terça-feira, 3 de dezembro de 2024

07/12/2024-Sábado Da I Semana Do Advento

SER PROFETA DA ESPERANÇA PARA A HUMANIDADE

Sábado da I Semana Do Advento

Primeira Leitura: Is 30,19-21.23-26

Assim fala o Senhor, o Santo de Israel: 19 Povo de Sião, que habitas em Jerusalém, não terás motivo algum para chorar: ele se comoverá à voz do teu clamor; logo que te ouvir, ele atenderá. 20 O Senhor decerto dará a todos o pão da angústia e a água da aflição, não se apartará mais de ti o teu mestre; teus olhos poderão vê-lo 21 e teus ouvidos poderão ouvir a palavra de aviso atrás de ti: “o caminho é este para todos, segui por ele”, sem desviar-vos à direita ou à esquerda. 23 Ele te dará chuva para a semente que tiveres semeado na terra, e o fruto da terra será abundante e rico; nesse dia, o teu rebanho pastará em vastas pastagens, 24 teus bois e os animais que lavram a terra comerão forragem salgada, limpa com pá e peneira. 25 Haverá em toda montanha alta e em toda colina elevada arroio de água corrente, num dia em que muitos serão mortos com o desabamento de seus torreões. 26 A lua brilhará como a luz do sol e o sol brilhará sete vezes mais, como a luz de sete dias, no dia em que o Senhor curar a ferida de seu povo e fizer sarar a lesão de sua chaga.

Evangelho: Mt 9,35-10,1.6-8

Naquele tempo, 35Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o evangelho do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade. 36Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: 37“A Messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” 10,1E, chamando os seus doze discípulos deu-lhes poder para expulsarem os espíritos maus e para curarem todo tipo de doença e enfermidade. Enviou-os com as seguintes recomendações: 6“Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! 7Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. 8Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar!”

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Ser Profeta/Anunciador da Esperança

Povo de Sião, que habitas em Jerusalém, não terás motivo algum para chorar: ele se comoverá à voz do teu clamor; logo que te ouvir, ele atenderá”.

Vendo e observando o modo de viver da maioria do povo de Jerusalém sem levar em conta as leis de Deus, o profeta Isaías não duvida em escrever a próxima catástrofe em cores de sombra como consequência disso. O povo de Jerusalém vai penetrar (ou já penetrou) num período de angústia e tribulação (Is 30,20). Para o povo esta situação difícil considerada como castigo é o fruto de seu pecado.

Porém, o mesmo profeta sonha com um reino onde o mal seria totalmente abolido: fome, doenças, violências militares e injustiças sociais. Nisto, o profeta Isaías é um profeta da esperança e o mais universal. Para o profeta Isaías, assim que o povo voltar a Deus, o choro de tristeza terá seu fim: “Não chorarás mais”, pois logo Deus “te responderá”.

O Senhor sempre terá misericórdia de nós e estará sempre pronto a nos perdoar qunado nos convertermos. Quem não passou por momentos de angústia e bebidas amargas na vida? Muitas vezes parece que Deus escondeu de nós o seu rosto. No entanto, enquanto continuarmos a confiar Nele e a recorrer a Ele com oração sincera, o Senhor misericordioso terá misericórdia de nós e nos responderá assim que nos ouvir. Ele sempre cuidará de nós como um pai amoroso faz com seus filhos. Deus não quer a morte de seus filhos. Ele enviou-nos o seu próprio Filho para que, tornando-se um de nós, cure as nossas feridas. Ele não apenas nos dá o alimento necessário para sobreviver neste mundo, mas, principalmente, nos concede em abundância o seu perdão e o seu Espírito Santo para que não apenas nos chamemos filhos de Deus, mas para que realmente o tenhamos como nosso Pai.

Para que tudo isso possa se tornar realidade o profeta pede a todos que creiam novamente em Deus, pois somente Deus é capaz de destruir o mal e construir o povo feliz. Esta fé em Deus se concretiza na conversão. A fé leva a pessoa à conversão. Fé é conversão são inseparáveis.  Por isso, o profeta chama a todos à conversão. Quando a Bíblia fala de conversão, isso envolve a pessoa toda: não apenas seu senso moral e ético, mas também sua capacidade intelectual e sua vida espiritual. Corpo, mente e alma juntos são afetados pelo ato de conversão, e as consequências são sentidas em todos os aspectos da vida da pessoa, inclusive nos campos social e político. A conversão nos leva a um novo relacionamento com Deus, relação filial, e com outros seres humanos, numa relação de fraternidade. Por isso, o chamado bíblico à conversão é apropriadamente dirigido a comunidades e não simplesmente a indivíduos.

Essa conversão é apresentada como um abandono dos ídolos (mudos) que o Segundo-Isaías se encarrega de ridicularizar (cf. Is 40,12-21; 41,6-7; 44,9-20). Essa conversão levará o povo à felicidade (Is 30,23-26). Trata-se de uma felicidade paradisíaca onde haverá a harmonia com tudo e com todos, sem nenhuma inimizade (cf. Is 41,17-20; 43,16-21). Em outras palavras, o profeta quer que o homem volte ao seu equilíbrio moral e ético pela conversão, e a volta da natureza à sua harmonia e fecundidade paradisíaca. O profeta Isaías, como toda a Bíblia, acredita numa profunda comunhão entre o homem e a natureza, pois a natureza é a criação de Deus. A harmonia com Deus se expressa também na harmonia com a natureza ou toda a criação de Deus. O homem não se salva sem o cosmos. O homem não se salva sem salvar o cosmos. Quando houver a harmonia com todos (com Deus, com o próximo, consigo próprio e com a natureza), haverá a paz (Shalom). Esta harmonia deve acontecer também com a natureza: “Haverá em toda montanha alta e em toda colina elevada arroio de água corrente, num dia em que muitos serão mortos com o desabamento de seus torreões” (Is 30,25).

O apelo do Papa Francisco para salvar o planeta Terra, nossa irmã, está na linha profética: “Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que «geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos.” (Carta Encíclica: Laudato Si, n.2).

A reflexão do profeta Isaías nos ajuda a vermos ou a enxergarmos a esperança como projeção de nossa fé de hoje sobre o porvir incerto do amanhã. Porque a fé não é somente uma experiência atual, mas também a espera confiada na fidelidade de Deus sobre a nossa amanhã. O profeta tem a experiência de que a fidelidade de Deus é imutável: não muda nem esquecida. Todo crente pode fazer sua a segurança paulina: “Eu sei em quem acreditei, e estou certo de que Ele é poderoso para guardar até aquele dia o bem a mim confiado” (2Tm 1,12).

Uma das características da liturgia do Advento é o seu apelo insistente à conversão e nos seus anseios pela salvação e a transformação da natureza. Não nos esqueçamos que estamos nos preparando para acolher o Deus feito homem que vem fazer sua tenda no meio de nós (Jo 1,14) a fim de nos salvar por puro amor (Jo 3,16). O melhor presente no Natal para todos é o nosso coração humano e divino para que a harmonia reine entre nós e no meio de nós.

Ser Enviado Para Eliminar o Mal

 Jesus percorria todas as cidades e povoados ensinando em suas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando todo tipo de doença e enfermidade”, assim nos relatou o evangelho deste dia.

O texto do evangelho que nos propõe para nossa meditação neste dia apresenta umsumário” da atividade de Jesus na Palestina, especialmente em Cafarnaum. A atividade de Jesus nesse sumário tem basicamente várias facetas.

A primeira, como Mensageiro. O mensageiro é aquele que leva a mensagem do rei. Jesus é Aquele leva a mensagem do Rei dos reis: Deus. A tarefa do mensageiro é a proclamação das certezas de Deus. Quando prega sempre proclama as certezas vindas de Deus. Jesus anda de um lugar para outro lugar, de uma aldeia para outra aldeia para proclamar as certezas sobre a vida eterna para todos os homens, pois todos são amados por Deus (cf. Jo 3,16). O cristão não pode ficar numa encruzilhada da vida sem placas. As certezas do cristão, as placas da vida de um cristão são os ensinamentos de Cristo. “Cristo não é apenas Aquele em quem acreditamos, a maior manifestação do amor de Deus, mas é também Aquele a quem nos unimos para poder acreditar. A fé não só olha para Jesus, mas olha também a partir da perspectiva de Jesus e com os seus olhos: é uma participação no seu modo de ver”. (Papa Francisco: Carta Encíclica Lumen Fidei n.18).

Segunda, como Mestre. Não basta proclamar as certezas cristãs para deixá-las como estão.  É preciso mostrar para os homens o significado dessas certezas para sua vida cotidiana.  Essas certezas devem ser enraizadas no próprio coração do mensageiro. As certezas cristãs não são mostradas apenas com palavras e sim com a vida, isto é, essas certezas devem ser vividas ou devem fazer parte da vida diária do cristão. Não é tarefa do cristão discutir o cristianismo. Ele tem que vivê-lo. Jesus prega e vive as certezas e ensina algo para edificar a fraternidade. Ele corrige os ensinamentos equivocados dos legalistas que excluem muitas pessoas de uma convivência igualitária e fraterna. Por isso, toda sua pregação e todo seu ensinamento são chamados de Boa Notícia ou Boa Nova. Por isso, Jesus é considerado como quem tem autoridade (cf. Mc 1,27).

A terceira faceta é como Terapeuta. Jesus atende e ajuda os enfermos para libertá-los de suas doenças físicas, psicológicas e espirituais. Jesus se preocupa com o homem na sua totalidade. Jesus cuida do homem na sua totalidade. O apóstolo Pedro, na sua pregação, resumiu bem toda a atividade de Jesus nessas palavras: “Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele” (At 10,38). O verdadeiro cristão é, consequentemente, aquele que somente prega, ensina e faz o bem até o fim de sua vida terrena.

A quarta faceta da atividade de Jesus é como Pastor: “Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”. Como o verdadeiro Pastor Jesus se compadece das multidões e trata de orientá-las pelo caminho da solidariedade, da fraternidade e da tolerância. Jesus sempre se compadece pelos que sofrem como se o sofrimento fosse dele próprio. A compaixão é uma das características de Deus. A compaixão é comover-se até as entranhas, solidarizar-se profundamente, sentir-se a partir de outrem; é sofrer com (Latim: pati + cum, compaixão = sofrer com). A compaixão supõe ter uma consciência coletiva. Supõe a capacidade de sentir o que o outro sente. A compaixão requer que estejamos com as pessoas que sofrem e dispostos a partilhar nosso tempo com elas. Quando compartilhamos nosso coração e tempo com uma pessoa que sofre, uma parte do sofrimento dela será aliviada. O resto, deixamos com Deus desde que façamos nossa parte até o limite de nossa capacidade. Somos seguidores do Deus da Compaixão que se tornou carne em Jesus Cristo.

A quinta faceta da atividade de Jesus é como organizador de comunidades de homens e mulheres.  Havia muitas pessoas inquietas, mas necessitavam de um fator de coesão, de um líder que os vinculava e os ajudava a crescerem como pessoas. Esta última faceta de organizador e de promotor de organizações comunitárias está condensada nos relatos de eleição dos doze missionários ou apóstolos para continuar a missão. E aqui está condensada um dos seus ensinamentos fundamentais: a comunidade cristã (pastorais, movimentos, grupos eclesiais) existe para evangelizar. A comunidade cristã existe porqueumpovo cansado e abatidodiante do qual cada membro da comunidade cristã é chamado a ser solidário capaz de aliviar a dor alheia e de dar resposta a partir de sua própria insignificância e debilidade. Cada um de nós, apesar das fraquezas, tem algo de bom para ser partilhado com os outros. Se cada um tirar um pouco de bom de dentro de seu coração o cristianismo vai fazer a diferença na sociedade.

Jesus é muito consciente da amplitude de sua obra. É necessário ter muito tempo. Sem pressa Jesus limita a missão no momento dentro do território de Israel. Ele mesmo, durante sua vida terrena, se limitou ao que podia fazer: dirigir-se às ovelhas agarradas da casa de Israel. Mais tarde ele enviaria os discípulos pelo mundo inteiro (Mt 28,18-20). Em outras palavras, é preciso arrumar primeiro a casa. É preciso evangelizar os que estão dentro de casa para depois evangelizar os que estão fora dela que nem sempre é fácil. É o desafio de cada missionário-evangelizador.           

Ao enviá-los Jesus dá-lhes o poder. Mas este poder deve ser entendido como um dom de autoridade (autoridade: augere =crescer). Somente tem autoridade aquele que é capaz de fazer o outro crescer. Aquele que está com autoridade tem as seguintes características: 1). Está orientado por inteiro ao ministério apostólico, ou para o serviço e não para dominar ou mandar e desmandar e sim para expulsar o mal, fazer o bem, pregar o Reino. É um dom completamente missionário. Por isso, não se trata de nenhum poder de direção ou de governo. 2). É uma autoridade conferida, mas não abandonada por Jesus aos seus discípulos. 3). Jesus reconhece que haverá oposição por causa de interesses egoístas.                       

