sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

07/01/2023-Tempo De Natal

SER VINHO NOVO PARA A CONVIVÊNCIA A EXEMPLO DE JESUS

07 de Janeiro

Primeira Leitura: 1Jo 5,14-21

Caríssimos, 14esta é a confiança que temos em Deus: se lhe pedimos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve. 15E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que lhe pedimos, sabemos que possuímos o que havíamos pedido.16Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não conduz à morte, que ele reze, e Deus lhe dará a vida; isto, se, de fato, o pecado cometido não conduz à morte. Existe um pecado que conduz à morte, mas não é a respeito deste que eu digo que se deve rezar. 17Toda iniquidade é pecado, mas existe pecado que não conduz à morte. 18Sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca. Aquele que é gerado por Deus o guarda, e o Maligno não o pode atingir. 19Nós sabemos que somos de Deus, ao passo que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno. 20Nós sabemos que veio o Filho de Deus e nos deu inteligência para conhecermos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos com o verdadeiro, no seu Filho Jesus Cristo. Este é o Deus verdadeiro e a Vida eterna. 21Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. 

Evangelho: Jo 2,1-11

Naquele tempo, 1houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. 2Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. 3Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. 4Jesus respondeu-lhe: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”. 5Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele vos disser”. 6Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. 7Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água”. Encheram-nas até a boca. 8Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala”. E eles levaram. 9O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. 10O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho bom até agora!”11Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.

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Oração, Comunhão Com Deus e Pecado 

A seção conclusiva da Primeira Carta de são João, que serve como a Primeira Leitura deste dia, volta a falar de dois temas já tratados em outra parte de sua Carta: o tema sobre a confiança na oração (1Jo 5,14-15) e o tema sobre a condição do crente: a impecabilidade (1Jo 5,18-21).

Segundo são João, a oração é como o sinal de nossa “comunhão” com Deus. É o testemunho de que estamos em “unidade” com Deus, de que “vivemos em conformidade com a vontade de Deus”. Este é o convite de Jesus no Pai Nosso: “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu” (Mt 6,10b). 

No seguimento de Jesus a oração sustenta a caminhada cristã. Por isso, empobrecer a oração significa empobrecer toda a teologia, toda liturgia e toda espiritualidade. Na medida em que o cristão reza, sua vida se transforma de acordo com a vontade de Deus, pois rezar significa estar em sintonia com Deus e Sua vontade. Podemos dizer que a oração nos faz familiares de Deus. Dentro de uma família um conhece bem o outro membro por causa de uma convivência permanente. 

Segundo são João, o cristão não basta rezar pelas próprias necessidades. O cristão deve aprender a sair de si para olhar para as necessidades alheias, especialmente para os pecadores: “Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não conduz à morte, que ele reze, e Deus lhe dará a vida; isto, se, de fato, o pecado cometido não conduz à morte”. 

A vida de união com Deus não nos tapa os olhos nem ouvidos, muito menos o coração. Pelo contrário, deve nos fazer ficar mais atentos a certas coisas da vida em seu conjunto. Adotar o ponto de vista de Deus significa estar lúcido para ver o "mal"; detectar onde há egoísmo, onde há falta de amor; sentir pena no fundo de si mesmo por tudo o que se opõe a Deus. O exercício espiritual chamado "revisão de vida" envolve essa busca em um acontecimento, em um fato da vida, para descobrir o pecado que está escondido, os contravalores, misturados ali... é uma tentação sempre ressurgente - mas contemplar a obra salvadora de Deus e orar para que a salvação de Deus progrida. Onde há pecado, também há abundânia da graça de Deus (cf. Rm 5,20-21). Temos experiência de que muitos de nossos pecados, ao invés de nos afastar de Deus, nos conduzem a Ele, desde que sejamos leais e lúcidos convertidos.

Para o cristão, o pecado desperta a oração e não a condena. Adotar o ponto de vista de Deus é tornar-se salvador com Ele. Jesus nos repetiu que "Deus ama os pecadores", que é essencialmente bom, que "faz o sol brilhar sobre bons e maus" (Mt 5,44-45). Sabemos que Jesus veio "não para os que têm saúde, mas para os que precisam de médico". 

