Domingo, 31/05/2015
SANTÍSSIMA TRINDADE
Ano “B”
Evangelho: Mt 28,16-20
Naquele tempo: 16 Os onze discípulos foram
para a Galiléia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. 17 Quando viram
Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. 18 Então
Jesus aproximou-se e falou: ‘Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a
terra. 19 Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20 e
ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco
todos os dias, até ao fim do mundo’.
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Este relato solene é a conclusão e o
ápice do Evangelho de Mateus. Este relato final, exclusivo de Mateus, é chamado
de a chave para entender todo o evangelho de Mateus porque nele encontra-se a
rica afirmação sobre Cristo, Igreja, e história da salvação acompanhada pela fé
e dúvida; batismo e moralidade; Judeu passado e futuro Gentio. Se no seu
ministério público Jesus enviou seus Apóstolos somente para a terra e o povo de
Israel (Mt 10,5-6), agora ele envia os Onze para todas as nações, com batismo e
não com circuncisão como rito de iniciação; com a sua ordem e não a Lei de
Moisés, como a norma final de moralidade. Por isso, essa perícope final reflete
a teologia de Mateus.
1. O
encontro na Galiléia (v.16a)
A Galiléia (a “Galiléia dos pagãos”
segundo Mt 4,15) é a terra onde Jesus começou seu ministério e chamou seus
primeiros discípulos (Mt 4,18-22). No começo da Paixão Jesus prometeu que
depois de sua ressurreição, ele iria preceder os discípulos para a Galiléia (Mt
26,32). A direção da Galiléia foi repetida no sepulcro tanto pelo anjo do
Senhor como por Jesus ressuscitado (Mt 28,7-10), com a promessa adicional de
que lá os discípulos (que agora se tornam seus “irmãos” cf. Mt 12,50) o veriam.
A partir de agora a “Galiléia dos pagãos” se torna um lugar que tem um sentido
salvífico, pois a Galiléia vai se tornar como o ponto de partida para a missão
universal. Este detalhe já indica a universalidade da mensagem do Evangelho de
Mateus.
2. O
encontro numa montanha (v.16b)
O encontro acontece numa montanha.
Mateus não pensa em uma específica montanha geográfica, mas indica a revelação
divina (teofania), a esfera divina. O monte é o lugar e símbolo do encontro do
céu e da terra, da ascensão humana e da teofania. Em quase todas as culturas a
montanha representa uma ligação entre a terra e o céu. A ligação entre o céu e
a terra é concebida simbolicamente, à semelhança de uma escada (p. ex. São João
da Cruz, Subida ao monte Carmelo), como possibilidade da ascensão espiritual e
o desenvolvimento superior a ser penosamente conquistado: vista dessa forma a
montanha é para os seres terrestres o caminho da subida, para a proximidade de
Deus e para os seres não terrestres o caminho da descida para o terrestre,
quando querem interferir na realidade terrena. Quase todos os povos têm seus
montes sagrados considerados como morada dos deuses e onde tiveram sua origem importantes
acontecimentos espirituais (veja também outros textos: Is 2,2ss;Jr 5,25;Mq
4,1;Gn 22,2;1Rs 18,42 etc.).
Em relação a Jesus, numa “montanha”
aconteceram coisas importantes: Jesus se sentou na montanha quando fez aos
discípulos o Sermão da Montanha(Mt 5,1). Na montanha Jesus se transfigurou
diante de Pedro, Tiago e João(Mt 17,1), na montanha Jesus reza ( Mt 14,23 cf.
também Mt 8,1;15,29). Assim como no monte Sinai ou Horeb, Moisés encontrou Deus
e dele recebeu a Lei, do mesmo modo em uma montanha, durante o ministério, os
discípulos tinham visto a glória de Deus em Jesus transfigurado, dele recebendo
uma interpretação da Lei: “Vós ouvistes dizer, mas agora eu vos digo” (Mt
5,21-22.27-28.31-32.33-34.38-39.43-44). Quando se trata de coisas importantes
na vida de Jesus, Mt coloca Jesus sobre a montanha. Ao dizer que “os Onze foram
ao monte” Mt quer nos dizer que a missão dos Apóstolos enviados para o mundo
inteiro é um acontecimento de extrema importância. Os discípulos são convocados
não para reconhecê-lo, mas para escutar sua revelação definitiva(pelo fato de
ocorrer no monte).
