07/05/2015
AMOR CRISTÃO É UM AMOR CIRCULANTE:
DE DEUS PARA JESUS E DE JESUS PARA NÓS E DE
NÓS PARA OS OUTROS
Quinta-Feira da V
Semana da Páscoa
Evangelho: Jo 15,9-11
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: 9 “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei.
Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e
permaneço no seu amor. 11Eu vos disse isto, para que a minha alegria
esteja em vós e a vossa alegria seja plena”.
_________________________
O texto do evangelho se encontra no
discurso da despedida de Jesus dos seus discípulos no evangelho de João (Jo
13-17). Jesus sabe de sua morte iminente e por isso, deu as ultimas
recomendações para os seus discípulos.
Hoje Jesus nos disse: “Como meu
Pai me amou, assim também eu vos amei”. Isto quer dizer que o amor cristão
nasce e começa em Deus. Originalmente é coisa de Deus e não nossa. A iniciativa
é de Deus: “Amamos porque Deus nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Deus é
amor (1Jo 4,8.16), origem e motor do amor. O Filho, Jesus, se origina do Pai
num processo de amor que é o Espírito. Este amor em Deus é comunidade,
Trindade. E este amor vai se manifestando na criação, na encarnação, na
filiação, na amizade, na alegria definitiva do encontro derradeiro. Deus é
sempre a origem e o término. “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei”.
Que profundidade encontrada nesta afirmação. Eu sou amado de Deus e por Deus.
Jesus me ama como o Pai ama Jesus. Eu sou privilegiado/privilegiada. Eu preciso
viver esta verdade na minha vida cotidiana, em todas as circunstâncias. Deus me
ama e eu creio no Seu amor. Com o amor divino por mim eu posso encarar tudo na
minha vida como o amado/amada de Deus. Quanta serenidade terei eu se eu viver
profundamente esta verdade! Não há nada que possa me separar do amor de Deus
(cf. Rm 8,35-39).
E o sinal mais evidente, a
encarnação desse amor divino é Jesus: “Deus amou tanto o mundo, que entregou
o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida
eterna” (Jo 3,16). Jesus é a medida do amor de Deus e o exemplo a seguir.
Todas as palavras de Jesus, todas as obras de Jesus são manifestação do seu
amor por nós todos. Jesus é o amor de Deus feito rosto humano.
E este amor que nasce no Pai e passa
por Jesus termina necessariamente nos irmãos. O amor cristão tem dois pólos:
Deus e os irmãos (o homem). Quem não ama o irmão, não conhece Deus, não conhece
Jesus, não entendeu o que é a fé cristã. Sem amor a Deus e ao irmão, não há fé
cristã.
Amor cristão é, então, um amor
circulante: o amor que vem do Pai para o Filho, Jesus e de Jesus para nós e de nós para os irmãos.
“Como meu Pai me amou, assim também
eu vos amei”. É maravilhoso o que Jesus nos diz hoje. Há alguém que me ama
com o amor divino: Jesus Cristo. O amor com que Jesus me ama é o mesmo amor com
que Ele é amado pelo Pai. Diante de Deus sou amado e sou amado eternamente,
porque Aquele que me ama é eterno: “Eu te amei com amor eterno, por isso,
conservei para ti o amor”, diz Deus através do profeta Jeremias (Jr 31,3).
Posso estar rodeado pelas dificuldades ou problemas, mas eu sei que há alguém
que me ama. A certeza desse amor eterno por mim me dá força para lutar e para
melhorar minha vida. A certeza desse amor eterno me dá serenidade em tudo. De
fato, eu não estou sozinho na minha luta de cada dia, pois há alguém que me
ama: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei”. Na minha oração só
posso dizer a Jesus: “Obrigado, Senhor Jesus, porque me ama eternamente”.
Mas a relação com Deus não é algo
automático. Por isso, Jesus acrescenta: “Permanecei no meu amor”. A palavra “permanecer” é uma forma de
acreditar em Jesus, de deixar-se penetrar pelo amor de Jesus, de deixar-se
envolver pela ternura. É uma entrega total em Jesus para que Ele possa operar
totalmente em nós a fim de que possamos ser reflexos do mesmo amor para o mundo
ao nosso redor.
“Se guardardes os meus
mandamentos, vós permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os
mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor”. Este “Se” é inquietante para nós,
porque é a responsabilidade de nossa liberdade. Eu sei que Deus me ama, mas
será que eu permaneço no amor de Deus? Eu sei que sou filho (a) de Deus, mas
será que eu vivo como tal? Eu sei que faço parte da família de Deus, mas será
que estou dela? São Paulo nos esclarece sobre este tema ao nos dizer: “Não
devais nada a ninguém, a não ser o amor mutuo, pois quem ama o outro cumpriu a
Lei... A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é a
plenitude da Lei” (Rm 13,8.10). Tudo isto significa que o amor divino com
que eu sou amado deve também transparecer e circular na minha relação com os
outros. Nisto mostrarei que eu permaneço no amor divino.
O amor fraterno quando for vivido na
sua profundidade leva a pessoa à alegria: “Eu vos disse isso para que a
minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11). A
verdadeira alegria brota do amor e da fidelidade com que se guardam na vida
concreta as leis do amor. Sentiremos essa alegria na medida em que
permanecermos no amor a Jesus, guardando os mandamentos de amor, seguindo o
estilo de sua vida.
Se vivermos tristes, será que isso acontece
por causa da falta de nossa permanência no amor divino? Será que abandonamos o
amor na nossa vida, por isso é que ficamos tristes o tempo todo? Será que nosso
amor está nem morno nem quente, como diz o livro de Apocalipse (Ap 3,16)?
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário