segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

04/12/2024-Quartaf Da I Semana Do Advento

A EUCARISTIA É O BANQUETE CELESTE ANTECIPADO PARA NÓS AQUI NA TERRA

Quarta-Feira da I Semana Do Advento

Primeira Leitura: Is 25,6-10

Naquele dia, 6 o Senhor dos exércitos dará neste monte, para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos. 7 Ele removerá, neste monte, a ponta da cadeia que ligava todos os povos, a teia em que tinha envolvido todas as nações. 8 O Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo em toda a terra; o Senhor o disse. 9 Naquele dia, se dirá: “Este é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou; este é o Senhor, nele temos confiado: vamos alegrar-nos e exultar por nos ter salvo”. 1 E a mão do Senhor repousará sobre este monte.

Evangelho: Mt 15,29-37

Naquele tempo, 29 Jesus foi para as margens do mar da Galileia, subiu a montanha, e sentou-se. 30 Numerosas multidões aproximaram-se dele, levando consigo coxos, aleijados, cegos, mudos, e muitos outros doentes. Então os colocaram aos pés de Jesus. E ele os curou. 31 O povo ficou admirado, quando viu os mudos falando, os aleijados sendo curados, os coxos andando e os cegos enxergando. E glorificaram o Deus de Israel. 32 Jesus chamou seus discípulos e disse: “Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que está comigo, e nada tem para comer. Não quero mandá-los embora com fome, para que não desmaiem pelo caminho”. 33 Os discípulos disseram: “Onde vamos buscar, neste deserto, tantos pães para saciar tão grande multidão?” 34 Jesus perguntou: “Quantos pães tendes?” Eles responderam: “Sete, e alguns peixinhos”. 35 E Jesus mandou que a multidão se sentasse pelo chão. 36 Depois pegou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os, e os dava aos discípulos, e os discípulos, às multidões. 37 Todos comeram, e ficaram satisfeitos; e encheram sete cestos com os pedaços que sobraram.

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Com Deus Nossa História Termina Com a Alegria Sem Fim

O texto da Primeira Leitura faz parte de uma unidade literária do livro de Isaías, chamada "Escatologia” ou “Apocalipse de Isaías" (Is 24-27). Estes capítulos são acrescentados muito mais tarde que o profeta Isaías e foram inseridos nesta obra (livro de Isaías) em um tempo após o exílio da Babilônia por um profeta anônimo. O profeta anônimo descreve neste apocalipse o juízo de Deus.

Ao ler o texto, nunca devemos perder de vista o fato de que nos defrontamos com uma explicação escatológica na qual as afirmações são mais um produto da fé do que do conhecimento. O autor sonha com um futuro, que ele acredita real, em que o Soberano Juiz da história inaugurará seu verdadeiro reinado nos céus e na terra, por todo o universo. Quando isso acontecerá? O escritor só sabe que se trata de um futuro.

O Senhor dos exércitos dará neste monte, para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos”, assim lemos na Primeira Leitura.  

A imagem do grande banquete é tirada de uma antiga mitologia. O tema do banquete será desenvolvido nas “Núpcias do Cordeiro” no livro Apocalipse capítulo 19 (veja também  a parábola do banquete nupcial em Mt 22,2-14; Lc 14,16-24). O banquete sempre supõe uma celebração depois da conquista da vitória.

Por causa desse tema, uma das palavras-chave é o banquete. Nos costumes orientais bíblicos, o banquete faz parte do ritual de entronização dos reis. Com frequência há uma abundância de alimentos, a qualidade dos manjares e dos vinhos, pois eram o sinal do poder de um rei, e de modo muito particular, eram o modo de celebrar a vitória. Também nós festejamos nossas alegrias, sucessos, êxitos em família como uma comida mais ou menos extraordinária. Para anunciar os tempos messiânicos, Deus anuncia que será o Anfitrião de sua própria mesa. E Jesus faz da comida o sinal de sua graça (Eucaristia). A Eucaristia é o banquete do céu aqui na terra.

Nós sabemos também pela experiência diária, que no banquete os laços de fraternidade se tornam estreitas e firmes. Somente através da participação no banquete, são eliminados todos os tipos de inimizade. Em todos os pactos no Antigo Testamento sempre há no fim desse pacto um banquete. O egoísmo não permite o banquete, pois cada um quer saborear sozinho o que se tem. No mundo animal não há banquete porque cada um por si. No mundo animal, geralmente, onde há comida, há briga. Mas no banquete só há festa e fraternidade, pois todos se alimentam do mesmo alimento.

Dentro do contexto do Advento podemos dizer que o Cristo que esperamos no Natal para nos redimir é o Cristo que vai nos julgar no fim dos tempos para separar quem faz parte do trigo e quem faz parte do joio, de ovelhas e de cabritos. O momento de julgar é o momento de separar o bem do mal, o amor do ódio, o trigo do joio, a justiça da corrupção e da desonestidade, e assim por diante.  Para quem é fiel até o fim “O Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo em toda a terra” (Is 25,8). Na mitologia cananeia, Morte (Mot) era nome de um deus, o oponente de Baal, deus da fertilidade.

Embora o escritor do AT não mencione nenhum Messias, visto que Deus em pessoa é o Soberano, esta profecia do AT nos leva a uma era messiânica em uma leitura mais profunda e articulada de toda a Bíblia. Com o cumprimento da profecia em Jesus de Nazaré, a perspectiva muda. Ele é o Messias que estabelece o Reino do Pai, e ressuscitando da morte triunfa sobre ela e suas consequências: dor e lágrimas. Com Jesus não há morte eterna, pois ele ressuscitará seus fiéis. Para aqueles que respondem ao seu convite para fazer parte de seu Reino, ele os faz participarem em seu triunfo sobre a morte. Ele é o ser solidário com o homem com amor total para com cada um dos membros da humanidade. Ele é o grande Consolador que não apenas anuncia a futura extirpação da dor e da morte, mas se entretém com a tarefa diária de consolar o momento presente.

Esta deve ser a atitude da Igreja, de todo cristão: anunciar o final glorioso desta limitação humana, mas, ao mesmo tempo, não ignore as lágrimas do nosso mundo. Não vamos fechar os olhos ou tapar os ouvidos! O banquete eucarístico é um sinal do banquete escatológico. O Senhor é um anfitrião generoso que nos oferece tudo de melhor, sem excluir ninguém. O Papa, os bispos, a Igreja devem ser generosos com todos e em tudo, sem tratar de excluir ninguém. E a razão é muito simples: nenhum deles é o anfitrião e deve respeitar a vontade do Amo. Não vamos cair em teologias baratas de "alter Christus"! O Amo é apenas um (cf. Mt 23,8).                     

O Advento não é para os perfeitos, e sim para aqueles que se reconhecem fracos/débeis e pecadores e recorrem para Jesus, o Salvador. Ele, compadecido, como as leituras de hoje nos asseguram, enxugará lágrimas, dará de comer, anunciará palavras de vida e festividade e também acolherá os que não estão muito preparados nem motivados. Os saudáveis não precisam de um médico, mas os doentes.

A imagem do banquete descrito pelo profeta Isaias que lemos na Primeira Leitura (Is 25,6-10) constitui um dos símbolos fundamentais para expressar a comunhão, a família, a fraternidade, a comunhão, a igualdade, a festa, a alegria, o diálogo, e a vitória.

O banquete anunciado pelo profeta Isaias para o final dos tempos celebra a vitória de Deus sobre os poderes que escravizam e excluem os homens. Com isso, o profeta quer nos dizer que a última palavra será a Palavra de Deus e não a do homem por poderoso que o homem pareça ser neste mundo. Feliz seja aquele que vive de acordo com a Palavra de Deus!

Naquele dia, o Senhor dos exércitos dará neste monte, para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos” (Is 25,6). Que descrição bonita! O profeta Isaias fala dos tempos messiânicos, cheios de felicidade e se celebrará com o banquete com comidas deliciosas (Is 25,6). A promessa da vida de Deus é dirigida a todos e promete uma plenitude que é alegria, libertação de todo mal, ternura. O banquete é mais do que uma boa refeição: é saber que todos os males desaparecem, o drama de uma história desordenada desaparece e o drama de toda lágrima em cada olho humano termina definitivamente. Trata-se de um texto para ser meditado e saboreado frase por frase.

