18/05/2015
FÉ: COM CRISTO SOMOS
VENCEDORES
Segunda-Feira da VII Semana da Páscoa
Evangelho: Jo 16,29-33
Naquele tempo, 29os discípulos disseram a
Jesus: “Eis, agora falas claramente e não usas mais figuras. 30 Agora
sabemos que conheces tudo e que não precisas que alguém te interrogue. Por isto
cremos que vieste da parte de Deus”. 31 Jesus respondeu: “Credes
agora? 32 Eis que vem a hora – e já chegou – em que vos
dispersareis, cada um para seu lado, e me deixareis só. Mas eu não estou só; o
Pai está comigo. 33Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em
mim. No mundo, tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo!”
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O texto do evangelho se encontra no conjunto do discurso de
despedida de Jesus dos seus discípulos no evangelho de João (Jo 13-17). A vida
em si é formada de despedidas diárias. A despedida da noite dá lugar para
saudar o novo dia. A despedida de uma hora é uma entrada para nova hora que
está se despedindo também. A passagem de um dia para a entrada de novo dia que
está terminando. A despedida de quem parte e a saudação de quem chega ou nasce.
O choro de tristeza sobre quem partiu, e o choro de alegria pela chegada de
quem acabou de nascer. A vida na história tudo passa. Estamos sempre em
despedidas ou em partidas. Charles Chaplin dizia: “A vida me ensinou a dizer
adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração”.
Geralmente quem estiver para partir temporariamente ou
permanentemente sempre dá alguns conselhos, recomendações, alertas, forças para
lutar pelo bem, pela comunhão, pela dignidade e assim por diante para quem fica.
Jesus também, ao ter consciência de sua partida iminente (morte), dá alguns outros
conselhos aos seus discípulos para que eles possam continuar sua obra neste
mundo. Jesus sabe que até para fazer o bem os discípulos terão que enfrentar as
tribulações e todo tipo de dificuldades. Mas não há melhor exercício para ter e
fortalecer o bom coração do que estender o braço para baixo e erguer as
pessoas. A bondade é o único investimento que nunca falha.
“Eis, agora falas claramente e não
usas mais figuras. Agora sabemos que conheces tudo e que não precisas que
alguém te interrogue. Por isto cremos que vieste da parte de Deus”, disseram os discípulos a Jesus.
Com esta afirmação os discípulos perceberam que Jesus é
aquele que sabe de Deus e O conhece e sabe da felicidade e da miséria dos
homens e por isso, ele foi enviado para o mundo pelo Pai para salvá-lo por amor
(Jo 3,16). Jesus revela tudo sobre Deus para os discípulos porque eles são
amigos de Jesus: “Eu vos chamo amigos,
porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer” (Jo 15,15b). Para
Jesus o conhecimento de Deus e o conhecimento sobre os homens estão intimamente
ligados entre si. Deus conhece o homem e sua miséria e por isso, Jesus foi
enviado pelo Pai celeste.
Diante deste conhecimento revelador de Jesus, todas as
perguntas dos discípulos se tornam supérfluos: “Agora sabemos que
conheces tudo e que não precisas que alguém te interrogue. Por isto cremos que
vieste da parte de Deus”. A clareza da revelação de Jesus é de tal
ordem que responde às derradeiras perguntas do homem sobre Deus e sobre o
próprio homem. Quem se aproximar desta revelação, quem se aproximar de Jesus e
permanecer com Ele, todas as suas perguntas encontrarão suas respostas (cf. Jo
1,45; 4,29-30). Além disso, quem se aproximar de Jesus, acabará se conhecendo
melhor. Somente saberemos que somos nós quando contemplarmos quem é Deus. A fé
estabelece nosso relacionamento com Jesus e possibilita nosso conhecimento
sobre Deus e sobre o homem, em geral, e sobre nós mesmo, em particular. O
conhecimento de Deus e o conhecimento dos homens estão intimamente ligados
entre si. Quem está em profunda comunhão com Deus, está também tão próximo dos
homens para ajudá-los. Quem encontra Deus acaba encontrando os homens objeto do
amor salvador de Deus.
“No mundo, tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o
mundo!”.
“Estar no mundo” e o “medo” estão entrelaçados. O medo é a
marca fundamental do “estar no mundo” no contexto do evangelho de hoje. O medo
aqui é o medo da morte. O medo que o homem tem é o medo da morte diante do nada
que jamais pode ser descartado, pois o poder da morte está sempre presente na
vida. Lutamos todos os dias para manter nossa vida. Evitamos certas comidas e
bebidas, tomamos certos remédios para que a vida perdure um pouco mais neste
mundo. Deus ajuda quem sabe se esforçar para se ajudar.
Mas, de outro lado, Jesus afirma: “Mas tende coragem!