Por isso, o segundo tema é o do pecado. Para o autor da Carta, o homem que vive com Deus, que o autor usa a expressão “nascido de Deus” (1Jo 5,18), não conhece o pecado (Cf. 1Jo 3,6-9). Mas isto não quer dizer que o seguidor de Cristo vive, automaticamente, em um estado de impecabilidade. O homem em si é uma possibilidade para cada momento: possibilidade para o bem ou para o mal, dependendo da decisão tomada por ele. Para o autor da Carta, considerar-se sem pecado é uma mentira e um desmentido feito a Deus (1Jo 2,8-10; 5,16). Mas o autor enfatiza que aquele que vive em comunhão com Deus recebe auxílio eficaz do Filho que o separa do mundo e do maligno 

No texto há também afirmações que fazem referência ao “pecado que leva à morte” e que se contrapõe ao “pecado que não leva à morte”. Não se trata de o pecado venial e de o pecado mortal. 

Dentro do pensamento joanino, o pecado que verdadeiramente leva à morte é pecado de homicídio: “Quem odeia seu irmão é assassino. E sabeis que a vida eterna não permanece em nenhum assassino” (1Jo 3,15). Quem odeia “permanece na morte”, não “passa da morte para a vida”. Da mesma forma que o amor leva à vida, o ódio leva à morte (cf. 1Jo 3,11-12.14-15). Para o homem da Bíblia, pecado e morte estão sempre juntos ou unidos (os primeiros capítulos do Genesis nos recordam, entre outras coisas, a união entre pecado e morte). A morte que está ligada ao pecado é a morte espiritual. A morte espiritual é a separação de Deus ou da comunhão com Deus. Portanto, da salvação. 

O mal não tem rosto porque ele pode tomar o ser de qualquer um de nós. Ninguém está isento da possibilidade do mal. O mal é tudo que serve à morte; tudo que sufoca a vida, estreita-a, e corta-a em pedaços. Por isso, a realidade do mal exige vigilância. 

As principais ameaças à nossa sobrevivência já não vêm da natureza externa e sim de nossa natureza humana interna. São nossas hostilidades, nosso descaso, o egoísmo, o orgulho/a arrogância, prepotência e a ignorância deliberada que põem o mundo em perigo. Se não conseguirmos domar e transmutar o potencial da alma humana para o mal, nós estaremos perdidos e faremos perdida até nossa própria família. 

Dentro do pensamento de são João surge a seguinte pergunta: Será que temos plena consciência da grave consciência do ódio que é a separação de Deus que significa a exclusão da salvação? Ainda somos teimosos em permanecer no ódio? Não nos pede o Senhor para que haja sempre o espaço para o perdão sem limite: setenta vezes sete? (cf. Mt 18,21-22). Ser verdadeiro cristão é difícil, de fato!

Quem odeia seu irmão é assassino. E sabeis que a vida eterna não permanece em nenhum assassino”. O pecado é um dos acontecimentos diários que todos nós temos em comum, algo com que todos nós podemos nos identificar. É uma batalha para vencer ou perder.

Precisamos sondar mais profundamente e com maior senso de comunidade quem somos como espécie: nossas forças e nossas fraquezas, nosso poder e o mau uso que fazemos dele, nossas riquezas e o mau uso que fazemos delas. Devemos prestar atenção também à nossa capacidade de destruição e de ódio por nós mesmos, ao nosso ressentimento e avareza, à nossa inveja e indiferença, à nossa arrogância e maldade; em suma, aos nossos pecados. Eles são capazes de criar o inferno para nossa convivência, isto é, uma total ausência do amor e por isso, uma total ausência de Deus, pois “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16).

