sexta-feira, 11 de março de 2016

14/03/2016



JESUS E SEUS ENSINAMENTOS SÃO A LUZ DE NOSSA VIDA


Segunda-Feira da V Semana da Quaresma


Primeira Leitura: Dn 13,41c-62


Naqueles dias, 41c a assembleia condenou Susana à morte. 42 Susana, porém, chorando, disse em voz alta: “Ó Deus eterno, que conheces as coisas escondidas e sabes tudo de antemão, antes que aconteça! 43 Tu sabes que é falso o testemunho que levantaram contra mim! Estou condenada a morrer, quando nada fiz do que estes maldosamente inventaram a meu respeito! 44 O Senhor escutou sua voz. 45 Enquanto a levavam para a execução, Deus suscitou o santo espírito de um adolescente, de nome Daniel. 46 E ele clamou em alta voz: “Sou inocente do sangue desta mulher!” 47 Todo o povo então voltou-se para ele e perguntou: “Que palavra é esta, que acabas de dizer?” 48 De pé, no meio deles, Daniel respondeu: “Sois tão insensatos, filhos de Israel? Sem julgamento e sem conhecimento da causa verdadeira, condenais uma filha de Israel? 49 Voltai a repetir o julgamento, pois é falso o testemunho que levantaram contra ela!” 50 Todo o povo voltou apressadamente, e outros anciãos disseram ao jovem: “Senta-te no meio de nós e dá-nos o teu parecer, pois Deus te deu a honra da velhice”. 51 Falou então Daniel: “Mantende os dois separados, longe um do outro, e eu os julgarei”. 52 Tendo sido separados, Daniel chamou um deles e lhe disse: “Velho encarquilhado no mal! Agora aparecem os pecados que estavas habituado a praticar. 53 Fazias julgamentos injustos, condenando inocentes e absolvendo culpados, quando o Senhor ordena: ‘Não farás morrer o inocente e o justo!’ 54 Pois bem, se é que viste, dize-me à sombra de que árvore os viste abraçados?” Ele respondeu: “À sombra de uma aroeira”. 55  Daniel replicou: “Mentiste com perfeição, contra a tua própria cabeça. Por isso o anjo de Deus, tendo recebido já a sentença divina, vai rachar-te pelo meio!” 56 Mandando sair este, ordenou que trouxessem o outro: “Raça de Canaã, e não de Judá, a beleza fascinou-te e a paixão perverteu o teu coração. 57 Era assim que procedíeis com as filhas de Israel, e elas por medo sujeitavam-se a vós. Mas uma filha de Judá não se submeteu a essa iniquidade. 58 Agora, pois, dize-me debaixo de que árvore os surpreendeste juntos?” Ele respondeu: “Debaixo de uma azinheira”. 59 Daniel retrucou: “Também tu mentiste com perfeição, contra tua própria cabeça. Por isso o anjo de Deus já está à espera, com a espada na mão, para cortar-te ao meio e para te exterminar!” 60Toda a assistência pôs-se a gritar com força, bendizendo a Deus, que salva os que nele esperam. 61E voltaram-se contra os dois velhos, pois Daniel os tinha convencido, por suas próprias palavras, de que eram falsas testemunhas. E, agindo segundo a lei de Moisés, fizeram com eles aquilo que haviam tramado perversamente contra o próximo. 62 E assim os mataram, enquanto, naquele dia, era salva uma vida inocente.


Evangelho: Jo 8,12-20


Naquele tempo: 12 Disse Jesus aos fariseus: 'Eu sou a luz do mundo.Quem me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.' 13 Então os fariseus disseram: 'O teu testemunho não vale, porque estás dando testemunho de ti mesmo.' 14 Jesus respondeu: 'Ainda que eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é válido, porque sei de onde venho e para onde vou. Mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou. 15 Vós julgais segundo a carne, eu não julgo ninguém, 16 e se eu julgo, o meu julgamento é verdadeiro, porque não estou só, mas comigo está o Pai, que me enviou. 17 Na vossa Lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro. 18 Ora, eu dou testemunho de mim mesmo e também o Pai, que me enviou, dá testemunho de mim.' 19 Perguntaram então: 'Onde está o teu Pai?' Jesus respondeu: 'Vós não conheceis nem a mim, nem o meu Pai. Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.' 20 Jesus disse estas coisas, enquanto estava ensinando no Templo, perto da sala do tesouro. E ninguém o prendeu, porque a hora dele ainda não havia chegado.
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Jesus é a Luz do Mundo


“Eu sou a Luz do mundo”, disse Jesus. O tema da luz é sumamente interessante e fundamental no terreno religioso que recorre toda a revelação bíblica. Efetivamente, a Biblia se abre com a luz da criação (Gn 1-2) e se encerra com o esplendor da luz de uma nova criação e de uma nova Jerusalém (Ap 21; 2Pd 3,13). Entre estes dois polos é possível enquadrar os textos e os diversos significados que o tema da luz expressa e dilata através de seu próprio campo semântico: a vida, a felicidade, a salvação, a paz, a benção, a presença divina, o dia do Senhor e assim por diante.


 Eu sou a luz do mundo” . Todos nós temos a experiência da luz (menos um cego de nascença). A luz não só torna claro e mostra a beleza do universo, mas também ela é condição de sobrevivência. As plantas sem o sol morrem. Na escuridão ninguém pode produzir nada. A luz nos faz percebermos a beleza das cores. A luz serve para iluminar os objetos. A luz existe não para ser olhada diretamente, pois pode causar a cegueira. Não se deve olhar para a luz, mas para as coisas iluminadas ou caminho iluminado por ela.


Na série de afirmações de Jesus, o repetido “Eu sou” do evangelho de João, ouvimos hoje o “Eu sou a Luz do mundo: quem me segue não andará nas trevas” que repetirá também depois da cura do cego de nascimento.


No AT, Deus é o Criador da luz. Ao criar a luz e dividir o tempo entre luz e trevas, Deus acabou com o primitivo estado de caos (Gn 1,3). A luz é criada por Deus, por isso, ela é um sinal que manifesta visivelmente alguma coisa de Deus. Em outras palavras, a luz é o reflexo da glória de Deus. O Sl 104,2 descreve a luz como vestimenta em que Deus se envolve. Como luz, quando Deus aparece, seu esplendor é semelhante ao dia e de suas mãos saem raios (Hab 3,3s).  A proximidade de Deus e a presença de Deus são indicados pela luz (cf. Ex 13,21s; Dn 2,22). A luz é, então, a glória ou esplendor de Deus. Para At Deus é a luz perpetua para o povo (Is 60,19s). Para o homem, a luz de Deus significa salvação, isto é, guia e vida (Sl 27,1). Enquanto os maus andam apalpados na escuridão da vida (Pr 4,19). O justo gosta da luz da vida (Sl 97,11). Em Isaias, a salvação é descrita muitas vezes com a metáfora da luz (Is 42,16). No AT, a Palavra de Deus é comparada com a luz que guia o homem: “Tua Palavra é lâmpada para meus passos, luz no meu caminho” (Sl 119,105). Para o AT e para o judaísmo, a luz era símbolo da Lei e da sabedoria. De ambas se dizia que eram a luz dos homens.


No NT a luz é reflexo da divindade. A nuvem luminosa na transfiguração mostra a presença de Deus (Mt 17,5). Deus habita em luz inacessível (1Tm 6,16). Deus é luz (1Jo 1,5). E quem obedece aos seus mandamentos andam na luz (1Jo 1,7). A luz de Deus é vista em Jesus, que é a luz do mundo (Jo 3,19; 8,12; 9,5;12,35s.46). Jesus é a luz que ilumina todo homem (Jo 1,9) por meio da vida que ele tem dentro de si (Jo 1,4) e brilha para os homens (1Jo 2,8-10). Jesus é também a luz para guiar os pagãos (Lc 2,32). O cristão através de sua participação na luz e na vida de Deus por meio de Jesus transforma-se em instrumento de luz para aqueles que se acham nas trevas. No mundo helenista a luz simbolizava o conhecimento de Deus. Os primeiros cristãos consideraram o evangelho como a luz.


Eu sou a Luz do mundo”, disse Jesus. Com sua auto-apresentação ou auto-revelação “Eu sou a luz”, Jesus atribui à sua pessoa o que se havia dito da lei, de sabedoria, do conhecimento de Deus e do evangelho. Como Luz, Jesus é o esplendor da vida, da plenitude da vida contido no projeto criador. A luz/vida se encarna em Jesus, projeto divino realizado (Jo 1,14). A identificação da luz com a vida mostra a equivalência entre trevas e morte. Como Luz do mundo, Jesus é a vida que brilha e ilumina a humanidade.  Jesus ilumina o mistério da existência humana e procura e traz a salvação para os homens que a haviam esperado da lei. Para Jesus é necessário que o homem aproveite a luz do dia, isto é, a presença de Jesus. Sua ausência significa a irrupção/invasão do mundo das trevas, do mundo antidivino. E a fé em Jesus, Luz do mundo, possibilita o homem a enxergar a vida da maneira que Deus a vê todas as coisas, pois na luz não há nada que esteja escondido. A adesão a Jesus se apresenta como opção pela luz/vida, contra as trevas/morte.


