08/03/2015
JESUS
É A FONTE DE NOSSA VIDA
Terça-Feira
da IV Semana da Quaresma
Primeira Leitura: Ez 47,1-9.12
Naqueles
dias, 1 o anjo fez-me voltar até a entrada do Templo e eis que saia água da sua
parte subterrânea na direção leste, porque o Templo estava voltado para o
oriente; a água corria do lado direito do Templo, a sul do altar. 2Ele fez-me
sair pela porta que dá para o norte, e fez-me dar uma volta por fora, até à
porta que dá para o leste, onde eu vi a água jorrando do lado direito. 3Quando
o homem saiu na direção leste, tendo uma corda de medir na mão, mediu
quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me aos tornozelos.
4Mediu outros quinhentos metros e fez-me atravessar a água: ela chegava-me aos
joelhos. 5Mediu mais quinhentos metros e me fez-me atravessar a água: ela
chegava-me à cintura. Mediu mais quinhentos metros, e era um rio que eu não
podia atravessar. Porque as águas haviam crescido tanto, que se tornaram um rio
impossível de atravessar, a não ser a nado. 6Ele me disse: 'Viste, filho do
homem?' Depois fez-me caminhar de volta pela margem do rio. 7Voltando, eu vi
junto à margem muitas árvores, de um e de outro lado do rio. 8Então ele me
disse: 'Estas águas correm para a região oriental, descem para o vale do
Jordão, desembocam nas águas salgadas do mar, e elas se tornarão saudáveis.
9Onde o rio chegar, todos os animais que ali se movem poderão viver. Haverá
peixes em quantidade, pois ali desembocam as águas que trazem saúde; e haverá
vida onde chegar o rio. 12Nas margens junto ao rio, de ambos os lados, crescerá
toda espécie de árvores frutíferas; suas folhas não murcharão e seus frutos
jamais se acabarão: cada mês darão novos frutos, pois as águas que banham as
árvores saem do santuário. Seus frutos servirão de alimento e suas folhas serão
remédio'.
Evangelho: Jo
5,1-16
1Houve uma festa dos judeus, e Jesus foi a Jerusalém. 2Existe em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, uma piscina com cinco pórticos, chamada Betesda em hebraico. 3Muitos doentes ficavam ali deitados — cegos, coxos e paralíticos. 4De fato, um anjo descia, de vez em quando, e movimentava a água da piscina, e o primeiro doente que aí entrasse, depois do borbulhar da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse. 5Aí se encontrava um homem, que estava doente havia trinta e oito anos. 6Jesus viu o homem deitado e sabendo que estava doente há tanto tempo, disse-lhe: “Queres ficar curado?” 7O doente respondeu: “Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente”. 8Jesus disse: “Levanta-te, pega tua cama e anda”. 9No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou sua cama e começou a andar. Ora, esse dia era um sábado. 10Por isso, os judeus disseram ao homem que tinha sido curado: “É sábado! Não te é permitido carregar tua cama”. 11Ele respondeu-lhes: “Aquele que me curou disse: ‘Pega tua cama e anda’”. 12Então lhe perguntaram: “Quem é que te disse: ‘Pega tua cama e anda’?” 13O homem que tinha sido curado não sabia quem fora, pois Jesus se tinha afastado da multidão que se encontrava naquele lugar. 14Mais tarde, Jesus encontrou o homem no Templo e lhe disse: “Eis que estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior”. 15Então o homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia curado. 16Por isso, os judeus começaram a perseguir Jesus, porque fazia tais coisas em dia de sábado.
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Deus É A Fonte Da Vida
“O anjo fez-me voltar
até a entrada do Templo e eis que saia água da sua parte subterrânea na direção
leste, porque o Templo estava voltado para o oriente; a água corria do lado
direito do Templo, a sul do altar”.
Tanto a Primeira Leitura como o Evangelho
colocam todo episódio em torno da água. A água é símbolo da vida. Sem água não existe
vida. A água é matéria-mãe para a vida de todas as espécies e de todos os
povos. Entre os egípcios antigos, a água se associava com a ideia de revivificação.
