Domingo, 03/04/2016
CRER
EM JESUS RESSUSCITADO É DIZER-LHE: MEU SENHOR E MEU DEUS
II
DOMINGO DA PÁSCOA
I Leitura: At 5, 12-16
12Muitos sinais e
maravilhas eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos. Todos os
fiéis se reuniam, com muita união, no Pórtico de Salomão. 13Nenhum dos outros
ousava juntar-se a eles, mas o povo estimava-os muito. 14Crescia sempre mais o
número dos que aderiam ao Senhor pela fé; era uma multidão de homens e
mulheres. 15Chegavam a transportar para as praças os doentes em camas e macas,
a fim de que, quando Pedro passasse, pelo menos a sua sombra tocasse alguns deles.
16A multidão vinha até das cidades vizinhas de Jerusalém, trazendo doentes e
pessoas atormentadas por maus espíritos. E todos eram curados.
II Leitura: Ap
1,9-11a.12-13.17-19
9 Eu, João, vosso irmão
e companheiro na tribulação, e também no reino e na perseverança em Jesus, fui
levado à ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deus e do testemunho que eu dava
de Jesus. 10No dia do Senhor, fui arrebatado pelo Espírito e ouvi atrás de mim
uma voz forte, como de trombeta, 11aa qual dizia: “O que vais ver, escreve-o
num livro”. 12Então voltei-me para ver quem estava falando; e ao voltar-me, vi
sete candelabros de ouro. 13No meio dos candelabros havia alguém semelhante a
um “filho de homem”, vestido com uma túnica comprida e com uma faixa de ouro em
volta do peito. 17Ao vê-lo, caí como morto a seus pés, mas ele colocou sobre
mim sua mão direita e disse: “Não tenhas medo. Eu sou o Primeiro e o Último,
18aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para sempre. Eu tenho a
chave da morte e da região dos mortos. 19Escreve pois o que viste, aquilo que
está acontecendo e que vai acontecer depois”.
Evangelho: Jo 20,19-31
19Ao
anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos
judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e,
pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20Depois
dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se
alegraram por verem o Senhor. 21Novamente,
Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos
envio”. 22E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse:
“Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes
serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”. 24Tomé,
chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25Os
outros discípulos contaram-lhe depois: “Vimos o Senhor!” Mas Tomé disse-lhes:
“Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas
marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”. 26Oiito
dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé
estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles
e disse: “A paz esteja convosco”. 27Depois
disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e
coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mais fiel”. 28Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu
Deus!” 29Jesus lhe disse: “Acreditaste, porque me viste?
Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” 30Jesus realizou
muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro.
31Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo,
o Filho de Deus, e, para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.
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1. Jo 20,19-23: Aparição de Jesus
Sem Tomé
1.1.
O Medo Dos Discípulos e a Paz Oferecida
Pelo Ressuscitado
O relato diz que as portas estão fechadas por
medo dos judeus. Um filósofo
diz que o homem é por excelência “o ser que tem medo” (Marc Oraison). No mesmo
sentido, Sarte escreveu: “Todos os homens têm medo. Todos. Aquele que não tem
medo não é normal, isso nada tem a ver com a coragem”. “Sem o medo nenhuma
espécie teria sobrevivido” diz G. Delpierre (cf. L’être et la peur). “A
necessidade de segurança é, portanto, fundamental; está na base da afetividade
e da moral humanas. A insegurança é símbolo de morte e a segurança símbolo da
vida. Mas se ultrapassa uma dose suportável, ele se torna patológico e cria
bloqueios. Pode-se morrer de medo, ou ao menos ficar paralisado por ele” (Jean
Delumeau). “O medo é um inimigo mais perigoso do que todos os outros”
(Simenon). O medo constitui uma das maiores ameaças à vida; impede que a vida
seja desfrutada e vivida em sua tranqüilidade. O medo impede a criatividade e
põe em perigo a esperança. A Bíblia conhece somente um meio pelo qual o coração
humano se pode defender do medo: a fé em Deus. Só Deus é a rocha. As outras
seguranças desiludem.
