28/01/2019
SER
CRISTÃO É SER REFLEXO DE CRISTO E SER VIDA PARA OS OUTROS
Quinta-Feira
Da III Semana Comum
Festa de Santo Thomas de Aquino
Primeira Leitura: 2Sm
7,18-19.24-29
Depois
que Natan falara a Davi, o rei entrou no tabernáculo 18foi assentar-se
diante do Senhor, e disse: “Quem sou eu, Senhor Deus, que é a minha família,
para que me tenhas conduzido até aqui? 19Mas, como isto te parecia
pouco, Senhor Deus, ainda fizeste promessas à casa do teu servo para um futuro
distante. Porque esta é a lei do homem, Senhor Deus! 24Estabeleceste o
teu povo, Israel, para que ele seja para sempre o teu povo; e tu, Senhor, te
tornaste o seu Deus. 25Agora, Senhor Deus, cumpre para sempre a promessa
que fizeste a teu servo e à sua casa, e faze como disseste! 26Então o teu nome
será exaltado para sempre, e dirão: “O Senhor Todo-poderoso é o Deus de
Israel”. E a casa do teu servo Davi permanecerá estável na tua presença. 27Pois
tu, Senhor Todo-poderoso, Deus de Israel, fizeste estas revelação ao teu servo:
‘Eu te construirei uma casa’. Por isso o teu servo se animou a dirigir-te esta
oração. 28Agora, Senhor Deus, tu és Deus e tuas palavras são
verdadeiras. Pois que fizeste esta bela promessa a teu servo, 29abençoa,
então, a casa do teu servo, para que ela permaneça para sempre na tua presença.
Porque és tu, Senhor Deus, que falaste, e é graças à tua bênção que a casa do
teu servo será abençoada para sempre”.
Evangelho: Mc 4,21-25
Naquele tempo, Jesus disse à multidão: 21
“Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote, ou debaixo
da cama? Ao contrário, não a põe num candeeiro? 22 Assim, tudo o que está
escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser
descoberto. 23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça”. 24 Jesus dizia ainda:
“Prestai atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes, também vós
sereis medidos; e vos será dado ainda mais. 25 Ao que tem alguma coisa, será
dado ainda mais. Do que não tem, será tirado até mesmo o que ele tem”.
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1. Uma Palavra de Esperança
As palavras que se cruzam no texto do
evangelho de hoje são muito significativas. Os termos usados: lâmpada, caixote
(vasilha), cama e candeeiro explicam o caminho que a lâmpada acesa evita para
alcançar seu objetivo: estar no candeeiro, iluminar, fazer visível o que está
escondido.
Da reflexão sobre a lâmpada brota
naturalmente a reflexão sobre o versículo 22: “Assim, tudo o que está
escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser
descoberto”. Aqui Jesus fala para seus discípulos e lhes explica que todo o
escondido, se manifestará ou se revelará inclusive para os que estão fora do
círculo dos seguidores de Jesus. A revelação da força salvadora de Deus em
Jesus, que até então permanece escondida para quem não se converte, um dia será
descoberta ou posta em claro. Em outras palavras, um dia Deus, com um ato de
Sua força fará visível e será revelada aos que estão de fora Sua força que
salva.
“Assim, tudo o que está escondido deverá
tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser descoberto”.
Estas palavras, lidas no contexto da vida terrena de Jesus, recusadas pelo seu
povo, ressoam como um ato de esperança. E para nós hoje os três primeiros
versículos do texto do evangelho de hoje (vv.21-23) ressoam como o convite de
Jesus: “Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça”. Escutar é uma das
chamadas constantes dos Evangelhos. Escutar significa fazer próprio o que se
proclama e o que se escuta. Escutar significa atender, ir assimilando o que se
ouve, reconstruir interiormente o conteúdo da mensagem. Escutar é a primeira
forma de fé e de oração, antes que dizer palavras ou entoar cantos. “Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça”.
Isto quer nos dizer que somos convidados a viver a mesma esperança de Jesus. “A esperança é o sonho do homem acordado”, dizia
o filósofo Aristóteles. “A esperança seria a maior das forças
humanas, se não existisse o desespero” (Victor Hugo).