Somos chamados por Jesus Cristo para estar com ele a fim de aprendermos a ser parceiros do bem. Somos enviados depois do encontro com ele para fazer o bem e em busca dos novos parceiros do bem. A alma da missão é a caridade. A única coisa que nos faz bem é fazer o bem. A vida não é uma luta para superar os outros, mas uma missão a ser exercida para dar o melhor de nós para a humanidade conforme os talentos recebidos de Deus. Estamos aqui neste mundo com um objetivo único, com um objetivo nobre que nos permitirá manifestar nosso mais alto potencial enquanto, ao mesmo tempo, acrescentamos valor às vidas das pessoas que estão a nossa volta. Descobrir a própria missão significa trazer mais de você mesmo para o trabalho, para a convivência e concentrar-se nas coisas que você sabe fazer melhor e dar sempre o melhor de você para os outros sem esperar nada em troca.   

Proclamai que o reino de Deus está próximo”. Muitas vezes se busca Deus demasiadamente longe. De fato ele está próximo de nós. O Deus que Jesus revela é um Deus próximo, um Deus amoroso. Por isso, jamais eu estou sozinho, inclusive quando me sinto abandonado ou solitário. Para poder proclamar aos demais sobre a bondade, a proximidade da presença de Deus, o cristão-missionário há que ter feito a experiência do Deus próximo em si mesmo pessoalmente. 

Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios”.  O cristão-missionário é aquele que distribui benefícios, aquele que faz o irmão crescer e viver a vida dignamente, aquele que leva a paz. A partir disso, é bom cada se perguntar: “Qual será minha maneira de ajudar, de servir, de distribuis benefícios para os outros irmãos?”. 

Recebestes de graça, de graça dai!”. Além de ter uma vida despojada, o cristão deve ser generoso e viver na gratuidade. O cristão deve ter consciência plena de que ele está num mundo de Deus, isto é, num mundo de gratuidade, pois tudo é de Deus, menos o pecado. Por isso, o cristão-missionário deve atuar com desinteresse econômico, não buscando seu próprio proveito. Todos sabem que quanto mais se tem, mais se quer. A felicidade ficará cada vez mais distante quando o ser humano começar a criar mais necessidades. Aquele que sabe reduzir ao mínimo suas necessidades encontra uma alegria e uma liberdade maior. Possuído ou dominado pelas coisas o homem perde sua liberdade. 

Advento é oportunidade para dar a mão e o coração para aqueles que estão distantes de nosso coração, marginalizados de nosso afeto, desprezados de nosso respeito, afastados de nosso perdão. Advento é olhar exigente e sincero sobre nós mesmos e sobre os demais com reflexos de compreensão, ternura, ajuda e paciente perseverança. Advento é preparação de um novo encontro com o Deus de amor e de misericórdia que vem ao nosso encontro na debilidade de uma Criança para nos ensinar toda a verdade. Será que estou pronto para aceitar toda a verdade de minha vida? Não é a verdade que doe. O que doe muito é a falsidade, pois somente a verdade que nos faz livres e leves no nosso cotidiano.

P. Vitus Gustama,svd

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

06/12/2024-Sextaf Da I Semana Do Advento

NO SENHOR E COM O SENHOR ENCONTRAREI A ALEGRIA DE ENXERGAR NOVAMENTE O SENTIDO DA MINHA VIDA

Sexta-Feira da I Semana do Advento

Primeira Leitura: Is 29,17-24

Assim fala o Senhor Deus: 17 Dentro de pouco tempo, não se transformará o Líbano em jardim? E não poderá o jardim tornar-se floresta? 18 Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro e os olhos dos cegos verão, no meio das trevas e das sombras. 19 Os humildes aumentarão sua alegria no Senhor, e os mais pobres dos homens se rejubilarão no Santo de Israel; 20 fracassou o prepotente, desapareceu o trapaceiro, e sucumbiram todos os malfeitores precoces, 21 os que faziam os outros pecar por palavras, e armavam ciladas ao juiz à porta da cidade e atacavam o justo com palavras falsas. 22 Isto diz o Senhor à casa de Jacó, ele que libertou Abraão: “Agora, Jacó não mais terá que envergonhar-se nem seu rosto terá de enrubescer; 23 quando contemplarem as obras de minhas mãos, hão de honrar meu nome no meio do povo, honrarão o Santo de Jacó, e temerão o Deus de Israel; 24 os homens de espírito inconstante conseguirão sabedoria e os maldizentes concordarão em aprender”.