O motivo do medo não é novo no evangelho de
João (cf. Jo 7,13; 9,22; 12,42). Os discípulos experimentaram amplamente o medo
dos judeus. Seu Mestre foi executado e eles corriam risco de receber o mesmo
castigo. O medo é uma emoção-choque, freqüentemente precedida de surpresa,
provocada pela tomada de consciência de um perigo presente e urgente que
ameaça. Normalmente o medo provoca
efeitos como: a aceleração dos movimentos do coração ou sua diminuição; uma
respiração demasiadamente rápida ou lenta; um comportamento de imobilização ou
uma exteriorização violenta etc. Nessa situação, para os discípulos, ter medo
era ser realista.
Certamente nessa situação Jesus apareceu no
meio deles e disse: “A paz
esteja convosco”. A paz, shalom, é a
palavra que os judeus usam até hoje como uma saudação comum. A idéia bíblica de
paz, shalom, é rica. Significa muito mais do que a cessação de violência e
conflito. É o estado para o qual o mundo foi criado. É a melhor descrição de
como será o Reino de Deus: um “lugar” de segurança, justiça e verdade; “lugar”
de confiança, inclusão e amor; “lugar” de alegria, felicidade e bem-estar.
Talvez possamos traduzir shalom para o português com a expressão: “Tudo de bom
para você!”
O “A
paz esteja convosco” de Jesus, aqui neste texto, não é um desejo, e sim uma
declaração. Ele vai além de um cumprimento por causa daquilo que Jesus
proclamou na última ceia: “Deixo-vos a
paz, dou-vos a minha paz. Não vos dou a paz como o mundo dá” (Jo 14,27). A própria presença de
Jesus Ressuscitado oferece aos discípulos essa paz maravilhosa, pois essa é,
agora, a experiência de Jesus. Seu sofrimento ficou atrás, e ele agora habita
na paz de Deus. Jesus ressuscitado vem libertar os seus. Ele é fiel, pois
cumpriu aquilo que ele tinha prometido: “Não
vos deixarei órfãos. Eu virei a vós” (Jo 14,18). Aquele que se sente desamparado,
aquele que está desorientado, aquele que se sente perdido deve escutar e
refletir a verdade dessa promessa da presença de Jesus ressuscitado: “Não vos
deixarei órfãos. Eu virei a vós”. Seja órfão no sentido literal da palavra,
seja aqueles órfãos de sentido, de carinho, de reconhecimento, de amor etc.,
todos encontrarão o amparo em Jesus Cristo. Procuremos este Amparo para que não
sejamos órfãos de tudo.
Não é por acaso que o evangelista João usa
esta expressão “pôr-se no meio (centro)
deles” (v.19). Isto quer dizer que Jesus
deve ser o centro de nossa vida, deve ser o centro da vida da comunidade, pois
ele é a fonte da vida, ele é o tronco dos galhos (cf. Jo 15,1-8), ele é o ponto de referência, o fator da
unidade (cf. Jo 17,11.21-22). Para
que uma comunidade se torne cristã, ela deve estar centrada em Jesus Cristo e
somente nele. Somente quando Jesus
se torna centro de uma comunidade, será evitado todo tipo de disputa
desnecessária, a não ser somente uma disputa para servir. Sem este centro ficaremos
órfãos, desamparados. Além do mais a presença do outro se torna sempre uma
ameaça e não mais uma presença de um irmão ou de uma irmã, quando Jesus Cristo
não se torna único centro para todos.
Os discípulos são convidados a superar o medo
e a abrir-se à fé; só assim tornam-se disponíveis para o dom da paz e da
alegria, os dois dons que Jesus lhes tinha prometido no seu discurso de
despedida (cf. Jo 14,27;16,33). A paz e a alegria são o dom do Cristo
Ressuscitado, mas também condição para reconhecê-lo.
1.2.
