quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

SANTO ESTEVÃO, 26/12/2015


SER CRISTÃO É SER MÁRTIR DE CRISTO 


Festa de Santo Estevão


26 de Dezembro


At 6,8-10; 7,54-59


8 Naqueles dias, Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. 9 Mas alguns membros da chamada Sinagoga dos Libertos, junto com cirenenses e alexandrinos, e alguns da Cilícia e da Ásia, começaram a discutir com Estêvão. 10Porém, não conseguiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. 7,54 Ao ouvir essas palavras, eles ficaram enfurecidos e rangeram os dentes contra Estêvão. 55 Estêvão, cheio do Espírito Santo, olhou para o céu e viu a glória de Deus e Jesus, de pé, à direita de Deus. 56E disse: “Estou vendo o céu aberto, e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus”. 57 Mas eles, dando grandes gritos e, tapando os ouvidos, avançaram todos juntos contra Estêvão; 58 arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem, chamado Saulo. 59 Enquanto o apedrejavam, Estêvão clamou dizendo: “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito”.


Mt 10,17-22


Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: 17Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. 18Vós sereis levados diante de governadores e reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e das nações. 19Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Então naquele momento vos será indicado o que deveis dizer. 20Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através de vós. 21O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais, e os matarão. 22Vós sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo.
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Que tua conduta e tua palavra possam significar um chamamento de Deus à mente e ao coração dos que d’Ele estão longe (Pio XII, Papa). 


Para os cristãos a perseguição não é incidente de percurso, mas é um fato inevitável. Por isso, ela não constitui novidade na história da Igreja. O autor da Segunda Carta ao Timóteo nos lembra: “Em verdade, todos aqueles que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus, serão perseguidos” (2Tm 3,12). Pode acontecer que numa ou na outra situação tenhamos que sofrer a calúnia ou a difamação por sermos verazes, por sermos fiéis à verdade; em outras, as nossas palavras ou as nossas ações serão, talvez, mal interpretadas. Em qualquer caso, o Senhor espera de nós, cristãos que falemos sempre a verdade com clareza.


Neste dia a Igreja celebra o martírio de São Estevão. Estevão é chamado de “protomártir” porque teve a honra de ser o primeiro mártir que derramou seu sangue por proclamar sua fé em Jesus Cristo.


Depois de Pentecostes (cf. At 2,1-13), os apóstolos dirigiram o anúncio da mensagem cristã aos mais próximos: aos hebreus, despertando o conflito e a fúria por parte das autoridades religiosas do judaísmo. Como Cristo, os apóstolos foram imediatamente vitimas da humilhação e de cárcere, mas assim libertados, continuavam a pregação do Evangelho. Quando a comunidade cristã começou a crescer, os apóstolos confiaram o serviço da assistência diária para sete ministros da caridade, chamados diáconos. Estevão fazia parte desse ministério.


O texto do discurso com que Estevão encerrou seu fulgurante ministério e motivou sua bárbara lapidação é um dos mais veneráveis monumentos da literatura cristã (cf. At 7,1-60). É a primeira das homilias.  Mais do que uma autodefesa é um didaché. No seu discurso, Estevão passa de acusado para ser acusador, contundente como um martelo. Enquanto falava, seu rosto resplandecia com brilho purpúreo de juventude como brilho de um anjo.


“Irmãos e pais, escutai!”. Com estas palavras, as mais ternas do vocabulário humano, Estevão quer recordar a sua comunidade de origem de que Estevão fazia parte dela. Estevão não é desconhecido entre sua comunidade, não é um alienado. Ele é da etnia de Abraão, partícipe das mesmas promessas e das mesmas esperanças. Estevão quer dizer a sua comunidade de origem: “Como pode acontecer que um irmão mata outro irmão”. Trata-se de uma fratricida.


O martírio de São Estevão é celebrado logo depois de a Igreja celebrar o nascimento do Filho de Deus como nosso irmão, e nosso Salvador. O martírio de Estevão quer nos revelar que o Menino Jesus recém-nascido em Belém é o mesmo que mais tarde, por fidelidade à sua missão, entregará sua vida na Cruz para salvar a humanidade. Os anjos do Natal anunciaram o nascimento do Salvador: “Hoje nasceu para vós um Salvador”. É pela cruz que Jesus nos salva.  Jesus será o primeiro mártir, testemunha do amor de Deus vivido até o fim, até as ultimas conseqüências (Jo 13,1; 3,16). Estevão será logo o primeiro entre os seguidores que imitam Jesus no martírio. Em outras palavras, Estevão é chamado de “proto-mártir” porque teve a honra de ser o primeiro mártir que derramou seu sangue por proclamar sua em Jesus Cristo. Mas o próprio Jesus será o primeiro mártir, por excelência.


