quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

27/01/2016


SER SEMENTE E SEMEADOR DO BEM


Quarta-Feira Da III Semana Comum


Primeira Leitura: 2Sm 7,4-17


Naqueles dias, 4a palavra do Senhor foi dirigida a Natã nestes termos: 5“Vai dizer a meu servo Davi: ‘Assim fala o Senhor: Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar? 6Pois eu nunca morei numa casa, desde que tirei do Egito os filhos de Israel, até o dia de hoje, mas tenho vagueado em tendas e abrigos. 7Por todos os lugares onde andei com os filhos de Israel, disse, porventura, a algum dos chefes de Israel, que encarreguei de apascentar o meu povo: Por que não me edificastes uma casa de cedro?” 8Dirás pois, agora, a meu servo Davi: Assim fala o Senhor todo-poderoso: Fui eu que te tirei do pastoreio, do meio das ovelhas, para que fostes o chefe do meu povo, Israel. 9Estive contigo em toda parte por onde andaste, e exterminei diante de ti todos os teus inimigos, fazendo o teu nome tão célebre quanto o dos homens mais famosos da terra. 10Vou preparar um lugar para meu povo, Israel: e o implantarei, de modo que possa morar lá sem jamais ser inquietado. Os homens violentos não tornarão a oprimi-lo como outrora, 11no tempo em que eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. Concedo-te uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos. E o Senhor te anuncia que te fará uma casa. 12Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei para sempre a sua realeza. 13Será ele que construirá uma casa para meu nome, e eu firmarei para sempre o seu trono real. 14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Se ele proceder mal, eu o castigarei com vara de homens e com golpes dos filhos dos homens. 15Mas não retirarei dele a minha graça, como a retirei de Saul, a quem expulsei da minha presença. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre”. Natã comunicou a Davi todas essas palavras e toda essa revelação.


Evangelho: Mc 4,1-20


Naquele tempo, 1 Jesus começou a ensinar de novo às margens do mar da Galileia. Uma multidão muito grande se reuniu em volta dele, de modo que Jesus entrou numa barca e se sentou, enquanto a multidão permanecia junto às margens, na praia. 2 Jesus ensinava-lhes muitas coisas em parábolas. E, em seu ensinamento, dizia-lhes: 3 “Escutai! O semeador saiu a semear. 4 Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; vieram os pássaros e a comeram. 5 Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda, 6 mas, quando saiu o sol, ela foi queimada; e, como não tinha raiz, secou. 7 Outra parte caiu no meio dos espinhos; os espinhos cresceram, a sufocaram, e ela não deu fruto. 8 Outra parte caiu em terra boa e deu fruto, que foi crescendo e aumentando, chegando a render trinta, sessenta e até cem por um”. 9 E Jesus dizia: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”. 10 Quando ficou sozinho, os que estavam com ele, junto com os Doze, perguntaram sobre as parábolas. 11 Jesus lhes disse: “A vós, foi dado o mistério do Reino de Deus; para os que estão fora, tudo acontece em parábolas, 12 para que olhem mas não enxerguem, escutem mas não compreendam, para que não se convertam e não sejam perdoados”. 13 E lhes disse: “Vós não compreendeis esta parábola? Então, como compreendereis todas as outras parábolas? 14 O semeador semeia a Palavra. 15 Os que estão à beira do caminho são aqueles nos quais a Palavra foi semeada; logo que a escutam, chega Satanás e tira a Palavra que neles foi semeada. 16 Do mesmo modo, os que receberam a semente em terreno pedregoso, são aqueles que ouvem a Palavra e logo a recebem com alegria, 17 mas não têm raiz em si mesmos, são inconstantes; quando chega uma tribulação ou perseguição, por causa da Palavra, logo desistem. 18 Outros recebem a semente entre os espinhos: são aqueles que ouvem a Palavra; 19 mas quando surgem as preocupações do mundo, a ilusão da riqueza e todos os outros desejos, sufocam a Palavra, e ela não produz fruto. 20 Por fim, aqueles que recebem a semente em terreno bom são os que ouvem a Palavra, a recebem e dão fruto; um dá trinta, outro sessenta e outro cem por um”.
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Aprender e Ensinar


Até agora percebemos que Jesus é um Mestre diferente. Suas palavras, seus gestos e sua maneira de tratar os outros qualificam Jesus como um Mestre diferente. Ele não marginaliza ninguém. Ele chama os excluídos para uma convivência fraterna, os perdidos para o bem sem envergonhá-los. Ao contrário Ele os ensina a não fazerem juízo sobre si próprio e sobre os demais. Jesus atua com naturalidade, mas também com autoridade que incomoda os dirigentes (cf. Mc 2,1-3,6). Jesus usa sua autoridade para o serviço do homem: dos marginalizados (leprosos), dos enfermos, dos endemoniados, curando-os e libertando-os do mal. Sua autoridade se direciona, especialmente, para os últimos. Para os pecadores Ele oferece o perdão. Jesus também sabe lidar com a crítica, com a calúnia (Mc 3,20-23) e com o perigo de morte (Mc 3,6) sem deixar de ser coerente com as próprias escolhas: sempre busca o bem, inclusive o dos adversários, pois o que conta na vida é fazer a vontade de Deus que nos converte em família de Jesus (Mc 3,31-35). Jesus é, verdadeiramente, Mestre de vida, Mestre com força profética da advertência para que os ouvintes jamais compactuem com a maldade.


