuses falsos que é algo muito diferente. Esses querubins iam ser postos em cima da Arca da Aliança (Ex 25,20; cf. Nm 21,8-9) e assim iam estar por séculos e séculos. 

Na segunda ordem (os outros sete mandamentos) se exige honra e respeito à pessoa, começando pelas que mais próximas: a família (os pais) até incluir a grande família humana. É proibida toda forma de dano à pessoa e a seus bens, até com intenção: “Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença”. Cobiçar é desejar algo ou alguém exageradamente. A forma negativa na formulação dos mandamentos quer exigir do homem atos e atitudes no cumprimento dos mandamentos.

Traduzido em outra linguagem pelo mesmo povo bíblico, os mandamentos exigem amor a Deus e ao próximo como a si mesmo (Dt 6,5; Lv 19,34). O amor efetivo (e não apenas afetivo) a Deus e ao próximo é que faz o povo de Deus: é a lei da aliança. Nas palavras de Jesus, os dois se resumem toda a lei e os profetas (Mc 12,28-23). O próprio São Paulo escreveu: “O amor é o pleno cumprimento da lei” (Rm 13,10). O amor é maior do que a fé e a esperança (cf. 1Cor 13,13). 

Os mandamentos não nos tiram a liberdade. Ao contrário, eles são o caminho de uma vida digna, livre, em harmonia com Deus e com o próximo que é melhor maneira de estar também em harmonia com nós mesmos. Os mandamentos são o caminho para a verdadeira libertação. 

Somos Bons Sementes De Deus Neste Mundo

Jesus nos dá hoje um exemplo da interpretação espiritual necessária para entender o significado da parábola do semeador. Jesus compara os homens com quatro tipos/classes de terreno: a mesma semente, a mesma Palavra de Deus, mas dá resultados mais ou menos profundos conforme a resposta de cada pessoa à Palavra de Deus ou à semente semeada por Deus. 

O evangelho é uma palavra viva porque o Autor do evangelho, Aquele que nos fala através das palavras proclamadas está vivo Hoje: Jesus Ressuscitado. Ele se dirige a nós pessoal e comunitariamente. Por isso, o evangelho não é uma coleção de ideias ou uma coleção de pensamentos bons apenas. O evangelho é o encontro com Alguém. Se nós acreditamos que Jesus ressuscitou e por isso, está vivo, o evangelho é sempre atual, pois trata-se das Palavras de Quem está conosco Hoje. Por isso, é preciso dar ouvido e abrir o coração para Aquele que está falando sobre nós aqui e agora, Hoje. Seria falta de respeito, falta de educação, falta de sensibilidade humana não prestar atenção para aquele que está falando, muito mais ainda para Aquele que é o nosso Salvador. Por isso, cada um há que perguntar ao Senhor na sua meditação e oração: O que eu descobri de ti, Senhor, através da passagem do evangelho proclamada para mim hoje? 

Alguns começaram a meditar a Palavra de Deus com entusiasmo e alegria, pois no início encontraram nela consolação. Porém, é necessário perseverar. Não basta seguir o Senhor, quando isto parece agradável e fácil. É preciso também seguir o Senhor nas provações com perseverança, pois “aquele que perseverar até o fim, esse será salvo”, assim o Senhor prometeu (Mt 10,22). Um conhecimento profundo de Deus somente se adquire com uma longa e incansável frequência com o evangelho, lido, meditado e voltar a meditá-lo. O Senhor não se contenta com nossos fervores passageiros. Ele espera nossas fidelidades perseverantes. 

E no seguimento do Senhor, há que saber escolher. “Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro”, alerta-nos o Senhor (Mt 6,24). O descobrimento de Deus é uma maravilhosa aventura que implica muita renúncia e nossa entrega e nosso compromisso total: as preocupações mundanas, o prazer desenfreado, o afã de riqueza podem sufocar a Palavra de Deus. A riqueza promete muito, mas também decepciona muito. 

Não há diploma sem estudo. Não há vitória sem luta. Não há colheita sem semear a semente e trabalhar pelo seu crescimento. Jesus fala de outra maneira: “A semente que caiu em terra boa é aquele que ouve a Palavra e a compreende. Esse produz fruto” (Mt 13,23). Um grão de trigo que colocamos num terreno fértil é capaz de produzir centenas de grãos. Então, depende de nós. Depende de mim. Depende de você. Tudo que Deus criou era bom (cf. Gn 1,1ss). Você foi criado por Deus. Logo você é bom. Consequentemente, você é capaz de fazer algo de bom para os outros. Seja você um terreno fértil transformando suas fraquezas em adubo para seu próprio crescimento e para o bem de todos. Se não conseguir produzir um por cem, você pode produzir um por sessenta ou um por trinta. Repito: a única coisa que nos faz crescer e nos faz bem e faz bem para os outros é fazer o bem. Não pode deixar para amanhã o bem que você deve fazer hoje mesmo, pois Deus quer você hoje e não amanhã e por isso, Ele fala para você diariamente.

P. Vitus Gustama,SVD

Um comentário:

Unknown disse...

Que a bondade de Deus nos ensine a sermos bondosos também nós. Amém!

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