Mas, acima de tudo, devemos estar conscientes de que a graça de Deus não somente está na origem, mas também está no caminho e no instante final de nossa vida. Esta graça continua a ser oferecida para nós em Jesus Cristo depois de nossa queda em pecado. O bom ladrão, no último minuto de sua vida, se arrependeu e pediu a Jesus crucificado ao seu lado: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu Reino”. Jesus, prontamente, perdoou o criminoso dizendo: “Hoje mesmo tu estarás comigo no paraíso” (Lc 23,42-43). Isso nos mostra que a graça de Deus é maior do qualquer pecado, pois “Onde se multiplica o pecado, a graça transbordou” (Rm 5,20). Não há pecado, por maior ou grave que seja, que não possa ser perdoado por Deus desde que o home se converta.

Jesus Cristo É a Fonte de Nossa Alegria 

A transformação da água em vinho é o primeiro sinal operado por Jesus no evangelho de João. O evangelista João jamais emprega a palavra “milagre” (dýnamis, grego, como ato de poder e de força) que aparece com muita freqüência nos sinóticos. Em vez disso, ele usa o termo “sinal” (seméion, grego). Este termo pertence ao vocabulário técnico do quarto evangelho, onde aparece 17 vezes, sobretudo na primeira metade. Em João, “sinal” é ação/obra realizada por Jesus que, sendo visível, leva por si ao conhecimento de realidade superior. O “sinal” remete a outra coisa. Os “sinais joaninos”, porém, não somente apontam para uma realidade que está além da coisa ou acontecimento visível, mas contém já em si mesmos a realidade significada. Eles são, de certo modo, uma manifestação da “glória” de Jesus. Enquanto o milagre, pelo poder surpreendente que ele força a constatar, tem por função orientar em direção à pessoa e à dignidade do seu autor. O “sinal” visa a outra realidade além de si mesmo. Este termo joanino inclui sempre dois aspectos: demonstrativo, o sinal suscita a fé dos discípulos em Jesus; expressivo, ele manifesta a glória daquele que o opera. Encontram-se no Evangelho de João sete sinais de Jesus (2,1-11: bodas de Caná; 4,46-54: a cura do filho do funcionário real; 5,1-9: a cura do paralítico; 6,1-15: a partilha dos pães; 6,16-21: Jesus caminha sobre as águas; 9,1-41: a cura do cego de nascença; 11,1-44: a reanimação de Lázaro). Por isso, a primeira parte do Evangelho de João (1,19-12,50) chama-se o livro dos sinais. Enquanto a segunda parte (13,1-20,29) chama-se o Grande Sinal que fala da paixão, morte e ressurreição de Jesus.          

O objetivo principal de todos os sinais relatados no Quarto Evangelho é a fé, como João deixa claro no final: os sinais feitos por Jesus foram escritos “para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida eterna em seu nome” (Jo 20,31). Isto quer nos dizer que diante dos sinais operados por Jesus é necessário tomar uma decisão (Jo 7,31;9,16;11,47). Sem tomar uma decisão positiva (crer em Jesus), os sinais se tornarão juízo de acusação contra os que se mostram incrédulos (cf. Jo 12,37ss).                     

O episódio de Caná, isto é, o primeiro sinal de Jesus, acontece num casamento/bodas. Na linguagem bíblica/teológico-simbólica, o casamento/bodas é símbolo da aliança com Deus, sublinhando a relação de amor e fidelidade entre Deus e o povo (Is 49,14-26;54,48;62,4-5;Jr 2;Ez 16). A eleição do povo e a aliança foram expressão do amor de Deus por ele (Dt 4,37;7,7s;10,15).  Os profetas usaram muitas vezes a imagem de casamento para falar do amor mútuo entre Deus e Israel (Is 62,4-5;Os 2,18-22). Portanto, o casamento em Caná é simbólico. O verdadeiro esposo da humanidade é Jesus (3,29), pois foi assim que João Batista o anunciou (cf. 1,15.27.30). E toda a Igreja é uma esposa.                    