Evangelho: Mt 9,27-31

Naquele tempo, 27 partindo Jesus, dois cegos o seguiram, gritando: “Tem piedade de nós, filho de Davi!” 28 Quando Jesus entrou em casa, os cegos se aproximaram dele. Então Jesus perguntou-lhes: “Vós acreditais que eu posso fazer isso?” Eles responderam: “Sim, Senhor”. 29 Então Jesus tocou nos olhos deles, dizendo: “Faça-se conforme a vossa ”. 30 E os olhos deles se abriram. Jesus os advertiu severamente: “Tomai cuidado para que ninguém fique sabendo”. 31 Mas eles saíram, e espalharam sua fama por toda aquela região.

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O tema dos cegos faz um elo entre as leituras deste dia (Primeira Leitura e o Evangelho). No Antigo Testamento, a cegueira é muitas vezes considerada um castigo de Deus (Dt 28,28; 2Rs 6,18; Zc 12,4, etc.,). A cegueira é o castigo do pecado (Is 42,18-20; 59,10, etc., ; veja João 9,2). A Bíblia ainda fala dos cegos espirituais que recusam abrir os olhos à luz espiritual, tais são os adoradores de ídolos (2Cor 4,4), os pecadores (Jo 3,19-20), os incrédulos (Mc 3,5; Rm 11,25, etc.,). O Messias recebe a dupla missão de devolver a vista aos corpos e de abrir os olhos da alma.

A Primeira Leitura revela a composição do Resto messiânico, os pobres que confiam totalmente em Deus, pois estão sem recurso humanos (anawim): “Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro e os olhos dos cegos verão, no meio das trevas e das sombras. Os humildes aumentarão sua alegria no Senhor, e os mais pobres dos homens se rejubilarão no Santo de Israel” (Is 29,18). O pobre referido por Isaías é alguém cuja condição o torna mais apto a contar com Deus do que o rico confiante em seus meios humanos. Neste sentido, o pobre se torna rico diante de Deus e o rico egoísta e ganancioso se torna pobre diante de Deus, pois na hora da morte tudo será deixado. O olho do profeta Isaías vislumbra como próxima a salvação total. Esta salvação já está presente no coração dos que esperam no Senhor ainda que não apareça na ordem externa. Quando triunfar o Messias, quando chegar seu Reino e tudo for transformado e o mundo for redimido, não poderá existir o mal em nenhum sentido. Todos se tornarão irmãos para com os outros. Todos escutarão e todos verão porque todos viverão pendentes da Palavra de Deus e de sua vontade salvífica. E o Evangelho insiste na atitude necessária para pertencer ao Resto messiânico: a fé no poder divino depositado em Jesus, o Messias esperado.

A Situação Difícil De Quem Tem Fé Será Transformada Por Deus Em Situação De Felicidade

Dentro de pouco tempo, não se transformará o Líbano em jardim? E não poderá o jardim tornar-se floresta? Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro e os olhos dos cegos verão, no meio das trevas e das sombras. Os humildes aumentarão sua alegria no Senhor, e os mais pobres dos homens se rejubilarão no Santo de Israel; fracassou o prepotente, desapareceu o trapaceiro”. Aqui o profeta Isaías fala do tempo escatológico. Porém, o profeta está consciente de que nenhum homem pode acelerar a chegada deste tempo escatológico, pois pertence ao domínio total de Deus. Para o homem este tempo escatológico é sempre iminente. Para falar deste tema, a natureza serve de cenário e de símbolo. O olho do profeta vislumbra como próxima a salvação total. Essa salvação já está presente no coração dos que esperam, ainda que não apareça na ordem externa. Entende-se como libertação da pobreza da terra, e de todo abuso social. Será uma recuperação total da criação de seu sofrimento e de nosso coração quando esta salvação chegar. Quando triunfar o Messias, quando chegar seu Reino, não poderá existir mais o poder do mal: tanto o mal cósmico como o mal humano haverão de desaparecer. Todos escutarão e todos verão/enxergarão, porque viverão pendentes da Palavra de Javé, de sua vontade salvífica.