A partir desse Mestre diferente começamos a aprender a viver e a conviver de uma forma nova, a ver a realidade e as pessoas de maneira respeitosa e fraterna. Ser discípulo desse Mestre diferente significa aprender uma forma nova de viver e de conviver: que o outro merece respeito e tratamento fraterno. Para isso, a lei do amor deve circular dentro das pessoas e entre as pessoas.


Agora Jesus é nos apresentado como Aquele que ensina servindo-se de parábolas (Mc 4,1-34). A palavra “ensinar/ensinamento” se repete três vezes: “Começou a ensinar”, “ensinava em parábolas”, “em seu ensinamento lhes dizia”. Sabemos que quando na Sagrada Escritura se repete uma palavra três vezes é porque quer dizer algo importante. Ensinamento significa que Jesus trabalha como mestre que se propõe comunicar algo, que quer levar seus ouvintes ao caminho de conhecimento para viver e conviver com responsabilidade.


Ensinar e aprender sempre andam juntos. Alguém ensina e o outro aprende para depois ensinar. Trata-se de uma cadeia sem fim. Um bom mestre precisa ser um bom estudante. Precisamos aprender para ensinar. Há ideias, emoções ou aprendizados prematuros que não nos servem mais, e seria ridículo se aparecêssemos diante dos demais e diante de novos desafios e situações vestidos com eles. Aprender e ensinar nos levam a uma atitude importante: é saber (através da aprendizagem e de vivência), avaliar, e decidir o que já não serve e deixar lugar para o fluir da vida vivida com responsabilidade e com objetivos claros e propostas claras para viver e conviver bem, isto é, com responsabilidade. Com a mudança da época temos que estar prontos e ser livres para aprender e desaprender, pois existe a exigência de interrogar-se e fazer-se perguntas abertas. Nesta dinâmica necessitamos da sabedoria de duvidar, de saber escutar-se e escutar, de ser e de mostrar-se saudavelmente inseguros para que cheguemos à verdade que nos liberta (cf. Jo 8,32). Temos que suspeitar de nosso conhecimento, de nossa santidade, de nossa caridade e assim por diante. Às vezes ou muita das vezes não somos aquilo que imaginamos que sejamos.


Ao ensinar Jesus tomou a atitude de um mestre: sentou-se. Sua cátedra não é a da sinagoga e sim uma barca. “Barca” é um instrumento de trabalho, de transporte. É tudo de que um pescador necessita. Até na Bíblia “pesca” simboliza a missão.


Na Bíblia, “sentar-se” expressa dignidade e senhorio. No modelo antigo, aqueles que ensinam ficavam sentado para significar sua dignidade. E o trono é sinal de poder e senhorio. Sentar-se é atitude simbólica de quem dá a sentença judicial. No dia de juízo final, o Filho do Homem virá em toda a sua glória e “assentar-se-á no trono de sua glória” (Mt 25,31). Na nossa liturgia, o “sentado” por antonomásia é o sacerdote presidente. “Presidente” significa o que se senta diante: prae-sedere (em latim).


A partir do discípulo, “sentar-se” é a atitude diante do mestre que expressa sua receptividade e sua atenção, sua atitude de escuta. “Sentar-se aos pés de um mestre” significa ser discípulo (cf. Lc 10,39; At 22,3). Na nossa liturgia “sentar-se” é uma postura que favorece a concentração e a meditação. “Sentar-se” exprime uma profunda vontade de descobrir o verdadeiro significado da vida. A posição do corpo de quem se senta evidencia a espera de algo, exprime um ardente desejo de comunhão (dos olhares) com aquele a quem deve ser escutado. Quando escutarmos a Palavra de Deus proclamada para nós, estamos frente a frente com Deus que tem alguma palavra para nossa vida ou nossa situação atual.


Ser Bom Terreno Para a Palavra de Deus Frutificar


Os destinatários dos ensinamentos de Jesus através das parábolas são a multidão: “Anunciava-lhes a Palavra por meio de muitas parábolas como essas, conforme podiam entender; e nada lhes falava a não ser em parábolas” (Mc 4,33-34).


O ensinamento da parábola do semeador não se refere, antes de tudo, aos ouvintes da palavra e sim aos semeadores, ou seja, aos evangelizadores, o primeiro dos quais é Cristo e depois dele são todos os demais evangelizadores, os quais não podem pretender ser mais do que o próprio Mestre Jesus Cristo.


