quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

04/12/2015


ALEGRIA DE ENXERGAR NOVAMENTE


Sexta-Feira da I Semana do Advento


Primeira Leitura: Is 29,17-24


Assim fala o Senhor Deus: 17 Dentro de pouco tempo, não se transformará o Líbano em jardim? E não poderá o jardim tornar-se floresta? 18 Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro e os olhos dos cegos verão, no meio das trevas e das sombras. 19 Os humildes aumentarão sua alegria no Senhor, e os mais pobres dos homens se rejubilarão no Santo de Israel; 20 fracassou o prepotente, desapareceu o trapaceiro, e sucumbiram todos os malfeitores precoces, 21 os que faziam os outros pecar por palavras, e armavam ciladas ao juiz à porta da cidade e atacavam o justo com palavras falsas. 22 Isto diz o Senhor à casa de Jacó, ele que libertou Abraão: “Agora, Jacó não mais terá que envergonhar-se nem seu rosto terá de enrubescer; 23 quando contemplarem as obras de minhas mãos, hão de honrar meu nome no meio do povo, honrarão o Santo de Jacó, e temerão o Deus de Israel; 24 os homens de espírito inconstante conseguirão sabedoria e os maldizentes concordarão em aprender”.


Evangelho: Mt 9,27-31


Naquele tempo, 27 partindo Jesus, dois cegos o seguiram, gritando: “Tem piedade de nós, filho de Davi!” 28 Quando Jesus entrou em casa, os cegos se aproximaram dele. Então Jesus perguntou-lhes: “Vós acreditais que eu posso fazer isso?” Eles responderam: “Sim, Senhor”. 29 Então Jesus tocou nos olhos deles, dizendo: “Faça-se conforme a vossa ”. 30 E os olhos deles se abriram. Jesus os advertiu severamente: “Tomai cuidado para que ninguém fique sabendo”. 31 Mas eles saíram, e espalharam sua fama por toda aquela região (Mt 9,27-31).
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O tema dos cegos faz um elo entre as leituras deste dia. A primeira leitura revela a composição do Resto messiânico, os pobres. O pobre referido por Isaías é alguém cuja condição o torna mais apto a contar com Deus do que o rico confiante em seus meios humanos. Neste sentido, o pobre se torna rico diante de Deus e o rico se torna pobre. O Evangelho insiste na atitude necessária para pertencer ao Resto messiânico: a fé no poder divino depositado em Jesus, o Messias esperado.


O texto do evangelho deste dia fala de dois cegos. No Antigo Testamento, a cegueira é muitas vezes considerada um castigo de Deus (Dt 28,28; 2Rs 6,18; Zc 12,4; veja no NT em Jo 9,2). Por isso, neste sentido, a cegueira é uma metáfora que expressa falta de visão espiritual (cf. Is 42,19; 29,18; 56,10; Rm 2,19; 2Cor 4,4; 2Pd 1,9; 1Jo 2,11; Ap 3,17). E Salvação trazida pelo Messias é descrita como luz para o cego (Is 35,5; 42,16.18; 43,8; Jr 31,8). O Messias tem como missão, entre outras, devolver a vista aos corpos (curar a cegueira física) e abrir os olhos da alma (curar a cegueira espiritual).


O evangelista Mateus nos relatou que dois cegos gritaram a Jesus: “Tem piedade de nós, Filho de Davi!”. O grito é um sinal. Sinal de uma necessidade muito forte, de um protesto, de um sofrimento muito intenso, sinal de uma sensibilidade afetada. Há gritos em silêncio que são gritantes. Mas há gritos gritantes que não dizem nada. Todo barulho não faz bem e o bem não faz barulho. Há grito dos bons, mas há também grito dos maus e maldosos. “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”, dizia Martin Luther King. Além disso, sabemos também da experiência que quem grita tem necessidade de esconder a insegurança.


Uma necessidade fortemente sentida como o sofrimento físico ou moral, ânsia de pão para sobreviver, ânsia de amizade, ânsia para viver e conviver em um clima familiar, aspiração para uma vida melhor, tudo isso pode ser o ponto de partida, o início de uma busca de Deus.


Filho de Davi, tem piedade de nós!”. Ao dizerFilho de Davi” os dois cegos reconhecem em Jesus um titulo messiânico. Eles querem dizer a Jesus: “Tu és Aquele que há de vir, Aquele que foi prometido pelos profetas. Em Ti colocamos toda a nossa esperança, e por isso, a Ti gritamos!”.  E “o grito do pobre sobe até Deus, mas não chega aos ouvidos do homem” (Hughes Lamennais).


Os dois cegos entraram na casa onde Jesus morava. Aqui a casa é a comunidade cristã onde Jesus é a cabeça dela. Nessa comunidade é que ecoa a Palavra que ilumina, que faz ver as realidades deste mundo de um novo modo, que capacita o homem a ver a presença de Deus em tudo neste mundo. Nessa comunidade é que ressoa a Palavra que devolve a esperança perdida e ganha a visão clara sobre a vida.


Nesta casa, Jesus interroga os dois cegos para saber a autenticidade de sua . Jesus deseja purificar esta : “Credes que eu posso fazer isso?”, pergunta-lhes Jesus. A necessidade humana que está na origem de sua oração poderia não ser o desejo de um milagre para si mesmo. Jesus apenas suscita neles a esperança, o desejo e a . Ele não quer forçar. Ele não quer adivinhar a necessidade. Ele não faz uma dedução. Ele pergunta para saber da real necessidade das pessoas.