Estevão é o verdadeiro reflexo do próprio Jesus porque ele acreditava e vivia totalmente a mensagem de Jesus. Ele, como Jesus, fez aquilo que é tão difícil para a vida normal: amar e rezar pelos inimigos. “Senhor, não lhes leves em conta este pecado”, assim ele rezou pelos inimigos que o apedrejaram até a morte (At 7,60; cf. Lc 23,34; Mt 5,44-48). Esta é a novidade do Evangelho, capaz de suscitar uma pergunta, pois aquele que vive profundamente o Evangelho de Jesus Cristo é capaz de orar e amar aquele que o destrói. Por isso, viver de acordo com o Evangelho não é tão fácil como se imagina.


Mas a celebração do martírio de santo Estevão é uma festa gozosa porque sua morte é um novo nascimento, é a participação da Páscoa de Jesus. O longo discurso de Estevão em At 7, de puro conteúdo pascal, expressa claramente a conflitividade da pregação da ressurreição de Jesus que levou Estevão ao martírio.  Como Jesus Cristo e o seu proto-mártir, Estevão, todos os cristãos são chamados a serem testemunhas/mártires da boa Noticia com a totalidade de sua vida.


Na parte central dos grandes discursos que dão ritmo a Atos, Pedro repete: “Nós somos testemunhas” (cf. At 2,32;3,15;10,41). Ser testemunha era a identidade dos discípulos de Jesus. O anúncio da palavra de Deus e o testemunho de vida são palavras-chaves e inseparáveis na obra de Lucas, de modo especial na segunda obra (Atos). Testemunhar significa provar com a própria vida aquilo que se fala, se professa e no que se acredita, assumindo todas as conseqüências.


Mas não se trata de testemunhar uma idéia, um conjunto de verdades; mas trata-se de testemunhar o próprio Jesus Cristo Ressuscitado. Por isso, o anúncio pode ser feito por todos e para todos, porque não pressupõe nem culturas nem diplomas. Sendo o próprio Jesus Cristo, é suficiente tê-Lo encontrado como aquele quesentido a toda a vida. Para anunciar Jesus Cristo Ressuscitado não se requerem qualidades específicas, mas uma fidelidade. Testemunhar Jesus é provar com a própria vida que é ele o sentido profundo de nossa vida e da vida do mundo e a garantia nossa tanto no presente como no futuro (cf. Jo 14,6). Não se trata de testemunhar Jesus Ressuscitado temporariamente. Temos que ser perseverantes no nosso testemunho em qualquer circunstância. Na escolha de um caminho de vida, não basta o entusiasmo do primeiro momento nem as afirmações exaltadas de amor a Jesus. A salvação para cada um de nós e para melhorar o mundo, depende da nossa perseverança na vivência dos ensinamentos de Cristo.


No evangelho lido neste dia, Jesus não esconde a verdade aos cristãos: o evangelho provoca, muitas vezes, a oposição e perseguição. Isto não espanta Jesus. Ele pede aos cristãos para se manterem valentes como Ele até o fim (cf. Jo 16,33). Jesus salvou a humanidade comportando-se como ovelha ou na linguagem do evangelista João como cordeiro: simples e manso (Mt 11,28-30).


A oposição e a perseguição vêem, muitas vezes, da própria família: “O irmão entregará seu irmão à morte. O pai, seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra seus pais e os matarão”. O ódio pode nascer em qualquer pessoa e em qualquer lugar. Jesus nos sugere uma solução: “Permanecei fieis!”. É conservar a firmeza e o valor, contra toda decepção, contra toda oposição e contra todo fracasso. O que conta é a salvação eterna. Precisamos saber que Jesus está conosco (Mt 28,20). Na obscuridade do fracasso estamos seguros de que Jesus, com toda certeza, virá e salvará os seus. Mas Jesus nos alerta e nos afirma: “Aquele que perseverar até o fim, será salvo”. Será que sou perseverante em tudo como cristão?  


Num mundo em que a mentira e a dissimulação constituem tantas vezes o miolo do comportamento habitual, nós, cristãos, devemos ser homens verazes que fogem sempre até da mais pequena mentira. Devemos conhecidos pelos que convivem conosco como homens e mulheres que nunca mentem, mesmo nos assuntos de pouca importância. A nossa vida terá, então, uma grande fecundidade apostólica, pois sempre se pode confiar numa pessoa íntegra, que sabe dizer a verdade com caridade. Em outras palavras, não devemos ter medo da verdade, pois a verdade que é o próprio Cristo (Jo 14,6) nos libertará (Jo 8,32).        


P. Vitus Gustama, svd

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