quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

29/12/2015

APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO:
O ENCONTRO COM O SALVADOR


29 de Dezembro


Evangelho: Lc 2,22-35


22Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. 23Conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. 24Foram também oferecer o sacrifícioum par de rolas ou dois pombinhos – como está ordenado na Lei do Senhor. 25Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, 26e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. 27Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, 28Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: 29Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30porque meus olhos viram a tua salvação, 31que preparaste diante de todos os povos: 32luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”. 33O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. 34Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti uma espada te traspassará a alma”.
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A Apresentação Celebra Uma Chegada e Um Encontro Com o Salvador


O Evangelho nos traz ecos novamente do Natal. O texto do evangelho nos mostra que Jesus é plenamente encarnado na condição humana: é um menino que precisa ser levado nos braços como qualquer outra criança. E sua família se submete à Lei como qualquer outra família judia. Maria e José são pobres. Eles fazem a oferenda como pobre: um par de pombas. Jesus apresentado a Deus, isto é, ele é oferecido ao Pai solenemente. O sentido da oferenda se compreenderá somente sob a luz da cena do calvário onde Jesus morrerá como o autêntico primogênito que se entrega ao Pai pela salvação dos homens.  


A cena da apresentação de Jesus-Menino no Templo é rica teologicamente. A antiga Aliança cede o lugar para a Nova, reconhecendo em Jesus-Menino o Messias e o Salvador universal dos povos. E a cena acontece no Templo, lugar da presença de Deus e da revelação profética.


Maria e José entraram no Templo como pobres para oferecer a Deus seu primogênito e para a purificação da mãe (cf. Ex 13,2-16; Lc 12,1-8). Na verdade, Maria como uma pessoacheia de graça” (Lc 1,28) não precisaria dessa purificação. Mas, como todas as mães judias, ela cumpriu fielmente a Lei ritual que prescrevia a purificação da impureza legal quarenta dias depois do parto de um menino, e oitenta dias depois do parto de uma menina (cf. Lv 12,1-8).


A apresentação do Senhor no Templo celebra uma chegada e um encontro. É a chegada do Salvador sonhado, núcleo da vida religiosa do Povo eleito e as boas vindas a ele pelos dois representantes dignos do povo eleito: Simeão e Ana. Ao nascer Jesus se manifestou, primeiramente, aos pastores representantes dos pobres e excluídos. Ao ser apresentado no Templo, Jesus se revela, primeiramente, aos doispobres de Javé”: Simeão e a viúva de 84 anos, Ana, que esperavam a libertação de Israel praticando a oração e o jejum. Não se mencionam os levitas nem os sacerdotes que executam os ritos da purificação de Maria e do resgate do Menino. No nascimento a revelação aconteceu ao ar livre: para os pastores. Agora o lugar de revelação é o Templo. O ancião Simeão e a viúva, Ana, deram boas vindas ao Salvador do mundo com grande alegria, e tão grande é a alegria a ponto de Simeão dizer:Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”.


Ao viver este mistério na , a Igrejanovas boas vindas a Cristo. É o momento do encontro de Cristo com sua Igreja. Isto vale para qualquer celebração na Igreja. Na celebração (eucarística) há o momento de encontro entre Jesus e todos nós. O verdadeiro encontro com Cristo na liturgia sempre causa a alegria e a felicidade, pois trata-se do encontro com o nosso Salvador. O verdadeiro encontro com o Senhor causa mudança na nossa vida para uma maneira melhor de viver a vida de acordo com o mandamento do Senhor resumido no amor fraterno, pois encontramos o sentido de nossa vida em Jesus. O verdadeiro encontro com o Senhor produz em cada um de nós muitos frutos bons para a convivência, pois começamos a permanecer em Jesus (Jo 15,5). O verdadeiro encontro com o Senhor nos torna reflexos do Senhor para os demais, iluminando os outros com nossa vida iluminada pelo Senhor. Não é por acaso que no Oriente a festa da apresentação do Senhor no Templo é chamada de a festa do Encontro.


Um dos maiores frutos do verdadeiro encontro com o Senhor é a prática do amor fraterno. Para a primeira Carta de São João quem ama, vive na luz de Deus (cf. 1Jo 2,3-11). Quem odeia, vive nas trevas. Amar a exemplo de Jesus significa dar-se, esquecer-se de si mesmo, procurar o bem do outro até sacrificar os próprios interesses, as próprias idéias e a própria vida. O mandamento de amor universal deve ser vivido primeiro na comunidade de irmãos na fé. Quanto mais em profundidade se vivem a fé e o amor, mais atraídos se sentem todos a conhecer o testemunho do verdadeiro discípulo de Jesus. O amor fraterno tem um poder de atração tão grande a ponto de ser reconhecido por aqueles que se dizem ateus.


O Fazer Do Cristão Deve Ser Um Fazer Sagrado


A apresentação do Senhor no Templo é um mistério da salvação. O nomeapresentação” tem um conteúdo muito rico. Fala de oferecimento, fala de sacrifício. “Sacrifício” significa fazer coisa sagrada (sacrum = “sagrado” + facere = fazer). A apresentação do Senhor no Templo recorda a auto-oblação inicial de Cristo que aponta para a vida de sacrifício desta auto-oblação no Calvário para salvar o mundo.