3.
Adoração (v.17)
A adoração (proskynesis, proskynein,
adorar) é, no NT, palavra predileta de Mateus e do Apocalipse. Além de se
encontrar três vezes em Mt 2,2.8.11 (sobre os magos), reaparece o mesmo termo
outras dez vezes: na tentação (Mt 4,9.10); uma no contexto parabólico (Mt18,26)
descrevendo a prostração do servo(pecador) diante do rei(Deus, Pai e Juiz) e
outras sete descrevem uma instantânea: a adoração do enfermo ou aflito/sofredor
(Mt 8,2;9,18;15,25) e a do discípulo (Mt 14,33;20,20;28,9.17) em atitude de
“proskynesis” (prostrar-se/adorar) diante de Jesus.
Nesse encontro os discípulos
reconheceram Cristo imediatamente e prostraram-se diante de Jesus para
adorá-lo, demonstrando sua fé nele como Filho de Deus. Anteriormente eles já o
tinham feito uma vez quando Jesus caminhava sobre as águas e professaram sua fé
em Jesus como Filho de Deus (Mt 14,33). A palavra “adoração”, de origem
extrabíblica, indica o gesto de submissão dos discípulos que se dispõem a
escutar as ordens do Ressuscitado. Ao nascer Jesus foi adorado pelos magos (Mt
2,11), no ministério público ele foi adorado pelos próprios discípulos e
enfermos, e na ascensão Jesus recebeu a mesma adoração dos discípulos (Mt
28,17). Para a teologia de Mateus, o Senhor da Glória já estava na humanidade
de Belém e no ministério público. Ao prostrarem-se diante de Jesus, agora eles
o adoram não somente como o Senhor dos elementos, mas também o Senhor deles e o
Senhor do mundo (A adoração presta-se somente a uma divindade). Jesus, a quem
se adora, é “Senhor” que tem poder sobre a lepra (Mt 8,2ss), o demônio (Mt
15,22ss), a morte (Mt 9,18ss), a natureza (Mt 14,25ss), o universo (Mt
28,18ss). Será que esse mesmo Jesus continua sendo o Senhor de nossa vida e de
nossas decisões e o ponto de referência de nossos atos? Ou adoramos outros
deuses?
4. A
apresentação de Jesus como Filho do Homem, Senhor, Filho de Deus e Emanuel
A narrativa sublinha também a apresentação
de Jesus como Filho do Homem, Senhor, Filho de Deus e Emanuel(Deus- conosco),
que percorre todo o Evangelho. Jesus aparece como “Filho do Homem” glorioso,
que recebe de Deus todo o poder, e todas as nações o adoram e o seu Reino não
terá fim(compare-se a visão de Daniel 7,14). Ao longo de toda a história, Jesus
é o Filho do Homem glorioso, mas este papel culminará na manifestação como Juiz
definitivo (Mt 13,41-43;16,27;19,28;24,30s;25,31-46;26,64). Jesus também é o
Senhor glorioso que recebe a adoração dos seus e que domina sobre todo o criado
(cf. Fl 2,9-11). Ele também é o Filho de Deus, a ele tudo lhe foi entregue pelo
Pai(Mt 11,27) e em seu nome, junto aos do Pai e do Espírito, terão que batizar
todos os povos. Este mesmo Jesus garante sua presença permanente com seu povo:
“Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”. Em outras
palavras, ele é o Emanuel, “Deus conosco”.
Jesus recebeu todo o poder no céu e
sobre a terra. Ao falar do poder de Jesus que ele recebeu, devemos estar
conscientes de que a verdadeira natureza do poder de Cristo, não é um exercício
de dominação sobre os homens, mas como uma capacidade operativa de proclamar as
exigências da vontade de Deus, de libertar os pecadores da escravidão do seu
passado de culpa, de romper os grilhões dos prisioneiros das forças diabólicas
da morte e da destruição, de denunciar as religiões feitas de hipocrisia e de
interesse. Em outras palavras, é um poder de realizar o Reino de Deus no mundo.
Existe um poder que destrói e existe
também um poder que cria. O poder que cria dá vida, gozo e paz. É liberdade e
não escravidão, vida e não morte, transformação e não coerção. O poder que cria
restaura relacionamentos e concede dom da integridade a todos. O poder que cria
é o poder que procede de Deus cuja marca é o amor. E o amor exige que o poder
seja usado para o bem de todos. Em Cristo, o poder é usado para destruir o mal
de forma que o amor possa redimir o bem. O poder que cria produz união. Para
criar essa união é preciso ouvir juntos à voz do Senhor em nossos lares, em
nossas igrejas, em nossos negócios, em
nossas comunidades, em nossos encontros etc..
Ao contrário disso, nada é mais
perigoso do que o poder a serviço da arrogância. A arrogância nos faz pensar que estamos certos e os outros
estão errados. O único que está certo é Jesus Cristo. O restante de nós precisa
reconhecer suas próprias fraquezas e fragilidades e buscar aprender através da
correção dos outros. Se não o fizermos, o poder pode conduzir pelo caminho de
destruição. O poder destrutivo destrói relacionamentos, a confiança, o diálogo
e a integridade.
5. A
ordem de missão
A ordem de missão dada aos Onze é
significativa, pois a missão se amplia: fazer discípulos todos os povos. No começo
Jesus falou somente aos judeus(Mt 15,24) e os discípulos foram enviados somente
para o povo de Israel (Mt 10,5-6). Agora o Jesus ressuscitado, com pleno poder
escatológico(“toda a autoridade”), envia-os a todas as nações. Israel não está
excluída (Mt 23,34); mas o progresso destas duas ordens, uma durante o
ministério e outra depois da ressurreição, incorpora a experiência da
cristandade em Mateus. No começo do Evangelho, Mt assinala a grande extensão
desse plano ao escrever sobre os magos pagãos vindos a Jerusalém(cumprimento de
um sonho do AT em Is 2,2-4). Agora fica claro que os discípulos não podem
simplesmente esperar que os pagãos venham a ele, mas eles precisam ir até os
pagãos.
A missão dada aos discípulos é
expressa através de um verbo principal no imperativo (fazer discípulos/mathêteusate)
e dois verbos no particípio (batizando...ensinando).
Para Mt “fazer discípulos” é um
processo educativo. Fazer discípulos é ajudar as pessoas a aprenderem as coisas
que Jesus lhes ensinou. Na missão universal, os discípulos tornam-se claramente
mestres. Como Jesus antes deles, eles agora vão “fazer discípulos”. Ser cristão
é ser discípulo de Jesus. E ser verdadeiro discípulo para Mt equivale a
pertencer à família de Jesus (Mt 12,49-50). Neste sentido, fazer discípulo é
fazer comunidade cristã, fazer Igreja. Para ser salvo, é preciso pôr-se no
seguimento de Cristo, entrar em relação com a sua pessoa. Não existe outra
possibilidade.
Mas não se trata de uma relação
individual. Os homens são chamados a fazer parte da comunidade dos seus
discípulos. Isto é indicado claramente pelas duas instruções: batizar e ensinar
tudo o que Jesus mandou. “Batizando” e ”ensinando” marcam as duas atividades
fundamentais no exercício da missão de “fazer discípulos”.
Em outras passagens do NT, o batismo
é feito em nome de Jesus (At 2,38;10,48;8,16;19,5;1Cor 6,11 etc.); mas aqui o
batismo é realizado “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Com
certeza, esta fórmula era usada na comunidade de Mt quando ele escreveu o
evangelho. Para Mt, o batismo, e não circuncisão, é o meio para uma
incorporação na vida de Deus e de sua Igreja. “Em nome” sugere uma dedicação e
compromisso, uma consagração. Entre os hebreus, o nome designa a realidade profunda
do ser, incluindo a pessoa e sua respectiva dignidade. Em Seu nome (poder)
começou a Igreja, e nele ela vive hoje ainda, pois onde “o nome de Deus é
pronunciado sobre nós, ele mesmo está no nosso meio” (cf. Jr 14,9). Os que
acreditaram em Jesus compreenderam que Deus Pai era a fonte e o objetivo de
tudo o que Jesus dizia e fazia. O Espírito Santo foi rapidamente relacionado à
continuação do trabalho de Jesus, tanto entre os fiéis quanto dentro da Igreja.
O batismo deve ser acompanhado pelos
ensinamentos a respeito de tudo o que Jesus recomendou. Os ensinamentos não
devem ser novos ou próprios dos discípulos, mas “tudo o que vos prescrevi” (cf.
também Ex 7,2;23,22 etc.). Jesus ressuscitado não ensina nada de novo, mas
declara a permanente validez do que ensinou no transcorrer da vida
terrena(“ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei”).
