terça-feira, 19 de janeiro de 2016

22/01/2016



ESTAR COM O SENHOR PARA SER SEU APÓSTOLO


Sexta-Feira da II Semana Do Tempo Comum


Primeira Leitura: 1Sm 24,3-21


Naqueles dias, 3Saul tomou consigo três mil homens escolhidos em todo o Israel e saiu em busca de Davi e de seus homens, até os rochedos das cabras monteses. 4E chegou aos currais de ovelhas que encontrou no caminho. Havia ali uma gruta, onde Saul entrou para satisfazer suas necessidades. Davi e seus homens achavam-se no fundo da gruta 5e os homens de Davi disseram-lhe: “Este certamente é o dia do qual o Senhor te falou: ‘Eu te entregarei o teu inimigo, para que faças dele o que quiseres’. Então Davi aproximou-se de mansinho e cortou a ponta do manto de Saul. 6Mas logo o seu coração se encheu de remorsos por ter feito aquilo, 7e disse aos seus homens: “Que o Senhor me livre de fazer uma coisa dessas ao ungido do Senhor, levantando a minha mão contra ele, o ungido do Senhor”. 8Com essas palavras, Davi conteve os seus homens, e não permitiu que se lançassem sobre Saul. Este deixou a gruta e seguiu seu caminho. 9Davi levantou-se a seguir, saiu da gruta e gritou atrás dele: “Senhor, meu rei!” Saul voltou-se e Davi inclinou-se até o chão e prostrou-se. 10E disse a Saul: “Por que dás ouvidos às palavras dos que te dizem que Davi procura fazer-te mal? 11Viste hoje com teus próprios olhos que o Senhor te entregou em minhas mãos, na gruta. Renunciando a matar-te! Poupei-te a vida, porque pensei: Não levantarei a mão contra o meu senhor, pois ele é o ungido do Senhor, 12e meu pai. Presta atenção, e vê em minha mão a ponta do teu manto. Se eu cortei este pedaço do teu manto e não te matei, reconhece que não há maldade nem crime em mim, que não pequei contra ti. Tu, porém, andas procurando tirar-me a vida. 13Que o Senhor seja nosso juiz e que ele me vingue de ti. Mas eu nunca levantarei a minha mão contra ti. 14‘Dos ímpios sairá a impiedade’, diz o antigo provérbio; por isso, a minha mão não te tocará. 15A quem persegues tu, ó rei de Israel? A quem persegues? Um cão morto! E uma pulga! 16Pois bem! O Senhor seja juiz e julgue entre mim e ti. Que ele examine e defenda a minha causa, e me livre das tuas mãos”. 17Quando Davi terminou de falar, Saul lhe disse: “É esta a tua voz, ó meu filho Davi? E começou a clamar e a chorar. 18Depois disse a Davi: “Tu és mais justo do que eu, porque me tens feito bem e eu só te tenho feito mal. 19Hoje me revelaste a tua bondade para comigo, pois o Senhor me entregou em tuas mãos e não me mataste. 20Qual é o homem que, encontrando o seu inimigo, o deixa ir embora tranquilamente? Que o Senhor te recompense pelo bem que hoje me fizeste. 21Agora, eu sei com certeza que tu serás rei, e que terás em tua mão o reino de Israel”.


Evangelho: Mc 3,13-19


Naquele tempo, 13Jesus subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram até ele. 14Então Jesus designou Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, 15com autoridade para expulsar os demônios. 16Designou, pois, os Doze: Simão, a quem deu o nome de Pedro; 17Tiago e João, filhos de Zebedeu, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizerFilhos do trovão”; 18André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu, 19e Judas Iscariotes, aquele que depois o traiu.
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conhecemos a chamada de Simão (Pedro), André, Tiago e João. Jesus os escolheu para convertê-los em pescadores de homens (cf. Mc 1,16-20). Em seguida, chamou Levi (Mc 2,13-14). No evangelho de hoje Marcos nos narra a instituição solene dos Doze. A eleição se faz entre os discípulos. Trata-se de um grupo que se distancia do grupo. Este grupo é chamado Apóstolos. São doze discípulos. Eles são testemunhas oculares de toda a vida de Jesus, são fundamento de nossa fé, pois estão unidos a Cristo pedra angular (Ef 2,20). E essa pedra angular faz visível no ministério de Pedro (cf. Mt 16,18-19).


