quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

23/12/2024-Segundaf Da IV Semana Do Advento

O JUSTO É AMPARADO POR DEUS

Nascimento de João Batista

23 de Dezembro

Primeira Leitura: Ml 3,1-4.23-24

Assim fala o Senhor Deus: 1 “Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; logo chegará ao seu templo o Dominador, que tentais encontrar, e o anjo da aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; 2 e quem poderá fazer-lhe frente, no dia de sua chegada? E quem poderá resistir-lhe, quando ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; 3 e estará a postos, como para fazer derreter e purificar a prata: assim ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor. 4 Será então aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém, como nos primeiros tempos e nos anos antigos. 23 Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o dia do Senhor, dia grande e terrível; 24 o coração dos pais há de voltar-se para os filhos, e o coração dos filhos para seus pais, para que eu não intervenha, ferindo de maldição a vossa terra”.

 

Evangelho: Lc 1,57-66

57 Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho. 58 Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para com Isabel, e alegraram-se com ela. 59 No oitavo dia foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. 60 A mãe porém disse: “Não! Ele vai chamar-se João”. 61 Os outros disseram: “Não existe nenhum parente teu com esse nome!” 62 Então fizeram sinais ao pai, perguntando como ele queria que o menino se chamasse.  63 Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: “João é o seu nome”. 64 No mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. 65 Todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia espalhou-se por toda a região montanhosa da Judeia. 66 E todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando: “O que virá a ser este menino?” De fato, a mão do Senhor estava com ele.

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João Batista é o Sacerdote-Profeta

 

“Eis que envio meu mensageiro, e ele há de preparar o caminho para mim...”

A Primeira Leitura é tirada do Livro do Profeta Malaquias (século V a.C). As profecias de Malaquias acontecem na época em que o templo é reconstruído. O culto de Templo é muito deficiente. A casta sacerdotal está longe de ser reformada/renovada. Segundo a profecia de Malaquias, a vinda de Javé será a oportunidade para uma profunda renovação da casta sacerdotal para que a casta sacerdotal possa voltar ao ideal de fidelidade de seus antepassados (cf. Ex 32,26-29; Nm 25,7-13; Dt 33,8-11): a perfeição no culto e a purificação moral ou uma justiça social. O sacerdote precisa ser homem de rito e homem de palavra (cf. Mal 2,6-7).

Da parte de Deus há anúncio de reformas e sobretudo, o envio de um mensageiro que prepare o caminho do próprio Senhor. Sua vinda será graça e juízo, ao mesmo tempo, será um fogo que purifica para que a oferenda do Templo seja dignamente apresentada diante do Senhor. Uma das características da missão deste mensageiro será que “converterá o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais”.

Os traços do sacerdote ideal se encontram em João Batista. O profeta João Batista é um membro da família sacerdotal (Lc 1,5). Porém, João Batista nunca exerceu um ministério sacerdotal, propriamente dito. Ele prefere, antes, um ministério profético. Na descrição de Malaquias, João Batista é o sacerdote-profeta.

A vinda de Messias inaugurará uma reforma profunda da “função sacerdotal” que a família de Levi exerce até aqui. O Homem-Deus, o Deus-Conosco vem para fundar o culto definitivo. A oferenda não será mais animais. Cristo Jesus é a oferenda agradável e justa. Jesus não oferece um cordeiro pascal e sim se oferece a si mesmo, sua própria vida e sua própria morte. Ele derrama seu sangue na cruz para salvar a humanidade. O valor da minha vida é o sangue de Jesus derramado na cruz. A Eucaristia é o sacrifício espiritual pelo qual os cristãos se oferecem eles mesmos em união com Cristo.

“Eis que envio meu mensageiro, e ele há de preparar o caminho para mim...”. O anúncio do profeta Malaquias de que Deus enviará um mensageiro, prepara em paralelo o relato evangélico do nascimento de João Batista. A figura de João Batista nos convida à conversão, a voltarmos para o Senhor que vem nos salvar e deixarmo-nos salvar por ele. A voz de João Batista, neste Advento, nos convida à vigilância com o olhar posto no futuro de Deus e ouvido atento para escutar a Palavra de Deus. Cada Advento é pôr-se em marcha ao encontro de Deus que sempre vem. Na nossa vida, como na sociedade e o Templo de Israel, há coisas que precisam urgentemente mudar, as atitudes que devem ser purificadas e os caminhos que necessitam de endireitar-se. No Natal basta abrir os presentes. Temos que abrir, principalmente, nosso coração e nos tornar presentes para os outros. Ser presente é ser dom para os outros.