Em conexão com o espirito de Deus, a simples água é capaz de realizar prodígios.
O general Naamã mergulhou sete vezes no rio Jordão e ficou curado da lepra (2Rs
5,10-14). A aspersão com água benta é símbolo de purificação espiritual e
recorda o batismo. Algumas gotas de água misturadas com o vinho, na preparação
do ofertório na missa, indicam a vinculação do fiel (água) com Cristo (vinho). “Pelo mistério desta água e deste vinho
possamos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa
humanidade”, assim o sacerdote reza no momento em que ele coloca algumas
gotas de água no vinho.
Como massa informe e indiferenciada, a água
simboliza a plenitude de todas as possibilidades ou o início primordial de todo
ser, a matéria prima. O Gênesis fala do Espirito de Deus que no princípio pairava
sobre as águas (Gn 1,2). A água também é símbolo da força de purificação e
renovação corporal, psíquica e espiritual, tanto no islamismo, como no hinduísmo,
no budismo e no cristianismo. Em todo o mundo, está difundido o simbolismo da água
relacionada com a fertilidade e a vida (mar, chuva). A fecundidade e a vida
espiritual muitas vezes são simbolizadas pela água.
A água, como princípio de vida é uma imagem
que se encontra frequentemente na Bíblia (em torno de 353 vezes a palavra água aparece
na Bíblia). Não é de estranhar que o profeta Ezequiel use a água como símbolo. Na
Primeira Leitura, o profeta Ezequiel utiliza a imagem de água ou correnteza de água.
No AT as correntezas de água são símbolo da vida que Deus dá, especialmente nos
tempos messiânicos. O profeta Ezequiel utiliza a imagem da correnteza de água
milagrosa que sai do lado direito do templo (lugar da presença de Deus e o
centro do culto que é agradável a Deus) e por causa disso, tudo é coberto com saúde
e fecundidade. No evangelho de João esta água é o Espirito que emana do Cristo
glorificado (Jo 7,35-37). O detalhe de que a “água corria do lado direito do
Templo, a sul do altar”, os Apóstolos e os primeiros discípulos o interpretam
como preanúncio do sangue e da água que emanaram do costado do Crucificado
(Jesus), fonte fecunda do sacramento do batismo.
Como fonte da vida, Deus não retém seus bens
para si, mas designou-os para todos. Deus é a fonte que tem sede de ser bebida.
Sem cessar, Deus deixa correr em mim a abundância de sua vida. Somente Deus é
capaz de transformar o deserto de nosso coração em jardins florescentes de
vida. Precisamos voltar para a fonte para que nossa vida não se seque. A
exempla da água, fonte de vida, dar fecundidade, criar a vida e protege-la,
alimentar o faminto etc. é trabalhar pela justiça, pelo bem-estar de todos,
pelo bem da humanidade. O egoísmo, ao contrário, cria morte e produz rigidez.
Tudo que é rígido, é fácil de se quebrar.
Jesus Vem Nos Salvar Das
Paralisias Da Vida
A água de Ez 47 é protótipo da água dos
últimos tempos abertos por Cristo: “Se
alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, do seu interior manarão
rios de água viva” (Jo 7,37-38; cf. Zc 14,8; Is 58,1). Em Cristo se cumpriu a profecia de Ezequiel.
De Cristo nos vem a grande efusão do Espirito que a água simbolizava.
Unicamente de Cristo nos pode vir a fecundidade, a vida tanto individualmente como
coletivamente. A única salvação, a única solução se encontra em Cristo como
disse Pedro: “Em nenhum outro há
salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo
qual devamos ser salvos” (At 4,12).
Jo 5,1-16 como o texto de nossa reflexão
neste dia se encontra na primeira parte do evangelho de João (Quarto Evangelho).
