sábado, 10 de dezembro de 2022

14/12/2022: Advento

SER TESTEMUNHA DO DEUS DA ESPERANÇA E DA MISERICÓRDIA

Quarta-feira Da III Semana Do Advento

Primeira Leitura: Is 45, 6-8.18.21b-25

6Eu sou o Senhor, não há outro, 7 eu formei a luz e criei as trevas, crio o bem-estar e as condições de mal-estar: sou o Senhor que faço todas estas coisas. 8 Céus, deixai cair orvalho das alturas, e que as nuvens façam chover justiça; abra-se a terra e germine a salvação; brote igualmente a justiça: eu, o Senhor, a criei”. 18 Isto diz o Senhor que criou os céus, o próprio Deus que fez a terra, a conformou e consolidou; não a criou para ficar vazia, formou-a para ser habitada: “Sou eu o Senhor, e não há outro. 21b Acaso não sou eu o Senhor? E não há deus além de mim. Não há um Deus justo, e que salve, a não ser eu. 22 Povos de todos os confins da terra, voltai-vos para mim e sereis salvos, eu sou Deus, e não há outro. 23 Juro por mim mesmo: de minha boca sai o que é justo, a palavra que não volta atrás; todo joelho há de dobrar-se para mim, por mim há de jurar toda língua, 24 dizendo: Somente no Senhor residem justiça e força”. Comparecerão perante ele, envergonhados, todos os que lhe resistem; 25 no Senhor será justificada e glorificada toda a descendência de Israel.

Evangelho: Lc 7,19-23

Naquele tempo, 19 João convocou dois de seus discípulos, e mandou-os perguntar ao Senhor: És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” 20 Eles foram ter com Jesus, e disseram: “João Batista nos mandou a ti para perguntar: ‘És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?’” 21 Nessa mesma hora, Jesus curou de doenças, enfermidades e espíritos malignos a muitas pessoas, e fez muitos cegos recuperarem a vista. 22 Então, Jesus lhes respondeu: “Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e a boa nova é anunciada aos pobres. 23 É feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!”

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O Deus Criador Do Céu e Da Terra Em Quem Devemos Acreditar e Nos Apoiar

Estamos no Livro da Consolação do profeta Isaías ou o Segundo Isaías, Deutero-Isaías (Is 40-55) que foi escrito durante o exílio na Babilônia onde se encontra o texto da Primeira Leitura (Is 45,6-8.18.21b-25). Os israelitas testemunharam a destruição do Templo e de sua querida cidade, Jerusalém pelas tropas estrangeiras. E muitos foram levados para a Babilônia em 587 a.C. Na Babilônia eles eram obrigados a trabalhar duramente. A tristeza virou uma rotina para a vida deles. 

O profeta surgiu nessa situação para que os israelitas reafirmassem sua esperança e voltassem acreditar no seu Deus que é o Criador do céu e da terra. Eu sou o Senhor, não há outro, eu formei a luz e criei as trevas, crio o bem-estar e as condições de mal-estar: sou o Senhor que faço todas estas coisas... Sou eu o Senhor, e não há outro. Acaso não sou eu o Senhor? E não há deus além de mim. Não há um Deus justo, e que salve, a não ser eu”. São palavras que inculcam a resistência no povo diante dos tempos difíceis para que confie em Deus e volte a aprender a ser fiel a Deus. São palavras cheias de uma esperança ressonante e da promessa da justiça que brotará da Terra.

Eu sou o Senhor, não há outro, eu formei a luz e criei as trevas, crio o bem-estar e as condições de mal-estar: sou o Senhor que faço todas estas coisas...”. O que tem por trás desta frase é a crença que os persas tinham na época. A religião persa acreditava que havia deus da luz, responsável pelo bem e havia também um deus das trevas, responsável pelo mal. Trata-se de uma religião dualista (crença que acredita em dois deuses diferentes). O Deutero-Isaías é um defensor do monoteísmo em que há apenas um Deus, Criador do Céu e da Terra.

Os profetas intentavam recordar o povo, que sempre esquecido e distraído, a existência e a atuação desse Deus transcendente, o Único, o todo Outro, cheio de poder e misericórdia. Esse Deus é o Único que pode salvar o povo. Como Criador de todas as coisas (visíveis e invisíveis) este Deus é todo poderoso. Somente a Ele podemos pedir a salvação e a justiça. Acreditando nesse Deus e sendo fiel a Ele “a verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a justiça olhará dos altos céus. O Senhor nos dará tudo o que é bom, e a nossa terra nos dará suas colheitas; a justiça andará na sua frente e a salvação há de seguir os passos seus.” (Salmo Responsorial, Sl 84).

