quarta-feira, 20 de janeiro de 2016


25/01/2016

CONVERSÃO DE SÃO PAULO NOS ENSINA A ENXERGARMOS O CAMINHO DE DEUS


25 de Janeiro


Primeira Leitura: At 22,3-16


Naqueles dias, Paulo disse ao povo: 3"Eu sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui criado aqui nesta cidade. Como discípulo de Gamaliel, fui instruído em todo o rigor da Lei de nossos antepassados, tornando-me zeloso da causa de Deus, como acontece hoje convosco. 4Persegui até à morte os que seguiam este Caminho, prendendo homens e mulheres e jogando-os na prisão. 5Disso são minhas testemunhas o Sumo Sacerdote e todo o conselho dos anciãos. Eles deram-me cartas de recomendação para os irmãos de Damasco. Fui para lá, a fim de prender todos os que encontrasse e trazê-los para Jerusalém, a fim de serem castigados. 6Ora, aconteceu que, na viagem, estando já perto de Damasco, pelo meio dia, de repente uma grande luz que vinha do céu brilhou ao redor de mim. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: `Saulo, Saulo, por que me persegues?' 8Eu perguntei: `Quem és tu, Senhor?' 7Ele me respondeu: `Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu estás perseguindo'. 9Meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz que me falava. 10Então perguntei: `Que devo fazer, Senhor?' O Senhor me respondeu: `Levanta-te e vai para Damasco. Ali te explicarão tudo o que deves fazer'. 11Como eu não podia enxergar, por causa do brilho daquela luz, cheguei a Damasco guiado pela mão dos meus companheiros. 12Um certo Ananias, homem piedoso e fiel à Lei, com boa reputação junto de todos os judeus que aí moravam, 13veio encontrar-me e disse: `Saulo, meu irmão, recupera a vista!' No mesmo instante, recuperei a vista e pude vê-lo. 14Ele, então, me disse: `O Deus de nossos antepassados escolheu-te para conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires a sua própria voz. 15Porque tu serás a sua testemunha diante de todos os homens, daquilo que viste e ouviste. 16E agora, o que estás esperando? Levanta-te, recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o nome dele!'"


Mc 16,15-18


Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, 15e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”.
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No dia 25 de janeiro a Igreja celebra a conversão de São Paulo. A conversão de São Paulo é um dos maiores acontecimentos da época apostólica. Ele, chamado de Saulo, nasceu em Tarso, na região da Cilícia, Ásia menor, atual Turquia (At 9,11; 21,39; 22,3; cf. 9,30; 11,25). Foi educado dentro das exigências da Lei de Deus e das tradições paternas (Gl 1,14). Aos 18 anos ele se mudou para Jerusalém para ter aulas com o escriba Gamaliel (At 22,3).


Paulo sempre foi um homem profundamente religioso, judeu praticante, irrepreensível na mais estrita observância da Lei (Fl 3,6;At 22,3). Ele era cheio de zelo pelas tradições paternas (Gl 1,14). Para defendê-las chegou a perseguir os cristãos. Como judeu praticante, e de espírito violento, São Paulo era contra e perseguia qualquer um que não seguisse a Lei de Deus: “Ouvistes certamente da minha conduta de outrora no judaísmo, de como perseguia sobremaneira e devastava a Igreja de Deus...” (Gl 1,14b; cf. At 7,55-8,1). Antes de sua conversão, São Paulo via as mesmas coisas de sempre: a vida, as pessoas, a Bíblia, o povo, a sinagoga, o trabalho e tudo que pertencia ao seu mundo.


Mas Deus quer libertar Paulo deste caminho. Na estrada de Damasco Paulo, em vez de perseguir, ele foi perseguido por Cristo (At 9,1ss). A entrada de Jesus na sua vida não foi pacífica, mas sim de uma maneira violenta.     Deus não pediu licença a Paulo. Ele entrou e o derrubou (At 9,4;22,7;26,14). Caído no chão, Paulo se entregou. Lucas não diz que Paulo cai do cavalo, mas “cai por terra”, porque essa é a fraseologia usada em alguns textos bíblicos para descrever a reação humana diante da manifestação divina (cf. Ez 1,28;cf. 43,3;44,4; cf. Dn 10,7.9; 8,17-18). A queda de Paulo na estrada de Damasco foi a linha divisória para sua vida entre antes e depois. Essa queda é a chave geral para entender Paulo e toda a sua luta incansável.


A partir da experiência de Damasco, no encontro pessoal com o Senhor Jesus, São Paulo não colocou mais sua segurança na observância da Lei, mas sim no amor de Deus por ele (Gl 2,20s; Rm 3,21-26). O amor é, para ele uma lei máxima. Basta amar, alguém estará cumprindo a lei plenamente (cf. Rm 13,10). Poucas vezes um diálogo tão breve transformou tanto a vida de uma pessoa, como aconteceu com São Paulo.