A primeira parte desse evangelho é conhecida como “Livro dos sinais” (Jo
2,1-12,50). Chama-se “Livro dos Sinais” porque, nesta parte, referem-se aos
sete sinais realizados por Jesus. Os sete sinais são: a transformação da água
em vinho (Jo 2,1-12), a cura do filho do funcionário real (Jo 4,46-54), a cura
do paralítico (Jo 5,1-9), a multiplicação dos pães/partilha dos pães (Jo
6,1-15), Jesus anda sobre as águas (Jo 6,16-21), a cura do cego de nascença (Jo
9,1-41), e a “ressurreição”/reanimação de Lázaro (Jo 11,1-44).
O “sinal”, por definição, visa a outra
realidade além de si mesmo. Por isso, este nome (sinal) indica que se trata de
ações simbólicas, pois os sete sinais são as setas indicadoras que nos
impulsionam a buscarmos muito mais além do episódio concreto, uma realidade
mais profunda para a qual aponta o relato narrado.
No evangelho de hoje, Jesus cura um
paralítico perto da piscina. É o tema da água viva, água que vive e dá a vida.
O evangelista João nos apresenta Jesus, no
evangelho de hoje, como libertador, como aquele que vem salvar a humanidade. A
libertação se adquire não por meios mágicos, como o correr da água da piscina
de Betesda, e sim mediante um encontro pessoal com o Senhor. Buscar a
proximidade de Deus, permanecer junto a Ele, respirar Sua própria vida é o
único mandamento que Deus propõe ao homem para que o homem seja salvo.
1. Jesus é Água viva
O nome da piscina onde se encontra o
paralítico, como outros enfermos, é “Betesda”. Sua etimologia aramaica
significaria “casa da misericórdia” (outros dizem que significaria “lugar do
derramamento”: beth ‘eshdah, em hebariaco). É uma espécie de refúgio
para adoentados de todo tipo. Essa piscina foi descoberta pelos arqueólogos em
1931-1932 entre as ruínas da basílica de Santa Ana.
Os enfermos (cegos, coxos e paralíticos)
estavam próximos dessa piscina porque acreditava-se que aquelas águas tinham
poder curativo. Acreditava-se, conforme o relato, que quem pulasse primeiro
nessas águas, ficaria curado de sua doença. Por isso, podemos imaginar cada
disputa e concorrência sem piedade, pois cada um quer ficar curado. Raiva,
rancor e expectativa se misturam numa pessoa só. Raiva e rancor ao ver que o
outro conseguiu rapidamente entrar na água. Expectativa porque cada um fica
esperando o borbulhar da água para poder pular a fim de ficar curado. Mas isso
supõe pessoas prontas para ajudar o doente a entrar na piscina. Mas até quando
pode pular na piscina, tendo tanta gente doente perto da piscina. O nome
“Betesda” que significa “casa de misericórdia” se torna um paradoxo, pois há
mais miséria do que misericórdia.
Podemos imaginar também a solidão de um que
sofria durante trinta e oito anos sem ninguém para ajudá-lo. Trinta e oito anos
de sofrimento. Só faltavam dois anos para completar uma geração. É um solitário que necessita da misericórdia
de outras pessoas ali presentes, mas quem daria lugar para ele para pular na
piscina? Cada uma dessas pessoas se preocupa com seu próprio doente.
O doente em questão está num estado
desesperador: “Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a
água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente”. O evangelista João gosta de ressaltar casos
tão desesperadores, como Lázaro enterrado há quatro dias (Jo 11,39-44), o cego
de nascença (Jo 9,1-41) para destacar o poder de Deus que ultrapassa os limites
humanos, que faz o impossível em possível (Lc 1,37), o morto em uma pessoa viva
etc..
Por esta razão o que mais importante neste
relato não é saber se as águas tinham ou não tinham poder curativo. O
ensinamento fundamental que o evangelista João quer nos transmitir é que a
Palavra de Jesus é vivificante. A palavra de Jesus dá vida. Jesus é a água viva
que purifica e sacia a sede eterna da felicidade do homem (cf. Jo 4,1-42). A
palavra de Jesus tem poder vivificador, isto é, dá vida, vivifica. A vida
eterna, a salvação só encontra em Jesus. Em são João esta água é o Espírito que
mana de Cristo glorificado: “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem
crê em mim, do seu interior manarão rios de água viva” (Jo 7,37-38).