O próprio Jesus utilizará também essa metáfora para ilustrar a natureza do Reino que ele vem estabelecer (cf. Mt 22,1-14; Lc 14,16-24). A Última Ceia que Jesus vai instituir está em relação direta com o banquete escatológico no Reino celeste (cf. Mt 26,29; Lc 22,15), banquete no qual participarão os apóstolos nos lugares de honra na qualidade de chefes da comunidade (cf. Lc 22,29-30). E a Igreja primitiva considerava a Eucaristia como banquete (cf. At 2,24-46; 1Cor 11,17-34).

Nos costumes orientais e bíblicos, o banquete faz parte do ritual de entronização dos reis. Com frequência a magnificência no enfeite, a qualidade dos manjares e a dos vinhos eram o sinal do poder de um rei, e muito particularmente eram o modo de celebrar a vitória. Preocupava-se, então, com qualidade de comida e de bebida e a do enfeito da sala do banquete. Também nós festejamos nossas alegrias em família com uma comida especial, pouco diferente da normal por ocasião de alguma festa ou de alguma comemoração.

Para anunciar os tempos de salvação, Deus anuncia que será o anfitrião de sua própria mesa. E Jesus também faz da comida o sinal de sua graça. Jesus antecipa para nós o banquete celeste através da instituição da Eucaristia. A Eucaristia é, com efeito, o banquete celeste antecipado para nós na terra por Jesus Cristo. É o céu aqui na terra. Ir à missa é ir ao céu. “A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço do céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória da Jerusalém celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho” (Papa João Paulo II: Ecclesia de Eucharistia n. 19). A Eucaristia” une o céu e a terra. Abraça e impregna toda a criação” (Idem n. 9). ”Sempre que descobrimos de novo a dimensão escatológica presente na Eucaristia, celebrada e adorada, somos apoiados no nosso caminho e confortados na esperança da glória (Rm 5, 2; Tt 2, 13)” (Bento XVI: Sacramentum Caritatis: Exortação Apostólica n. 32).

Infelizmente, corremos risco de esvaziar a Eucaristia de seu conteúdo uma vez que somos incapazes de relacioná-la com o banquete messiânico, o banquete escatológico, o banquete celeste.

Vem a pergunta: Será que eu estou consciente de que na Eucaristia Deus me recebe em sua própria mesa como um convidado especial? Tenho algo a comemorar ou a celebrar quando vou participar da Eucaristia? Será que sei valorizar a ação de graças? Será que estou consciente de que a Eucaristia é o banquete celeste antecipado na terra e por isso, tem penhor da glória futura?

O senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces...” (Is 25,8ª). Que grande consolação para nós todos! Deus destruirá a morte para sempre. Deus também vai eliminar toda dor e tristeza No banquete divino, Deus celebra uma vitória ao nos convidar para esta festa celeste: a vitória sobre a morte. A morte é a grande obsessão da humanidade, o grande fracasso, o grande absurdo, o símbolo da fragilidade e do sofrimento. Também é a grande objeção ou recusa que os homens fazem para Deus: se Deus existe, por que existe o mal? Devemos escutar a pergunta e também a resposta de Deus. Há que dar a Deus tempo, e saber esperar sua resposta.

O senhor Deus eliminará para sempre a morte”. Tal é a Boa Nova de Jesus Cristo, pois Ele é “a Ressurreição e a Vida” (Jo 11,25). Em cada Eucaristia comemoramos a vitória de Cristo sobre a morte e consequentemente, nossa vitória também. Em cada Eucaristi celebramos a Páscoa do Senhor: a sua passagem da morte para a vida. Consequentemente, celebramos, por antecipação, nossa Páscoa. Mas será que cada Eucaristia é para mim um banquete de vitória sobre a morte? Será que estou consciente da verdade daquilo que rezo na eucaristia: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde Senhor, Jesus!”? Através desta proclamação queremos anunciar ao mundo que a morte não é o fim do homem. O fim é a exultação, a alegria, a salvação. Isto é o que Deus quer; é o que Deus nos preparou.