Quando se levantou, Paulo estava cego. A cegueira na Bíblia é claramente relacionada com o pecado, com a desorientação do homem, com o seu andar trôpego e incapaz de encontrar uma direção (cf. At 13,9-11). Mas no seu interior brilhava já a luz de Cristo. Essa experiência renovou por dentro todo o seu relacionamento com Deus e com o próximo, e mudou totalmente sua visão sobre a vida e as pessoas, e ele se tornou uma nova criatura: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova”, diz ele (2Cor 5,17). “Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim”, acrescentou (Gl 2,20b).  Esta nova experiência do amor de Deus em Jesus (Rm 8,39) mudou os olhos, e ajudou Paulo a descobrir novos valores que antes não via. A partir de então Cristo começou a ser o centro de sua vida. A queda no caminho para Damasco representava para São Paulo um autêntico ponto sem retorno. A experiência da gratuidade do amor de Deus faz Paulo suportar lutas e perseguições, viagens e canseira, o peso do dia-a-dia (2Cor 11,23-27); sofrer com aqueles que sofrem (2Cor 11,29). Realizou, assim, o único desejo de sua vida: estar com seu Senhor e Mestre Jesus Cristo.


Ele cresceu tanto no amor de Cristo, a ponto de dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). O Senhor transformou esse homem violento em evangelizador incansável de Sua Palavra, em um homem dócil ao Espírito de Deus. Cristo é um grande “Caçador” e quer por presa os mais fortes segundo o critério do mundo. São Paulo se rendeu e virou um grande pregador crível da Boa Notícia. O Senhor o levou a um total desapego daquilo que antes lhe parecia sumamente importante. O Senhor lhe conduz a uma percepção absolutamente nova das coisas e da realidade, a uma iluminação. E tudo lhe parece distinto. Chegou a dizer: “Mas essas que eram vantagens para mim, as considero desvantagens por causa de Cristo. Sim, considero tudo isso uma perda em comparação com a sublime vantagem de conhecer a Cristo (Fl 3,7-8).


Nós necessitamos de uma conversão pessoal para que nos transformemos em instrumentos dóceis e eficazes na tarefa da nova evangelização. Todos nós temos nosso caminho de Damasco. E de cada um o Senhor se aproxima porque ele nos ama e quer que seja instrumento deste amor para o mundo no qual muitos perderam a consciência de ser irmãos dos outros. Sem a verdadeira conversão cada um virará um novo Saulo que tem espírito perseguidor da dignidade da vida alheia. O homem que não se converter, se julgará totalmente senhor, e não servo, da verdade e cometerá as mais graves aberrações da violência. Através da conversão entenderemos que o Deus do Evangelho e da misericórdia é Aquele que no instante me faz compreender que errei completamente com relação a ele e ao meu próximo e me dá confiança ao chamar-me ao seu serviço, confiando-me a sua própria Palavra a ser anunciada para todos. Se nunca realizamos a fundo esta mudança de mentalidade que é essencial para a vida cristã, ainda não chegamos a compreender o que é a novidade do caminho cristão. Se não compreendo bem as coisas ditas sobre Paulo, provavelmente é difícil que compreenda o que aconteceu em mim.


Perante a experiência de São Paulo necessitamos lançar algumas perguntas para poder tirar lições dessa experiência. Onde tu estavas quando a Palavra de Deus te alcançou? Para que direção te levou o Senhor? Como aconteceu esta passagem? Que existe em ti de parecido, diferente ou análogo à experiência de Paulo? Como podes acolher na tua vida a ação proveniente de Deus que te faz ser o que és? Como e de que maneira o Senhor, que foi para Paulo a revelação da misericórdia divina, é para ti o ponto de referência fundamental para compreender quem és, o que és, de onde vens, para que tu foste  chamado? Quais são as posses que te impedem de acolher com liberdade a iniciativa divina com relação a ti?


Devemos fazer estas perguntas com amor: se as fizermos com espírito possessivo ou autojustificativo, responderemos com pressa e não conseguiremos ver em profundidade a história da nossa vida sob o olhar de Deus. Mas se nos interrogarmos com amor e misericórdia poderá emergir o que em nós é obra de Deus e o que em nós é resistência de Paulo à obra de Deus. Como o próprio Paulo disse: “Esta palavra merece crédito e toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou o primeiro” (1Tm 1,15).  O pecado fundamental do homem é não reconhecer Deus como Deus, não reconhecer-se como dom seu, como fruto do seu amor. Carregamos todos dentro de nós a incapacidade de reconhecer a Deus como Deus, “dos quais eu sou o primeiro. E se a misericórdia me foi dada, foi para que Jesus Cristo manifestasse primeiro em mim toda a sua generosidade, para que eu servisse de exemplo aos que devem crer nele a fim de conseguir a vida eterna” (1Tm 1,16).


Terminemos esta reflexão fazendo-nos uma pergunta fundamental, de acordo com a meditação; quando foi que me converti? Existe em minha vida um “quando” da conversão ao qual posso referir-me como momento histórico? Mesmo que não tenha havido um “quando” temporal, certamente aconteceram momentos de mudança, de transformação, de crise que nos levaram a uma nova compreensão do mistério de Deus.


Se nunca realizamos a fundo esta mudança de mentalidade que é essencial para a vida cristã, ainda não chegamos a compreender o que é a novidade do caminho cristão. Se não compreendo bem as coisas ditas sobre Paulo, provavelmente é difícil que compreenda o que aconteceu em mim.


P. Vitus Gustama,svd

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