Unicamente de Cristo nos pode vir a fecundidade, a vida, tanto para o nível
pessoal como para o nível coletivo. Nossa vida se rejuvenesce quando o Espírito
de Deus nos inunda.
2. A primazia do amor sobre a
lei por sagrada que ela seja
“Ora, esse dia era um sábado” e o homem
curado carrega sua cama no sábado que é proibido para os judeus. Com isso, o
relato da cura do enfermo da piscina Betesda nos coloca diante da polêmica
típica dos evangelhos: a primazia do amor sobre a lei. Jesus enfatiza que a
necessidade do ser humano está acima de qualquer lei ainda que uma lei seja
sagrada. Jesus não se preocupa em cumprir o preceito de descanso (Jo 5,9b);
para ele conta somente o bem do homem em qualquer circunstância, muito mais
ainda quando se trata de uma vida em jogo.
Jesus comunica uma nova vitalidade que permite os homens se levantarem
de prostração. Para os dirigentes do povo, ao contrário, conta somente a
observância da lei ou do preceito (Jo 5,10). A observância da lei de descanso
equivale à observância da lei toda; sua violação é a violação da lei inteira. O
foco da atividade de Jesus é o homem e não a própria atividade.
Precisamos nos examinar se freqüentamos a
Igreja só para cumprir preceitos ou para celebrar alguma a vida e seus
acontecimentos dentro do plano salvador de Jesus. Precisamos nos perguntar
também se colocamos pessoas no centro de nossas atividades ou fazemos apenas
uma agitação estéril. Se não colocarmos as pessoas como o centro de todas as
nossas atividades pastorais, trabalharemos inutilmente na Igreja de Jesus
Cristo. Ama menos que se preocupa demasiadamente com as regras. As regras devem
ajudar o homem a crescer e a se aproximar mais de Deus.
3. Jesus é a nossa única
esperança
Os enfermos estão próximos da piscina, não
podem entrar no Templo, estão esperando uma possibilidade de encontrar-se com
Deus. Para o paralitico do evangelho de hoje, símbolo de tantos que esperam, a
agitação da água era algo que o mantinha na esperança ainda que essa esperança
levasse já muitos anos sem ver-se realizada: 38 anos de sofrimento, quase uma
vida inteira (o numero 40 representa uma geração).
A única coisa que mantinha o paralítico na
esperança, apesar de um longo sofrimento, era a água agitada de cura. Mas
apareceu o inesperado, maior do que a água agitada: Jesus Cristo, Água viva.
O que mantém você na esperança nesta
vida? Qual é sua esperança nesta vida?
Jesus se aproxima do paralítico com esta
pergunta: “Queres ficar curado?”. Apesar de seu relato pouco longo, Jesus
compreende que o paralítico quer realmente a cura. Por isso, logo em seguida
Jesus disse as seguintes palavras: “Levanta-te, pega tua cama e anda”. A
cama carregava o paralítico durante tanto tempo e o fazia deitado nela. Agora é
ele quem carrega a cama. É superação! A força de Jesus penetra na vida desse
homem que o faz capaz de superar tudo na vida e de carregar tudo, pois a força
que está dentro é a própria força do Senhor.
“Queres ficar curado?” é a pergunta dirigida
a cada um de nós. Queres ficar curado do teu pecado e de tua mesquinhez? Queres
ficar curado da tua angústia, da tua confusão, e de tua preocupação? Queres
ficar curado da tua doença, da tua depressão? Mas será que nós sabemos o que
queremos? Será que ainda somos capazes de querer e de querer viver? Quem nos
dará hoje a vontade de viver, de reviver? Quem nos dará forças para lutar e
andar?
“Levanta-te e anda!”. Levantar-se e andar é
o começo de uma vida nova. Deus quer um “homem de pé”, um homem que avança, um
homem capaz de superar-se. O pecado é uma paralisia. O pecado paralisa o homem.
O “homem de pé” é capaz de levar sua “cama” que o oprimia, é capaz de
suportar-se a si mesmo. Para isso o homem precisa escutar atentamente a Palavra
de Deus.
P. Vitus Gustama,svd
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