sexta-feira, 18 de março de 2016

21/03/2016



USE O DINHEIRO PARA VALORIZAR AS PESSOAS E NÃO USE AS PESSOAS PARA VALORIZAR O DINHEIRO


Segunda-Feira da Semana Santa


Primeira Leitura: Is 42, 01-07


1'Eis o meu servo - eu o recebo; eis o meu eleito - nele se compraz minh'alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações. 2Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. 3Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade. 4Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos.' 5Isto diz o Senhor Deus, que criou o céu e o estendeu, firmou a terra e tudo que dela germina, que dá a respiração aos seus habitantes e o sopro da vida ao que nela se move: 6'Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, 7para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas.


Evangelho:  Jo 12,1-11


1Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde morava Lázaro, que ele havia ressuscitado dos mortos. 2Ali ofereceram a Jesus um jantar; Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. 3Maria, tomando quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo. 4Então, falou Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de entregar: 5Por que não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata, para dá-las aos pobres?” 6Judas falou assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão; ele tomava conta da bolsa comum e roubava o que se depositava nela. 7Jesus, porém, disse: “Deixa-a; ela fez isto em vista do dia da minha sepultura. 8Pobres, sempre os tereis convosco, enquanto a mim, nem sempre me tereis”. 9Muitos judeus, tendo sabido que Jesus estava em Betânia, foram para , não por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Jesus ressuscitara dos mortos. 10Então, os sumos sacerdotes decidiram matar também Lázaro, 11porque por causa dele, muitos deixavam os judeus e acreditavam em Jesus.
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Os textos dos evangelhos desta semana santa nos fazem revivermos hora por hora os últimos instantes de Jesus em Jerusalém: a unção em Betânia, em casa de seus amigos: Lázaro, Marta e Maria; a última Ceia com seus discípulos; e a traição de um dos Doze: Judas Iscariotes.


O evangelho deste dia está cheio de significados. O jantar de Jesus, em Betânia, é prelúdio da Última Ceia. A refeição, tomada em grupo, era um gesto sagrado porque indicava comunhão de sentimentos e de vida, e era uma oportunidade preciosa para dar graças a Deus por todos os Seus dons, a começar pela vida.


Jesus foi convidado para uma refeição na casa de Lázaro (que foi “ressuscitado” por Jesus), Marta e Maria. Lázaro era entre os comensais, Marta estava servindo e Maria era a mulher que ungiu Jesus.


Essa refeição ou ceia é uma ação de graças a Jesus pelo dom da vida. Recuperada de sua tristeza, a comunidade celebra a vida recebida, reconhecida em Jesus como fonte da vida e em Lázaro como o beneficiado. Esse banquete que era em memória de um morto (Lázaro) se converte em ação de graças para celebrar a presença do autor da vida e a vitória sobre a morte. Este banquete, como a própria Eucaristia, antecipa também, em certo modo, o banquete final, cujos comensais serão todos os que receberam a vida definitiva. Maria mostra seu agradecimento pelo dom da vida; o preço do perfume é símbolo de seu amor sem medida e é símbolo do amor da comunidade por Jesus que responde ao amor que Ele mostrou, comunicando-lhe a vida. O amor plenifica e enche a vida das pessoas como o aroma do perfume que encheu a casa inteira em Betânia. ”Somos para Deus o perfume de Cristo entre os que se salvam e entre os que se perdem” (2Cor 2,15). A mensagem do amor de Jesus devolve a alegria para as pessoas.


Mas nem todos os discípulos aceitam a mensagem de Jesus. Judas prefere o dinheiro ao amor; prefere bens materiais a Jesus, seu Salvador. Judas não crê no amor generoso. Para ele o dinheiro é o valor supremo. “O dinheiro é uma felicidade humana abstrata; por isso aquele que não é capaz de apreciar a verdadeira felicidade humana, dedica-se completamente a ele”, dizia o filósofo Arthur Schopenhauer.  Por isso é que Mahatma Gandhi escreveu: “Algemas de ouro são muito piores que algemas de ferro”. 


Se acreditamos em Deus, então não podemos colocar o ouro e a prata acima de Quem os criou que é o próprio Deus. O ganancioso se encontra entre as coisas e não entre as pessoas. O ganancioso é contado entre as coisas e não entre as pessoas. Ele é coisa entre as coisas. Quando o homem se deixar dominar pelos bens materiais, ele se afastará dos outros homens e viverá solidão das coisas. Quando o número de nossos bens materiais aumentar, precisamos verificar se o tamanho de nosso coração diminui. “Não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és”, dizia Santo Agostinho (Serm. 23,3). Se nos encontrarmos entre as coisas, perderemos até nossa sensibilidade humana e viveremos isolados dos demais homens no fim de nossa peregrinação nesta terra (cf. Lc 16,19-31). O Orgulho, soberba, egoísmo, poder, ganância e ignorância, faz com que nós não vejamos e nos afastemos do próximo” (João Paiva).