Ser Missionário Da Ressurreição
O que se segue é a missão dos discípulos: “Como
o Pai me enviou, também eu vos envio” (v.21). Jesus é o Enviado por
excelência (Jo 3,31-34; 5,30;7,17s.28;8,16.28s.42;12,44s;16,28). A missão provém de Deus, que quer dar a
vida ao mundo (Jo 10,10). O envio dos discípulos implica tudo o que visava o
ministério confiado a Jesus: glorificar o Pai, fazendo conhecer seu nome e
manifestando seu amor (cf. 17,6.26). Do mesmo modo como o Pai esteve presente
com Jesus na sua missão, assim os discípulos não estarão nunca sozinhos no
cumprimento de sua missão (cf. Mt 28,20).
Aqui a ressurreição está vinculada à missão.
Os discípulos são enviados para proclamar a verdade de que não é qualquer vida
pode ressuscitar gloriosamente como a de Jesus, e sim somente uma vida que tem
como características: vida de doação, de serviço, de perdão, de fidelidade
plena a Deus, como foi a vida de Jesus. Somente assim, o cristão possuirá a
vida eterna, uma vida ressuscitada. Ser enviado significa ser pessoa que lança
as sementes da ressurreição feito de justiça, de amor, de reconciliação e de
abertura incondicional a Deus. Se um cristão fizer assim, a vida nova e a
ressurreição estão germinando. E ele tem que cuidar bem deste germe para que
ele possa chegar à sua plenitude.
“Dito isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo” (v.22).
O gesto de Jesus reproduz o gesto primordial da criação dos seres humanos por
Deus (Gn 2,7). O Criador “insuflou no homem um sopro que faz viver” (Sb
15,11;Ez 37,9). “Soprar” quer dizer dar vida a quem não tem. Isso significa que
o ser humano só existe porque é sustentado pelo sopro de Deus. Trata-se agora
da nova criação: Jesus glorificado comunica o Espírito que faz renascer o
homem(cf. Jo 3,3-8), capacitando-o para partilhar a comunhão divina. O Filho
que “tem a vida em si mesmo” dispõe dela a favor dos seus(cf. 5,26.21); e seu
sopro é o da vida eterna.
Tanto para João como para Lucas (At 2), o dom do Espírito inaugura o
tempo da Igreja. Mas é somente Jo que situa o dom no dia da Páscoa, evidencia o
laço imediato com Jesus Ressuscitado e glorificado. Para o evangelista João, a
ressurreição e a descida do Espírito Santo acontecem simultaneamente. E Jo
mantém claramente a unidade dos dois tempos: Jesus é quem inaugura o tempo do
Espírito. Enquanto Lucas que procura uma data simbólica (a festa judaica de
Pentecostes celebrava a Aliança de Deus no Sinai) situa o evento depois de um
intervalo de cinqüenta dias. O relato lucano de Pentecostes explicita de
maneira grandiosa o alcance universal do dom do Espírito.
1.3. Pecado e Perdão de Deus
Jesus acrescenta: “A quem perdoardes os pecados
eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”(v.23).
Os discípulos representam, em Jo, todos os cristãos futuros: as palavras que
Jesus lhes dirige coletivamente visam sempre aos fiéis em geral. Do ponto de
vista exegético, não se pode limitar aos “Onze” e aos seus “sucessores” a
mediação do perdão divino que o Ressuscitado confia à comunidade dos seus,
menos ainda porque esta palavra segue-se imediatamente depois daquela sobre o
dom do Espírito Santo.
Para Jo o pecado fundamental é a recusa do
Logos libertador. E essa recusa se manifesta através do medo e da busca da
própria glória (Jo12,42s), da mentira (Jo 8,44), do ódio (Jo 15,18-25), do
assassinato do Justo (Jo 7,19;8,40 e cf. 19,11). Estes princípios frustram o
projeto criador e levam o homem à sua própria condenação. O pecado é opção que
frustra o desígnio divino sobre o homem, privando-o da vida. O pecado cria
assim uma situação de morte. O homem que faz a opção pelo pecado condena-se com
ela à morte. O pecado é a solidariedade com o mal. Essa solidariedade opõe-se à
solidariedade do bem, criada por Jesus. Mas a salvação divina prevaleceu sobre
as trevas e alcançou doravante todo ser humano, pela mediação dos discípulos.