Da fé no Deus cheio de poder e de misericórdia brota a oração muito própria para o Advento: Céus, deixai cair orvalho das alturas, e que as nuvens façam chover justiça; abra-se a terra e germine a salvação; brote igualmente a justiça” (Is 45,8). Que os céus lá do alto derramem o orvalho, que chova das nuvens o justo esperado!” (Salmo Responsorial, Sl 84. Seria bom rezar o Salmo inteiro como uma oração individual, pois é muito próprio para o Advento). 

Esta é uma das profecias de Isaías que o Advento tem mais em conta. A renovação messiânica é anunciada como uma “Primavera”.  A natureza inteira se renova permanentemente. É assim deve ser a vida do homem como uma maneira mais eficaz de receber e acolher o Salvador. 

Céus, deixai cair orvalho das alturas, e que as nuvens façam chover justiça; abra-se a terra e germine a salvação; brote igualmente a justiça” (Is 45,8). A terra seca recebe orvalho que a faz fecunda e cada planta brota os novos brotos em toda parte. É uma visão poética e otimista! Constantemente devemos voltar a encontrar este sentido profundo das coisas, este otimismo enraizado. Efetivamente, Deus fez bela a terra e quer que seja bela e fecunda. O anúncio da era messiânica é um anúncio de renovação, de fecundidade, de beleza de uma vida de fraternidade. Qual é minha participação nessa renovação, é a pergunta que cada um de nós deve fazer. É preciso conceber meu trabalho, minha vida de família, minha vida profissional, minha vocação, meus compromissos como uma cooperação a Deus Criador. 

Nossas Palavras Jamais Ultrapassam Nossos Atos e Nossa Pregação Não Podem Ir Além De Nosso Testemunho

“És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”

No texto do evangelho lido neste dia os enviados de João Batista perguntam a Jesus se ele é Messias esperado. Mais tarde é o próprio Jesus quem perguntará a seus discípulos acerca de sua própria identidade (cf. Mt 16,13-20). Neste quadro de interesse por Jesus vão aparecendo diversas reações. Começa com a pergunta dos enviados de João Batista: “És Tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”. 

O texto nos conta que João Batista está na prisão. Mas por que ele manda fazer a seguinte pergunta para Jesus, através de seus discípulos: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”          

João Batista faz esta pergunta, porque o comportamento ou o modo de atuar de Jesus não responde ao ideal messiânico de João Batista diante das pessoas com as severas imagens do machado, a vara e o fogo para insistir à conversão diante do julgamento iminente que ele anunciava (cf. Mt 3,1-12). Para ele, o Messias é um guerreiro vitorioso, um juiz severo, um rei poderoso e vingador contra os malvados da terra. Mas Jesus não está fazendo aquilo que João Batista esperava e pregava. Daí surge esta pergunta: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”. 

A resposta de Jesus se esclarece no plano dos princípios dos fatos: “Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos recuperaram a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres”. Isto quer nos dizer que somente pode ser evangelizadora uma comunidade cristã que atende, que infunde paz e esperança, que liberta, que se mostra cheia de misericórdia, que defende e protege a vida em todas suas instâncias.

“És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”.

A dúvida de João Batista sobre a identidade de Jesus nasce do fato de que, se Jesus é o Messias deveria acabar com a história do mal e iniciar a escatologia, o tempo de Deus. Com Jesus, tudo parece como antes. Nenhuma mudança espetacular. Os poderosos estão ainda no seu lugar e os pobres sempre mais pobres. Por isso, surge a pergunta ou é aquele que há de vir ou então outro deve ser a nossa expectativa? O problema de João Batista é aquele é aquele básico da salvação: como conhecer e acolher o Senhor que vem? É a questão sempre atual sobre o discernimento cristão na história. 

Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e a boa nova é anunciada aos pobres”. Jesus interpreta a própria ação recorrendo ao profeta Isaías (Is 26,19; 29,18; 35,5ss; 42,18; 61,1): Jesus realiza a promessa escatológica. E os enviados de João Batista estão aptos para dizer aquilo que viram e dar-lhe a interpretação autêntica: a história de Jesus que “cura” e “agracia” é a obra do Messias em uma história concreta de males. Com a presença do Messias, o mal perde sua força e seu espaço na vida homem convidado para estar com o Messias. Jesus, o Cristo, vence o mal. A fé que leva à salvação é discernir com a mente e aceitar com o coração a visita de Deus em Jesus, o Messias e Senhor crucificado por misericórdia. É um messianismo que vai além de nossas expectativas, porque nos é apresentado um Messias crucificado, pobre e humilde que transforma o mal em graça. Nós Te esperamos, Senhor, como o cego, a vista; o estropiado, as pernas; o leproso, a purificação; o surdo, a palavra; o morto, a vida. Vem, Senhor, pois És aquele que há de vir. Tu és a luz que ilumina minha cegueira. Tua morte na cruz é a vida para minha vida cheia de desespero e de confusão.

Tanto o justo quanto o pecador esperam algo enquanto sentem falta de alguma coisa. Para quem não falta nada, nada espera. A quem falta o essencial, está essencialmente em expectativa. Dentro deste contexto é que pode-se entender porque os cegos, os coxos, os leprosos, os surdos e os mortos esperam: representam situações extremamente pobres de vida. Por isso, a Boa Notícia está reservada a todos os pobres e necessitados. Os outros se escandalizam de Cristo, pois acham que já tem tudo e não esperam nada. 

Esta pergunta continua flutuando em meio da história. Os homens que aguardam e aceleram a irrupção da justiça (os marxistas); os que sonham com um mundo mais humano; os que esperam um futuro cataclismo que destrua os cimentos da injusta ordem estabelecida; os que simplesmente sofrem esmagados pela figura de Jesus continuam perguntando: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”. “És tu aquele cristão que nos devolve a esperança de um mundo novo?”. 

A resposta de Jesus se esclarece no plano dos princípios dos fatos: “Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos recuperaram a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres”. Isto quer noz dizer que quando uma pessoa for capaz de abrir os olhos dos outros para perceber que a vida é um dom e por isso vive na permanente ação de graças, quando for capaz de fazer alguém buscar o que é justo, correto e honesto, de manter o coração limpo, de aprender a escutar o outro e a dialogar, de devolver a dignidade e de falar e de espalhar apenas o que é bom para a convivência, então esta pessoa é realmente uma verdadeira mensageira de Deus. Somente pode ser evangelizadora uma comunidade cristã que atende, que infunde paz e esperança, que liberta, que se mostra cheia de misericórdia. A credibilidade da Igreja e de cada cristão em particular se conseguirá, quando fizermos o bem dentro da própria comunidade e ao nosso redor, como Jesus que passou a vida fazendo o bem (At 10,38). 

Neste Advento todo cristão pode, antes de tudo, crescer em sua fé e logo transmiti-la aos demais, evangelizar (levar e falar o que é bom) e conduzir os outros a Jesus, como fez João Batista. Todos podem ser precursores de Jesus: os pais para com os filhos, os amigos com os amigos, catequistas com seus catequizandos, os professores com seus alunos, os patrões com seus funcionários, e assim por diante, para que não precisem repetir a pergunta de João Batista: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”. 

Que cada um de nós possa dizer para si próprio na humildade e simplicidade, sem nenhuma arrogância espiritual, a exemplo de Jesus: “Consegui fazer aquela pessoa enxergar a vida como um maior dom; consegui levantar aquele homem de seu desespero para viver na esperança; consegui dividir minha comida com aquele que estava faminto; consegui fazer aquela pessoa triste voltar a ser sorridente; consegui transformar aquele homem em parceiro do bem; consegui perdoar aquela pessoa que me magoou profundamente”. A nossa resposta, como cristãos, para o mundo atual deve ser esclarecida no plano dos princípios dos fatos. Nossas palavras jamais ultrapassam nossos atos. Nossa pregação jamais pode ir além de nosso testemunho. Se não, como seres humanas e cristãos, vamos perdendo nossa credibilidade diante dos outros e diante da humanidade de modo geral. 

Céus, deixai cair orvalho das alturas, e que as nuvens façam chover justiça; abra-se a terra e germine a salvação; brote igualmente a justiça. Que os céus lá do alto derramem o orvalho, que chova das nuvens o justo esperado!”.

P. Vitus Gustama,SVD

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