Um dos sinais da proximidade de um Natal segundo o coração de Deus seria aquilo que o profeta Malaquias anunciava: a reconciliação entre os pais e os filhos, entre os irmãos, entre os vizinhos, entre os membros da comunidade. Esta é a melhor preparação para uma festa que celebra o Deus que se fez Deus-Conosco, e portanto, nos convida a sermos nós-Com Deus, por uma parte e nós-conosco, por outra, porque todos somos irmãos.

Nascimento de João Batista

João significa o Senhor manifestou sua benevolência; “Zacarias”: “Deus se recordou”; “Isabel” (elíseba, Hbr): “Deus é plenitude, perfeição”.

Depois das anunciações dos nascimentos, contemplamos os próprios nascimentos. Hoje contemplamos o nascimento de João Batista.

O nascimento de João Batista é visto como um ato de “misericórdia” do Senhor na vida de Isabel e Zacarias. O que se enfatiza na misericórdia são a generosidade e a fidelidade de Deus aos justos. “Justo” é aquele que acolhe o amor de Deus com gratidão. E este amor leva a pessoa a viver de acordo com a justiça divina e não faz nenhuma injustiça contra os outros, seja na palavra, seja no ato. Através do nascimento de João Batista de um casal idoso e estéril, mas justo, Deus quer mostrar como é grande o seu poder pelos justos e como é gratuito o seu amor que torna fecunda uma mulher estéril como Isabel. Vale a pena ser justo, pois Deus está ao nosso lado.

Isabel viveu a esterilidade até sua idade avançada no sentido de que a possibilidade de gerar se torna zero. O ventre estéril de Isabel representa a condição da humanidade: sem vida, sem esperança, e sem futuro. É uma situação insustentável, triste e sem saída. Mas para os justos Deus sempre intervém do alto para dar-lhes vida, movido unicamente por seu amor. Neste ponto explode a alegria que envolve a todos e que provoca o homem a fazer louvores. A presença de Deus na vida de qualquer pessoa sempre traz a alegria. As pessoas que acreditam em Deus são pessoas alegres, porque Deus é Amor e o Bem maior.

Por outro lado, o texto quer nos apresentar o lado escuro da . Zacarias serve a Deus no Templo. Mesmo assim tem dúvidas diante do anúncio de Deus sobre a gravidez de Isabel, sua esposa apesar de sua idade avançada. Vem a pergunta que serve de reflexão para cada um de nós diante da incredulidade de Zacarias: “Que sentido tinha, então, o rito que com tanta solenidade ele celebrava no Templo? Que sentido tem das missas das quais participamos quase todos os dias se continuamos a duvidar da misericórdia e do poder de Deus na nossa vida?”. Estar no Templo, estar na Igreja e trabalhar na e pela Igreja nem sempre significa ter . Zacarias quer nos alertar sobre esse assunto.

Através do nascimento milagroso de João Batista Deus quer dizer a cada um de nós: “Confie em mim!”. Deus nos pede que em cada dúvida, perplexidade e escuridão de nossa vida que saibamos nos entregar nas mãos misericordiosas de Deus e que sejamos fiéis aos seus mandamentos não por medo, mas por amor. Diante do amor de Deus devemos responder com o mesmo amor. 

Através do seu Anjo Deus diz a Zacarias: “Não tenhais medo, Zacarias!”. As mensagens e a Palavra de Deus são motivo de paz e de serenidade para quem as escuta com coração e as vive no cotidiano. É verdade que em determinados casos e momentos pode custar aceitar a vontade de Deus, porém, no final da história sempre nos deixa a paz. Por isso, quandomedo e desconfiança temos que recorrer à voz e à Palavra de Deus que nos acalma. Para Deus nãonada, absolutamente nada que seja impossível (cf. Lc 1,37).

“Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: João é o seu nome”. Para um judeu, o nome é todo um símbolo: significa a função. Em cada nome contém uma missão específica. As raízes da palavra “João” significam “Deus dá gratuitamente”, “o Senhor manifestou sua benevolência”. Como a palavra “Jesus” significa “Deus salva”. Decididamente, estas páginas do Evangelho de Lucas (Evangelho da Infância: Lc 1-2) aparentemente são infantis, mas na verdade estão cheias de conteúdo teológico. O evangelista Lucas, ao escrever essas páginas, se serve de todo desenvolvimento doutrinal sobre a graça de Deus naquele tempo.

Deus salva pela graça, gratuitamente. Esta tese da Carta de São Paulo aos romanos estava já escrita quando começou a redação dos evangelhos.

Todos se alegraram pelo nascimento de João Batista e ficaram maravilhadas ao saber que Zacarias deu nome para seu filho de João e voltou a falar: Todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando: ‘O que virá a ser este menino? ’. De fato, a mão do Senhor estava com ele”.