No contexto joanino, é o próprio Jesus que por meio dos seus discípulos, exerce
o ministério do perdão (Jo 14,12.20). A formulação em forma positiva e negativa
vem do estilo semítico, que exprime a totalidade por um par de opostos.
“Perdoar/manter” significa aqui a totalidade do poder misericordioso
transmitido pelo Ressuscitado aos discípulos. A forma passiva “serão
perdoados/retidos” referente ao efeito obtido implica que Deus é o autor do
perdão. Pode-se dizer que no momento em que a
comunidade perdoa, Deus mesmo perdoa.
2. Jo
20,24-29: Aparição de Jesus Com a Presença de Tomé
A segunda unidade fala do episódio com Tomé. É exclusivo de Jo. Tomé
foi retratado em Jo 11,16 e 14,5 como uma figura não facilmente persuasível.
Ele é um seguidor fino ou sutil, mas é lento em captar o mistério da pessoa de
Jesus, pois ele procura provas concretas e claras de fé (Jo 11,16;14,5).
O texto nos diz que “Tomé não estava com eles
quando Jesus apareceu” (v.14). Ele está ausente da comunidade não só em sentido
próprio, mas também no figurado. Com intransigência, ele rejeita o testemunho
pascal dos outros discípulos que viram o Senhor. Recusar o testemunho da
ressurreição é romper com a comunidade. Por esta recusa Tomé estraga sua
própria alegria e ele se torna um isolado e decepcionado. Uma pessoa que se
isola não tem como curá-la. As pessoas decepcionadas têm logo a tendência a
criticar duramente nos outros aquilo que mais ardentemente desejaram para si
mesmas, e que não puderam conseguir. A inveja torna a pessoa amarga. A pessoa
se fecha no passado, incapaz de superá-lo. A dificuldade de Tomé é ter
permanecido na Paixão quando a Ressurreição mudou tudo. Ele vive nas trevas do
passado e recusa o hoje radioso. Por isso, ele se torna um isolado. Uma pessoa
isolada não pode ser ajudada. Só ao sair do isolamento é que ela pode ser
ajudada.
Os discípulos, que viram Jesus ressuscitado
em Jo 20,19-23, fazem exatamente o mesmo relato que Maria Madalena fizera a
eles: “Vimos o Senhor!” (Jo 20,18.25). Mas Tomé foi inflexível ao recusar-se a
acreditar na palavra deles: “Se eu não
vir... e puser meu dedo... não acreditarei” (v.25b). Na verdade, outros
evangelistas relatam também dúvidas dos discípulos depois da ressurreição (cf.
Mt 28,17;Mc 16,11.14;Lc 24,11.41), mas somente o evangelista João dramatiza a
dúvida de modo tão pessoal em um só indivíduo. A atitude de Tomé em pedir
provas foi condenada por Jesus em Jo 4,48: “Se
não virdes sinais e prodígios, não crereis”. O Jesus de João não rejeita a
possibilidade de que sinais (milagres) e prodígios levem o povo à fé, mas
rejeita sinais (milagres) que exijam o cumprimento absoluto de condições. Neste
relato Tomé é apresentado como um discípulo pré-pascal, pois ele exige o
aspecto miraculoso da aparição de Jesus (Jo 4,48). Como Natanael, Tomé rejeitou
a fé dos outros discípulos que tinham “visto o Senhor” (v.25;1,45-46).
Como Tomé, não é fácil deixar que Cristo nos
penetre com seu peculiar estilo de entender a vida; não é fácil passar por cima
da atração do poder; não é fácil traduzir na prática o que dizemos crer. Não é
fácil traduzir na vida aquilo que Jesus nos diz que veio “não para ser servido,
mas para servir”. Não é simples plasmar na pratica as grandes lições da
generosidade e do desprendimento enquanto temos tentação de agarrar tudo para
nossa vida. Não é fácil buscar primeiro o Reino de Deus e sua justiça
desprezando, por esse reino, a realidade imediata e circundante que, em muitas
ocasiões, se apresenta esplendorosa.
