quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

30/12/2022: Sagrada Família- Oitava do Natal

SAGRADA FAMÍLIA DE NAZARÉ

Primeira Leitura: Eclo 3,3-7.14-17ª

3 Deus honra o pai nos filhos e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe. 4 Quem honra o seu pai, alcança o perdão dos pecados; evita cometê-los e será ouvido na oração cotidiana. 5 Quem respeita a sua mãe é como alguém que ajunta tesouros. 6 Quem honra o seu pai, terá alegria com seus próprios filhos; e, no dia em que orar, será atendido. 7 Quem respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da sua mãe. 14 Meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive. 15 Mesmo que ele esteja perdendo a lucidez, procura ser compreensivo para com ele; não o humilhes, em nenhum dos dias de sua vida: a caridade feita ao teu pai não será esquecida, 16mas servirá para reparar os teus pecados 17ª e, na justiça, será para tua edificação. 

Segunda Leitura: Cl 3,12-21

Irmãos: 12 Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, 13 suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também. 14 Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. 15 Que a paz de Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo. E sede agradecidos. 16 Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza, habite em vós. Ensinai e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria. Do fundo dos vossos corações, cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças. 17 Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Por meio dele dai graças a Deus, o Pai. 18 Esposas, sede solícitas para com vossos maridos, como convém, no Senhor. 19 Maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros com elas. 20Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isso é bom e correto no Senhor. 21Pais, não intimideis os vossos filhos, para que eles não desanimem. 

Evangelho: Mt 2,13-15.19-23

13 Depois que os magos partiram, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise! Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. 14 José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe, e partiu para o Egito. 15 Ali ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu Filho”. 19 Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, 20 e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe, e volta para a terra de Israel; pois aqueles que procuravam matar o menino já estão mortos”. 21 José levantou-se, pegou o menino e sua mãe, e entrou na terra de Israel. 22 Mas, quando soube que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Por isso, depois de receber um aviso em sonho, José retirou-se para a região da Galileia, 23 e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado Nazareno”.

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Neste dia celebramos a festa da Sagrada Família. Celebramos um fato de salvação, Jesus nasce de mulher e convive em uma família, uma família exemplar. José é sumamente respeitoso diante do mistério de sua esposa, Maria. Maria é responsável diante da vontade de Deus que a escolheu para ser Mãe de Jesus. E o Menino Jesus vive em obediência. Para a Sagrada Família, há que obedecer a Deus antes de obedecer aos homens. A festa de hoje oferece o marco adequado para situar o interesse eclesial para a família e pôr em destaque os elementos básicos da posição cristã. 

A existência de uma família é insubstituivel. No encontro com as famílias no Rio de Janeiro em 1998, o Santo Padre João Paulo II recorda que: “a família é patrimônio da humanidade, porque através dela, segundo o desígnio de Deus, deve prolongar-se a presença do homem no mundo”. A família é o lugar onde, por vontade de Deus e por natureza, se assegura a continuidade de uma humanidade que não pode permitir-se a estagnação vital. Cada ser humano significa um novo enriquecimento e uma contribuição irrepetível ao patrimônio da humanidade. É também a manifestação de um amor que, tendo a sua fonte em Deus, através da comunhão conjugal chega a este mundo e o enriquece. Cada ser humano traz consigo uma imagem e semelhança particular do próprio Deus. A humanidade vê-se, assim, subjugada e enriquecida pela família. 

A família não cumpre apenas a missão transcendental de transmitir a vida e assim prolongar a humanidade. É também o motor da humanidade. No mesmo Encontro com as Famílias, João Paulo II insistiu sobre este papel insubstituível que pertence e desempenha a vida familiar: “Longe de ser um obstáculo ao desenvolvimento e crescimento da pessoa, a família é o ambiente privilegiado para fazer crescer todas as potencialidades. pessoal e social que o ser humano carrega inscrito em seu ser". É o ambiente onde cada um dos filhos descobre e inicia o caminho da sua vocação humana e cristã.

Segundo o Papa Francisco na Exortação Apostólica AMORIS LAETITIA (AL), a chave geral para que a família ou o casamento possa ficar firme no amor em qualquer situação e para sua santificação está na espiritualidade. Esta espiritualidade consiste

        Na leitura e na meditação da Palavra de Deus

        Na oração em família

        Na participação da Eucaristia

        No Perdão mútuo diariamente 

“A família é chamada a compartilhar a oração diária, a leitura da Palavra de Deus e a comunhão eucarística, para fazer crescer o amor e tornar-se cada vez mais um templo onde habita o Espírito” (AL n. 29). 

Deus se encarnou através da família para nos relembrar que a presença da família é indispensável para o crescimento de uma pessoa humana na direção de Deus. A família é um dom de Deus, pois um dos seus membros é Deus encarnado. A encarnação de Deus na família eleva a família para o nível divino. 