Maria, a comunidade cristã usa o dinheiro para valorizar o amor e as pessoas. Jamais um cristão usa as pessoas para valorizar o dinheiro. Judas desvaloriza o amor para valorizar o dinheiro. Judas usa os pobres como o pretexto para sua própria ganância: “Por que não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata para as dar aos pobres?”. Mas João acrescentou: “Judas falou assim não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão”. A comunidade não se distingue dos pobres; é uma comunidade de pobres que se amam e que, através do compartilhar, expressão do amor, superam sua condição de oprimidos.


O nardo que Maria de Betânia derramou hoje sobre Jesus são imagem e símbolo do que o óleo celeste e invisível, de força de vida divina que nos é dito profeticamente no Salmo: "Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo da alegria acima de seus companheiros "(Sl 44,08). Esse óleo de alegria celestial é o que Deus Pai derramou sobre a cabeça sangrenta e coroada de espinhos do Filho crucificado; daqui é que leva o nome de Cristo, o Ungido.


A unção feita por Maria em Jesus antecipa a sepultura de Jesus. Maria, ungindo os pés de Jesus, representa a comunidade em sua relação íntima com Jesus. O gesto de Maria de ungir os pés de Jesus mostra seu agradecimento pelo dom da vida. O perfume que Maria derramou sobre Jesus é símbolo do amor da comunidade por Jesus que responde ao amor que Jesus mostrou à comunidade, comunicando-lhe a vida. E o alto preço do perfume usado na unção, que equivalia a 10 meses de salário de um trabalhador rural, é símbolo do amor sem limites e sem mancha por Jesus. E a aroma que enche a casa inteira antecipa a fragrância do amanhecer do domingo da Páscoa em que Jesus matou a morte para que todos tenham vida abundantemente em Jesus Cristo (Jo 10,10).


Mas, por outro lado, o evangelho nos mostra outro tipo de comportamento diante de Jesus representado por Judas Iscariotes. O comportamento de Judas é oposto ao gesto de Maria. Judas interpretou a unção com um perfume caro como desperdício. Para ele, seria bom vender o perfume para ajudar os pobres. Mas, na verdade, ele não estava pensando em pobres e sim em roubar o dinheiro para aumentar seu próprio patrimônio. “A ganância insaciável é um dos tristes fenômenos que apressam a autodestruição do homem”. (Textos Judaicos). O próprio evangelho denunciou a má intenção de Judas. De fato, Judas tinha os olhos cobiçosos e corruptos. “Se careces de riquezas, não as busques por meios ilícitos. Se tens riqueza, deposita-a no céu por tuas boas obras. Quem se entusiasma com a aquisição de bens, deprime-se com sua perda” (Santo Agostinho: Epist. 189,7).


Para a crítica de Judas, Jesus dá a seguinte recado: “Pobres, sempre os estareis convosco, enquanto a mim, nem sempre me tereis” (Jo 12,8). Por um lado, o Pobre, por excelência, é Jesus, que nos dá tudo quanto possui, tudo quanto é. Por isso, só Ele deve ser o centro da nossa vida, sem qualquer espécie de cálculos. O Mestre dá-nos tudo! Há que dar-lhe tudo, sem cálculos nem reservas. A nossa entrega total a Cristo acaba por beneficiar toda a Igreja: “a casa encheu-se com a fragrância do perfume”. Por outro lado, se lermos esta frase à luz das palavras que Jesus disse em Mt 25,40.45: “Tudo que você fizer para um dos pequeninos, você fará isso para mim”, entenderemos o sentido da frase. O que fizermos para qualquer pobre e necessitado, faremos isso para Jesus. Apesar de aumentar o número dos ricos, os pobres continuam a ser a maioria neste mundo: “Os pobres estarão sempre convosco”.


Portanto, o nosso seguimento de Jesus pode desenrolar-se como caminho da morte à vida, como aconteceu a Lázaro, ou como solicitude atenta e cuidadosa no serviço ao Mestre e aos seus, como aconteceu com Marta; pode também assemelhar-se a um caminho de amor adorante, como aconteceu com Maria, ou a um caminho de resistências e de calculismos materiais, que acabam por sufocar quem os segue, como aconteceu com Judas. Judas prefere o dinheiro ao amor e não crê no amor generoso. E o próprio dinheiro o sufocou e o matou. Maria colocava o dinheiro no devido lugar para valorizar o amor.


Judas desvaloriza o amor para valorizar o dinheiro, usa as pessoas para valorizar o dinheiro. Judas se matou. Ele morreu sem amor e sem dinheiro. Maria, a comunidade dos discípulos de Jesus, usa o dinheiro para valorizar o amor fraterno, pois onde há partilha, expressão do amor fraterno não haverá famintos. Amar alguém equivale a lhe dizer: “Tu nunca morrerás, pois ‘Deus é amor’” (1Jo 4,8.16). É bom cada um tentar se colocar: no lado de Judas ou no lado de Maria?

P. Vitus Gustama,svd

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