2.1. Jesus É o Senhor e Deus
Nesse encontro quem toma a iniciativa é
Jesus. Depois de saudá-los, Jesus logo convida Tomé a colocar dedo nas suas
feridas dos pregos. Nessa altura, na sua experiência pessoal com Jesus, Tomé
somente é capaz de dizer: “Meu Senhor e
meu Deus” (v.28). ”Senhor” e “Deus” (Yahweh Elohim) são nomes para Deus no
AT (Sl 35,23). Isto quer dizer que a fé pascal de Tomé reconhece Deus em Jesus
ressuscitado. Na verdade, o evangelista já reconhece a divindade de Jesus desde
o prólogo do seu evangelho: “No princípio
era o Verbo... e o Verbo era Deus...E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”
(Jo 1,1.14). A resposta de Tomé em sua profissão de fé chama de volta as
palavras de Jesus para si próprio e para Filipe: “Se me conheceis, também conhecereis meu Pai...Quem me vê, vê o Pai”
(Jo 14,7.9). Como Natanael, o seu firme
cepticismo se transforma numa suprema profissão de fé depois que ele teve uma
experiência pessoal com Jesus (v.28; 1,45-49). A profissão de fé: “Meu Senhor e
meu Deus” é a maior profissão de fé no Evangelho de João. A resposta de Tomé é
tão extremada como sua incredulidade. Ao chamá-lo “meu Senhor”, Tomé reconhece
o amor de Jesus e o aceita, expressando ao mesmo tempo sua total adesão. Tomé
reconhece em Jesus o acabamento do projeto divino sobre o homem e o toma como
modelo para si (meu Senhor e meu Deus) e reconhece em Jesus o
servo glorificado em pé da igualdade com o Pai (Deus).
Esta confissão
de fé no fim
do Evangelho de João faz um elo com o prólogo (Jo
1,1). A ironia final
do Evangelho é que
o discípulo que
mais duvidou faz a mais
alta da profissão
de fé e diz a expressão
da mais alta
avaliação de Jesus, proferida em qualquer Evangelho :
“Meu Senhor e
meu Deus ”.
No prólogo o evangelista
afirma que a Palavra
era Deus
(Jo 1,1). Agora , por
uma inclusão , ele
mostrou como foi difícil
para os seguidores
de Jesus chegarem à tal visão . Tomé tem sido lembrado como
o homem que
duvida por excelência ;
todavia , as últimas palavras
de Jesus para ele ,
em resposta
à sua profissão
de fé , constituem um
invejável elogio :
“Tu acreditaste” (v.29a).
Tomé não
só manifesta
sua fé
na ressurreição de Jesus (Senhor :
título pós-pascal), mas
também na sua
divindade (meu
Deus ). Com
esta confissão Tomé nos
ensina que
a conseqüência última
da ressurreição do Messias
é o reconhecimento de sua condição divina .
O “credo ”
de São Tomé é tão
breve como
tão sincero e
espontâneo : “Meu
Senhor e meu Deus ”. A oração
tão viva
como esta somente
pode ser pronunciada de joelhos
e com emoção .
Os que creem em
Jesus Cristo de todos
os séculos sempre
agradecem a São Tomé por este feliz e deslumbrante ato de fé : “Meu Senhor e meu Deus ”. Os que crêem em
Jesus Cristo de todos
os séculos sempre
agradecem a São Tomé por este feliz e deslumbrante ato de fé : “Meu Senhor e meu Deus ”.
Inspirado na confissão
do Apóstolo Tomé, são
Nicolau de Flüe rezava: “Meu Senhor
e meu Deus ,
tira de mim
tudo que
me afasta de Ti; meu
Senhor e meu Deus , dá-me tudo
aquilo que
me aproxima de Ti; meu
Senhor e meu Deus , tira-me de mim
mesmo para
dar-me inteiramente a Ti”.
Tomé acreditou quando foi desafiado pelo
Mestre a realizar seu projeto de investigação para acabar com a incredulidade.
