15/05/2015
A TRISTEZA SE TRANSFORMA
EM ALEGRIA NA COMPONHIA DO SENHOR
Sexta-Feira da VI
Semana da Páscoa
Evangelho: Jo
16,20-23
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 20“Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis,
mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se
transformará em alegria. 21A mulher, quando deve dar à luz, fica
angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já
não se lembra dos sofrimentos, por causa da alegria de um homem ter vindo ao
mundo. 22Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos
novamente e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos poderá tirar a vossa
alegria. 23aNaquele dia, não me perguntareis mais nada”.
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Continuamos acompanhando o longo
discurso de despedida de Jesus de seus discípulos no evangelho de João (Jo
13-17). Como qualquer despedida, o tom é sempre melancólico. Mas em cada
despedida há sempre as ultimas recomendações ou lições dadas ou deixadas por
aquele que vai partir para que os que ficam não vivam desamparados ou
desorientados.
E o texto do evangelho de hoje nos
fala da vida como ela é. O sofrimento e a dor, a alegria e a tristeza, o
sucesso e o fracasso, o nascimento e a morte, o sorriso e o choro moram no
mesmo homem. O famoso escritor libanês, Khalil Gibran, escreveu no seu livro O
Profeta:
“Quando estiverdes
alegres, olhai no fundo de vosso coração, e achareis que o que vos deu tristeza
é aquilo mesmo que vos está dando alegria. E quando estiverdes tristes, olhai
novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo
mesmo que constituiu vosso deleite... A alegria e a tristeza vêm sempre juntas;
e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em
vossa cama”.
Dentro deles ou com eles, nós crescemos
ou avançamos na vida. Até se soubermos aproveitá-los o nosso crescimento fica
acelerado e nossa maturidade nos aproxima bem cedo. Eles fazem parte de
ingredientes para saborear a vida na sua plenitude, como cada rosa que tem seus
espinhos, mas os espinhos não tiram a beleza de uma rosa. Todo sofrimento por
amor nos faz crescer na nossa maturidade. O filósofo romano, Epicteto escreveu:
“Cada dificuldade na vida
nos oferece uma oportunidade para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e
recorrermos aos nossos recursos interiores escondidos ou mesmo desconhecidos.
As provações que suportamos podem e devem revelar-nos quais são as nossas
forças... Você possui forças que provavelmente desconhece” (Arte de Viver,
p.37, Sextante: Rio de Janeiro,2000).
E a Palavra de Deus veio certamente
para despertar essa força misteriosa que temos dentro de nós para superar as
nossas “paralisias”.
Jesus anuncia para os discípulos sua
morte iminente como uma partida para o Pai (Jo 16,5). Conseqüentemente, os
discípulos ficarão tristes por causa da ausência física de Jesus. Mas Jesus
afirma que a tristeza dos discípulos é apenas uma passagem. Ele evoca a imagem
de uma mulher parturiente: “A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada
porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se
lembra dos sofrimentos, por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo”.
Na Bíblia as dores do parto caracterizam um “castigo” terrível (Gn 3,16; Jr
4,31; 6,24; 13,21). No entanto, são as únicas dores que têm um sentido porque
trazem uma nova vida ao mundo. Para os discípulos os sofrimentos são de caráter
passageiro, pois sofrem em nome de Jesus que é a vida de suas vidas (Jo 14,6;
11,25), como uma mãe parturiente que sofre em nome de uma vida que está para
vir ao mundo. Trata-se, paradoxalmente, de um sofrimento que tem sabor de
alegria ou uma dor fecunda.
Para quem está com o Senhor os
sofrimentos desta vida não são sofrimentos de agonia e sim são sofrimentos de
parto que conduzem à vida, são sofrimentos fecundos que fertilizam nossa vida
de salvação. Com o Senhor e no Senhor todo sofrimento é fecundo. Com o Senhor
cada sofrimento faz nascer uma nova visão cada vez maior sobre a vida que
vivemos. Se o coração se alegra, se alegra todo o homem desde sua raiz mais profunda.
E Jesus promete aos discípulos: “Ninguém
vos poderá tirar a vossa alegria”. Trata-se da alegria que nunca se
acaba, da alegria eterna. É a promessa daquele que venceu a morte. As tristezas
de cada dia podem acontecer, as tribulações podem nos cercar, mas nada nem
ninguém possa nos tirar do caminho da Vida e do amor de Cristo por nós (cf. Rm
8,35-39). Nossa alegria nasce da serena certeza de que somos queridos do Senhor
infinitamente, amados em todas as nossas limitações e fraquezas. É a alegria de
saber que nossa vida tem sentido e tem futuro. Por isso, a falta de alegria
profunda, no fundo, é sinal da falta de fé, sinal da falta de profundidade na
vida de fé. Um cristão triste é, verdadeiramente, um triste cristão.
De início, o sofrimento nos parece
sempre grande demais. Porém, o sentido de qualquer sofrimento é levar-nos ao
nosso limite para nos fazer descobrir novas forças. Aprendamos da mulher-mãe da qual fala o
evangelho de hoje. Nela concorrem sucessivamente tristeza-dor e triunfante
alegria, porque o dom da maternidade é muito grande. Assim também nós, filhos e
filhas de Deus, discípulos e discípulas de Cristo, caminharemos da
provação-sofrimento-tristeza para a alegria-consolo, fecundidade do gozo no
Espírito de Deus. A força de Deus é tal que é capaz de nos encher de serenidade
e confiança, enquanto a provação, ao contrário, tenta nos impor um sentimento
de fracasso e o desejo de perecer.
Tenhamos confiança; o Senhor sempre
está conosco. O Senhor quer que através de cada um de nós surja uma nova
humanidade onde haja menos dor, menos pobreza, menos tristeza, menos angústia,
menos exploração dos menos favorecidos, menos injustiças sociais, menos vícios
que minem a saúde das pessoas e a paz familiar. O Senhor continua nos enviando
para que possamos gerar uma autêntica alegria cristã. Mas temos que estar
conscientes de que para gerar um homem novo e renovado nos custará grandes
sofrimentos, perseguições e incompreensões. Na vida o que é valioso custa
muito. Não há nada que seja valioso que seja dado de graça. Ninguém cresce sem
aprender a morrer de muitas coisas na vida. Mas o Senhor quer que sejamos
fortes, valentes, seguros e que confiemos n’Ele e caminhemos atrás de suas
pegadas. E quem crê em Jesus Cristo deve ser o primeiro em trabalhar pelo bem
de todos.
“Ninguém vos poderá tirar a
vossa alegria” é a Palavra do Senhor hoje para todos nós. Para isso,
temos que viver de acordo com os ensinamentos de Cristo que se resumem no amor
fraterno, pois quem ama o próximo, não vai fazer mal contra ele. A vivência do
amor fraterno nos traz uma alegria plena, pois trata-se de estar com o Deus de
amor (cf. Jo 15,9-11). Além disso, o segredo desta alegria plena está na
seguinte oração: “Inspirai, ó Deus, as nossas ações e ajudai-nos a
realizá-las, para que em Vós comece e termine aquilo que fizermos”
(Coleta/oração do dia da Quinta-Feira após as Cinzas).
Vamos tentar descobrir a seguinte
verdade: O modo como você começa seu dia determina o modo como você passará o
restante dele. Os seus primeiros trinta minutos depois de acordar são os
minutos mais importantes e valiosos do dia porque têm uma enorme influência na
qualidade de cada minuto que segue. Tenha apenas pensamentos puros e conceba
apenas coisas boas para que seu dia tenha uma continuidade maravilhosa. Seja
simples porque a simplicidade é a virtude dos sábios, e a sabedoria dos santos.
Não pense no mal para que o mal não pense em você. Mas pense no bem para que o
bem pense em você.
“Contemple o bem, e
persiga-o, como se não pudesse alcançá-lo; contemple o mal e evite-o, como
evitaria colocar a mão em água fervente” (Confúcio: Aforismos de
Confúcio).
Então, comece bem seu dia e você
nunca mais será o mesmo. Além disso, pela comunhão, Cristo morto e ressuscitado
se faz nossa força para passar triunfalmente pelo sofrimento que encontramos na
vida como ele próprio venceu a morte.
P.Vitus Gustama, SVD
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