FIM DO ANO:
OLHANDO-SE
Primeira
Leitura: 1Jo 2, 18-21
18 Filhinhos, esta é a última hora. Ouvistes dizer que o Anticristo virá. Com efeito, muitos anticristos já apareceram. Por isso, sabemos que chegou a última hora. 19 Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos, pois se fossem realmente dos nossos, teriam permanecido conosco. Mas era necessário ficar claro que nem todos são dos nossos. 20 Vós já recebestes a unção do Santo, e todos tendes conhecimento. 21 Se eu vos escrevi, não é porque ignorais a verdade, mas porque a conheceis, e porque nenhuma mentira provém da verdade.
1 No princípio era a Palavra, e a Palavra
estava com Deus; e a Palavra era Deus. 2
No princípio, estava ela com Deus. 3
Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. 4 Nela estava a vida, e a vida era a luz dos
homens. 5 E a luz brilha nas trevas, e
as trevas não conseguiram dominá-la. 6
Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João.
7 Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que
todos chegassem à fé por meio dele. 8 Ele não era a luz, mas veio para dar
testemunho da luz: 9 daquele que era a
luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano. 10 A Palavra estava no mundo – e o mundo foi
feito por meio dela – mas o mundo não quis conhecê-la. 11 Veio para o que era seu, e os seus não a
acolheram. 12 Mas, a todos os que a
receberam, deu-lhes capacidade de se tornar filhos de Deus, isto é, aos que
acreditam em seu nome, 13 pois estes não
nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de
Deus mesmo. 14 E a
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Estamos no último dia do ano. Ao terminar um ano e iniciar outro, sempre nos perguntamos: Como será o futuro, especialmente dentro do contexto da pandemia do corona vírus? Viveremos ou deixaremos de existir aqui na terra? Teremos saúde ou a enfermidade mais que hoje? Que será de nossa família? Poderemos realizar nossos sonhos e projetos?
Uma das maiores incertezas é a questão econômica. Diante da crise global da pandemia do corona vírus que estamos vivendo, diante do desempregado cada vez maior, diante do fracasso dos sistemas econômicos em que muitos confiam, diante do encarecimentos dos remédios ou outros produtos básicos (alimentos, vestimentas, moradia), que será de nós? O que nos oferece nossa fé diante de tudo isto?
Não podemos nos esquecer que, como cristãos, celebramos o fim do ano dentro da oitava do Natal. E Por isso, é um prolongamento da celebração do mistério da humanização de Deus e a divinização do homem através da Encarnação. Isto significa que apesar de qualquer coisa e diante de qualquer coisa, estamos com Cristo Jesus. Esta é a certeza de nossa fé. O Papa Bento XVI uma vez disse: “A certeza de que Cristo está comigo, de que em Cristo o mundo futuro já começou, também dá certeza da esperança. O futuro não é uma obscuridade na qual ninguém se orienta. O cristão sabe que a Luz de Cristo é mais forte e por isso, vive numa esperança que não é vaga e sim numa esperança que dá certeza e valor para afrontar o futuro” (Audiência geral de 12 de novembro de 2008).
Quando conhecermos Jesus e aceita-Lo em nosso coração; deixar-nos guiar por seu exemplo e seus ensinamentos, veremos que as coisas funcionarão melhor. É aprender a viver em família como Ele na Sagrada Família de Nazaré. É preciso ter o mútuo respeito uns aos outros, os esposos entre si, os pais e os filhos, parentes e vizinhos. Que haja carinho, compreensão, ternura diálogo, perdão mútuo, paciência, trabalho compartilhado, confiança mútua. Com estas bases fundamentais, fé em Deus e harmonia familiar, podemos, sim, enfrentar qualquer eventualidade. E isto não depende de qualquer governo, pois os sistemas mudam, e sim depende de uma mudança pessoal.
É preciso evitar despesas excessivas e desnecessárias; eduque-se e eduque para economizar, para se sentir bem na austeridade. Os tempos não são para desperdícios e vaidades. Não troque de roupa, carro, móveis, sapatos, telefone celular, se não for imprescindível. Cuide do seu trabalho, seja pontual, responsável, gentil com seus chefes e colegas. Se você está desempregado, procure uma ocupação, seja ela qual for, desde que seja digna, e não ficará sem o que precisa. Deus alimenta até os pássaros, mas não no ninho; se eles procuram, eles encontram.
O final do ano ressoa em nossa celebração. O nascimento de Jesus é “o princípio e a plenitude de toda a religião”, diz a oração da Coleta (Oração inicial da Santa Missa/Celebração). E o Evangelho nos mostra Jesus como ponto de referência única da história, pois o tempo é dividido entre antes e depois de Cristo. Hoje podemos falar de que todo nosso tempo, na vida humana e na fé, tem um único centro e critério: Jesus Cristo. Com Cristo chegamos à última hora: o tempo de decisão que se estende até a Parusia, até a manifestação gloriosa de Jesus: “Filhinhos, esta é a última hora” (1Jo 2,18).