Com sua pergunta Jesus quer levar os dois cegos a avançar até uma mais pura. Os dois pensam em si mesmos: “Tende piedade de nós, Filho de Davi”. Mas Jesus lhes orienta para Sua própria pessoa: “Credes que EU posso fazer isso?”. Jesus dialoga. Ele não advinha as coisas. Ele quer dialogar. Hoje em dia, o diálogo não é mais uma opção e sim uma necessidade. Um cristão deve ser uma pessoa de diálogo. Jesus pergunta se os dois cegos têm ou não nele, pois o milagre que dispõe a fazer não é uma coisa automática nem mágica. Os sacramentos não são atos mágicos: os sacramentos requerem .


Quando Jesus perguntou aos cegos: “Credes que eu posso fazer isso?”. Logo eles responderam: “Sim, Senhor”. E aconteceu o milagre: os olhos se abriram. Cumpriu-se aquilo que o profeta Isaias dizia: “Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro e os olhos dos cegos verão no meio das trevas e das sombras” (Is 29,18).  Dar a vista aos cegos era um dos sinais da salvação definitiva, como símbolo da libertação da tirania (Is 29,18ss; 35,5.10; 42,6s; 49,6.9s). Abrir os olhos dos cegos significa tirá-los da escravidão para continuar seu êxodo, sua caminhada para a plena perfeição (Mt 5,48). depois de terem encontrado Cristo e de terem escutado a sua Palavra é que os cegos reconheceram Jesus como Senhor e entregam-se a Ele e recuperam a vista.


O dom da cura é um acontecimento relacional que requer o encontro e o contato pessoal com Jesus. Toda vez que fizermos a experiência de contato pessoal com Jesus, ganharemos a graça de ver melhor as coisas, os acontecimentos, a vida e seu sentido. Os cegos se aproximam de Jesus e se deixam tocar por Ele. E a cegueira desapareceu e voltam a enxergar novamente. A recuperação da vista, tanto física como espiritual, sempre traz a alegria e o ânimo para seguir adiante na vida e para viver explosivamente. Os cegos curados saíram e espalharam a fama de Jesus mesmo que Jesus tenha pedido para eles não falarem a ninguém. A verdadeira alegria é uma implosão e explosão que ninguém consegue segurar.


Filho de Davi, tem piedade de nós!”. A oração dos dois cegos é muito simples: é seu grito, grito que brota de seu sofrimento, grito que está cheio de esperança! É a oração angustiada de quem sofreu muito por causa de um problema sério.


Minha oração também deveria ser, simplesmente, esta: a experiência e a confissão sinceras de que algo não caminha bem em mim, na minha família, na minha vocação, na minha profissão, no meu trabalho, no meu casamento, na minha comunidade eclesial, ao meu redor e assim por diante. Em cada missa fazemos sempre esta oração: Senhor, tende piedade de nós, como rezaram os dois cegos. O campo de nossa miséria é muito menor do que o tamanho do campo da misericórdia divina. Por isso, podemos “gritarcom esperança ao Deus da misericórdia.


Podemos até não ser cegos fisicamente. Mas precisamos deixar o Senhor abrir nosso coração, pois um coração aberto torna nossa visão aberta diante da vida, das pessoas e diante de todos os acontecimentos desta vida e entenderemos seu significado e veremos tudo a partir do olhar de Deus.


Para adquirir o olhar de Deus, para ver as criaturas com os olhos de Deus, julgar seus valores e pôr no seu devido lugar, aquilo que o Criador nos confiou, nós precisamos que Cristo cure a nossa cegueira, que através da Sua Palavra faça brilhar a Sua Luz. Ver a luz é sinônimo de nascer (Jo 3,16). Os primeiros cristãos chamavam “iluminados” aos que tinham recebido o Batismo; eles eram considerados recém-nascidos.


O advento é um tempo especial para ler, estudar e meditar a Palavra de Deus, pois ela ilumina nossa mente e nosso coração e para praticar a , estando na luz. O Messias que vai chegar no Natal é a nossa Luz, a Luz do mundo (Jo 8,12). Precisamos contempla a verdadeira Luz do mundo para que sejamos Seus reflexos no mundo. Precisamos deixar a Palavra de Deus tocar nossa mente, nosso coração, nosso agir, nossos olhos para que possamos ser iluminados e ver tudo a partir de Deus. Sendo iluminados, seremos, por nossa vez, luz que ilumina para os demais. “Vós sois a luz do mundo”, diz o Senhor no Sermão da Montanha (Mt 5,14). Uma pessoa iluminada faz os outros enxergarem bem o caminho que deve ser trilhado. Mas uma mente escura faz todo mundo tropeçar e viver apalpando sem saber em que direção deve seguir.


Pessoa iluminada por Cristo e Sua Palavra é agradável com as pessoas, educada na forma de acolher, humana no jeito de olhar, simples na maneira de viver, olhar com profundidade, pois tudo é iluminado, abraçar com generosidade, amar com criatividade e para construir, aprender continuamente, crescer constantemente e falar respeitosamente e compreender para ponderar.


O Advento nos convida a permanecermos na contemplação da verdadeira Luz que é o próprio Jesus Cristo. Seja qual for nossa situação pessoal e comunitária, Deus nos estende Sua mão e nos convida à esperança, porque nos assegura que Ele está conosco (Mt 28,20).


Que o Senhor nos ilumine com Sua Palavra para que sejamos pessoas iluminadas, pessoas da luz de Deus. É preciso chegarmos próximo de Jesus para que sua Luz possa ser refletida em cada um de nós para que sejamos pessoas iluminadas para os demais. Assim seja!


P. Vitus Gustama,svd

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