Estas palavras descrevem com
precisão a Igreja. Ela não é somente comunidade de santificados pelo
sacramento, mas também de praticantes duma nova obediência. O discípulo se
qualifica pela tradução na prática do ensinamento de Jesus (Mt 7,24-27). Sua
palavra é um mandato a ser obedecido e praticado. Concretamente, sua revelação
se resume no mandato do amor (Mt 22,40). Isto quer dizer que a fé cristã não pode
ser restrita a aclamações litúrgicas e a celebrações rituais, ou reduzida ao
entusiasmo do espírito, mas Jesus nos chama a mergulharmos no presente,
colocando-nos perante a exigência de um empenho concreto de obediência e de
amor.
Esta missão é difícil. O evangelho
fala continuamente das perseguições, dos elementos adversos e das dúvidas dos
discípulos. Mas a Igreja não foi nem será deixada sozinha no seu longo e
cansativo caminho histórico: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim
do mundo” (Mt 28,20). Jesus a acompanha, sustenta, encoraja, e purifica. Ele
continua presente entre nós, onde dois ou mais se reúnem em seu nome(Mt 18,20),
pela fé, pela palavra proclamada, pelos sacramentos etc. As últimas palavras
solenes de Jesus em Mt 28,20 lembram as primeiras palavras ditas sobre ele no
começo do Evangelho em Mt 1,23. O Deus- Conosco que abre o evangelho de Mt,
também o fecha. A ressurreição para Mt é a evidência não somente de que Deus
estava com Jesus, que venceu a morte, mas também de que a presença permanente
de Deus em Jesus está com todos aqueles batizados em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. E que observam tudo o que Jesus recomendou, como foi ensinado
pelos discípulos. A partir dessa promessa, cada cristão não é mais solitário,
mas solidário pois Deus está sempre com ele e ele está sempre com Deus. O
cristão, ao mesmo tempo é chamado a ser solidário com os outros, a sair do
isolamento, pois Deus chama cada cristão a viver numa solidariedade, numa
comunidade.
6.
Festa da Santíssima Trindade e sua importância na vida de um cristão
Celebramos hoje a festa da
Santíssima Trindade. Por ordem do Senhor Jesus em Mt 28,19, cada um de nós foi
batizado e consagrado a Deus “ em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Ainda nos braços da mãe, mal podendo balbuciar, talvez sem então entendermos o
sentido do gesto ou o alcance das palavras, ensaiados e ensinados pela mãe,
aprendemos a fazer o sinal da cruz e nossa primeira oração: “Em nome do pai e
do Filho e do Espírito Santo. Amém”.
Este “amém”, vocábulo hebraico, e
explica nosso Catecismo (no.1026), ligado à mesma raiz da palavra “crer”,
exprime a solidez, a confiabilidade e a fidelidade de nossa fé. Pode proclamar
tanto a lealdade de Deus para conosco, como a nossa confiança nele. Com o
“amém” ,que pronunciamos, anunciamos ter encontrado a Deus e depositamos nele
nossa inteira e total confiança. Este piedoso sinal da cruz, pelo qual se benze
o cristão invocando as Três Pessoas, prática já comprovada no segundo século, é
um costume de sentido profundo e completo: significa consagração, profissão de
fé e oração.
Em cada oração que fazemos todos os
dias sempre começamos e terminamos com o sinal da cruz e nele invocamos a
presença da Santíssima Trindade. É uma louvação às três divinas Pessoas, porque
elas se revelaram na história e nos convida a participar de sua comunhão
divina. A resposta humana à revelação da Santíssima Trindade é o agradecimento
e a glorificação. Depois, decoramos a doxologia (a louvação): “Glória ao Pai,
ao Filho e ao Espírito Santo”.
E não demorou, aprendemos, sempre
crianças, muitas vezes antes da primeira comunhão, a professar com ortodoxa
precisão, mesmo sem então entender o que haveríamos de compreender, pouco a
pouco, mais e melhor, ensinados através de nossa catequista, com solenes
palavras: “Creio em um só Deus, Pai
Todo Poderoso, criador do céu e da terra...Creio em um só Senhor, Jesus Cristo...Deus verdadeiro
de Deus verdadeiro...Creio no Espírito
Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho e com o Pai e
o Filho é adorado e glorificado”. Este
nosso Credo é ,em sua estrutura íntima, uma confissão da Trindade.