A transformação da majestosa beleza dos bosques do Líbano em jardim (Is 29,18) não significa uma situação de bênção. O bosque tem no AT sentido claramente positivo (cf. Dt 19,5; Js 17,5.18; Is 44,14; Ct 2,3; Ecl 2,6). O que se enfatiza aqui são dois aspectos tanto o negativo como o positivo. O aspecto positivo é que o jardim que se transforma em bosque equivaleria à mudança de situação de surdos e cegos, humilde e pobres (Is 29,18-19). Mas ao mesmo tempo se enfatiza o aspecto negativo. O Líbano, símbolo do orgulho e da pretensão de rebelar-se contra Deus, rebaixado para a categoria de jardim, seria a imagem de desaparecimento de opressores. Em outras palavras, o mal tem seu tempo de validade e portanto, o mal não tem futuro seguro. Os que se sentem poderosos se envelhecem e morrem como qualquer um dos seres humanos. Vai chegar um dia em que seu poder conhecerá a queda total. O prepotente somente é forte para algum tempo, mas o humilde é forte eternamente, pois a humildade é o terreno fértil onde as virtudes crescem e se mantém. O humilde reverencia ao Sagrado, pois reconhece-se terra, chão, pó, porém o pó vivente, pois tem consciência ter o hálito divino dentro dele.

No entanto, os surdos e os cegos em Is 29,18-19, têm sentido figurado. Surdez e cegueira têm frequentemente no AT a conotação da recusa voluntária em não querer ouvir nem ver. Quando alguém não quer ouvir o que deve ser ouvido, um dia será obrigado a ouvir aquilo que sempre evitou ouvir. Diante daquilo que sempre fechamos os olhos para ver, um dia seremos obrigados a abrir os olhos para ver. Um dia, estaremos frente a frente com a realidade nua e crua de nossa vida e não tem como disfarçar ou fugir. Por isso, não custa nada ter um pouco de humildade para ouvir aquilo que deve ser ouvido embora soframos, e ver aquilo que devemos ver embora experimentemos um pouco ou muito de vergonha, porém a verdade nos liberta. Consequentemente, teremos oportunidade para nos corrigir mais cedo.

Is 29,20-21 descreve o fim dos opressores. Os opressores também envelhecem e morrem. O profeta descreve os opressores como fanfarrão. Um fanfarrão é igual ao mau que ignora a sabedoria e a inteligência e por isso, sempre age com violência. Mas no fim o fanfarrão terá que admitir o fracasso total.

Além de fanfarrão dentro do grupo dos opressores se encontram também aqueles que aproveitam sua influência no âmbito público (os tribunais, Is 29,21) para colocar obstáculos à administração da justiça. Eles manipulam a verdade para esconder sua podridão.

Mas para os justos, Deus faz as promessas (Is 29,22-24). O texto sublinha a presença do Senhor na História da humanidade. Ele é fiel até o fim. A fidelidade do Senhor aos patriarcas é o argumento decisivo para continuar no caminho da esperança. Afinal Deus sempre tem a última palavra para a humanidade.

Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro e os olhos dos cegos verão, no meio das trevas e das sombras. Os humildes aumentarão sua alegria no Senhor, e os mais pobres dos homens se rejubilarão no Santo de Israel; fracassou o prepotente, desapareceu o trapaceiro”. Que belo o panorama que nos apresenta o profeta Isaías! Deus quer salvar seu povo e logo Ele fará tudo isso. Não há nada melhor para um surdo do que voltar a ouvir, assim como um cego que volta a enxergar. É uma libertação! Os que se sentiam oprimidos experimentarão a libertação. Já não teremos mais vergonha de ser bons e justos e seguir ao Senhor. Os cegos verão e a escuridão deixará lugar para a luz. Por isso, é um texto muito otimista que lemos hoje!

O Advento nos convida a abrirmos os olhos, a esperar, a permanecer na busca contínua, a nos deixar salvar e a sair ao encontro do verdadeiro Salvador que é Jesus Cristo. Seja qual for nossa situação pessoal e comunitária, Deus nos estende Sua mão e nos convida à esperança, porque nos assegura que Ele está conosco, o Emanuel.

No início da Eucaristia, muitas vezes repetimos a súplica dos cegos: “Kyrie, eleison”. “Senhor tenha compaixão de nós!”. Para que Ele nos purifique interiormente, nos dê sua força, nos cure de nossos males e nos ajude a celebrar bem sua Eucaristia. É uma súplica breve e intensa que muito bem podemos chamar oração de Advento, porque estamos pedindo a vinda de Cristo para nossas vidas. Neste Advento temos que descobrir nossa miséria e encontrar a resposta salvadora de Jesus.