2. Ser Luz Que Se Consome Para
Iluminar a Vida Dos Demais
“Quem é que traz uma lâmpada para
colocá-la de baixo de um caixote ou em baixo da cama? Ao contrário, não a
coloca num candeeiro?”.
Jesus é um observador do real. Nada escapa
do seu olhar e de sua observação. É um homem atento em todo momento e em
qualquer lugar. Sem dúvida, ele via a sua Mãe, Maria, na casa acendendo a
lâmpada ao anoitecer para colocá-la, não de baixo da cama onde resultaria
inútil e sim no centro da sala, sobre um candeeiro a fim de iluminar o mais
possível a casa.
Através deste simples gesto familiar, já
belo humanamente, Jesus viu um “símbolo”. Cada realidade material evoca para
Ele o invisível. Jesus se experimentou como uma lâmpada que se consumiu
entregando-se no serviço de uma causa para os demais a fim de salvá-los das
trevas da morte. Como uma vela, sua vida terrena foi acabando iluminando a
humanidade para que essa pudesse encontrar o caminho da verdadeira vida (cf. Jo
8,12).
A Palavra de Deus não foi feita para ser
guardada para si. Ninguém recebe a Palavra de Deus verdadeiramente se não
comunicá-la para os demais. Toda vida cristã que se fecha em si mesma no lugar
de irradiá-la não é querida por Jesus. Crer em Jesus Cristo significa aceitar
em nós Sua luz e por nossa vez temos que ser reflexos da verdadeira Luz
comunicando essa mesma luz aos outros com nossas palavras e nossas obras. “A
Palavra de Deus é lamparina para ser acesa na escuridão da noite. Enquanto estiver
dentro do livro fechado da Bíblia, ela é como a lamparina debaixo do caixote. Ela
é colocada na mesa e ilumina quando é lida, ligada à vida e vivida em
comunidade” (Carlos Mesters- Mercedes Lopes). Os que vivem de acordo com a
Palavra de Deus devem deixar as coisas boas, o bem, a bondade acima das ruins.
“Quem
é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote, ou debaixo da
cama? Ao contrário, não a põe num candeeiro? Assim, tudo o que está escondido
deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser descoberto”.
Temos obrigação não somente de adquirir o conhecimento, mas também de transmiti-lo
a outros. Cada luz do conhecimento pode até criar sombras, porém até as sombras
também são iluminadas. Não podemos ser cristãos fechados pensando apenas nos
nossos próprios interesses. Somos chamados para ser a luz do mundo e o sal da
terra (cf. Mt 5,13-16): iluminar o caminho e dar sabor à vida e à convivência
com os valores do Evangelho. Basta ser discípulo
de Jesus, a Luz do mundo (Jo 8,12) para que exista mensagem, pois a luz ilumina
e o cristão não pode deixar de fazê-lo. O cristão é sinônimo da luz, segundo o
Evangelho (Mt 5,13-16). Sua presença deve iluminar e orientar os outros. Como Jesus,
o Semeador semeia com suas obras e palavras, assim também cada cristão deve ser
como seguidor do Mestre.
Na celebração do Batismo, e logo em sua
anual renovação na Vigília Pascal, a vela de cada um, acendida do Círio Pascal
é um formoso símbolo da Luz que é Cristo, que se comunica a nós e que se espera
que logo se difunda através de nós aos demais. Não podemos escondê-la. Segundo
Santo Tomás de Aquino, o ser humano está ordenado à felicidade sobrenatural
pelos princípios do entendimento e pela tendência natural de sua vontade ao
bem. Ao não obedecer à sua tendência natural para o bem o homem ficará longe da
felicidade e ainda fará os outros infelizes, pois o ser humano não somente
vive, mas convive.
3. Medida De Deus Sobre Nós
“Prestai atenção no que ouvis: com a
mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos; e vos será dado ainda
mais. Ao que tem alguma coisa, será dado ainda mais. Do que não tem, será tirado
até mesmo o que ele tem”.
