sábado, 23 de maio de 2015

25/05/2015
 
APRENDER A SER LIVRE DOS BENS MATERIAIS PARA AMAR MELHOR

Segunda-Feira da VIII Semana Comum

 

Evangelho: Mc 10,17-27

Naquele tempo, 17Ao retomar seu caminho, alguém correu e ajoelhou-se diante de Jesus, perguntando: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” 18Jesus respondeu: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus.19Tu conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não defraudes ninguém; honra teu pai e tua mãe!” 20Entao, ele replicou: “Mestre, tudo isso eu tenho guardado desde minha juventude”. 21Fitando-o, Jesus o amou e disse: “Uma coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” 22Ele, porém, contristado com essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens.. 23Entao Jesus, olhando em torno, disse a seus discípulos: “Como é difícil a quem tem riquezas entrar no Reino de Deus!” 24Os discípulos ficaram admirados com essas palavras. Jesus, porém, continuou a dizer: “Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” 26Eles ficaram muito espantados e disseram uns aos outros: “Então, quem pode ser salvo?” 27Jesus, fitando-os, disse: “Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível”.
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Lemos no evangelho deste dia quealguém” (sem nome, que pode ser qualquer um de nós) correu ao encontro de Jesus para fazer a seguinte pergunta: Bom mestre, que farei para herdar a vida eterna?” É uma pergunta que jovens faziam aos rabis, quando se apresentavam para iniciarem a formação acadêmica nas escolas hebraicas: que devo fazer? No evangelho de Mateus o jovem rico diz: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?” (Mt 19,16).


Antes de responder à pergunta desse rico, Jesus se cautela diante do apelativobom”: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus”. Essa precisão servirá para se compreender a resposta que Jesus fará a esse rico. Esta observação de Jesus corresponde perfeitamente à concepção bíblica e judaica segundo a qual Deus é chamado bom, porque ele usa de misericórdia, socorre os pobres e defende os fracos (cf. Dt 10,18). Por isso, a única condição para entrar na vida eterna é imitar o único bom, Deus. A fidelidade a Deus é exercida no amor ao próximo, síntese dos mandamentos.


Jesus prossegue, indicando ao seu interlocutor o caminho paraherdar” a vida definitiva junto a Deus, e citou os mandamentos que se referem aos deveres para com o próximo (v.19). O rico responde: “Mestre, tudo isso eu tenho guardado desde a minha juventude” (v.20).


O texto prossegue: “Fitando-o, Jesus o amou e disse: ’uma coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me’” (v.21). “Fitar” é o mesmo que cravar, admirar, fixar a atenção e o pensamento, ficar imóvel. O sinal distintivo da identidade do discípulo é seguir a Jesus, isto é, ficar envolvido em seu destino, seu modo de amar e de ser fiel ao outro homem até o testemunho supremo da cruz. A diferença entre a renúncia aos bens como estilo de vida e o seguimento evangélico está nessas duas palavras de Jesus: “dá-os aos pobres”. Se nos detivermos na primeira: “vai e vende tudo o que tens”, ainda estamos no limiar do evangelho que para termos liberdade interior, nos afastamos de todas as coisas e preocupações materiais. A novidade evangélica é o convite: “dá aos pobres, porque assim tu imitas o único bom, Deus; depois vem e segue-me”. Trata-se de seguir aquele que, pelos pobres, deixou não sua atividade, a segurança social e os laços de parentesco, mas também entrega sua própria existência como dom de amor pelos muitos, pela libertação deles (cf. Mc 10,45).


Nesta perspectiva, a observância dos mandamentos não é mais um meio para se garantir um privilégio espiritual ou uma dignidade moral, mas é a expressão de amor fraterno e fidelidade ao próximo. O próximo é a passagem obrigatória para chegar até Deus. Isto agora é possível no seguimento de Jesus, onde o rosto do único bom, Deus, se tornou um rosto humano. Aquele que se põe a seguir Jesus não sabe, mas tem também a real possibilidade de imitar o único bom, que socorre os fracos e se solidariza com os pobres. Quem entra na vida eterna, então, não é aquele que não pratica o mal, e sim aquele que pratica o bem, embora quem pratica o bem signifique também não pratica o mal, pois os dois não podem coexistir. É aquele que transforma o rosto de Deus bom em rosto humano. Você pode dizer: “Graças a Deus! Nunca matei, nunca roubei, nunca fiz mal a ninguém etc.,”. Mas pergunte-se se você pratica o bem ou não; se você faz a caridade ou não. O cristão é aquele que pratica o bem e não somente aquele que deixa de fazer o mal.


Por isso, dar os bens para os pobres e seguir a Jesus não é um passatempo ou um luxo religioso proposto a um elite; não é um conselho para os mais generosos. Dar os bens aos pobres é a condição básica para ter um tesouro no céu, para herdar a vida plena e definitiva. É preciso nós amarmos as pessoas e usarmos as coisas, em vez de amarmos as coisas e usarmos as pessoas.
      

O homem rico, pelo seu apego à riqueza, não aceita o convite de Jesus. Seu amor aos outros é relativo, não chega ao nível necessário para um cristão. Não está disposto a trabalhar por uma mudança social, por uma sociedade justa; a antiga lhe basta. Prefere o dinheiro ao bem do homem.
  

Jesus pede a todos os seus seguidores que tenham o desprendimento que sabe se conformar com o necessário e compartilhar com os outros o que se tem, sem entesourar nem incorrer na idolatria do dinheiro como bem supremo, pois tudo será deixado neste mundo. Um dia seremos obrigados a largar tudo quando chegar nosso momento para partir deste mundo. De fato, temos apenas o usufruto das coisas criadas por Deus para nossa felicidade neste mundo e não para possuí-las.


Hoje, Jesus também fitando cada um de nós, e diz: “Meu filho, minha filha, meu irmão e minha irmã, uma coisa te falta ainda...”. Que cada um se verifique e se olhe com carinho: será que uma coisa me falta ou mais coisas para que eu possa crescer na direção do bem e do amor fraterno?

P. Vitus Gustama,svd

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