O que virá a ser este menino?”. Esta foi a pergunta de todos sobre João Batista. Esta pergunta é a pergunta de qualquer mãe ou pai diante do filho (a) recém-nascido (a). “O que virá a ser este menino ou esta menina?”. Terá todas as possibilidades e todos os riscos da liberdade. Este menino recém-nascido será santo ou criminoso?

De fato, a mão do Senhor estava com ele”. É uma bela imagem: mão. A mão de um homem é algo formoso. É algo que lhe permite atuar, ajudar, acariciar, trabalhar. No sentido metafórico a mão tem alguns sentidos na Bíblia. “Dar a mão” significa firmar uma aliança ou contrato. “Pôr a mão na boca” é sinal de querer ficar calado (Jó 21,5; Pr 30,32). “Pôr a mão na cabeça” significa tristeza (2Sam 13,19; Jr 2,37) “Tocar na mão do outro” significa prometer fidelidade a um pacto (Pr 6,1 ou exprime acordo (Gl 2,9) e amizade (2Rs 10,15). A mão é símbolo de poder, de força e posse

A mão de Deus” significa, simbolicamente, o exercício de seu soberano poder, símbolo do poder divina (Dt 4,34; 5,15), especialmente na criação e na providência (Sl 8,7; Jó 10,8; Ex 13, 3.15). “A mão de Deus” repousa sobre alguns para abençoá-los, conceder-lhes o espirito prometido ou assinalar uma intervenção divina. “A mão de Deus”. Há em Deus algo que corresponde à mão. Que a mão do Senhor esteja conosco todos os dias.

O menino João Batista será o Precursor do Senhor! Deus está no interessado. É um fruto da misericórdia de Deus. Deus quis esse nascimento porque Ele tem um projeto sobre o menino recém-nascido. Sua palavra chegará ao interior das pessoas suscitando provocação, inquietude, abalando as falsas seguranças e fazendo que os olhos das pessoas se abram ao futuro. Seu anúncio do Reino que se aproxima chocará com a resistência daqueles que construíram seu próprio Reino sobre o egoísmo.

Este menino João Batista será o Precursor do Senhor! Sua missão será a de fazer tomar consciência dos erros cometidos, das explorações feitas, das injustiças contra os irmãos (praticamos a justiça para que o irmão não seja tratado injustamente), dos abusos dos mais fracos e inocentes e de outros tantos abusos. Mas ao mesmo tempo, sua missão é a de preparar os corações dos homens para receber o anúncio do perdão para quem estiver aberto para a graça de Deus.

Este menino João Batista terá a missão de Precursor. Sua missão é a de levar as pessoas para Jesus. Ele facilitará e fará possível o encontro das pessoas com Jesus, inclusive para seus próprios discípulos.  Ele terá simplicidade de dizer: “Eu não sou o Cristo... Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor... Eu batizo com água, mas no meio de vós está Aquele que vós não conheceis. Esse é Quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia da sandália” (Jo 1, 20.23.26-27). João Batista levará a término sua missão com fidelidade. Toda sua vida terá a grandeza da missão bem cumprida, realizada sem ostentação. No fim de sua missão ele desaparecerá sem fazer ruído e o faz com gozo porque é preciso queEle cresça e eu diminua” (Jo 3,30). João Batista será encarcerado e com seu próprio sangue selará seu testemunho e o faz com valentia.

Cada um de nós recebeu de Deus uma missão especifica que não pode ser cumprida por outra pessoa, pois outra pessoa tem sua própria missão. O dom da que recebemos é, ao mesmo tempo, uma responsabilidade. E quando se fala da responsabilidade, fala-se da vivência dos valores. Aquele que vive de acordo com os valores reconhecidos universalmente é uma pessoa responsável.  Responsabilidade e valores são uma moeda de dois lados.

Será que estamos conscientes de que nossa missão, como a de João Batista, é a de facilitar os demais para o encontro com Jesus? Qual é nossa postura quando a situação se torna adversa? Seremos capazes nestes momentos de manter uma atitude valente, constante e decidida? Como levamos ao término a missão confiada a nós?

Além disso, a Palavra de Deus meditada neste dia nos convida a confiarmos em Deus, a vivermos o tempo presente confiando nas sendas do Senhor que são misericórdia e lealdade- fidelidade a exemplo de Isabel e Zacarias. Tenhamos fé apesar das impossibilidades humanas, pois Deus tem poder de transformar o impossível em possível (cf. Lc 1,37). Sejamos fies ao nosso Deus em todos os momentos de nossa vida, pois Deus sabe o que fazer com nossa vida.

P. Vitus Gustama,svd

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