A festa da Apresentação do Senhor nos convida e nos recorda que, como seguidores de Jesus somos convidados a fazer as coisas sagradas permanentemente para que possamos alcançar o feliz encontro derradeiro com Cristo, nosso Salvador. A festa da Apresentação aponta, então, para a vida de sacrifício, cheia de coisas sagradas feitas por cada um de nós, e para a perfeição final deste sacrifício na vida eterna.


Jesus É De Deus e Da Humanidade


Para Maria, a apresentação e oferta de seu Filho no Templo não é um simples gesto ritual. Para ela essa apresentação significa que ela oferece seu Filho para a obra da redenção com a qual ele estava comprometido desde o princípio. O nome “Jesus” que foi escolhido pelo próprio Deus indica isso tudo (cf. Mt 1,21). Para os judeus, o nome expressava a identidade e o destino pessoal que cada um devia realizar ao longo de sua vida. Desde o primeiro instante de sua vida até a morte na Cruz, Jesus foi o que seu nome significa: Deus salva, ou Salvador. Maria renuncia a seus direitos maternais e a toda pretensão sobre seu Filho, Jesus, e O oferece à vontade de Deus-Pai. São Bernardo expressou muito bem esse pensamento ao dizer: “Santa Virgem oferece o teu Filho e apresenta ao Senhor o fruto bendito de teu ventre. Oferece para reconciliação de todos nós, a santa Vítima que é agradável a Deus”.


um novo simbolismo no fato de que Maria põe seu Filho nos braços de Simeão. Ao atuar desta maneira, Maria não oferece seu Filho ao Deus-Pai, mas também ao mundo, representado por aquele ancião Simeão. Desta maneira Maria representa seu papel de mãe da humanidade e nos recorda que o dom da vida vem de Deus através de Maria para o bem da humanidade. Precisamos nos apresentar ao Senhor para que sejamos vida para os outros, a exemplo do próprio Cristo.


A Palavra De Deus É Uma Espada


O texto do evangelho de hoje termina com a seguinte frase: “Quanto a ti uma espada te traspassará a alma”. É uma frase dita pelo Simeão para Maria. Mas o que é espada?


Recorrendo à literatura judeu-bíblica sabemos que a espada é um dos símbolos mais frequentes para designar a Palavra de Deus. No AT temos dois casos (Is 49,2 e Sb 18,15). Este mesmo tipo de simbolismo aparece frequentemente nos comentários judaicos para os textos bíblicos. O NT, em sete ocasiões, recorre a esta linguagem que indica que a Palavra de Deus é comparada com uma espada cortante de dois gumes (Hb 4,12). As referências mais abundantes se encontram no Livro de Apocalipse de João (1,16; 2, 12.16; 19, 15.21). Encontra-se também na Carta de São Paulo aos Efésios (Ef 6,17).


É fácil de ser notada a grande analogia que há entre Lc 2,35 e Hb 4,12. Em ambos se fala de espada que “penetra a alma” eserão revelados os pensamentos de muitos corações”.


A partir dessa orientação exegética, a imagem de Maria é a imagem de um crente que terá que enfrentar-se com a Palavra do Filho, simbolizando misticamente na espada. Sua alma será profundamente penetrada pela Palavra de Jesus. Os pensamentos de Maria serão esclarecidos e julgados à luz da Palavra de Deus (Jesus) e se conformará a ela com um crescimento constante. Isto supõe para Maria gozo e dor, simultaneamente. Gozo, ao ver os frutos que a semente da Palavra de Deus produzirá nela e naqueles que acolherão a Palavra de Jesus. Dor, quando buscava angustiada Jesus em Jerusalém e não compreendeu a resposta do filho, Jesus (cf. Lc 2,49-50).


A exemplo de Maria, quando nos deixarmos inundar pela Palavra de Deus, quando nos deixarmos penetrar pela Palavra de Deus, tudo será esclarecido na nossa vida apesar de termos que encarar algumas incompreensões como Maria.  


Preparar-Se Para o Encontro Definitivo Com o Senhor


Consciente ou inconscientemente, como cristãos, vivemos e fazemos tudo em função de nosso encontro derradeiro com Deus. Se esquecermos esse derradeiro encontro, perderemos o rumo de nossa vida e viveremos somente em função do prazer e de acumular as coisas. Toda a nossa vida é para a frente, isto é para o encontro com Deus definitivamente. Trata-se de uma viagem que não conhece a volta nem para as pessoas, nem para as coisas nem para a própria história. Tudo é para a frente.


A festa do encontro de Jesus com a humanidade no Templo nos projeta para o futuro encontro com o Senhor. Por isso, o encontro com Jesus com a humanidade representada pelos anciãos Simeão e Ana prefigura nosso encontro final com Cristo na sua segunda vinda. Nós, peregrinos de Deus, caminhamos penosamente através deste mundo, guiados pela luz de Cristo (Jo 8,12) e sustentados pela esperança de encontrar finalmente o Senhor da glória no seu Reino eterno. Toda nossa vida cristã tem esse objetivo: encontrar-nos com o Senhor na vida eterna (Jo 14,2-3). Por este objetivo temos sempre força suficiente para superar tudo na nossa peregrinação terrestre (Jo 16,33b). Estando com Cristo e seguindo seus passos nossa vida sempre será iluminada: “Eu sou a Luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).


P. Vitus Gustama,svd

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