MARTÍRIO DE SANTO ESTÊVÃO
SER CRISTÃO É SER
26 de
At 6,8-10; 7,54-59
8 Naqueles dias,
Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
9 Mas alguns membros da chamada Sinagoga dos Libertos, junto com cirenenses e
alexandrinos, e alguns da Cilícia e da Ásia, começaram a discutir com Estêvão.
10Porém, não conseguiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava.
7,54 Ao
Mt 10,17-22
Naquele
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“
Neste dia a Igreja celebra o martírio de Santo Estevão. Santo Estêvão é o mais representativo de um grupo de sete companheiros (cf. At 6,1-6). A tradição vê neste grupo o germe do futuro ministério dos "diáconos", mesmo se é preciso ressaltar que não se encontra esta denominação no Livro dos Atos. A importância de Estêvão resulta contudo do fato de que que Lucas, neste seu livro importante, lhe dedica dois capítulos inteiros. Estevão é chamado de “protomártir” porque teve a honra de ser o primeiro mártir que derramou seu sangue por proclamar sua fé em Jesus Cristo.
Depois de Pentecostes (cf. At 2,1-13), os apóstolos dirigiram o anúncio da mensagem cristã aos mais próximos: aos hebreus, despertando o conflito e a fúria por parte das autoridades religiosas do judaísmo. Como Cristo, os apóstolos foram imediatamente vítimas da humilhação e de cárcere, mas assim libertados, continuavam a pregação do Evangelho. Quando a comunidade cristã começou a crescer, os apóstolos confiaram o serviço da assistência diária para sete ministros da caridade, chamados diáconos. Estevão fazia parte desse ministério.
O texto do discurso com que Estevão encerrou seu fulgurante ministério e motivou sua bárbara lapidação é um dos mais veneráveis monumentos da literatura cristã (cf. At 7,1-60). É a primeira das homilias. Mais do que uma autodefesa é um didaché. No seu discurso, Estevão passa de acusado para ser acusador, contundente como um martelo. Enquanto falava, seu rosto resplandecia com brilho purpúreo de juventude como brilho de um anjo.
O mais importante que se deve fazer notar sobre este mártir é que, além dos serviços caritativos, Estêvão desempenha também uma tarefa de evangelização em relação aos concidadãos, dos chamados "helenistas". Lucas descreve Estêvão como um homem "cheio de graça e de fortaleza" (At 6, 8). Estêvão apresenta, em nome de Jesus, uma nova interpretação de Moisés e da própria Lei de Deus, e relê o Antigo Testamento à luz do anúncio da morte e da ressurreição de Jesus. Esta releitura do Antigo Testamento, releitura cristológica, provoca as reações dos Judeus que compreendem as suas palavras como uma blasfémia (cf. At 6, 11-14). Por esta razão ele é condenado à lapidação.
Sobretudo, Santo Estêvão fala-nos de Cristo, do Cristo crucificado e ressuscitado como centro da história e da nossa vida. Podemos compreender que a Cruz permanece sempre central na vida da Igreja e também na nossa vida pessoal. Na história da Igreja nunca faltarão a paixão, a perseguição. E precisamente a perseguição torna-se, segundo a célebre frase de Tertuliano, fonte de missão para os novos cristãos: "Nós multiplicamo-nos todas as vezes que somos ceifados por vós: o sangue dos cristãos é semente" (Apologetico 50, 13: Plures efficimur quoties metimur a vobis: semen est sanguis christianorum). Mas também na nossa vida a cruz, que jamais faltará, se torna bênção. E aceitando a cruz, sabendo que ela se torna bênção, por causa de Cristo, aprendemos a alegria do cristão também nos momentos de dificuldade confiando sempre no amor de Cristo que jamais nos separará dele (cf. Rm 8,35-39).
“Irmãos e pais, escutai!”. Com estas palavras, as mais ternas do vocabulário humano, Estevão quer recordar a sua comunidade de origem de que Estevão fazia parte dela. Estevão não é desconhecido entre sua comunidade, não é um alienado. Ele é da etnia de Abraão, partícipe das mesmas promessas e das mesmas esperanças. Estevão quer dizer a sua comunidade de origem: “Como pode acontecer que um irmão mata outro irmão”. Trata-se de uma fratricida.