1. É Preciso Estarmos Com Deus Para Ter Ampla Visão Sobre a Vida Cotidiana


Para a instituição dos Doze, Jesus escolheu um monte, um lugar solitário. É mesma coisa que ele fez quando terminou a jornada entusiasta em Cafarnaum (Mc 1,35), e depois que ele curou muitas pessoas: se retirou. Mas agora, Jesus não está só. Seus discípulos estão com ele.


Jesus subiu ao monte”. Um monte é expressão da proximidade com Deus, e é cenário das grandes revelações divinas (cf. Ex 19,20; 24,12; Nm 27,12; Dt 1,6-18). Monte é o lugar das grandes decisões, um lugar solitário propício para a oração, um lugar de amplos horizontes de onde se vê longe. Ao subir ao monte, Jesus se distancia do povo e busca a presença de Deus. O monte é o lugar de oração (cf. Mc 6,46) onde o povo, abandonando o cotidiano, sobe para estar mais perto de Deus (cf. Mc 9,2) a fim de entender melhor o significado do cotidiano.


Jesus nos ensina a aprendermos a ampliar nosso horizonte. Para isso, temos que ter coragem de subir, de sair de nosso canto de sempre, sem medo. É aprender a ver a vida de maneira multiangular.  O conservador não tem futuro porque não aceita novidade e teme por aquilo que é novo. Mas o mundo continua mudando. O amor nos leva a termos uma visão ampla sobre o mundo, as pessoas, a vida e seus acontecimentos. Um coração que ama é capaz de penetrar até o âmago das coisas e chega até Deus. O amor nos assemelha com Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). “Quanto mais amas, mais alto tu sobes”, dizia Santo Agostinho. Quanto mais alto subimos, mais coisas nós veremos. O topo de uma montanha amplia nossa visão e vemos mais coisas.


2. A Vocação Pertence Ao Senhor: Características Da Vocação Do Senhor


Jesus chamou os que ele quis”. Esta frase mostra que uma das características da vocação é a vontade soberana do Senhor. Ele chama os que ele quer e não os que o homem quer.  A vocação é a do Senhor. Alguém pode querer ser discípulo íntimo do Senhor, mas tem que reconhecer que a vocação está na soberania do Senhor. Alguém pode estudar o curso de direito, por exemplo, mas não adianta se não tem vocação para ser advogado.


Para poder acompanha-Lo ao distanciar-se dos homens e elevar-se até Deus, Jesus leva consigo os Doze, isto é, aqueles que Ele quis para estarem com Ele e serem enviados. Esse ato será repetido por Jesus ao levar os três discípulos que são mais próximos a ele e se transfigura diante deles e os três ouvem o testemunho de Deus a respeito de Jesus (cf. Mc 9, 2-7). Para os leitores cristãos, os Doze são representantes do Novo Povo, a comunidade de Cristo sobre eles edifica (no AT há doze tribos). A comunidade de Cristo é uma fundação sobrenatural, fruto da graça de Deus, pois o próprio Senhor chama os que Ele quer. Por isso, o centro da vida e a fonte da força da nova comunidade é a sua comunhão com Cristo e em Cristo com Deus.


E eles foram até Jesus”. A segunda característica dessa vocação é a proximidade com Jesus. É viver na intimidade de Jesus, é pertencer a seu grupo. É viver em comunidade com Cristo e partilhar a sua missão à base de sua íntima comunhão com Deus. Trata-se de uma comunidade de vida, de destino na união de Jesus com Deus.  É refletir, rezar e trabalhar com Jesus. Quando Jesus estiver ausente fisicamente, um dia, eles terão que representá-Lo, fazê-Lo presente no mundo. O discípulo é o prolongamento do Senhor neste mundo. Jesus falará e agirá no mundo através de cada discípulo. Para isso, o discípulo precisa manter o contato com Jesus espiritualmente para que as mensagens não sejam manipuladas pelo interesse próprio.