Na verdade, a atenção e a devoção às
Três divinas Pessoas continuam centrais em nossa vida e tirá-las de nossa fé
causaria não só um irreparável vácuo, mas acabaria com o próprio fundamento de
nossa existência cristã. Por isso crer na Santíssima Trindade e amá-la com todo
nosso ser tem conseqüências imensas para toda a vida (cf. o Novo Catecismo nos
n. 223-227):
·
“Significa reconhecer a grandeza e a majestade de
Deus. Deus é tão grande que supera nossa ciência (Jó 36,26).
·
Significa viver em ação de graças: Se Deus é o Único,
tudo que somos e tudo o que possuímos vem dele: “Que é que possuis que não
tenhas recebido?” (1Cor 4,7).
·
Significa reconhecer a unidade e a verdadeira
dignidade de todos os homens: Todos foram feitos “ à imagem e à semelhança de
Deus” (Gên 1,27).
·
Significa usar corretamente das coisas criadas: A fé
no Deus Único nos leva a usar de tudo o que não é ele na medida em que isto nos
aproxima dele, e a desapegar-nos das coisas na medida em que nos desviam dele,
como rezava São Nicolau de Flüe: “Meu
Senhor e meu Deus, tirai-me tudo o que
me afasta de vós. Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo o que me aproxima de vós.
Meu Senhor e meu Deus, desprendei-me de mim mesmo para doar-me por inteiro a
vós”.
·
Crer na Santíssima Trindade também significa confiar
em Deus em qualquer circunstância, mesmo na adversidade. Uma oração de Santa
Teresa de Jesus exprime-o de maneira admirável: “Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa, Deus não muda. A
paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta”.
Crer no Deus bíblico, a partir de
Jesus, é necessariamente crer na Santíssima Trindade. O Deus de Jesus, o Deus
cristão, é o Pai e o Filho e o Espírito Santo, a Santíssima Trindade. Pai,
Filho e Espírito Santo sempre estão juntos: criam juntos, salvam juntos e
juntos nos introduzem em sua comunhão de vida e de amor.
Na piedade de muitos fiéis há uma
desintegração da vivência do Deus trino. Alguns só ficam com o Pai, outros só
com o Filho e outros só com o Espírito Santo.
A religião só do Pai é o
patriarcalismo. Todos dependem dele, sem qualquer criatividade. A religião só
do Filho é o vanguardismo. Jesus é considerado o “companheiro”, “o mestre” e
“nosso chefe”, irmão de todos. É um Jesus com apenas relações para os lados,
sem uma dimensão vertical, em direção ao Pai. Esta religião cria cristãos
vanguardistas. A religião só do Espírito Santo que só se concentra na figura do
Espírito Santo é espiritualismo. Eles só cultivam suas emoções interiores e
pessoais. Eles esquecem que o Espírito Santo é sempre o Espírito do Filho,
enviado pelo Pai para continuar a obra libertadora de Jesus. Não basta a
relação interior (o ES) nem somente para os lados(Filho) nem só a vertical (Pai).
Importa integrar os três. Que seria de nós, se não tivéssemos um Pai que nos
aconchegasse? Que seria de nós, se esse Pai não nos desse seu Filho para
fazer-nos também filhos de Deus? Que seria de nós, se não tivéssemos recebido o
Espírito Santo, enviado pelo Pai a pedido do Filho, para morar em nossa
interioridade e completar a nossa salvação? Vivamos a fé completa, numa
experiência completa da imagem completa de Deus como Trindade de Pessoas.
Quando o cristão é batizado no nome
da Santíssima Trindade, o modo de ser de Deus lhe é apresentado como modelo de
vida. A perfeita comunhão entre as pessoas da Trindade deve tornar-se o ideal
de comunhão dos cristãos e das famílias cristãs. Igualmente, a capacidade de
agir de forma integrada, sem concorrências nem sobreposição de um sobre o
outro. A comunhão se faz a partir do diferente, na acolhida e no respeito pelo
outro. Este é o caminho que a comunidade cristã ou família cristã terá de
tomar, se quiser deixar-se modelar pela Santíssima Trindade. Assim seja.
P. Vitus Gustama,svd
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