Partilhar É a Alma Do Projeto De Jesus

Na Eucaristia, Jesus nos oferece a melhor refeição festiva: ele próprio se faz para nós presente e quer tornar-se alimento para a nossa jornada. Se a celebramos bem, cada Missa é para nós orientação e consolo, fortalecimento e vida. Nunca melhor do que na Eucaristia podemos ouvir as palavras de Jesus: venham a mim todos os que estão cansados. E sentir que o anúncio do banquete escatológico é cumprido: "Felizes são os convidados para a ceia do Cordeiro". A Eucaristia é a garantia do convite final no Reino: "Quem come minha carne tem a vida eterna, eu o ressuscitarei no último dia".

Porém, o Evangelho de hoje quer nos relembrar que precisamos aprender a partilhar o que temos e somos, como Jesus fez na multiplicação dos pães (Mt 15,29-37), para que mereçamos estar com Deus eternamente. Quando houver partilha, não haverá faminto ou miserável. Para poder viver a espiritualidade da partilha temos que viver nossa filiação divina sabendo que somos todos filhos e filhas do mesmo Pai do céu. Como filhos e filhas de Deus e irmãos e irmãs do mesmo Pai celeste, um precisa cuidar do outro, um deve proteger o outro. A exemplo de Jesus Cristo que se oferece como alimento para todos nós, precisamos ser pão para os demais, isto é, ser vida para os outros. Não é por acaso que a multiplicação dos pães é narrada tantas vezes nos evangelhos. Os evangelistas Mateus e Marcos o relatam duas vezes no seu respectivo evangelho.

Jesus multiplica comida porque é algo sagrado, porque mantém a sobrevivência da própria vida. Através desse gesto de Jesus, o homem é chamado a partilhar e a comer à mesa com os seus irmãos (na multiplicação todos comem dos mesmos pães e peixes).  Somente quando o pão for partilhado é que ele deixará de ser motivo de disputas para transformá-lo em sinal de amor e de fraternidade. O pão consumido isoladamente faz parte somente do mundo animal, pois o animal come sozinho e briga bravamente pela comida. O homem é sempre o companheiro do outro, isto é, aquele que come do mesmo pão (partilha). Precisamos partilhar o que é sagrado com os outros para torná-los sagrados também. Para isso tudo nós precisamos primeiro nos alimentar do Pão da Palavra de Deus e do Pão eucarístico. Quando nos alimentarmos verdadeiramente do Pão da Palavra de Deus e do Pão eucarístico é que nos sentiremos irmãos e sairemos do mundo do egoísmo para começar a partilhar o que se tem. É ser pão para os irmãos.

Jesus multiplicou sete pães e alguns peixes oferecidos pelos discípulos para alimentar os coxos, aleijados, cegos, mudos, e muitos outros doentes. A atenção de Deus vai, em primeiro lugar, para estes. A misericórdia amorosa de Deus se interessa primeiro pelos que sofrem, pelos pobres e pelos enfermos. O Senhor nos convida a prestar atenção para o grave problema da fome; para os que hoje têm fome; para todas as fomes: a fome material, a fome espiritual, a fome da dignidade, a fome do mútuo respeito e assim por diante. O tempo do advento e do Natal é o tempo propício para viver a partilha intensamente, dividindo o que temos para os que nada têm. Muitas crianças querem brinquedos no Natal, mas a maioria quer comida. A comida é sagrada porque sustenta a vida que é sagrada, pois a vida é de Deus e Deus está nela.

Ao comungar o Corpo e o Sangue do Senhor devem crescer, em cada comungante, a união com Deus, a harmonia interior, e a comunhão com o próximo. E cada comungante se torna sinal e fator da união e da unidade, da comunhão e da fraternidade. O estilo de vida dos cristãos, discípulos missionários de Jesus deve ser o estilo eucarístico: viver fazendo o bem como Jesus fez (At 10,38) e viver na permanente ação de graças.

O grande risco do mundo actual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado”. (Papa Francisco: Exortação Apostólica Evangelii Gaudium no.2)

P. Vitus Gustama,svd

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