A imagem da medida significa compromisso. Aqui
Jesus faz uma afirmação paradoxal: “Ao que tem alguma
coisa, será dado ainda mais. Do que não tem, será tirado até mesmo o que ele
tem”.
Repartir é sinal da riqueza interior. Repartir, ser generoso não empobrece, mas
enriquece quem é beneficiado. Estimula-se, aqui, o compromisso desinteressado a
dar o que for possível para que o outro possa viver. Quem colabora, recebe. Aquele
que pensa não possuir que possa dar, com certeza acabará perdendo o pouco que
pensa ter. O generoso é multiplicador da vida, ele faz o outro viver a partir
de sua generosidade e partilha.
“Prestai
atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis
medidos”. Qual é a medida do amor que Deus usou para nós? Para saber disso,
precisamos contemplar Cristo morto e ressuscitado por nós. Em Jesus conhecemos
o amor que Deus tem por nós. São João expressa esse amor com a seguinte frase:
“Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3,16).
É importante compreender que Cristo, ao
pagar por pura misericórdia o que não devia na justiça, fez da misericórdia Sua
lei fundamental e a condição indispensável para poder aproveitar o dom gratuito
que a redenção significa, essa redenção sem a qual todos estaríamos
irremissivelmente perdidos para sempre.
Sendo portadores de Cristo, pois somos
chamados de cristãos, devemos ser um sinal claro de seu amor para todos os
homens. Para isso, Jesus nos alimenta constantemente, na Eucaristia, com Seu
Corpo entregue por nós e com Seu Sangue derramado para o perdão de nossos
pecados. Ao celebrar a Eucaristia, fazemos nosso o compromisso de deixar que o
Senhor nos converta num sinal claro, nítido, brilhante de Seu amor no mundo.
Quem participa da Eucaristia não pode passar
a vida como destruidor do próximo. Não pode viver uma fé intimista, de
santidade personalista, não pode viver fechado em si mesmo, no seu egoísmo.
Deus nos encheu de sua própria vida (Gn 2,7) fazendo-nos filhos seus para que
convivamos como irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai celeste. Por isso,
os que fazem parte da Igreja de Cristo devem ser os primeiros em ser luz para
os demais, em lutar pela paz; devem ser os primeiros em trabalhar por uma
autêntica justiça social. Se somente professamos nossa fé nos templos e depois
vivemos como ateus, então não temos direito de voltar a Deus para escutá-Lo
somente pelo costume. Os cristãos fazem parte e devem fazer parte dos responsáveis
por um mundo que seja cada vez mais justo e fraterno.
Por isso, resta para nós estas perguntas:
Será que iluminamos e comunicamos fé e esperança aos que estão ao nosso redor?
Será que somos sinais e sacramentos do Reino em nossa família, em nossa
comunidade, em nosso trabalho e em nossa sociedade? Será nossa vida, nossas escolhas de cada dia
assinalam para o Reino de Deus? Nenhum cristão se anula no testemunho de uma
vida digna de um filho de Deus nesta terra. O testemunho é a entrega da própria
vida para que outro viva; consumir-se ajudando outros para que tenham vida, não
escondendo-se e sim entregando sua vida por uma causa digna; ser vela que se
consome iluminando seu redor. Se não há entrega não se pode pedir a outro que
se entregue, porque o Reino de Deus se faz com a entrega de uns aos outros.
Quem não se entrega, se empobrece e se anula por si só.
Alguns Pensamentos de Santo Tomás de Aquino:
- Levar os homens à verdade é o maior benefício que se pode prestar aos outros.
- A caridade tem como fundamento a comunicação de bens. A caridade é a rainha das virtudes; onde ela reina, aí aparecem todas as outras virtudes.
- A santidade não consiste em saber muito, meditar muito, pensar muito. O grande mistério da santidade é amar muito.
- Quanto mais um ser se afasta de Deus tanto mais ele se aproxima do nada. Mas quanto mais ele se aproxima de Deus, tanto mais se distancia do nada.
P. Vitus Gustama, SVD
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