A mãe de Jesus estava nas bodas de Cana. No evangelho de João a mãe de Jesus (Maria) aparece somente duas vezes, mas nos momentos mais importantes. Maria, em primeiro lugar, atua na realização do primeiro sinal de Jesus, no momento em que Jesus inaugura sua missão pública (Jo 2,1-11). Em segundo lugar, Maria permanece ao pé da cruz, no momento da morte de Jesus, no final de sua missão nesse mundo (cf. Jo 19,25-27). O evangelista João quer nos dizer que Maria tem um lugar especial no seu evangelho, pois ela se faz presente nos momentos mais importantes da vida e da missão de Jesus. Tudo que se prefigura no primeiro sinal se cumpre na cena da mãe de Jesus ao lado da cruz.          

Nas núpcias de Caná “estava ali a mãe de Jesus”. Para o evangelista João, a figura da mãe de Jesus também é central, pois a partir dela é que a atenção se projetará sobre Jesus. A manifestação da glória de Cristo passa através da mãe.          

Na festa de casamento em Caná, ou seja, na antiga aliança faltou vinho. O vinho, na Bíblia, simboliza/representa o amor (cf. Ct 1,2;7,10;8,2). A antiga aliança, portanto, não tem mais sentido, pois o amor foi substituído pela Lei. Os seis enormes potes de pedra que serviam para os ritos de purificação dos judeus (v.6), representam a falta de amor na relação com Deus e com o próximo. Além disso, estão vazios, ou seja, não têm mais nada a dar.          

A mãe de Jesus reconhece isso, pois em vez de se dirigir ao organizador da festa, vai diretamente a Jesus e lhe diz: “Eles não têm mais vinho” (v.3). A expressão é semelhante à usada pelos apóstolos antes do milagre da multiplicação dos pães: “Eles não têm mais nada para comer” (cf. Mc 8,2;Mt 15,32). Maria vê o conjunto, ou seja ela tem a visão do conjunto e compreende aquilo que é essencial. Este é o espírito contemplativo de Maria, o seu dom de síntese, a capacidade de dar atenção às coisas particulares. Maria consegue ver o ponto central com a inteligência do coração e não através do raciocínio ou da análise imediata de todos os elementos. Quando o coração superar as razões, a caridade começará a agir, pois a caridade sempre parte do coração. Quando negarmos o que o coração pedir, começaremos a criar muitas desculpas, mas depois cairemos num remorso, pois razão nenhuma pode negar o que o coração pede. “Eis o meu segredo, disse a raposa ao Pequeno Príncipe. É muito simples: Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos” (Antoine De Saint-Exupéry, em: O Pequeno Príncipe). Maria percebe o gemido mudo da humanidade e simplesmente o exprime: “Eles não têm mais vinho”. Maria se identifica com as pessoas numa situação sufocante, e por isso pede com naturalidade uma solução para o seu Filho, Jesus Cristo, o Salvador da humanidade. 

A missão de Maria é muito explicita: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Maria se define por completo em relação ao seu Filho. Maria dispõe nossos corações para acolhermos as palavras de Jesus, mesmo que sejam pesadas, mas sempre libertadoras. Esta é seguramente uma dimensão importantíssima de sua função maternal na Igreja. 

A partir de Maria precisamos descobrir o que falta na nossa vida, na nossa vida religiosa, na nossa convivência, na nossa comunidade, no casamento, na família com o intuito de sofrer e amar juntos e não para acusar ou recriminar ninguém. O que falta em mim? Talvez sejam pequenas ou grandes coisas que me faltam; talvez faltem perdão e renúncia ou tensões a cobrir ou pequenas palavras a frear. Ou de modo geral, talvez falte muita coisa para que eu possa ser “o bom vinho” para mim, para os outros, e para Deus. Maria é uma mãe preocupada com aquilo que não tenho. É uma mãe que se dá conta daquilo que não sou. Eu preciso voltar a fazer aquilo que Jesus ensina para que eu possa voltar a ser o que devo ser. Falamos muito de Deus até demasiadamente, mas falamos menos com Deus. É preciso que falemos mais com Deus e precisamos deixá-Lo falar sobre nós para que possamos passar do falar para o fazer: “Fazei tudo o que ele vos disser”.

P. Vitus Gustama,SVD

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