sábado, 9 de maio de 2015

15/05/2015

A TRISTEZA SE TRANSFORMA EM ALEGRIA NA COMPONHIA DO SENHOR


Sexta-Feira da VI Semana da Páscoa
 

Evangelho: Jo 16,20-23

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 20“Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria. 21A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se lembra dos sofrimentos, por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo. 22Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. 23aNaquele dia, não me perguntareis mais nada”.
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Continuamos acompanhando o longo discurso de despedida de Jesus de seus discípulos no evangelho de João (Jo 13-17). Como qualquer despedida, o tom é sempre melancólico. Mas em cada despedida há sempre as ultimas recomendações ou lições dadas ou deixadas por aquele que vai partir para que os que ficam não vivam desamparados ou desorientados.


E o texto do evangelho de hoje nos fala da vida como ela é. O sofrimento e a dor, a alegria e a tristeza, o sucesso e o fracasso, o nascimento e a morte, o sorriso e o choro moram no mesmo homem. O famoso escritor libanês, Khalil Gibran, escreveu no seu livro O Profeta:

“Quando estiverdes alegres, olhai no fundo de vosso coração, e achareis que o que vos deu tristeza é aquilo mesmo que vos está dando alegria. E quando estiverdes tristes, olhai novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo mesmo que constituiu vosso deleite... A alegria e a tristeza vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama”.


Dentro deles ou com eles, nós crescemos ou avançamos na vida. Até se soubermos aproveitá-los o nosso crescimento fica acelerado e nossa maturidade nos aproxima bem cedo. Eles fazem parte de ingredientes para saborear a vida na sua plenitude, como cada rosa que tem seus espinhos, mas os espinhos não tiram a beleza de uma rosa. Todo sofrimento por amor nos faz crescer na nossa maturidade. O filósofo romano, Epicteto escreveu:


“Cada dificuldade na vida nos oferece uma oportunidade para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e recorrermos aos nossos recursos interiores escondidos ou mesmo desconhecidos. As provações que suportamos podem e devem revelar-nos quais são as nossas forças... Você possui forças que provavelmente desconhece” (Arte de Viver, p.37, Sextante: Rio de Janeiro,2000). 


E a Palavra de Deus veio certamente para despertar essa força misteriosa que temos dentro de nós para superar as nossas “paralisias”.


Jesus anuncia para os discípulos sua morte iminente como uma partida para o Pai (Jo 16,5). Conseqüentemente, os discípulos ficarão tristes por causa da ausência física de Jesus. Mas Jesus afirma que a tristeza dos discípulos é apenas uma passagem. Ele evoca a imagem de uma mulher parturiente: “A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se lembra dos sofrimentos, por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo”. Na Bíblia as dores do parto caracterizam um “castigo” terrível (Gn 3,16; Jr 4,31; 6,24; 13,21). No entanto, são as únicas dores que têm um sentido porque trazem uma nova vida ao mundo. Para os discípulos os sofrimentos são de caráter passageiro, pois sofrem em nome de Jesus que é a vida de suas vidas (Jo 14,6; 11,25), como uma mãe parturiente que sofre em nome de uma vida que está para vir ao mundo. Trata-se, paradoxalmente, de um sofrimento que tem sabor de alegria ou uma dor fecunda.


Para quem está com o Senhor os sofrimentos desta vida não são sofrimentos de agonia e sim são sofrimentos de parto que conduzem à vida, são sofrimentos fecundos que fertilizam nossa vida de salvação. Com o Senhor e no Senhor todo sofrimento é fecundo. Com o Senhor cada sofrimento faz nascer uma nova visão cada vez maior sobre a vida que vivemos. Se o coração se alegra, se alegra todo o homem desde sua raiz mais profunda.


