14/05/2015
DEUS CONTINUA A ESTAR
CONOSCO ATÉ O FIM
Quinta-Feira da VI
Semana da Páscoa
Evangelho: João 16,
16-20
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 16“Pouco tempo ainda, e já não me vereis. E outra vez pouco tempo, e
me vereis de novo”. 17 Alguns dos seus discípulos disseram então
entre si: “O que significa o que ele nos está dizendo: ‘Pouco tempo, e não me
vereis, e outra vez pouco tempo, e me vereis de novo’, e: ‘Eu vou para junto do
Pai? ’”. 18 Diziam, pois: “O que significa este pouco tempo? Não
entendemos o que ele quer dizer”. 19 Jesus compreendeu que eles
queriam interrogá-lo; então disse-lhes: “Estais discutindo entre vós porque eu
disse: ‘Pouco tempo e já não me vereis, e outra vez pouco tempo e me vereis?’ 20
Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o
mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará
em alegria”.
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O texto do evangelho lido neste dia
pertence ao conjunto do discurso de despedida de Jesus de seus discípulos no
evangelho de João (Jo 13-17). Ao ter consciência de sua iminente partida deste
mundo (morte) Jesus dá alguns conselhos para seus discípulos que vão continuar
a missão de Jesus como seus enviados ou missionários neste mundo (Jo 20,21).
No texto de hoje Jesus quer
transmitir aos discípulos algumas certezas para a caminhada neste mundo. Em
primeiro lugar, Jesus afirma conscientemente a certeza do término de sua vida
terrena eminentemente. Cada história tem seu início como também tem seu
término. Assim também a vida de Jesus na terra. A vida na história tem seu
começo, sua duração e também tem seu fim. Para cada ser humano tem seu
nascimento, também tem sua morte (cf. Eclesiastes 3,1-8). A idade sempre
aumenta em cada segundo, pois o tempo não pára. A idade sempre aumenta e nunca
diminui, mas pode também terminar em qualquer segundo. Tudo é para frente. Não
há parada, pois a vida nos empurra por dentro. Estamos sempre em permanente
viagem ou caminhada, mesmo que estejamos dormindo. Até as palavras ditas passam
no tempo ou viram passado em segundos. Cada um vai criar seu caminho e sua
própria história neste mundo. E o fim depende das opções feitas entre dois
extremos: entre o início e o fim. O espaço dado a mim é o espaço entre o
nascimento e a morte. Vou usar este espaço para o bem ou para o mal. Tudo
depende de mim. Eu não tenho outro espaço. Além deste espaço ( antes do
nascimento e depois da morte) não tenho nenhuma competência. A maneira como eu
vivo nesses dois extremos vai determinar de que modo vou terminar minha
história.
Jesus não somente fala da certeza do
término de sua vida terrena, mas também da certeza de sua glorificação ou de
sua ressurreição. Por isso, ele afirma: “Eu vou para junto do Pai”. O
Deus revelado por Jesus em quem acreditamos é o Deus do bem e por isso, é o
Deus da vida que jamais termina (cf. Mt 22,31-32). Praticar o bem, viver o amor
fraterno significa viver para sempre. A morte servirá apenas de passagem. “A
vida não é tirada, mas transformada”, disse um dos prefácios da missa pelos
falecidos.
Por que Jesus tem tanta certeza da
comunhão plena com o Pai? Por que essa certeza? Porque a vida de Jesus foi
dedicada somente para o bem de todos. Ora, quem se dedica a vida somente para o
bem de todos, mesmo sem saber, ele está em plena sintonia com Deus. A vida de Jesus é vivida de acordo com o Plano
ou a vontade de Deus. E a vontade de Deus se resume no amor: “Deus amou
tanto o mundo que lhe deu seu Filho para que todo o que nele crer tenha a vida
eterna” (Jo 3,16). A partir de Deus o mundo é governado por amor e no amor.
A única lei que rege a vida de qualquer cristão é a lei do amor fraterno: “Nisto
todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”
(Jo 13,35). O amor é o único meio capaz de convencer e converter até os ateus.
Nada compromete tanto como o amor, e ninguém é tão livre como aquele que ama. o
amor é que nos leva para junto do Pai celeste. Mas trata-se do amor sem motivo
conhecido como ágape, isto é, o amor direcionado somente para o bem sem esperar
recompensa de quem é beneficiado por esse amor.
A certeza da comunhão plena com o
Pai por ter vivido uma vida de acordo com a lei do amor faz com que Jesus tenha
outra certeza: a sua nova presença no meio dos seus discípulos. Por isso, ele
afirma: “E outra vez pouco tempo, e me vereis de novo”. O amor
possibilita uma presença eterna mesmo que aquele que é amado não esteja
presente fisicamente. O amor é eterno, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16), mas as
caricaturas do amor não duram. O amor não pode morrer, pois é o nome próprio de
Deus. A morte é incapaz de eliminar a morte. Um dia a morte cessará, mas o amor
é inextinguível, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Com a certeza do amor que não
morre nós acreditamos que os nossos entes-queridos que nos precederam deste
mundo continuam em plena comunhão conosco, com Cristo com sua Igreja que somos
todos.
Por causa desse amor eterno é que
Jesus nos garante: “Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará
em alegria”. A fé não nos faz contornarmos nossa tristeza. A fé nos dá
forças para atravessar nossa tristeza com a certeza de que Deus nos ama e nós
amamos a Deus e cremos no Seu amor. O encontro do meu amor por Deus e do amor
de Deus por mim resulta numa força tremenda capaz de superar aquilo que
humanamente é impossível. “Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se
transformará em alegria”, garante-nos o Senhor.
“Vossa tristeza se transformará
em alegria”. Os discípulos experimentaram a inquietude. A mesma inquietude
dos primeiros discípulos, que se expressa profundamente nas palavras de Jesus
(Jo 16,16) concentra ou resume a tensão de nossas inquietudes de fé, de busca
de Deus em nossa vida cotidiana. Como os cristãos do primeiro século, necessitamos
experimentar a presença do Senhor em meio de nós para reforçar nossa fé,
esperança e caridade. Sem perceber podemos experimentar Deus em toda a beleza,
em todo o gesto de amor, no bem praticado, no perdão dado, na pessoa que nos
ajuda e nos anima, no coração que sabe amar e perdoar, no palpitar intacto de
cada novo ser, na vida que não termina com a morte. Afinal, em tudo que é a
expressão do amor, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Deus nos toca em cada gesto
de amor e tocamos ou experimentamos o próprio Deus em cada gesto de amor que
praticamos. “Experimentar
Deus não é pensar sobre Deus. É sentir Deus a partir do coração puro e da mente
sincera. Experimentar Deus é tirar o mistério do universo do anonimato e
conferir-lhe um nome, o de nossa reverência e de nosso afeto”
(Leonardo Boff).
“Vossa tristeza se transformará
em alegria” é o recado de Jesus para cada um de nós. Tenhamos certeza dessa
palavra, pois ela saiu da boca do Senhor. Deus sempre prepara o melhor no fim
para quem é perseverante no bem ou na vivencia do amor fraterno. O vinho melhor
aparece no fim (cf. Jo 2,10). Vivamos perseverantes no Senhor para alcançar, no
fim, algo melhor ou maravilhoso para nossa vida e salvação!
P.Vitus Gustama, SVD
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