Eu venci o mundo” (Jo 16,33b). Esta afirmação só é possível porque
Jesus é o ressuscitado que venceu a morte. A ressurreição é a morte da própria
morte. A vitória de Jesus sobre o mundo é a vitória sobre o poder da morte que
impera no mundo. Esta vitória de Jesus sobre o mundo deve assegurar os
discípulos o dom da paz no meio das lutas da evangelização e dos sofrimentos da
perseguição. O cristão sabe que nenhum poder sobre a terra é absoluto. Não o
foram os grandes impérios que se sucederam sem interrupção ao longo da
história, não o serão tampouco os poderes atuais do mercado, da eficiência, do
dinheiro, da técnica da globalização informática, tecnológica e econômica.
Todos os poderes deste mundo estão submetidos ao poder de Deus, pois todos não
passam a ser simples criaturas. Jamais podemos colocar o ouro e a prata acima
do Criador.
São João traduzirá estas palavras de Jesus na sua Primeira
Carta da seguinte forma: “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”
(1Jo 5,4b). A fé em Jesus já é uma participação da vitória de Jesus. Como
Ressuscitado, Jesus é o Doador e o Distribuidor escatológico da vida. Ter fé
significa estar com Deus e participar de sua vida. A fé liberta o homem da
morte para a vida. Deus está sempre do nosso lado e por isso, podemos ter
serenidade em tudo. Uma certeza nos acompanha: Cristo venceu o mundo. Se Cristo
venceu o mundo, venceremos também com ele. A ultima palavra não é a fraqueza do
homem, não é a prepotência do homem e sim a fidelidade do Senhor para conosco.
No Senhor todos os nossos gritos, todos os nossos porquês, todas as nossas
perguntas e interrogações serão acolhidos e colocados em outras perspectivas. A
certeza de Deus sempre vai ao nosso encontro e em toda parte. Por isso, o autor
da Carta aos Hebreus escreveu: “A fé é um modo de já possuir aquilo que se
espera, é um meio de conhecer realidades que não se vêem. Foi por causa da fé
que os antigos foram aprovados por Deus. Pela fé, sabemos que a Palavra de Deus
formou os mundos; foi assim que aquilo que vemos se originou de coisas
invisíveis” (Hb 11,1-3). A fé é como
uma luz ou uma lanterna. A luz ou a lanterna não é acesa para ser olhada e sim
para alguém ver o que ela ilumina.
“No
mundo tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo” é a mensagem do Senhor para você
hoje. Acredite nesta Palavra, pois é a Palavra de quem criou o universo e de
quem venceu a morte: “Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito.
N’Ele havia vida, e a vida era a luz dos homens. ... Era a verdadeira luz que,
vindo ao mundo, ilumina todo homem” (Jo 1,3-4.9).
Sobre a importância da fé, Santo Agostinho dizia: “Deus,
de Quem separar-se é morrer, a Quem retornar é ressuscitar, com Quem habitar é
viver. Deus de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se
é estar seguro. Deus, a Quem esquecer é morrer, a Quem buscar é viver, a Quem
ver é possuir. Deus, a Quem a fé nos impele, a esperança nos aproxima e a
caridade nos une” (Solil. 1,1,3). “Deus não se torna maior pelo conhecimento de
quem O encontra, mas quem O encontra torna-se maior por ter conhecido a Deus”
(Serm. 117,2,3).
A fé é “entrega” pessoal, o submetimento total a Deus do
entendimento; é a entrega do coração para amar como Jesus nos amou. Trata-se
não somente de crer em algo e sim de crer em Alguém, de crer em Deus. É dizer
firmemente a Deus: “Creio em Ti, meu Deus”. A própria palavra “Credo” deriva de
duas palavras latinas: “cor, cordis” que significa coração e “dare” que
significa dar. Credo significa dar ou entregar o coração a Deus.
A fé é “conversão”. Mas o homem, por si só, não pode se
converter; ele precisa do auxílio de Deus (cf. Jr 31,18; Hb 16,14; Jo 6,44).
Mas a conversão, que é obra de Deus, necessita da colaboração do homem. Podemos
dizer que crer é querer crer (cf. Jo 3,36). Crer, com suas conseqüências e
exigências, significa ser salvo. Fé e salvação são intercambiáveis. A fé
conferida e aceita é a salvação.
P. Vitus Gustama,svd
2 comentários:
Sua benção Pe. Vitus. Temos que ter muita coragem mesmo ainda mais no mundo de hoje. Fé em Deus e pé na tábua!!! Pois muitas são as batalhas espirituais.
Abraços
Obrigado Vanessa. Vamos lutar com Jesus, pois sem Ele nada podemos fazer (cf.Jo 5,5).
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