E Jesus promete aos discípulos: “Ninguém vos poderá tirar a vossa alegria”. Trata-se da alegria que nunca se acaba, da alegria eterna. É a promessa daquele que venceu a morte. As tristezas de cada dia podem acontecer, as tribulações podem nos cercar, mas nada nem ninguém possa nos tirar do caminho da Vida e do amor de Cristo por nós (cf. Rm 8,35-39). Nossa alegria nasce da serena certeza de que somos queridos do Senhor infinitamente, amados em todas as nossas limitações e fraquezas. É a alegria de saber que nossa vida tem sentido e tem futuro. Por isso, a falta de alegria profunda, no fundo, é sinal da falta de fé, sinal da falta de profundidade na vida de fé. Um cristão triste é, verdadeiramente, um triste cristão.


De início, o sofrimento nos parece sempre grande demais. Porém, o sentido de qualquer sofrimento é levar-nos ao nosso limite para nos fazer descobrir novas forças.   Aprendamos da mulher-mãe da qual fala o evangelho de hoje. Nela concorrem sucessivamente tristeza-dor e triunfante alegria, porque o dom da maternidade é muito grande. Assim também nós, filhos e filhas de Deus, discípulos e discípulas de Cristo, caminharemos da provação-sofrimento-tristeza para a alegria-consolo, fecundidade do gozo no Espírito de Deus. A força de Deus é tal que é capaz de nos encher de serenidade e confiança, enquanto a provação, ao contrário, tenta nos impor um sentimento de fracasso e o desejo de perecer.


Tenhamos confiança; o Senhor sempre está conosco. O Senhor quer que através de cada um de nós surja uma nova humanidade onde haja menos dor, menos pobreza, menos tristeza, menos angústia, menos exploração dos menos favorecidos, menos injustiças sociais, menos vícios que minem a saúde das pessoas e a paz familiar. O Senhor continua nos enviando para que possamos gerar uma autêntica alegria cristã. Mas temos que estar conscientes de que para gerar um homem novo e renovado nos custará grandes sofrimentos, perseguições e incompreensões. Na vida o que é valioso custa muito. Não há nada que seja valioso que seja dado de graça. Ninguém cresce sem aprender a morrer de muitas coisas na vida. Mas o Senhor quer que sejamos fortes, valentes, seguros e que confiemos n’Ele e caminhemos atrás de suas pegadas. E quem crê em Jesus Cristo deve ser o primeiro em trabalhar pelo bem de todos.


Ninguém vos poderá tirar a vossa alegria” é a Palavra do Senhor hoje para todos nós. Para isso, temos que viver de acordo com os ensinamentos de Cristo que se resumem no amor fraterno, pois quem ama o próximo, não vai fazer mal contra ele. A vivência do amor fraterno nos traz uma alegria plena, pois trata-se de estar com o Deus de amor (cf. Jo 15,9-11). Além disso, o segredo desta alegria plena está na seguinte oração: “Inspirai, ó Deus, as nossas ações e ajudai-nos a realizá-las, para que em Vós comece e termine aquilo que fizermos” (Coleta/oração do dia da Quinta-Feira após as Cinzas).


Vamos tentar descobrir a seguinte verdade: O modo como você começa seu dia determina o modo como você passará o restante dele. Os seus primeiros trinta minutos depois de acordar são os minutos mais importantes e valiosos do dia porque têm uma enorme influência na qualidade de cada minuto que segue. Tenha apenas pensamentos puros e conceba apenas coisas boas para que seu dia tenha uma continuidade maravilhosa. Seja simples porque a simplicidade é a virtude dos sábios, e a sabedoria dos santos. Não pense no mal para que o mal não pense em você. Mas pense no bem para que o bem pense em você.


“Contemple o bem, e persiga-o, como se não pudesse alcançá-lo; contemple o mal e evite-o, como evitaria colocar a mão em água fervente” (Confúcio: Aforismos de Confúcio).


Então, comece bem seu dia e você nunca mais será o mesmo. Além disso, pela comunhão, Cristo morto e ressuscitado se faz nossa força para passar triunfalmente pelo sofrimento que encontramos na vida como ele próprio venceu a morte.

P.Vitus Gustama, SVD

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