O Evangelho nos convida a contemplarmos este Jesus: n´Ele está a graça e o amor de Deus; e esta graça e amor experimentamos no seu fazer-se homem, em sua “carne”.
Podemos dar graças pelo ano que acaba, pela salvação que Deus continua nos dando. É a ação de graças pela vida. E a vida é um dom e um presente de Deus, pela qual devemos dar graças. Ninguém pode pedir vida. Cada um simplesmente recebeu a vida. Trata-se de um dom, de um presente. Se mantivermos essa consciência de que a vida é um presente, viveremos em ação de graças todos os dias. Creio que muitos cristãos se esquecem disso, isto é, não sentem que a vida como um presente de Deus. Que belo é viver como dom!
Também podemos ou devemos pedir perdão pelo que há de “anticristo” em nós, como enfatiza a Primeira Leitura de hoje. Somos anticristos quando temos critério de “mentira”, critérios que não são os de Jesus. É pedir perdão pelas nossas limitações e debilidades durante o ano que termina.
Estamos no
Jesus vive essa forma de vida mostrando o seu significado pleno. Em Cristo, o próprio Deus se fez peregrino para vir ao encontro do homem nos seus caminhos. E o fato de ele não ter “uma pedra onde repousa a cabeça” (Lc 9,58) e sua vida apostólica itinerante revelam a sua identidade de peregrino por excelência.
Por isso, devemos fazer sempre de Jesus o centro de nossa vida e ser moldados num instrumento da graça de Deus. Precisamos confiar na profundidade de Deus em nós e viver dessa confiança. Esse é o caminho para continuar andando rumo à total comunhão com Deus.
E para sentir a liberdade de caminhar nesta peregrinação temos que experimentar a alegria do desapego. As maiores dificuldades no progresso, tanto material como espiritual, estão em nosso arraigado apego às coisas passadas, caducas e superficiais. Para caminharmos para frente e para o alto sempre devemos renunciar. A falta de renúncia atrasa a vida e mata a esperança. Quem deseja andar deve deixar muita carga, muito peso para trás de si mesmo. O homem que não se renova, que não renuncia às coisas superficiais, perde-se, degrada-se e infantiliza-se. Quem tem consciência de que nasceu para o alto e para a frente, tudo vence, tudo supera para alcançar a sua meta: a comunhão plena com Deus. Abraão Lincoln disse: “Podemos caminhar devagar mas nunca para trás”.
O evangelho nos convida a contemplarmos este Jesus, Palavra divina feita carne, pois nela está toda a graça e o amor de Deus. Somente na vida concreta deste Jesus é que podemos encontrar a glória de Deus e o sentido de tudo, especialmente de nossa vida.
Podemos dar graças pelo ano que termina, pela salvação que Deus continua nos dando e pedir perdão pelo que há de “anticristo” em nós (1Jo 2, 18-21): somos anticristos quando temos critérios de “mentira”, e outros critérios que não são os de Jesus.
Este último dia do ano é uma boa ocasião para fazermos um balanço do ano que passou e fixarmos propósitos para o ano que começa. É uma boa oportunidade para pedirmos perdão pelo bem que não fizemos, pelo amor que nos faltou, pelo perdão que não oferecemos; também é uma oportunidade para agradecermos a Deus de todos os benefícios que nos concedeu.
Neste último dia do ano, nós como cristãos devemos viver esta mudança de ano a partir de uma triple atitude:
(1). A primeira atitude é a de ação de graças pela vida. Finalizamos mais um ano de nossa vida. E a vida é um dom e uma dádiva de Deus pela qual devemos dar graças. Muitas vezes nos faz falta a vivência de sentir nossa própria vida como uma dádiva que Deus nos fez. Se olharmos para nossa vida a partir do ponto de vista de dádiva, chegaremos a dizer “Como é belo viver!”. Temos que dar graças por um ano vivido na graça de Deus.
(2). A segunda atitude é a de pedir perdão por nossas limitações e debilidades durante o ano que está terminando. É pedir o perdão pela falta de amor nas nossas conversas e em tudo que fizemos. Cada um de nós recebeu um número de talentos, mas nem todos conseguiram render os talentos. Martin Buber dizia: “A grande culpa do homem não é o pecado. A grande culpa do homem consiste em que em todo momento pode se converter, mas não o faz”. "O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer." (Albert Einstein).