A linguagem da fé de cada cristão se aprende no lar. A fé e a ética cristã se aprendem no lar que vão marcar a vida de cada membro para o resto da vida. Nenhum de nós adquiriu por si só os conhecimentos básicos para a vida, mas através da família. Por isso, a família é insubstituível por qualquer riqueza do mundo.

Sabemos muito bem que a família é uma comunidade de vida e de amor. A família é o lugar onde começa a vida e o amor nunca termina. A família é uma comunidade de pessoas que se ajudam a crescer como pessoas. É uma comunidade de vida, de pessoas vivas e com capacidade para dar e transmitir vida. Ter família é um magnifico dom e um magnífico poder. E não somente pensar no fato de gerar filhos e sim em cultivar e fazer crescer todo tipo de vida, em contagiar e irradiar seus próprios valores e ideais, em fazer que a pessoa seja como ela é. É uma comunidade de amor. Basta tirar o amor da família, ela se descompõe. A família é a célula social básica e caixa de ressonância dos grandes problemas da sociedade: questão homem-mulher, relação entre gerações, juventude, velhice, infância e assim por diante. A família é nosso berço natural onde recebemos carinho e cuidado, calor e alimento, refúgio e valor, fé e ideais. Ela nos marca de tal maneira que sempre conservamos querências familiares.

Numa sociedade que corre o risco de se tornar cada vez mais despersonalizada e massificada e, portanto, desumana e desumanizadora, a família ainda possui e comunica energias formidáveis capazes de remover o homem do anonimato, de mantê-lo consciente de sua dignidade pessoal, para enriquecê-lo com profunda humanidade e implantá-lo ativamente no tecido da sociedade. Acabar com a família significa acabar com a humanidade.

As famílias quase sempre estão em crise, porque os problemas são frequentes, como aconteceu também com a Sagrada Família como relatou o texto do Evangelho de hoje. Umas vezes, o divórcio, outras, os maus tratos, outras os filhos. Umas vezes os pais se queixam dos filhos, e outras, os filhos se queixam de seus pais. Por isso, quase sempre há crise. 

Dois séculos antes de Cristo, também havia problemas por causa da modernização, da helenização da Palestina. Ben Sirac (Eclesiástico) recorre à tradição para sustentar a família e os ideais judeus, como lemos no texto da Primeira Leitura de hoje (Eclo3,3-7.14-17ª). Os conselhos deste nobre ancião servem também para nossos dias: mais respeito, mais atenção, mais carinho dos filhos para os pais e dos pais para os filhos. 

São Paulo, na Segunda Leitura, situa a família no marco da Igreja universal. A família cristã vem a ser como uma pequena Igreja, como uma paróquia ou uma diocese em miniatura. Desta sorte a moral familiar, o estilo de vida de uma família cristã, não é mais que a moral cristã a que dimana das exigências do Evangelho. Em todos os casos, família, paróquia, diocese, Igreja universal o verdadeiramente importante é o amor: “... sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14). E certamente, o amor é a chave, porque é o desamor, a incompreensão, os egoísmos encontrados, a intolerância, o que vivia e põe em crise a convivência familiar e social. A família se define e se constrói no amor. O amor, ao dar, não cria dependência ou passividade; cria naquele que recebe o amor a capacidade de dar. Assim como Deus-Amos nos cria criadores, assim o amor, dando-se, cria doadores. O amor é criativo e faz crescer. O amor não é tesouro que se guarda e sim semente que se cultiva; não é olhar-se um para outro e sim conjuntar olhares e esforços em metas superiores. O amor há que conquistá-lo e cultivá-lo na luta de cada dia. O amor é que mantém uma família e uma comunidade unidas. Onde não há amor, há apenas divisão e a mutua acusação em vez de o mútuo perdão, o mútuo apoio e o respeito mútuo. Se não houver o mútuo respeito, não haverá nenhum espaço para a mútua admiração. O amor santifica cada família, santifica seus membros, pois Deus santo é amor. 

Se nós cristãos buscarmos a santidade, teremos que buscá-la na família, como teremos que fazê-la também no trabalho e na vida pública e privada. Acima de tudo, a família oferece maiores oportunidades e mais possibilidades, toda vez que se trata de um grupo pequeno no qual podemos nos conhecer profundamente nos confiar mutuamente. Daí a importância da família para uma saudável socialização. No seio de uma família se santificaram Jesus e José e Maria. E a santidade da Sagrada Família serve de exemplo para cada família cristã. Mas, sobretudo, serve de esperança e faz possível nossas aspirações. 

A família e a Eucaristia. O símbolo da família é a mesa. Comer juntos é como um pequeno sacramento que expressa o amor mútuo e o faz crescer.  Também a comunidade familiar cristã tem uma mesa: a Eucaristia.

P. Vitus Gustama,SVD

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