Somente o Senhor Pode Nos Ajudar a Enxergar Melhor o Sentido Da Vida

O texto do evangelho deste dia fala de dois cegos. No Antigo Testamento, a cegueira é muitas vezes considerada um castigo de Deus (Dt 28,28; 2Rs 6,18; Zc 12,4; veja no NT em Jo 9,2). Por isso, neste sentido, a cegueira é uma metáfora que expressa falta de visão espiritual (cf. Is 42,19; 29,18; 56,10; Rm 2,19; 2Cor 4,4; 2Pd 1,9; 1Jo 2,11; Ap 3,17). E Salvação trazida pelo Messias é descrita como luz para o cego (Is 35,5; 42,16.18; 43,8; Jr 31,8). O Messias tem como missão, entre outras, devolver a vista aos corpos (curar a cegueira física) e abrir os olhos da alma (curar a cegueira espiritual).

O evangelista Mateus nos relatou que dois cegos gritaram a Jesus: “Tem piedade de nós, Filho de Davi!”. O grito é um sinal. Sinal de uma necessidade muito forte, de um protesto, de um sofrimento muito intenso, sinal de uma sensibilidade afetada. gritos em silêncio que são gritantes. Mas há gritos gritantes que não dizem nada. Todo barulho não faz bem e o bem não faz barulho. Há grito dos bons, mas há também grito dos maus e maldosos. “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”, dizia Martin Luther King. Além disso, sabemos também da experiência que quem grita é porque tem necessidade de esconder a insegurança.

Uma necessidade fortemente sentida como o sofrimento físico ou moral, ânsia de pão para sobreviver, ânsia de amizade, ânsia para viver e conviver em um clima familiar, aspiração para uma vida melhor, tudo isso pode ser o ponto de partida, o início de uma busca de Deus.

Filho de Davi, tem piedade de nós!”. Ao dizer Filho de Davi” os dois cegos reconhecem em Jesus um título messiânico. Eles querem dizer a Jesus: “Tu és Aquele que há de vir, Aquele que foi prometido pelos profetas. Em Ti colocamos toda a nossa esperança, e por isso, a Ti gritamos!”.  E “o grito do pobre sobe até Deus, mas não chega aos ouvidos do homem(Hughes Lamennais).

Os dois cegos entraram na casa onde Jesus morava. Aqui a casa é a comunidade cristã onde Jesus é a cabeça dela. Nessa comunidade é que ecoa a Palavra que ilumina, que faz ver as realidades deste mundo de um novo modo, que capacita o homem a ver a presença de Deus em tudo neste mundo. Nessa comunidade é que ressoa a Palavra que devolve a esperança perdida e ganha a visão clara sobre a vida.

Nesta casa, Jesus interroga os dois cegos para saber a autenticidade de sua . Jesus deseja purificar esta : “Credes que eu posso fazer isso?”, pergunta-lhes Jesus. A necessidade humana que está na origem de sua oração poderia não ser o desejo de um milagre para si mesmo. Jesus apenas suscita neles a esperança, o desejo e a . Ele não quer forçar. Ele não quer adivinhar a necessidade. Ele não faz uma dedução. Ele pergunta para saber da real necessidade das pessoas.

Com sua pergunta Jesus quer levar os dois cegos a avançar até uma mais pura. Os dois pensam em si mesmos: “Tende piedade de nós, Filho de Davi”. Mas Jesus lhes orienta para Sua própria pessoa: “Credes que EU posso fazer isso?”. Jesus dialoga. Ele não advinha as coisas. Ele quer dialogar. Hoje em dia, o diálogo não é mais uma opção e sim uma necessidade. Um cristão deve ser uma pessoa de diálogo. Jesus pergunta se os dois cegos têm ou não nele, pois o milagre que dispõe a fazer não é uma coisa automática nem mágica. Os sacramentos não são atos mágicos: os sacramentos requerem .

Quando Jesus perguntou aos cegos: “Credes que eu posso fazer isso?”. Logo eles responderam: “Sim, Senhor”. E aconteceu o milagre: os olhos se abriram. Cumpriu-se aquilo que o profeta Isaias dizia: “Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro e os olhos dos cegos verão no meio das trevas e das sombras” (Is 29,18).  Dar a vista aos cegos era um dos sinais da salvação definitiva, como símbolo da libertação da tirania (Is 29,18ss; 35,5.10; 42,6s; 49,6.9s). Abrir os olhos dos cegos significa tirá-los da escravidão para continuar seu êxodo, sua caminhada para a plena perfeição (Mt 5,48). depois de terem encontrado Cristo e de terem escutado a sua Palavra é que os cegos reconheceram Jesus como Senhor e entregam-se a Ele e recuperam a vista.