(3). A terceira atitude é a de saber que tenho uma missão a cumprir neste ano novo que começa. O mesmo Martin Buber dizia: “Todos nós somos chamados a levar algo à plenitude no mundo”. A partir deste pensamento sabemos que sempre espera em alguma parte deste mundo alguma missão que tenho que realizar. Sempre há alguém em alguma parte deste mundo esperar que eu possa dar-lhe uma esperança nova. Sempre espera em alguma parte deste mundo uma dor que possa morrer em meu amor. Sempre espera em alguma parte da sociedade meu Deus em quem acredito, que me pede o amor para poder encarar tudo na vida, inclusive a dor da perda.
Que as luzes do Ano Novo que está para chegar nos mostrem a verdade de que ninguém chega antes ou depois, tirando menos ou levando mais da vida. Que neste ano novo possamos olhar para trás sem ferir os olhos de ninguém no que fizemos, sem perder no coração a fé do que nos resta a fazer. Precisamos começar o ano sem pisar em ninguém; começar o ano novo com o amor correndo por todas as veias, em todas as palavras, em todos os passos, em todos os encontros e diálogos; começar o ano novo com a maravilhosa promessa de fazer o bem. Que nos doze meses do ano que principiará, a fé, o amor e a esperança sejam uma riqueza constante em nossos lares, em nossos trabalhos e em qualquer lugar onde nos encontrarmos. Precisamos cortar o que precisa ser cortado; deixemos que nossa vida sangre um pouco para o nosso crescimento ao bem. Não nos deixemos arrastar por coisas passageiras. Abandonemos tudo o que nos entristeceu no passado. Esqueçamos as amarguras, as contrariedades. Não levemos para o ano novo ganâncias, nem mentiras. Leve somente soluções, respostas, aberturas, liberdade, justiça, amor e luz. Entremos no ano novo com a vontade de perdoar os erros dos outros. Não deixemos que o poder e o orgulho nos dominem.
Por isso, em nome do Senhor e com Ele desejamos uns aos outros que tenhamos um Feliz Ano Novo. Oxalá possamos apresentar-nos diante do Senhor, no fim do Ano Novo que começa, com as mãos cheias de horas de trabalho oferecidas a Deus no serviço aos nossos próximos, especialmente aos necessitados. Façamos o propósito de converter as derrotas em vitórias, recorrendo a Deus que transforma o impossível em possível e começando de novo. E peçamos à Virgem Maria, nossa Mãe, a graça de viver o Ano Novo que vai se iniciar daqui a algumas horas com muita paz e felicidade.
Desejo a cada um para o
Ano Novo que se inicia:
• Mais gestos, e menos palavras.
• Mais dinamismo e menos acomodação.
• Mais discernimento e menos loucuras.
• Mais compromissos e menos teorias
• Mais abraços e menos medos.
• Mais saúde e menos agressões.
• Mais amizade e ética e menos interesses.
• Mais bonança e menos tempestades.
• Mais valores e menos artificialidade.
Diante da vitória,
continue!
Diante da derrota, não
desanime!
Diante da dor, não se
entregue!
Diante do fracasso,
aprenda!
Diante do novo,
mergulhe!
Diante do passado, tire
lição!
Diante do futuro,
sonhe!
Diante do presente,
vibre e se comprometa!
Diante do outro, seja
você mesmo!
Diante de Deus, reze e confie, pois só Ele tem palavras de vida eterna!
No Ano Novo que começa, vamos buscar ser mais agradáveis com as pessoas, educados na forma de acolher, humanos no jeito de olhar e simples na maneira de viver e de falar. Vamos buscar sempre dialogar aprendendo do dom do outro e oferecendo o dom que temos ao outro. Vamos olhar o outro com profundidade, abraçar com generosidade e amar sem economizar o carinho. Não desistamos nunca de abrir novas portas para descobrir novos segredos de viver com plenitude; não desistamos de olhar para frente, de estender as mãos para os necessitados e de viver com o espírito de ação de graças. Paremos de reclamar sem esperança, de criticar sem oferecer solução, de chorar sem razão, de sofrer sem sentido e de trabalhar sem coração. Vamos de mãos dadas para aprender e para ensinar, para amar e ser amado, para viver e conviver e para confiar mutuamente, a fim de que o sucesso se torne realidade. Busquemos sempre escutar silenciosamente, aprender continuamente, crescer constantemente e falar respeitosamente. Vamos buscar compreender para ponderar, discernir para decidir sabiamente, amar para construir fraternidade e ser livre para libertar os outros.
Se começarmos o ano
novo cheios de Espírito de Deus, com o coração e a mente livres do ódio e da
arrogância, conservando a alma livre de amarras, sem apegos aos ídolos do poder
e da posse, então o ano novo será dos melhores. Deus nos conceda tudo isto! E
FELIZ ANO NOVO!!!
P. Vitus Gustama,SVD
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