 3. Para Ser Apóstolo É Preciso Estar, Primeiro, Com o Senhor


O evangelista Marcos sublinha, no seu relato, a finalidade da chamada ou da vocação dos Doze: para estar com Jesus. “Jesus designou Doze, para que ficassem com ele”. Depois para enviá-los a pregar, com autoridade para expulsar os demônios”.


Isto quer nos dizer que aquele que quer ser discípulo ou aquele que quer ser enviado deve ter, primeiro, uma experiência pessoal com o Senhor, poisNão existe discípulo superior ao mestre, nem servo superior ao seu senhor” (Mt 10,24). O enviado deve conviver com Aquele que o envia e saber quais são Seus planos, Seus projetos, isto é, conhecer o plano de salvação de Deus sobre a humanidade para depois o enviado levar o mesmo adiante.


Não somente conhecer a vontade de Deus, mas reconhecer que ele mesmo é objeto dessa vontade salvífica. Conseqüentemente, ele não apenas desempenhará o papel como profeta (que anuncia e denuncia), mas também como testemunha do amor e da misericórdia de Deus. Quem vai em Nome de Jesus, não somente participa de Sua missão, mas também de Seu poder para vencer o mal. Assim, o enviado se converterá em prolongamento de Jesus na historia. Ele será o memorial do Senhor que continua salvando, libertando o homem de suas escravidões.


Aquele que não entrar numa relação de intimidade com o Senhor não pode sentir-se autorizado a proclamar o Evangelho de salvação aos demais, pois não são os meios humanos ou recursos puramente humanos e sim o Espírito Santo é que dá a eficácia necessária ao anúncio do Evangelho para que se converta em Palavra de Salvação para o mundo. A partir de viver unidos a Jesus Cristo pela , poderemos ver com Seus olhos o mundo e sua história.


Marcos resume em três pontos o discipulado: Estar com Jesus, Anunciar o Reino e Expulsar demônios.


Em primeiro lugar, compartilhar a vida com Jesus significa aprender diretamente de seu comportamento o queque fazer. Estar com Jesus não é simplesmente aprender o que ele fez para repeti-lo. Significa algo mais: adquirir seus critérios para ter a liberdade de fazer novas coisas, as que exigem cada tempo, cada lugar, cada cultura, cada nova história, porém sempre de acordo com o critério de Jesus.


Em segundo lugar, há que dizer que o seguimento de Jesus não está pensado somente da individualidade. Trata-se de um projeto de humanização queque compartilhar com outros, que deve ser anunciado. Para isso, há que romper fronteiras e enfrentar novas circunstâncias histórico-culturais. A lista dos que “estiveram com Jesus” se abre com Pedro e se fecha com Judas. Pedro representa fidelidade apesar das fraquezas. Judas representa infidelidade. Pedro e Judas, símbolos de fidelidade e infidelidade, resumem a história da Igreja e a história pessoal de cada discípulo. O importante é que não cerremos nossa relação com Jesus com uma traição.


Em terceiro lugar, Jesus dá aos discípulos o poder de expulsar demônios. Esta figura tem uma carga teológica - cultural. Demônio era o símbolo onde se acumulava o negativo da história: enfermidade, injustiça, pecado, o poder de expulsar demônios não deve ser visto tanto como poder de fazer milagres e exorcismos e sim como a capacidade de humanizar o ser humano para aproximá-lo ao desenho original de ser a imagem mais fiel de Deus Pai.


Os Doze cumpriram sua missão. Por causa dos missionários conhecemos Jesus. Não podemos deixar morrer na nossa mão esta missão. Precisamos ser discípulos-missionários do Senhor. Cada um tem seu dom ou carisma que serve para o bem comum ou para a edificação da comunidade (cf. 1Cor 12,4-11). A diversidade de carismas ou de dons enriquecerá a comunidade se cada cristão pensar no bem comum ou se cada cristão colocar seu carisma/dom a serviço dos irmãos. O que precisa evitar é utilizar os carismas para promover a disputa, a competição e provocar inveja. O verdadeiros carismas favorecem a unidade, pois cada carisma vem do Senhor.


P. Vitus Gustama,svd

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