O louvor final para a fé, no entanto, é estendido por Jesus àqueles que tinham
acreditado sem ver a presença corporal: “Felizes
os que, sem terem visto, creram!” (v.29b). Esta é a única bem-aventurança
explícita no Evangelho de João. Ela privilegia os que crêem sem ter visto. Por
isso, esta bem-aventurança está ao alcance de todos. No evangelho de João,
nenhum maior louvor pode ser dado a Jesus do que a frase “Meu Senhor e meu Deus”; e nenhum maior louvor pode ser dado aos
seguidores de Jesus do que a frase “Felizes
os que, sem terem visto, creram!”. Através desta fé, a profecia de Oséias
2,25 é cumprida: “Um povo que antigamente não era um povo disse: ‘O Senhor é
meu Deus’”. O próprio evangelista João afirma que através daquela fé, os
seguidores de Jesus “têm a vida em seu nome” como escreveu na conclusão do seu
evangelho (Jo 20,31).
A fé em Jesus vivo e ressuscitado consiste em
reconhecer Sua presença na comunidade dos crentes, que é o lugar natural onde
se manifesta e onde irradia Seu amor. Tomé representa a figura daquele que não
faz caso do testemunho da comunidade nem percebe os sinais da nova vida que
nela se manifestam. No lugar de integrar-se e de participar da mesma
experiência, pretende obter uma demonstração particular. Não quer aceitar que
Jesus vive realmente e que o sinal tangível dele é a comunidade transformada na
qual agora se encontra. A comunidade transformada é agora importante: ela é o
meio que as gerações posteriores terão para saber que Jesus vive realmente.
2.2.Fé e Felicidade
“Bem-Aventurados
os que creram sem terem visto”. Esta é a bem-aventurança do
Ressuscitado. Crer, segundo o evangelho deste dia, é renunciar a ver com os
olhos, a tocar com as mãos, a colocar dedo nas feridas do Crucificado para
identificar o Ressuscitado. Crer é buscar e encontrar o Senhor, nosso Deus, na
assembléia dos que crêem que Jesus é o Messias, dos que encontram nos
sacramentos a vida que brotou da Cruz. Não conhecemos Jesus segundo a carne,
não buscamos visões ou fatos extraordinários onde apoiar nossa fé. A felicidade
que nos salva agora é a presença vivificante do Senhor que nos reúne pelo
Espírito na Igreja onde não cessa de proclamar o evangelho e de partilhar o pão
eucarístico. Cada domingo, cada dia somos felizes por este encontro com o
Senhor.
A ressurreição, em tanto que é a verdade de
fé, não é verificável fisicamente, vendo ou tocando: as verdades de fé são de
outra ordem. Isto é entendido facilmente se pensamos que há muitas situações
humanas nas quais o físico é insuficiente, como por exemplo, no amor. Crer não
é saber menos ou com menos força. Crer é saber mais e mais profundamente. E ter
fé implica compartilhar o que somos e temos “segundo a necessidade de cada um”
conforme o Livro dos Atos dos Apóstolos (At 2,45), pois a fé cristã não
consiste em afirmar verdades abstratas,e sim é ter vida e a vida supõe
circulação de bens como enfatiza Atos dos Apóstolos. Somente a partir desta
atitude é que podemos nos chamar de cristãos.
Na verdade, não precisamos mais de outros
sinais ou aparições. É basta abrir o Evangelho para descobrir o sentido
profundo da Palavra de Deus e crer em Jesus para ter a vida em abundância (Jo
20,31), pois Jesus é a maior revelação do Pai. Crendo, começaremos ver o mundo
com olhos diferentes, começaremos a perceber sentido na proposta de Jesus. A fé
produz um modo novo de ver, traz uma nova escala de valores. A carta de São
João diz que a vitória que vence o mundo é a fé (1Jo 5,4). Essa fé é que dá
força para viver a partilha, mesmo quando a sociedade vive de acumular e
explorar o próximo. Não se pode viver em paz enquanto outros sofrem e têm
carência do essencial. Não sobra espaço onde cada um só pensa em si. Crer em
Jesus é apostar a vida naquilo que ele propôs, mesmo quando não vemos logo um
resultado. Ele nos diz que seremos felizes se acreditarmos nele. Mas também nos
convida a levar a outros essa capacidade de crer e viver o evangelho.
P. Vitus Gustama,svd
Um comentário:
Inspirada explicação da palavra! Deus abençoe com sua sabedoria.
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