Eu sou a Luz do mundo”. Luz e trevas sempre formam uma oposição no evangelho de João. A metáfora da luz se entende facilmente: é o contrário da escuridão/obscuridade e da cegueira. E no sentido simbólico, é o contrário do ódio e da mentira. Em João, a cegueira, no sentido simbólico, significa a incapacidade de perceber o esplendor da gloria/amor de Deus manifestada em Jesus.


Esta declaração de Jesus alude à cerimônia da festa judaica das luzes. A Luz é a designação do Messias, por sua obra de libertação, de felicidade e de alegria. A frase “Eu sou a Luz do mundo” significa que Jesus é o Messias e toma o posto da Lei, sendo ao mesmo tempo, o resplendor da vida: “O que foi feito nele era a vida e a vida era a luz dos homens” afirma o Prólogo (Jo 1,4) e para toda a humanidade (Is 42,6s; 49,6.9).


No capitulo 7 (Jo 7,37-39), Jesus se apresentava como a fonte da água/Espírito; agora se define como o guia: “Eu sou a Luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (8,12). Seguir a Jesus exige uma decisão pessoal para orientar a vida. Como guia para nosso caminhar pela vida, Jesus nos convida a segui-lo para caminhar sempre na claridade a fim de poder viver uma vida sempre iluminada. A pessoa de Jesus, seus ensinamentos, seus exemplos de vida são luz que ilumina toda nossa existência, tanto nas horas boas como nas horas de sofrimento ou de contradição. Seguir Jesus significa encontrar o Caminho que com segurança nos conduz ao Pai, ao Céu sem tropeços.


Vós Sois a Luz Do Mundo


Como discípulos seus, o Senhor nos convida também a sermos luz para o mundo; a levar a luz da esperança no meio das violências, desconfianças e medos de nossos irmãos; a levar a luz da fé no meio das obscuridades, dúvidas e interrogações; a levar a luz do amor no meio de tanta mentira, rancor e vingança.  Jesus afirma no Sermão da Montanha: “Vós sois a luz do mundo. Uma cidade construída sobre a montanha não fica escondida. Não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma caixa, mas sim no candelabro, onde ela brilha para todos os que estão em casa. Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,14-16). A missão de cada cristão é transmitir a luz divina, a vida que receberam de Deus.


O cristão através de sua participação na luz e na vida de Deus por meio de ensinamentos de Jesus transforma-se em instrumento de luz para aqueles que se acham nas trevas. A glória de Deus não se manifesta mais no texto da Lei nem no lugar do templo, mas no modo de agir ou de viver dos que seguem Jesus. Os discípulos são a luz do mundo à medida que são os reflexos autênticos da vida e do ensinamento de seu Mestre Jesus, e não como os vaga-lumes que só piscam de vez em quando.


Mas os cristãos têm que estar conscientes de que não é para eles que os homens devem olhar, e sim para Deus de Bondade, fonte de todas as boas obras. Os discípulos devem permanecer discretos, pois se a luz bate diretamente nos olhos, somente prejudica, incomoda, irrita e cega.


As palavras de Maria, a Mãe do Senhor, nas bodas de Cana: “Fazei tudo o que Ele vos mandar” (Jo 2,5) são o caminho para que Jesus seja Luz do mundo e para que nós iluminemos o mundo ao nosso redor com esta mesma Luz. A vida de Deus que habita em cada um de nós deve ser manifestada através de nossas boas obras. Mediante elas Deus continuará nos iluminando e o mundo através de nós. Não podemos nos converter em ocasião de pecado, de escândalo, de tropeço para os demais. O Senhor nos diz que somos a luz do mundo. Para sermos a luz do mundo precisamos contemplar a verdadeira Luz que é Jesus Cristo. Ao contemplá-lo, seremos reflexos seus no mundo.

P. Vitus Gustama,svd

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