O dom da cura é um acontecimento relacional que requer o encontro e o contato pessoal com Jesus. Toda vez que fizermos a experiência de contato pessoal com Jesus, ganharemos a graça de ver melhor as coisas, os acontecimentos, a vida e seu sentido. Os cegos se aproximam de Jesus e se deixam tocar por Ele. E a cegueira desapareceu e voltam a enxergar novamente. A recuperação da vista, tanto física como espiritual, sempre traz a alegria e o ânimo para seguir adiante na vida e para viver explosivamente. Os cegos curados saíram e espalharam a fama de Jesus mesmo que Jesus tenha pedido para eles não falarem a ninguém. A verdadeira alegria é uma implosão e explosão que ninguém consegue segurar.

Filho de Davi, tem piedade de nós!”. A oração dos dois cegos é muito simples: é seu grito, grito que brota de seu sofrimento, grito que está cheio de esperança! É a oração angustiada de quem sofreu muito por causa de um problema sério.

Minha oração também deveria ser, simplesmente, esta: a experiência e a confissão sinceras de que algo não caminha bem em mim, na minha família, na minha vocação, na minha profissão, no meu trabalho, no meu casamento, na minha comunidade eclesial, ao meu redor e assim por diante. Em cada missa fazemos sempre esta oração: Senhor, tende piedade de nós, como rezaram os dois cegos. O campo de nossa miséria é muito menor do que o tamanho do campo da misericórdia divina. Por isso, podemos “gritarcom esperança ao Deus da misericórdia.

Podemos até não ser cegos fisicamente. Mas precisamos deixar o Senhor abrir nosso coração, pois um coração aberto torna nossa visão aberta diante da vida, das pessoas e diante de todos os acontecimentos desta vida e entenderemos seu significado e veremos tudo a partir do olhar de Deus.

Para adquirir o olhar de Deus, para ver as criaturas com os olhos de Deus, julgar seus valores e pôr no seu devido lugar, aquilo que o Criador nos confiou, nós precisamos que Cristo cure a nossa cegueira, que através da Sua Palavra faça brilhar a Sua Luz. Ver a luz é sinônimo de nascer (Jo 3,16). Os primeiros cristãos chamavam “iluminados” aos que tinham recebido o Batismo; eles eram considerados recém-nascidos.

O advento é um tempo especial para ler, estudar e meditar a Palavra de Deus, pois ela ilumina nossa mente e nosso coração e para praticar a , estando na luz. O Messias que vai chegar no Natal é a nossa Luz, a Luz do mundo (Jo 8,12). Precisamos contempla a verdadeira Luz do mundo para que sejamos Seus reflexos no mundo. Precisamos deixar a Palavra de Deus tocar nossa mente, nosso coração, nosso agir, nossos olhos para que possamos ser iluminados e ver tudo a partir de Deus. Sendo iluminados, seremos, por nossa vez, luz que ilumina para os demais. “Vós sois a luz do mundo”, diz o Senhor no Sermão da Montanha (Mt 5,14). Uma pessoa iluminada faz os outros enxergarem bem o caminho que deve ser trilhado. Mas uma mente escura faz todo mundo tropeçar e viver apalpando sem saber em que direção deve seguir.

Pessoa iluminada por Cristo e Sua Palavra é agradável com as pessoas, educada na forma de acolher, humana no jeito de olhar, simples na maneira de viver, olhar com profundidade, pois tudo é iluminado, abraçar com generosidade, amar com criatividade e para construir, aprender continuamente, crescer constantemente e falar respeitosamente e compreender para ponderar.

O Advento nos convida a permanecermos na contemplação da verdadeira Luz que é o próprio Jesus Cristo. Seja qual for nossa situação pessoal e comunitária. Deus nos estende Sua mão e nos convida à esperança, porque nos assegura que Ele está conosco (Mt 28,20).

Despertai, Senhor, vosso poder e vinde, para que vossa proteção afaste os perigos a que nossos pecados nos expõem e a vossa salvação nos liberte”. Que o Senhor nos ilumine com Sua Palavra para que sejamos pessoas iluminadas, pessoas da luz de Deus, pessoas firmes na prática da Palavra de Deus. É preciso chegarmos próximos de Jesus para que sua Luz possa ser refletida em cada um de nós para que sejamos pessoas iluminadas para os demais. Assim será cumprida em nós a missão de ser luz do mundo: “Vós sois a luz do mundo!” (Mt 5,14).

P. Vitus Gustama,svd

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