O
Estevão é o
Na
“Em verdade, todos aqueles que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus, serão perseguidos”, escreveu são Paulo a Timóteo (2Tm 3,12). Isto significa que para os cristãos a perseguição não é incidente de percurso, mas é um fato inevitável. Por isso, ela não constitui novidade na história da Igreja. Pode acontecer que numa ou na outra situação tenhamos que sofrer a calúnia ou a difamação por sermos verazes, por sermos fiéis à verdade; em outras, as nossas palavras ou as nossas ações serão, talvez, mal interpretadas. Em qualquer caso, o Senhor espera de nós, cristãos que falemos sempre a verdade com clareza.
No
A
Num mundo em que a mentira e a dissimulação
constituem tantas vezes o miolo do comportamento habitual, nós, cristãos,
devemos ser homens verazes que fogem sempre até da mais pequena mentira.
Devemos conhecidos pelos que convivem conosco como homens e mulheres que nunca
mentem, mesmo nos assuntos de pouca importância. A nossa vida terá, então, uma
grande fecundidade apostólica, pois sempre se pode confiar numa pessoa íntegra,
que sabe dizer a verdade com caridade. Em outras palavras, não devemos ter medo
da verdade, pois a verdade que é o próprio Cristo (Jo 14,6) nos libertará (Jo
8,32).
P. Vitus Gustama, svd
PARA REFLETIR MAIS
Dos Sermões De São Fulgêncio De Ruspe, Bispo
(Sermo 3,1-3.5-6:CCL 91
A, 905-909)
(Séc. VI)
As Armas Da Caridade
Ontem, celebrávamos o nascimento temporal de nosso Rei eterno; hoje celebramos o martírio triunfal do seu soldado.
Ontem o nosso Rei, revestido de nossa carne e saindo da morada de um seio virginal, dignou-se visitar o mundo; hoje o soldado, deixando a tenda de seu corpo, parte vitorioso para o céu.
O nosso Rei, o Altíssimo, veio por nós na humildade, mas não pôde vir de mãos vazias. Trouxe para seus soldados um grande dom, que não apenas os enriqueceu imensamente, mas deu-lhes uma força invencível no combate: trouxe o dom da caridade que leva os homens à comunhão com Deus.
Ao repartir tão liberalmente o que trouxera, nem por isso ficou mais pobre: enriquecendo do modo admirável a pobreza dos seus fiéis, ele conservou a plenitude dos seus tesouros inesgotáveis.
Assim, a caridade que fez Cristo descer do céu à terra, elevou Estevão da terra ao céu. A caridade de que o Rei dera o exemplo logo refulgiu no soldado.
Estêvão, para alcançar a coroa que seu nome significa, tinha por arma a caridade e com ela vencia em toda parte. Por amor a Deus não recuou perante a hostilidade dos judeus, por amor ao próximo intercedeu por aqueles que o apedrejavam. Por esta caridade, repreendia os que estavam no erro para que se emendassem, por caridade orava pelos que o apedrejavam para que não fossem punidos.
Fortificado pela caridade, venceu Saulo, enfurecido e cruel, e mereceu ter como companheiro no céu aquele que tivera como perseguidor na terra. Sua santa e incansável caridade queria conquistar pela oração, a quem não pudera converter pelas admoestações.
E agora Paulo se alegra com Estêvão, com Estêvão frui da glória de Cristo, com Estêvão exulta, com Estêvão reina. Aonde Estêvão chegou primeiro, martirizado pelas pedras de Paulo, chegou depois Paulo, ajudado pelas orações de Estevão.
É esta a verdadeira vida, meus irmãos, em que Paulo não se envergonha mais da morte de Estêvão, mas Estevão se alegra pela companhia de Paulo, porque em ambos triunfa a caridade. Em Estêvão, a caridade venceu a crueldade dos perseguidores, em Paulo, cobriu uma multidão de pecados; em ambos, a caridade mereceu a posse do reino dos céus.
A caridade é a fonte e origem de todos os bens, é a mais poderosa defesa, o caminho que conduz ao céu. Quem caminha na caridade não pode errar nem temer. Ela dirige, protege, leva a bom termo.
Portanto, meus
irmãos, já que o Cristo nos deu a escada da caridade pela qual todo cristão
pode subir ao céu, conservai fielmente a caridade verdadeira, exercitai-a uns
para com os outros e, subindo por ela, progredi sempre mais no caminho da
perfeição.
P. Vitus Gustama, svd
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