Chama atenção sobre o trabalho do semeador: é um trabalho abundante, sem medida, sem distinção e cheio de alegria e esperança. Ele semeia para todos os tipos de terreno com alegria e esperança. O fracasso não é o mais do semeador, mas da capacidade receptiva e acolhedora do terreno para deixar a semente crescer e dar fruto. A partir do semeador, no Reino de Deus não existe trabalho inútil, nada se desperdiça. Não nos preocupemos com a colheita. É preciso semear a semente do bem permanentemente. Semear o bem não conhece as estações da vida. Sempre é tempo para semear a bondade. Vamos fazer o bem e deixar os resultados com Deus.


Ainda que aos olhos dos homens a grande parte do trabalho do evangelizador pareça inútil e vão (apenas 30% do resultado), ainda que os fracassos pareçam ser somados aos fracassos (semente que virou plantinha mas depois secou/morreu), Jesus se transborda de alegria e de certeza, pois a hora de Deus vai chegar e com ela terá uma coleta abundante, superior a toda súplica e imaginação (resultado de 100%). O que mais importante é que cada um produza frutos: 30%, 60% ou 100%. Que cada um se esforce para produzir algo de bom sem se preocupar com um grande resultado. De todas as formas, êxito ou fracasso, desperdício ou não desperdício, o trabalho da semeadura não tem que ser calculado, acautelado, precavido. Ninguém deve nem pode antecipar o juízo de Deus nem sequer o semeador tem direito a fazer isso. Sobretudo nãoque escolher o terreno ou lançar as sementes em uns terrenos e em outros não. O semeador lança a semente para todos os terrenos sem distinção. O cristão é aquele que faz o bem e semear a bondade sem olhar para a pessoa para quem o bem é feito.


Por outro lado, na aplicação dessa parábola, Mc insiste em acrescentar a necessidade da disposição dos ouvintes. Mc coloca algumas disposições interiores e pessoais para que a Palavra ouvida seja entendida, cresça e dê frutos. As principais disposições são: abertura e sensibilidade aos valores do Reino (como um terreno aberto), resistência diante do espírito mundano, e liberdade interior ou um coração limpo de tudo que é mau ou ruim. Em outras palavras, para que a Palavra dê fruto é necessário ter um coração bom, leal e perseverante. A Bíblia sempre recorda para a necessidade da perseverança quando fala da fé. A fé continuamente entra em provação. Mas para que dê frutos dela é necessário resistir com valentia e ter coragem e paciência. Não é possível ser cristão sem a perseverança.


Concretamente, o que esta parábola nos quer ensinar? Precisamos pensar no valor da semente ou do grão de trigo. A semente ou o grão de trigo serve para nos alimentar para que possamos viver e sobreviver enquanto estivermos nesta terra. A semente ou o grão de trigo representa tudo o que é bom e útil para a edificação de um ser humano. Precisamos ser semeadores de tudo o que é bom, útil e verdadeiro para uma boa convivência fraterna. Precisamos alimentar os outros com o que é bom e verdadeiro. Para isso, precisamos nos alimentar, primeiro, com tudo o que é bom e verdadeiro, pois ninguémaquilo que não tem. Não é cristão aquele que semeia o que é mau ou ruim. O evangelho usa um termo para este tipo de pessoa como inimigo de Deus que semeia o joio no meio de trigo (Mt 13,25). Este tipo de pessoa trabalha à noite para significar as trevas que dominam sua vida. O trabalho do cristão é semear as sementes da bondade, do amor, da solidariedade para o próximo, para qualquer pessoa sem nenhuma qualificação, pois “Deus não faz distinção de pessoas” (At 10,34). A bondade é o único investimento que nunca falha, pois Deus é o Bem maior. Como diz um ditado popular: “Deus pode tardar, mas nunca falha”. O cristão não tem que se preocupar com a colheita ou resultado, mas que semeie! A semente da bondade e da capacidade de fazer o que possa edificar os outros não pode deixar morrer na mão. O cristão tem que plantá-la para os outros e nos outros. Lembre-se o cemitério é o lugar de decomposição. O que é bom, útil e verdadeiro, temos que fazer antes disso. O resto é apenas uma pura vaidade que vale a pena largar. Sejamos bons e perseverantes semeadores do bem!


Você é um cristão que produz 30%, 60% ou 100% na vida da Igreja do Senhor e na sociedade? O que impede a Palavra de Deus de produzir todo seu fruto em nós: as preocupações, a superficialidade, as tentações do ambiente? Às vezes a culpa pode ser de fora: pedras e espinhos da vida que sufocam a bondade. Mas a culpa pode ser nós mesmos, pois viramos um terreno estéril, pedregoso e espinhoso, e não abrimos todo nosso coração para a Palavra de Deus que nos dirige. Pensemos nisso!


P. Vitus Gustama,SVD

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